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7 de março de 2009

Confira as fotos do protesto contra a Ditabranda

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http://www.flickr.com/photos/tags/ditabranda/

O protesto agora é, oficialmente, um evento internacional.

O PIG que se cuide, porque iremos fritá-lo! Este blog já tem colaborado com um tipo de Óleo especial... Quem acompanha a minha monografia "O poema de Gutenberg", já entendeu que estou aproveitando a oportunidade para cavar um buraco ainda mais fundo onde o PIG, depois de frito, poderá descansar em paz, eternamente...

Boa sorte galera!

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O blog deseja, de todo coração, que o protesto contra a ditabranda, a se realizar neste sábado, 7 de março, às 10:00 da manhã, diante do prédio da Folha de São Paulo, na Alameda Barão de Limeira 425, aconteça tranquilamente, dando mostra de cidadania, participação popular e consciência política.

Acompanhem as notícias em tempo real no Twitter Planeta #Ditabranda.

E confira depois os desdobramentos do protesto no blog Cidadania, do Eduardo Guimarães.

5 de março de 2009

Esquentando a panela

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Recado: Confira o agregador de comentários e twitter sobre a ditabranda.

O famigerado editorial da Folha, em que chama nossa ditadura de "ditabranda", e a subsequente agressão aos professores Fabio Comparato e Maria Benevides, cumpriram diversos objetivos:

1) Adoçar a imagem da ditadura e portanto das forças políticas que a apoiaram: a direita política como um todo, as classes dominantes, os latifundiários, os grandes jornais, ou seja, os mesmos agentes políticos que agora se organizam em torno da candidatura de José Serra.

2) Preparar o terreno para a criminalização daqueles que lutaram contra a ditadura militar, entre eles a ministra Dilma Roussef, presa dos 19 aos 21 anos e barbaramente torturada, que deverá ser candidata à presidência da República.

3) Ao lembrar de Cuba, a Folha procurou marcar um pontinho ideológico no placar da direita, já que, em 2010, deverá ocorrer uma dicotomia total, e a Folha já deu indícios bem evidentes de que lado estará.

4) Fazer a crítica ideológica e política aos governos populares da América Latina, que nunca foram tão parceiros do Brasil. Ao fazê-lo, ataca indiretamente o governo Lula, que os apóia abertamente, e a esquerda de forma geral.

Enfim, todos nós tiramos boas lições de tudo isto. Nas eleições de 2010 não estará em jogo apenas o destino do Brasil. Ocorrerá um embate ideológico com reflexos no mundo inteiro, começando pela América Latina. Imagina se Morales, além da agressiva oposição interna, além da pressão norte-americana, recebesse golpes também do Brasil? Imagina se o Brasil decidisse seguir a orientação conservadora e empreendesse um ataque político e econômico à Bolívia?

O que é mais irônico, ou trágico, é que a América do Sul se tornou, na esteira das eleições de governantes de esquerda, um dos mais importantes mercados de produtos brasileiros industrializados. Um de nossos principais compradores de aviões é o Equador. A Argentina é o destino maior de nossas autopeças. As exportações brasileiras para a Venezuela cresceram quase 700% em seis anos. Mesmo assim, os conservadores insistem na cantilena de que a política externa brasileira, por se esforçar em melhorar as relações com seus vizinhos, é "ideológica"!

*

Confesso a vocês que, das tentativas dos "amigos" da Folha de minimizar o episódio da "ditabranda", a que mais me irritou foi a xaropada do Marcelo Coelho. Ele havia despertado uma certa simpatia por ocasião de sua briga com o Esgoto, o indivíduo mais sem escrúpulos da internet brasileira. Na época eu entrei em seu blog e até pensei em linká-lo por aqui. Alguma coisa, porém, me desagradou. Ele condescendia demais, explicava-se demais, e isso depois de ser ofendido da forma mais vil. Não linkei. Meus instintos estavam certos. A tentativa dele de explicar o comportamento da Folha é de revirar o estômago.

