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21 de junho de 2011
Entrevista minha para o blog Fatos Sociais
Meu camarada, responsável pelo blog Fatos Sociais, fez uma entrevista comigo. Abordou a questão do financiamento dos blogs.
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Miguel do Rosário
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terça-feira, junho 21, 2011
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23 de março de 2011
Entrevista do prefeito Eduardo Paes com blogueiros
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Nesta quarta-feira, cinco blogueiros entrevistaram o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (à cabeceira da mesa). Além d'eu (terceiro à direita, a partir do prefeito), tivemos Theo Rodrigues, do blog Fatos Sociais (primeiro à direita), Sérgio Telles (segundo à esquerda, a partir do prefeito), Ditta Dolejsiova (terceira à esquerda) e Priscila Miranda (segunda à direita). A gente conversou com o prefeito por cerca de 40 minutos sobre cultura, comércio ambulante, urbanismo e carnaval. Foi a segunda atividade importante do nosso #Rioblogprog. A primeira foi o debate que realizamos em dezembro do ano passado. Agora a próxima etapa é organizar o Encontro Estadual de Blogueiros. Estamos quase fechando data e local. Deve acontecer em meados de abril.
Vale agradecer imensamente ao Igor Bruno, coordenador da secretaria de juventude da prefeitura (primeiro à esquerda, a partir do prefeito), que fez a ponte para a entrevista e tem ajudado sempre, desde o ano passado, o nosso movimento.
Depois escrevo mais sobre a entrevista, contando alguma coisa sobre os bastidores, etc.
Vale agradecer imensamente ao Igor Bruno, coordenador da secretaria de juventude da prefeitura (primeiro à esquerda, a partir do prefeito), que fez a ponte para a entrevista e tem ajudado sempre, desde o ano passado, o nosso movimento.
Depois escrevo mais sobre a entrevista, contando alguma coisa sobre os bastidores, etc.
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Miguel do Rosário
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quarta-feira, março 23, 2011
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22 de março de 2011
Blogueiros entrevistam prefeito do Rio de Janeiro, nesta quarta
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Prezados, tenho uma novidade boa para vocês. Vamos fazer uma entrevista com o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, amanhã, quarta-feira às 19:00. Seremos uns 5 ou 6 blogueiros, cujos nomes depois eu falo aqui porque ainda não sei ao certo. É mais ou menos a turma que frequenta nossas reuniões de terça. Quem tiver alguma pergunta a fazer, ponha aí um comentário.
Depois trago mais novidades. Adianto apenas que é mais uma vitória da blogosfera como um todo, e da famigerada blogosfera progressista em particular, visto que, não fosse o esboço de unidade fraternal e política que desenvolvemos, seria mais difícil conseguir esse tipo de coisa.
Depois trago mais novidades. Adianto apenas que é mais uma vitória da blogosfera como um todo, e da famigerada blogosfera progressista em particular, visto que, não fosse o esboço de unidade fraternal e política que desenvolvemos, seria mais difícil conseguir esse tipo de coisa.
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Miguel do Rosário
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terça-feira, março 22, 2011
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28 de janeiro de 2009
Claudio, zelador e artista plástico
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Claudio, zelador do meu prédio, é um excelente artista plástico. Auto-didata, ele também estuda box tailandês (acabou de se formar instrutor) e, em épocas de eleições, reúne-se com amigos para discutir política e tomar a melhor decisão. É um cara inteligente, que não pauta sua vida e suas opiniões pelo que lê em jornais. Veio da Paraíba há muitos anos, como milhões de outros brasileiros, e hoje é um competente zelador que procura estudar o máximo nas horas vagas, tentando crescer espiritualmente. É um bom exemplo de brasileiro. Um bom exemplo de como o povo está mordendo os calcanhares da classe média, que por isso mesmo tem se revelado tão exasperada e irritadiça. Em breve, teremos grandes surpresas com o povão. Artistas plásticos, escritores e cineastas sairão da massa antes ignara. Enfim, nem tudo se resume a crise econômica ou guerras contra-midiáticas. As pessoas continuam vivendo e se instruindo, com ou sem dinheiro. Para o espírito humano, e portanto para o espírito coletivo, crises econômicas não têm nenhum significado.
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Miguel do Rosário
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quarta-feira, janeiro 28, 2009
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11 de dezembro de 2008
Exclusivo! Bruno Pacheco, jornalista, fala sobre a Raposa Serra do Sol
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Vídeo exclusivo da TV Gonzum! Uma entrevista de Camilla Lopes com o jornalista Bruno Pacheco, feita hoje (11/12/2008) sobre a questão da reserva Raposa Serra do Sol.
