Mostrando postagens com marcador Latim. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Latim. Mostrar todas as postagens

16 de janeiro de 2009

Estudando Latim, Parte 2

Seja o primeiro a comentar!

Descobri um dos melhores textos para se estudar latim. Trata-se do Livro de Ruth, um belíssimo relato ficcional do Antigo Testamento. É curto, simples e bonito. Cheguei à conclusão que um dos métodos de aprendizado mais eficazes para aprender o latim é estudar um texto real, um clássico, que desperte curiosidade e prazer. Já falei do Bello Gallico, o texto de Julio Cesar, que já foi o texto mais usado por professores. Mas o livro de Ruth é ainda mais interessante e conveniente para este objetivo, e usa o Latim Vulgata, um latim que nos é um pouco mais próximo. As maiores diferenças do Vulgata para o Latim Clássico estão na pronúncia, que por sinal, na minha opinião, é muito gostosa (a vultaga) de se ouvir. Gosto de escutar o latim vulgata. 

O estudo de textos bíblicos em latim vulgata pode ser uma etapa anterior ao estudo do Latim Clássico. Há um site onde podemos escutar áudios da Bíblia em Latim Vulgata, mas resume-se ao Novo Testamento, que podemos acompanhar lendo os textos, presentes também no mesmo site. Mais tarde podemos estudar um texto do Novo Testamento, que também são sempre bons de ler.

Então vamos. Se você possuir uma Bíblia, pegue-a e abra no Livro de Ruth, que fica no Antigo Testamento, entre Juízes e Samuel. São apenas 4 ou 5 páginas. Ou pode ler o texto aqui.

Deixe as janelas abertas. Agora abra essa outra página. Qualquer dúvida sobre uma palavra, consulte este dicionário (que não sei porque só funciona com o Internet Explorer).

Para facilitar o trabalho de vocês, podemos começar estudando aqui mesmo.

Em português:

1 No tempo que governavam os juízes, sobreveio uma fome na terra. Um homem partiu de Belém de Judá, com sua mulher e seus dois filhos, indo morar nos campos de Moab.

2 Chamava-se Elimelec, e sua mulher Noêmi; seus dois filhos chamavam-se Maalon e Quelion; eram efrateus de Belém de Judá. Chegados à terra de Moab, estabeleceram-se ali.

3 Elimelec, marido de Noêmi, morreu, deixando-a com seus dois filhos.

4 Estes casaram com mulheres moabitas, chamadas uma Orfa e outra Rute. Viveram lá aproximadamente dez anos.

5 Maalon e Quelion morreram ficando Noêmi só, sem seus dois filhos e sem seu marido.

Em latim:

1 In diebus, quando iudices praeerant, facta est fames in terra. Abiitque homo de Bethlehem Iudae, ut peregrinaretur in regione Moabitide cum uxore sua ac duobus liberis.

2 Ipse vocabatur Elimelech et uxor eius Noemi et duo filii alter Mahalon et alter Chelion Ephrathaei de Bethlehem Iudae. Ingressique regionem Moabitidem morabantur ibi.

3 Et mortuus est Elimelech maritus Noemi, remansitque ipsa cum filiis,

4 qui acceperunt uxores Moabitidas, quarum una vocabatur Orpha, altera Ruth; manseruntque ibi decem fere annis.

5 Et ambo mortui sunt, Mahalon videlicet et Chelion; remansitque mulier orbata duobus liberis ac marito.

Bom estudo!

4 de janeiro de 2009

Da série: Estudando Latim, parte 1

2 comentarios




Há séculos que os professores (cada vez mais escassos hoje) da bela e falecida língua dos romanos iniciam suas aulas com traduções do livro De Bello Gallico, ou Comentários sobre a Guerra da Gália, escrito por Julio César, o general que se tornou imperador. César lutou contra helvécios e germanos e consolidou e expandiu seus domínios na Gália, atual França, a qual passou a ser inteiramente dominada por Roma, abrindo espaço para a conquista da Grã-Bretanha, ao norte, e da Alemanha, no centro da Europa.

Para despertar o interesse de todos, é preciso não pensar em aprender uma língua morta, mas apenas sentir a beleza desse texto escrito num latim extremamente limpo, simples e objetivo. É uma aula de redação e literatura. Um primeiro passo antes de passar para a poesia insuperável de Virgílio.