*

Eis que o Esgoto dirige sua peçonha para a manifestação diante da Folha e para Eduardo Guimarães. Muito sintomático. Mostra que estamos no caminho certo, e que a direita está atenta. Ele está atento. Não é a tôa que é blogueiro da Veja. É um pistoleiro sem ética, que há tempos vendeu sua alma para os que representam os interesses mais escusos, e seu blog reúne todos os extremistas do Brasil. A corrupção do Esgoto é infinitamente pior do que de qualquer deputado e seus castelos, porque é um tipo de corrupção mais profunda, mais sinistra, mais terrível. Ele não tem a mínima noção do que seja Soberania, o primeiro item do artigo I da Constituição Brasileira, no Título I, que fala dos Princípios Fundamentais; não entende, igualmente, o segundo item, a Cidadania; e muito menos o terceiro item, o pluralismo político. Também não conhece o Artigo 3, ainda no Título I, que fala dos objetivos da República Federativa do Brasil, que são:

I - construir uma sociedade justa, livre e igualitária;
II - garantir o desenvolvimento nacional;
III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais.

Aborrece-me o deslumbramento de muitos brasileiros com a pretensa erudição dos Esgotos, que nada tem a ver com moral, sabedoria ou justiça. Ao contrário, o fato da pessoa usar de astúcia e cultura para ofender e ludibriar revela uma falta de caráter muito superior a qualquer outra, além da ausência total de sabedoria e ignorância crassa sobre justiça. Mesmo sendo adversário político do governador de São Paulo, José Serra, espanta-me saber que ele frequente esse tipo de pessoa e me causa calafrios pensar que o presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, atenda-lhe o telefone. Sua argumentação é profundamente antidemocrática. Na linha da estratégia da direita reacionária contemporânea, procura sempre desindividualizar os adversários. Não se trata mais de fulano ou sicrano, e sim um "petista", numa conotação pejorativa. Com isso, desmerece a nossa democracia, que se fundamenta sobre a representação partidária, e insulta o indivíduo, ao depreciar suas motivações pessoais e políticas. De acordo com esta linha, fulano não age em virtude de seus princípios, de sua consciência pessoal, de sua crença política singular, e sim porque seguiria a orientação partidária. Com isso, ataca-se a própria essência da militância e da participação política, que consiste na harmonia digna e viril entre a consciência individual e a lealdade ao coletivo que o representa. A direita quer uma democracia sem povo, sem militância e sem partido. Um sonho, felizmente, impossível, já que seria, em verdade, um pavoroso simulacro de democracia.

Figuras como o Esgoto estão cada vez mais isoladas, e tendem para um extremismo que sobrevive artificialmente através da Editora Abril, uma empresa que empreende táticas tenebrosamente mafiosas para fechar negócios com governos estaduais. A vitória de Serra é sua única esperança. No entanto, a ansiedade com que agem lhes fazem cometer erros sucessivos, ditados pelo desespero e pela prepotência. Serão mastigados e engolidos pela democracia, e lançados, como dejetos inúteis, no lixão sem reciclagem da história.

*

Esta luta serve, afinal, para nos lembrarmos que o Leviatã não descansa. Apeado do Palácio do Planalto, ele migrou para as redações e de lá prossegue torturando conceitos e notícias, com vistas a extrair confissões falsas e, com elas, perseguir cidadãos e voltar ao poder.

*

Leiam este excelente artigo do Oswaldo Bertolino, que discorre com elegância e inteligência sobre a ditabranda.

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"O único historiador com o dom de acender as luzes da esperança no passado, é aquele que se convence de que nem mesmo os mortos estarão a salvo do inimigo, se ele, o inimigo, for vitorioso. ". Walter Benjamin, Sobre História, Tese VI.

Esta é uma tradução minha de uma versão em inglês. A lembrança de um texto tão pertinente veio do Idelber Avelar.