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Miguel do Rosário
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quinta-feira, dezembro 11, 2008
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10 de dezembro de 2008
TV Gonzum: Bate papo com Godofredo Quincas
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A nossa famigerada TV Gonzum tem a honra de apresentar um bate-papo sobre cinema e cultura com o também famigerado Godofredo Quincas, cineasta, ator, historiador, filósofo, nobre e notável figura do Quadrilátero e adjacências. Gravamos três blocos de 10 minutos. O último bloco termina abruptamente, porque na empolgação da conversa nem percebemos que a câmera já tinha desligado. Mas ficou muito bom, na minha opinião. Conversamos sobre cinema, principalmente.
Parte 1/3
Parte 2/3
Parte 3/3 (desculpem o final abrupto, é que não vimos o tempo passar...)
Parte 1/3
Parte 2/3
Parte 3/3 (desculpem o final abrupto, é que não vimos o tempo passar...)
# Escrito por
Miguel do Rosário
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quarta-feira, dezembro 10, 2008
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28 de novembro de 2008
Entrevista de Tereza Cruvinel para o Comunique-se
1 comentário
Reproduzo a entrevista abaixo, feita para o portal Comunique-se, porque, em verdade, eu também estava presente. O jornalista Matsura fez uma excelente entrevista. O texto é bem pertinente aos assuntos que discutimos aqui no blog, sobretudo no que concerne às complicadas relações entre a comunicação de massa e a política.
Tereza Cruvinel avalia o primeiro ano da EBC e fala sobre 2009
Por Sérgio Matsuura, do Rio de Janeiro
“Continuo sendo essencialmente jornalista, mas eu acho que estou sendo uma boa executiva”. Dessa maneira a presidente da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), Tereza Cruvinel, define a sua atuação à frente do projeto de implantação da TV pública no País. Num longo bate-papo com o Comunique-se, realizado nesta terça-feira (25/11) na sede da EBC no Rio de Janeiro, Tereza analisa o primeiro ano de funcionamento da empresa e faz previsões para 2009.
Olhando para o ano que passou, Tereza fala dos problemas da implantação de uma nova empresa. Explica a dificuldade de fazer novos programas e os problemas para a ampliação da cobertura. Cita casos polêmicos, como a saída de Orlando Senna e Luiz Lobo.
Para o futuro, adianta que medidas a EBC está adotando para resolver os problemas burocráticos que “engessam” o seu funcionamento. Fala sobre um provável concurso público em 2009 e um possível corte orçamentário por causa da crise econômica.
Leia a primeira parte da entrevista com Tereza Cruvinel. A segunda parte será publicada nesta quinta-feira (27/11).
C-se – Antes de tudo, como você analisa o primeiro ano da EBC, que comemora aniversário no próximo dia 02/12?
Tereza Cruvinel - A EBC, enquanto empresa, chega ao final do ano muitos quilômetros além do estado que ela tinha quando começou. Era uma empresa nova, não tinha orçamento, não tinha absorvido a Radiobrás. Ainda existia uma confusão institucional muito grande. A lei só foi aprovada em março, a empresa existia como fantasma. Se a lei não fosse aprovada, a EBC iria acabar. Depois disso, nós aceleramos muito o planejamento da empresa. Agora estamos fazendo mudanças na nossa estrutura organizacional para que ela fique mais adequada a sua finalidade. Então, considero que a empresa chega ao fim do ano muito melhor estruturada do que ao nascer.
C-se - Quais seriam essas mudanças organizacionais?
Tereza Cruvinel - Toda empresa tem estatutos. Os estatutos são regramentos. Então eles dizem, por exemplo, que tal coisa só pode ser resolvida de tal modo, por tal diretor. Se o diretor viaja isso fica amarrado. Isso que estamos tentando mudar. Na estrutura propriamente dita, definimos melhor o papel da diretoria geral, criamos uma diretoria jurídica e uma secretaria executiva, para ajudar na gestão.
C-se - O jornalismo sofreu alguma mudança?
Tereza Cruvinel - Não, nada muda no jornalismo.
C-se - E na TV Brasil, como foi o primeiro ano de funcionamento?
Tereza Cruvinel - Vou fazer um balanço rápido da TV Brasil. Ela também chega ao final do ano em uma situação muitíssimo melhor. No ponto de vista de programação, este ano nós lançamos Revista Brasil, Caminhos da reportagem, De lá pra cá, Três a um, Bossa Nova, Amálgama e Tal como somos. São sete programas novos, sem contar os dois telejornais, que dá um total de nove. Então nós chegamos ao fim do ano com nove programas novos e ainda podemos lançar mais alguma coisa.