O que impressiona no latim de César, um dos primeiros textos do latim clássico moderno, é a sua economia. Não há artigos. Quase não se usam pronomes; adjetivos, raramente. O verbo, em geral, já traz implícito o pronome. Deuses não são citados. Somente estratégias de guerra, intrigas, acordos secretos, batalhas. Julio César usa toda a sua astúcia e gênio militar para vencer os adversários. Procura dividi-los, enganá-los, antever seus passos, e por fim escravizá-los, consolidar sua liderança militar e cultural sobre as nações.

Qualquer tradução do latim para uma língua moderna tem que lidar com uma primeira dificuldade. Nossa língua imediatamente impõe um uso muito maior de palavras do que no original. Uma tentativa de usar o mesmo ou quase o mesmo número de palavras implicaria um projeto ousado, mas provavelmente cansativo para os leitores.

Inicio uma tradução particular da obra. Os royalties expiraram há mais de dois mil anos. Vou completando esse post com o tempo. O melhor site para aprender sobre esta obra é este, que traz o texto no original e numa boa tradução para o inglês. Em português, encontra-se aqui.


1. A Gália é dividida em três partes, numa das quais residem os belgas, noutra os aquitânios; uma terceira é conhecida por Céltica entre seus habitantes e Gália entre nós. Nelas idioma, instituições e leis diferem entre si. (a ser atualizado...)


Original:

1. Gallia est omnis divisa in partes tres, quarum unam incolunt Belgae, aliam Aquitani, tertiam qui ipsorum lingua Celtae, nostra Galli appellantur. [2] Hi omnes lingua, institutis, legibus inter se differunt. Gallos ab Aquitanis Garumna flumen, a Belgis Matrona et Sequana dividit. [3] Horum omnium fortissimi sunt Belgae, propterea quod a cultu atque humanitate provinciae longissime absunt, minimeque ad eos mercatores saepe commeant atque ea quae ad effeminandos animos pertinent important, [4] proximique sunt Germanis, qui trans Rhenum incolunt, quibuscum continenter bellum gerunt. Qua de causa Helvetii quoque reliquos Gallos virtute praecedunt, quod fere cotidianis proeliis cum Germanis contendunt, cum aut suis finibus eos prohibent aut ipsi in eorum finibus bellum gerunt. [5] [Eorum una, pars, quam Gallos obtinere dictum est, initium capit a flumine Rhodano, continetur Garumna flumine, Oceano, finibus Belgarum, attingit etiam ab Sequanis et Helvetiis flumen Rhenum, vergit ad septentriones. [6] Belgae ab extremis Galliae finibus oriuntur, pertinent ad inferiorem partem fluminis Rheni, spectant in septentrionem et orientem solem. [7] Aquitania a Garumna flumine ad Pyrenaeos montes et eam partem Oceani quae est ad Hispaniam pertinet; spectat inter occasum solis et septentriones.]

Inglês:

1. All Gaul is divided into three parts, one of which the Belgae inhabit, the Aquitani another, those who in their own language are called Celts, in our Gauls, the third. All these differ from each other in language, customs and laws. The river Garonne separates the Gauls from the Aquitani; the Marne and the Seine separate them from the Belgae. Of all these, the Belgae are the bravest, because they are furthest from the civilization and refinement of [our] Province, and merchants least frequently resort to them, and import those things which tend to effeminate the mind; and they are the nearest to the Germans, who dwell beyond the Rhine , with whom they are continually waging war; for which reason the Helvetii also surpass the rest of the Gauls in valor, as they contend with the Germans in almost daily battles, when they either repel them from their own territories, or themselves wage war on their frontiers. One part of these, which it has been said that the Gauls occupy, takes its beginning at the river Rhone ; it is bounded by the river Garonne, the ocean, and the territories of the Belgae; it borders, too, on the side of the Sequani and the Helvetii, upon the river Rhine , and stretches toward the north. The Belgae rises from the extreme frontier of Gaul, extend to the lower part of the river Rhine ; and look toward the north and the rising sun. Aquitania extends from the river Garonne to the Pyrenaean mountains and to that part of the ocean which is near Spain: it looks between the setting of the sun, and the north star.