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Por falar em Constituição, outra coisa que poucos sabem é que, enquanto a manifestação do pensamento é livre, o Anonimato não goza da mesma prorrogativa.

IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato.

28 de fevereiro de 2009

Minha contribuição ao protesto contra a Folha: um livro

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Deu trabalho, mas valeu a pena. Escaneei o livro do meu pai, José Barbosa do Rosário, intitulado Quando a policia mata, no qual ele narra seu sofrimento e da família por ocasião da tortura e morte de seu irmão, Francisco do Rosário Barbosa.

Para a família do meu pai, o regime militar, mesmo após a "abertura política", ou seja, em 1981, não foi nada "branda". O fato traumatizou profundamente todos os Barbosa. Os editores da Folha têm irmãos? Imagine descobrir que o mesmo foi barbaramente torturado, mutilado, e assassinado por aqueles que recebem salários para, supostamente, nos proteger? Não foi fácil.

Tem mais. Apesar do meu pai ser um jornalista, e ter denunciado o crime na tv e nos jornais (era 1981, e o regime havia se distendido), a morte de Francisco do Rosário Barbosa não figura na lista dos mortos e desaparecidos políticos. Porque Francisco não era um político. Não fazia parte de partido, organização ou qualquer coisa parecida. Foi torturado e morto quase que gratuitamente. Leia e entenda.

O livro tem 90 páginas, com letras grandes e, portanto, pode ser lido em poucas horas. Traz um belo e pungente prefácio do grande Raymundo Faoro, e meu pai, falecido precocemente de câncer em 1999, escrevia muitíssimo bem, num estilo seco e límpido, a la Graciliano.

Para ler o livro, você pode simplesmente clicar no link abaixo, ou clicar com o botão da direita do mouse sobre o link abaixo e escolher a opção Salvar Link Como e fazer um download. O arquivo pdf tem 27,3 Megabytes.

Quando a polícia mata, de José Barbosa do Rosário.

27 de fevereiro de 2009

A manifestação em SP, a comunicação universal e os milhões de mortos da ditadura

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Aleijadinho: Anjo do Getsêmani, Santuário do Bom Jesus de Matosinhos


O maior acontecimento político dos últimos meses, para o universo contra-informativo em que atuamos, é, sem dúvida, a manifestação organizada pelo Movimento dos Sem Mídia em frente ao jornal Folha de Sâo Paulo, em protesto contra 1) o uso da expressão "ditabranda" para qualificar o terrível regime militar vivido pelo Brasil de 1964 a 1984 e 2) a agressão estúpida da redação do jornal aos professores Maria Benevides e Fabio Comparato. Se você mora em São Paulo ou adjacências, compareça. Ou pelo menos se informe melhor do que está acontecendo, através do blog Cidadania. Cineastas! Estejam presentes à manifestação! E façam um filme sobre a história do MSM!

*

Tenho, contudo, outros assuntos a tratar. Estou me formando na Faculdade de Comunicação Social da Universidade Estadual do Rio de Janeiro. Devo entregar, até o dia 10, minha monografia. O tema será a Estética da Comunicação. Usei uma vasta bibliografia, mas com foco na Crítica da Faculdade do Juízo, de Immanuel Kant. Conto isto aqui porque acredito que o material por mim apurado, e linha de raciocínio que seguirei, diz respeito ao futuro da imprensa. Minha tese é de que a imprensa tradicional poderá muito bem sobreviver às intempéries tecnológicas, desde que tenha coragem de assumir o seu destino, que é dar um salto de qualidade e incorporar preocupações intelectuais superiores: artísticas, políticas e filosóficas, e deixar pra trás seu passado de pasquim cafona da direita. Não quero dizer com isso que a imprensa deve se tornar um grande caderno Mais!, aquele amontoado insuportável e cacete de lugares-comuns acadêmicos da Folha. Não falo de academicismos, ou de elitizar o texto. Ao contrário, falo de conferir valor ensaístico às reportagens, valor plástico às fotografias, valor literário a todo texto publicado, além de procurar estabelecer uma interação dinâmica e democrática com seus leitores - bem diferente da irritante mania de publicar só cartinhas "convenientes" à linha editorial. E nunca, claro, insultar seus próprios leitores da maneira grosseira como se fez com os professores que reclamaram do uso do termo "ditabranda" pela Folha de São Paulo.