C-se – Pode falar um pouco mais sobre a programação?
Tereza Cruvinel - Ainda tem muita programação da TVE na grade. Trocar 20 horas de programação não é fácil em qualquer televisão, muito menos no setor público. Para produzir em casa, nós temos dificuldades com o sucateamento dos equipamentos. E para contratar parcerias, com produtoras independentes, tem todo um procedimento burocrático. Tem regulação, licitação, essas coisas todas que tornam o processo mais complicado. Esse ano nós gostaríamos de ter feito mais, mas não foi possível porque nós estávamos nos estruturando para ter melhores condições. Para as produções próprias, estamos realizando uma grande licitação de equipamentos de produção e transmissão. E para a contratação de parcerias, estamos criando novos procedimentos jurídicos para tornar o processo de contratação mais simplificado.
C-se – Qual o valor dessas licitações?
Tereza Cruvinel - Elas devem superar R$ 100 milhões.
C-se - Vocês estão pensando em produzir programação nova em São Paulo, não é?
Tereza Cruvinel - Primeiro nós vamos chegar com a nossa programação lá. Depois, num segundo momento, vamos ter produções em São Paulo. E o primeiro produto tem que ser, claro, um telejornal local.
C-se – Tereza, muito se fala sobre a falta de cobertura da TV Brasil. Esse problema realmente existe?
Tereza Cruvinel - A TV Brasil tem apenas quatro canais abertos próprios. Ela nunca foi uma rede, como se fala. A TV Brasil é carregada obrigatoriamente por todos os canais por assinatura. A TV Brasil também é exibida pelas bandas C, que alcança 50 milhões de brasileiros que vêem televisão por parabólicas. Também entramos na programação das 24 emissoras educativas e universitárias que são nossas parceiras na Rede Pública de Televisão. Para 2009, estamos solicitando 39 canais de retransmissão ao Ministério das Comunicações. Eu acredito que serão concedidos porque a lei nos assegura essa prioridade. São canais que nós vamos instalar em grandes e médias cidades. Analógicos, abertos. Não vamos cobrir capitais. Demos prioridade às cidades onde a implantação da TV digital ainda vai demorar. A seleção foi minuciosamente estudada, levando em consideração lugares onde a gente não tenha transmissão e a Rede Pública não chega.
Nessa sexta-feira, dia 28, no Palácio do Planalto, estaremos assinando um protocolo com o Senado, com a Câmara, com o STJ e com o Ministério da Educação. Todos esses poderes têm redes digitais a montar. Com isso, nós vamos compartilhar a infra-estrutura para fazer a rede digital no Brasil. Então, são cinco parceiras para rachar os custos. Isso reduz significativamente os custos de implantação da nossa rede digital.
Queria que as pessoas soubessem como as redes comerciais trabalharam para se transformarem em rede. Fazer rede não é assim não, é um longo processo. Para as TVs comerciais não é fácil. Muito menos para uma TV pública que tem só quatro canais próprios. Agora, no ano que vem, com as 39 retransmissoras, teremos uma realidade melhor. E vamos cobrar que as TVs por assinatura cumpram plenamente a lei, coisa que elas não fazem. Nem todas estão carregando o sinal da TV Brasil.
C-se – Um ponto que é muito criticado é a audiência. Como a emissora enxerga essa questão?
Tereza Cruvinel - A natureza da nossa programação é diferente. Você leva muito mais tempo para fidelizar o telespectador com uma programação como a nossa. O cara que gosta de cinema nacional, ele começa a freqüentar a Faixa de cinema. O infantil, por exemplo, é muito bem visto. Fidelizar cliente, com uma programação como a nossa, é muito difícil, mas nós temos absoluta convicção de que não vamos fazer concessões na qualidade da programação para ganhar audiência.
C-se - Você falou que nesse primeiro ano a EBC passou por algumas dificuldades. Você pode destacar algumas delas?