Kant fala sobre a "comunicação universal", que somente a arte teria condições de fornecer. Minha tese é de que toda comunicação é uma forma de arte, incluindo a comunicação da imprensa de papel. O tamanho, o tipo, o corpo das fontes. As fotos e gráficos. O texto. Tudo deve ser (ou deveria ser) concebido segundo uma inteligência estética. Estetizando a imprensa, com inteligência e sentimento, poder-se-ia escapar das inevitáveis e cansativas interferências ideológicas sobre a redação, que só prejudicam a qualidade e a atratividade dos textos. Por outro lado, o debate político e ideológico poderia acontecer na imprensa de uma forma muito mais transparente e livre. Todos se interessariam em acompanhar os esgrimas literários entre escritores de credos distintos.

Por fim, uma imprensa de melhor qualidade artística serviria para libertar a literatura brasileira da gaiolinha de ouro em que se meteu, com suas panelinhas e festinhas e concursos manjados. Dando espaço para escritores exporem seus talentos (e pagando-os muito bem), como fizeram Machado de Assis e Lima Barreto, a literatura ganharia em densidade estética e política, tornando-se mais interessante e mais conectada à vida nacional. Sei que há escritores participando da imprensa, mas são poucos e são sempre os mesmos. Não há renovação, não há contestação, não há liberdade. Os textos literários que a imprensa publica podem todos ser lidos no Rotary Club de São Paulo. Conheço alguns escritores que sofrem terrivelmente com isso porque recebem quantias apenas simbólicas (quando recebem) pela colaboração e qualquer texto que exale um pouco mais de independência de espírito é vetado e o pagamento não é feito.

*

Ontem eu li a Folha e fiquei estupefato com a ingenuidade, falta de acuidade científica e ausência total de sensibilidade antropológica de Fabio Comparato, que falou em "400 mortos" da ditadura militar. Sei que não é o momento de criticar o professor Comparato. Presto apoio integral a ele no caso da Folha, mas não posso me furtar a uma observação crítica. Esses 400 são apenas os mortos políticos oficiais, e os mais famosos. Dezenas de milhares foram mortos em todo país, fichados como delinquentes para evitar a conotação política, mas que, muitas vezes, não fizeram mais do que protestar contra um prefeito, um fazendeiro, um líder político qualquer. Isso é evidente, porque, se hoje, no Brasil, quando existem organizações de direitos humanos atuando, tanto no governo quanto na sociedade civil, imprensa livre, um Judiciário forte e independente, um Ministério Público, a polícia ainda mata milhares de pessoas por mês, imagina o que faziam nos anos de chumbo! Quantos trabalhadores rurais não foram mortos por capangas de fazendeiros, sem que nenhuma investigação fosse realizada, visto que a imprensa não repercutia e a sociedade se calava, com medo? Quer dizer que um trabalhador morto por um fazendeiro reacionário, em plena ditadura, não é também uma vítima da mesma? Essa contabilidade, portanto, é tremendamente preconceituosa e elitista. Como se apenas os garotos de classe média que morreram nas prisões do Doi-Codi devessem ser chorados pela opinião pública. A esquerda, às vezes, é insuportavelmente ingênua; neste caso, é quase uma estupidez, que agride ainda mais a inteligência por vir de um senhor covardemente atacado pela Folha de São Paulo e, por isso, imerso no centro da luta ideológica que ora se arma entre a direita, representada pela mídia e seus pitbulls, e a blogosfera.