Tereza Cruvinel - Primeiro foi a própria lei, num ambiente de muita incompreensão do que fosse TV pública, que chegou a ser chamada de TV Lula, Lula News. Ignorâncias misturadas com má-fé. Alguns não sabiam, outros não queriam entender. Então, foi um período muito difícil. Outro foi o momento que precedeu a incorporação da Radiobrás, que só aconteceu em 12/06. Sem isso, nós não tínhamos um centavo próprio. Outro momento difícil foi a saída de Orlando Senna. Ele saiu porque apontou grandes dificuldades de gestão que realmente existiam. E o momento do caso Luiz Lobo, que foi julgado pelo Conselho Curador. O Conselho constatou que o nosso telejornalismo é tecnicamente correto e politicamente isento. E durante todo o ano a gente sofreu com a Anatel para colocar o canal de São Paulo no ar. Isso sem falar nos problemas burocráticos, como contratação, licitação, coisas assim. Mas as dificuldades maiores foram essas.
C-se - Por falar em licitação, como está a escolha da empresa que vai produzir a Revista África?
Tereza Cruvinel - Uma produtora recorreu porque não apresentou os documentos necessários na época certa e isso gerou um atraso. Nós ainda vamos fazer a Revista América Latina, mas vamos fazer a África primeiro.
*
Segunda Parte
"A lei engessa", lamenta Tereza Cruvinel
Sérgio Matsuura, do Rio de Janeiro
Na segunda parte da entrevista com Tereza Cruvinel, a presidente da Empresa Brasil de Comunicação (EBC) lamenta que poucos planos tenham sido botados em prática no primeiro ano, já que existe um "engessamento" - a empresa depende de licitações e leis para realizar mudanças e fazer acontecer.
O ano de 2009, segundo ela, é ideal para concurso, já que não será eleitoral.
Leia a segunda parte da conversa com Tereza Cruvinel.
C-se - Quando o Orlando Senna saiu, ele falou muito do engessamento. A EBC continua engessada?
Tereza Cruvinel - Engessamento são essas coisas, mas nós já “desengessamos” bastante a empresa. Nós estamos criando a diretoria jurídica, ocupada pelo doutor Luiz Henrique Martins dos Anjos, um advogado da União altamente qualificado. Estamos criando mecanismos que facilitem isso que ele chamava de engessamento. A lei engessa. Eu também poderia ter ido embora, porque ela era realmente muito engessada. Eu preferi ficar. Então o que a gente tem feito? Construído mecanismos de gestão, mecanismos jurídicos que nos tornem mais ágeis.
Nós conseguimos aprovar um decreto criando um regimento mais simplificado de compras, que já nos dá mais agilidade. Nós estamos regulamentando alguns artigos da nossa lei. Nós queremos regulamentar a contratação de programas por pitching. É preciso combinar legalidade com agilidade. Isso que é “desengessar”. Se fosse fácil fazer a TV pública ela já existiria no Brasil há muito tempo.
C-se - No primeiro ano foram aplicados R$ 350 milhões. Para 2009 vocês já têm uma verba prevista?
Tereza Cruvinel - A gente tem R$ 350 milhões reservados no orçamento que o Governo enviou para o Congresso, mas a gente não sabe o que o Governo fará diante da crise internacional, se ele vai fazer cortes orçamentários. Se houver, pode nos atingir. Mas não é nada que vá ameaçar o funcionamento da empresa. Os cortes são lineares, não específicos para a TV Brasil ou para a EBC. O que pode acontecer é a gente não conseguir fazer tudo o que queria no ano. E nós temos que buscar mais parcerias com o setor privado, nós temos que nos virar. Não podemos ficar só esperando o Governo.
C-se – Como funcionam essas parcerias com o setor privado?
Tereza Cruvinel - As parcerias são feitas com base na Lei Rouanet. Nós temos, hoje, algumas parcerias, mas precisamos avançar mais. Agora estamos com um projeto com o Sesi sobre um programa novo. Em 2009 nós vamos lançar o programa Imagens do Brasil, que não foi possível lançar esse ano. A gente espera que o setor privado invista muito nesse fundo porque é um fundo para financiar produções independentes para a exibição na TV pública.
C-se – A verba deste ano já foi toda empenhada?
Tereza Cruvinel - Você tem três rubricas no orçamento público: pessoal, custeio e investimento. Pessoal, gasta-se, porque é o pagamento de folha. Custeio, nós já estamos com o nosso orçamento completamente esgotado, tendo até que deixar alguma coisa para o ano que vem. Agora, nós reservamos R$ 100 milhões para licitação. Essa que está em curso e esperamos conseguir concluí-la para gastar esse dinheiro e termos uma execução orçamentária muito boa. Execução orçamentária boa é aquela que você consegue gastar, corretamente, legalmente, mas consegue gastar.
C-se – Esse ano os funcionários fizeram uma greve. Como foi resolvido esse problema e como está sendo a discussão em torno do Plano de Carreira?