Não, professor, não foram 400 mortos. Foram 400 mil mortos. Foram milhões de mortos, pois cada pessoa morta entre 1964 e 1984 era, de uma forma ou outra, uma vítima da violência da ditadura. Nem que fosse a violência peculiar de morrer sabendo que seus filhos e netos estariam vulneráveis à sanha assassina dos militares e dos milhares de empresários, jornalistas e fazendeiros que os apoiavam.

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Como eu disse: meu tio, Francisco do Rosário Barbosa, torturado e morto em 1981, não está na lista de 380 nomes de mortos e desaparecidos da ONG. Ele não era classe média, nem intelectual. Apenas um roceiro de Araguari tentando fazer a vida no Rio de Janeiro. Quantos Franciscos não contabilizados não existem pelo Brasil?

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Por fim, conclamo a todos a entrarem no blog do Marcelo Coelho e darem sua opinião sobre as palhaçadas que ele diz.

23 de fevereiro de 2009

Um osso preso na garganta (e chamada para manifestação em SP)

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Ainda não engoli a respostinha que os editores da Folha deram aos professores Fabio Comparato e Maria Benevides. Eles os acusaram de cínicos e mentirosos por nunca terem denunciado a ditadura cubana. Sem considerar a abominável e covarde grosseria (anônima, ainda por cima) praticada por um jornal cuja tiragem chega 300 mil exemplares, eu fico pensando de onde vieram esses editores, que não sabem que a democracia cubana não foi derrubada por Fidel Castro, mas por Fulgêncio Batista, num movimento patrocinado pelos Estados Unidos.

Queria saber também de que maneira os cubanos poderiam acreditar em democracia se todas as democracias latino-americanas estavam sendo derrubadas por golpes de Estado comprovadamente patrocinados pelos Estados Unidos, em conluio com as elites reacionárias de cada país. Em 1975, já nenhum país latino-americano podia escolher livremente seus governantes e a esquerda era perseguida de maneira implacável e homicida. Os editores da Folha acham que os cubanos, mesmo assim, deveriam acreditar no regime democrático? Alguém acha que se os cubanos elegessem um presidente de esquerda, Cuba, situada a 200 kg dos EUA, seria o único país ao sul do Rio Grande, a não sofrer um golpe militar direitista? Lembrando o saudoso Bussunda: fala sério!

Olha que estou me referindo apenas à resposta desrespeitosa e ignorante dos editores, e não ao infame eufemismo anti-histórico de matéria publicada no dia anterior, chamando a ditadura brasileira de "ditabranda". Aliás, a comparação dos regimes militares latino-americanos, com seus expurgos em massa de intelectuais, artistas, cientistas e dirigentes sindicais, a prática sistemática de tortura, assassinato, censura dos meios de comunicação, anulação dos direitos civis, coibição dos partidos políticos, extinção de qualquer forma de eleição direta, a comparação desses regimes com os governos democráticos de Venezuela e Bolívia, é absolutamente ridícula, e, não apenas ofende a inteligência do cidadão, como constitui uma desinformação tão grave, tão nociva ao entendimento do significado histórico dos regimes militares, e do significado de democracia, que deveria ser combatida severamente pela intelectualidade brasileira - embora eu suspeite que o grau de desmoralização dos setores mais reacionários da imprensa é tão grande que a opção por um desprezo silencioso é perfeitamente válida.

A história de um povo, sobretudo a história recente, permanece na cultura deste, de forma viva, dialética, vibrante. O aspecto dialético refere-se às lutas no interior dos conceitos; a luta entre significantes e significados que dá vida e sentido aos conceitos. No caso da ditadura, é como se a luta contra a mesma não tivesse terminado. Ela se estendeu até aqui, convertida em luta ideológica e conceitual. Ótimo. Se não faltaram brasileiros para lutar contra a ditadura militar, quando fazê-lo implicava não apenas em renunciar a qualquer estabilidade financeira ou profissional, mas em grande risco da própria vida, e temos o exemplo da ultra-jovem Dilma Roussef, não é agora, que a democracia dá legitimidade e segurança aos atores políticos, que fugiremos ao bom combate. A Folha et caterva não perdem por esperar.

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Em tempo, nosso combativo blogueiro Eduardo Guimarães, presidente do Movimento dos Sem Mídia, está organizando uma manifestação em frente ao jornal Folha de São Paulo, para protestar contra este lamentável episódio. Apóio integralmente a iniciativa e, se pudesse, estaria lá. E temos um abaixo-assinado rolando na internet.

Link da ilustração.

*

E faço aqui uma breve reunião de textos sobre o tema:

No OI, temos dois, um do Luiz Antonio Magalhães, outro do Celso Lungaretti. Temos um ótimo do Maringoni, na Agência Carta Maior. Uma denúncia forte e corajosa do Idelber Avelar. E a cada momento, lemos textos melhores e mais fortes contra a covardia imperdoável da Folha.

20 de fevereiro de 2009

A carantonha da Folha

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Está bem claro para mim que a Folha de São Paulo, ao publicar nota onde afirma que a ditadura brasileira não era das mais duras, e sim uma "ditabranda", cumpria uma missão, consciente ou não, de reescrever a história brasileira, com vistas a lançar fumaça sobre uma questão ideológica primordial. O fato é que a ditadura brasileira foi o efeito natural de um movimento organizado pelos representantes do conservadorismo no Brasil. Ou seja, pela direita, com o auxílio mais que luxuoso da imprensa.

Outro dia estava eu lá na Biblioteca Nacional, fuçando edições antigas do jornal O Globo. De repente, eis-me a sorrir. É que descobri um editorial, de meados de março de 1964, realmente muito engraçado. Pena que não posso reproduzi-lo aqui. O Globo faria uma contribuição importante à história brasileira se publicasse na internet as suas edições antigas. Pois bem, era um editorial furibundo. Lendo-o, podia visualizar a baba de raiva vazando da boca de quem o havia escrito. Um editorial anônimo, que são os piores. Acusavam uma instituição norte-americana de grossa calúnia, por ter incluído, numa prestigiada enciclopédia, um verbete sobre o jornal O Globo que dizia o seguinte: publicação de caráter conservador, financiada por instituições estadunidenses.

É de morrer de rir. O Globo afirmava que iria processar legalmente a instituição. Não sei a fonte que levou a universidade a incluir tal informação numa enciclopédia, mas certamente não se tratava de um absurdo inconcebível. Por mim, que tenho desconfiança e antipatia de quaisquer teorias conspiratórias, prefiro acreditar que se tratava de uma desinformação. Mas era totalmente plausível.

Nas semanas seguintes - ainda em março de 1964 - as páginas do Globo encher-se-ão de ameaças e conspirações sombrias sobre uma crescente onda comunista no Brasil. Todos os dias, na primeira página, havia notas conclamando as pessoas a comparecerem a atos contra o governo, em prol da família, da tradição e da propriedade.

Parlamentares conservadores eram entrevistados diariamente, e suas declarações apareciam com destaque. Magalhães Pinto, governador de Minas Gerais, ainda em março, segundo o jornal, diz que aprova a tese do impeachment do presidente da república, proposta por um outro político. Motivo? Incitamento à subversão.

Assim a imprensa costura apoios, estabelece ligações entre chefes políticos, empresários, oficiais do exército e a legião de donas de casa, assustadas com a possibilidade de perderem seus apartamentos para os "comunistas".

De nada adiantavam os discursos apaziguadores de João Gourlat, assegurando que não haveria nenhuma mudança radical na ordem jurídica brasileira, e que as famigeradas reformas de base (sobretudo a agrária) não representariam nenhuma ruptura com o sistema democrático. Visavam, ao contrário, fortalecê-lo, ao abrir caminho para um desenvolvimento econômico mais sustentável.

Há gente que não considera tão relevante assim o papel da imprensa no golpe militar. Não percebem (até porque a mídia e setores da elite continuam tentando refazer a história) que, através da construção de um grande consenso anti-governista, e mais que isso, um sentimento de ódio contra João Gourlat, pintado como um usurpador, um ser nocivo à democracia, e não o seu representante máximo, o golpe foi legitimado junto à opinião pública. Essas pessoas possivelmente mudariam de idéia se lessem, por si mesmas, as edições daquele ano fatídico.

Num outro editorial, O Globo desdenha do apoio que Goulart recebe da União Nacional dos Estudantes, dos sindicatos, de diversas associações trabalhistas, afirmando que os verdadeiros representantes da sociedade brasileira são as associações cristãs de donas de casa et caterva.

A matéria recente da Folha, referindo-se à ditadura brasileira como "ditabranda" e a subsequente resposta agressiva que deu aos professores Fabio Comparato e Maria Benevides, porque eles manifestaram indignação contra este eufemismo anti-histórico e capcioso, mostra o quanto faz falta uma mea-culpa geral de importantes setores da imprensa brasileira, que apoiaram entusiasticamente o golpe militar, enriqueceram-se durante o mesmo, e até hoje ainda sentem pruridos totalitários, como que flashbacks, emergirem à tona de seus pensamentos.

Os efeitos da ditadura permanecem até hoje. A polícia brasileira é uma das mais violentas, brutais e cruéis do planeta. Meu tio, Francisco do Rosário Barbosa, um jovem não-político, roceiro, um poeta singelo e ingênuo, foi preso por motivo absolutamente fútil, e torturado até a morte, na nona DP do Catete, Rio de Janeiro, em 1981, finalzinho da ditadura, num tempo em que já havia ocorrido a abertura política. A sociedade conhece os casos mais famosos, como a morte de Vladimir Herzog, mas muitos historiadores contam que dezenas de milhares de lideranças rurais e urbanas foram mortas no Brasil, sem que disso houvesse notícia. Como sempre, os anônimos foram as maiores vítimas.

Não, não tivemos uma "ditabranda" e sim um regime totalitário assassino, perverso, torturador, que exilou grande parte da intelectualidade brasileira. A tentativa grotesca de reescrever a história, e a forma sutil com que procurou fazê-lo, desvelou a carantonha da Folha, e por consequência a de seus colegas, Globo e Estadão, irmanados na mesma cartilha paranoicamente anticomunista e antidemocrática pela qual rezavam nos anos 60.

O momento atual é bem diferente. A sociedade é livre para manifestar o seu repúdio, e existem tecnologias de comunicação que nos permitem reagir culturalmente de maneira mais efetiva que outrora. No fundo, o texto da Folha de São Paulo serviu para enfraquecê-la politicamente, mostrando-a como uma publicação que se torna mais e mais conservadora e reacionária, beirando o extremismo e a provocação. Pior para ela.


Link da imagem.

26 de fevereiro de 2008

A ditadura brasileira foi a pior de todas

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(Idéia ótima desse cara. Toda a vez que usar a palavra Veja, linke esse endereço: http://luis.nassif.googlepages.com/)


A ditadura cubana foi pior que a brasileira? O blogueiro esgoto da Veja acha que sim e traz números. Aqui, segundo ele, morreram 400 pessoas, vítimas do regime. Lá foram 40 mil, tirante os milhões que fugiram para os Estados Unidos.

Bem, tenho algumas observações a fazer sobre isso. Primeiro, sobre o número de mortos. A informação é obviamente incorreta. Nem que o chefe de Estado fosse Ghandi ou São Francisco, o governo teria matado apenas 400 pessoas em 20 anos. A contabilidade vale apenas para as mortes mais visíveis, de pessoas de classe média. Contabilizar mortos num país com 8 milhões de quilômetros quadrados é bem mais difícil que numa ilha com 115 mil quilômetros quadrados, a 140 km dos EUA, principal centro de jornalismo e mídia do mundo, com todo interesse para ampliar e divulgar qualquer morte registrada em território "inimigo". Além disso, os EUA patrocinaram uma contra-guerrilha em Cuba e não fizeram o mesmo no Brasil, até porque o regime que ajudaram a implantar aqui era "amigo".

Há uma diferença fundamental. O Brasil vivia um momento democrático. Tenso, mas democrático. Com eleições presidenciais, estaduais, municipais. Com legislativo e judiciário livres. Cuba não. Cuba vivia uma ditadura sanguinária, corrupta e patrocinada pelo país mais rico do mundo. É evidente que num contexto desses, o número de mortes aumenta. Segundo qualquer teoria, capitalista ou comunista, o Estado tem o monopólio da violência e a obrigação de defender o povo que ele representa. Fidel foi deputado federal em Cuba. Acreditava na democracia. Nem comunista era. A guerrilha cubana tem início quando Fulgência Batista cancela as eleições e impõe um regime totalitário.

Aqui no Brasil, o golpe militar foi realizado quando a direita, enfraquecida politicamente, recebe apoio de empresários acostumados com os privilégios governamentais, percebe que sua única chance de alcançar o poder é sequestrando a democracia. Quer terrorismo pior que esse? Matar não somente pessoas, mas a esperança de uma nação gigante, com mais de 100 milhões de pessoas e que ainda vivia o início de um processo de industrialização e autonomia econômica?

A revolução cubana foi uma autêntica revolta popular. A guerrilha castrista não tinha recursos, e viviam da ajuda de populares e intelectuais. A nossa ditadura foi uma porrada vinda de cima, dos altos escalões militares e do grande empresariado, com apoio do embaixador americano. Foi um "putch" militar. Fidel lutou contra uma ditadura que matava, torturava, que não permitia ao povo cubano ter esperanças, que vendia o país descaradamente aos mafiosos americanos. Há toda uma literatura sobre isso.

E há a tortura, praticada sistematicamente pelo Estado brasileiro. Cuba vivia uma guerra civil realmente grave, porque financiada por seu vizinho. As forças de segurança do Brasil esbaldaram-se no mais vil sadismo. Meu tio, Francisco do Rosário Barbosa, que não era filiado a nenhum partido nem militava em nenhuma causa (e se o fosse, o fato continua o mesmo) foi torturado medievalmente até a morte, com menos de 30 anos. Não penso o que penso por causa disso. Mas é um fato. Ele foi torturado pela polícia apenas por sadismo - sendo que dá até pena colocar o Sade nesse tipo de crueldade mesquinha sem a mínima relação com erotismo.

Se você acrescentar que a ditadura brasileira destruiu o sistema educacional e de saúde do país, terá uma excelente contabilidade mortuária para exibir ao futuro. A ditadura cubana, nesse ponto, proporcionou o melhor sistema de saúde e de educação de toda a América Latina, em alguns casos até melhor que os Estados Unidos. Se você contabilizar a redução da mortalidade infantil realizada pela revolução cubana, teremos que pensar se não é o caso de incluir esses números nessa guerrinha infantil em torno de quem matou mais.

A ditadura brasileira, por essas razões, foi muito pior que a ditadura cubana e a Veja e seus cachorrinhos brabos (que se consideram pitbulls porque ladram alto e mordem por trás) representam o rebotalho, o vômito fétido de uma nação que ainda não digeriu bem o que lhe aconteceu durante os anos de chumbo.

Ah, sobre os milhões que fugiram para os EUA, basta comparar com outros milhões que fugiram de qualquer outro país caribenho para ver que o regime castrista não influenciou tanto assim. Os latinos pobres, como qualquer pobre do mundo, vão atrás onde há empregos e possibilidade de riqueza.