Tereza Cruvinel - A greve foi desnecessária, talvez um problema mais de comunicação do que um conflito propriamente dito. Quando tudo foi explicado, os funcionários voltaram a trabalhar imediatamente. Havia uma sobreposição de discussão de implantação do Plano de carreiras com a data-base. Separamos, negociamos e fizemos o acordo. O plano de carreira nós resolvemos discutir mais porque existem algumas questões que os funcionários não aceitaram bem. A idéia é que o plano aproxime mais os salários dos nossos funcionários com os do mercado. Agora ele não vai mais ser implementado este ano. Nós ainda vamos discutir alguns aspectos dele. Um plano de carreira é uma coisa duradoura e não pode ser feito assim. Se há coisas a discutir, vamos discutir.
C-se - Como está a situação dos funcionários da Acerp?
Tereza Cruvinel - A Acerp é uma organização social do terceiro setor. Não é Estado. Logo, ela não pôde, por força de lei, ser absorvida pela EBC como foi a Radiobrás. Agora, a situação deles está resolvida de forma estável. Não existe razão para se falar em demissões em massa. Não há nenhuma ameaça à estabilidade dos servidores. O contrato de gestão que mantém a Acerp funcionando será renovado agora em dezembro.
C-se - Existe alguma previsão de concurso público ou contratação?
Tereza Cruvinel - A EBC deve fazer concurso em 2009. Não sei quando, nem para que cargos, mas certamente ela precisará. Nós estamos expandindo, com a criação da sede de São Paulo. E o jornalismo carece de mais recursos humanos. Estamos criando programas novos e parte deles também será feito em São Paulo. Então, é possível que haja concurso em 2009, até porque é um ano bom para fazer concurso por não ser eleitoral.
C-se - Tereza, como foi a sua adaptação? Você escrevia para um jornal, de grande circulação, e agora está na presidência de uma empresa pública.
Tereza Cruvinel - Eu sinto saudade da televisão. Eu faço pouco vídeo. E tenho muita saudade de escrever. Mas às vezes eu faço algumas coisas. Escrever não tenho podido, a não ser documentos internos. Nas eleições eu fiz comentários e amanhã vai ao ar o Três a um com o Fernando Henrique de que eu participei. A gente faz alguma coisinha para matar a saudade. E na transição o jornalismo me ajudou muito, porque eu aprendi como funcionam as coisas, tanto no setor público como no privado. E já aprendi muito sobre engenharia, transmissão. Foi tudo muito rápido. Agora, continuo sendo essencialmente jornalista, mas eu acho que estou sendo uma boa executiva.
C-se - Para finalizar, qual o grande desafio para o ano de 2009?
Tereza Cruvinel - Na TV Brasil, particularmente, continuar avançando com a programação. Conseguir realizar todos os programas que não pudemos fazer esse ano. Nós temos muitas idéias, mas a gente precisa realizá-las. No aspecto de cobertura, ver se a gente consegue ampliar a nossa presença no Brasil. Agora, para a EBC como um todo, nós precisamos de um salto tecnológico. Nossa situação de tecnologia, em todas as áreas, é muito precária. Essa é a nossa grande deficiência.
Tereza Cruvinel avalia o primeiro ano da EBC e fala sobre 2009
Por Sérgio Matsuura, do Rio de Janeiro
“Continuo sendo essencialmente jornalista, mas eu acho que estou sendo uma boa executiva”. Dessa maneira a presidente da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), Tereza Cruvinel, define a sua atuação à frente do projeto de implantação da TV pública no País. Num longo bate-papo com o Comunique-se, realizado nesta terça-feira (25/11) na sede da EBC no Rio de Janeiro, Tereza analisa o primeiro ano de funcionamento da empresa e faz previsões para 2009.
Olhando para o ano que passou, Tereza fala dos problemas da implantação de uma nova empresa. Explica a dificuldade de fazer novos programas e os problemas para a ampliação da cobertura. Cita casos polêmicos, como a saída de Orlando Senna e Luiz Lobo.
Para o futuro, adianta que medidas a EBC está adotando para resolver os problemas burocráticos que “engessam” o seu funcionamento. Fala sobre um provável concurso público em 2009 e um possível corte orçamentário por causa da crise econômica.
Leia a primeira parte da entrevista com Tereza Cruvinel. A segunda parte será publicada nesta quinta-feira (27/11).
C-se – Antes de tudo, como você analisa o primeiro ano da EBC, que comemora aniversário no próximo dia 02/12?
Tereza Cruvinel - A EBC, enquanto empresa, chega ao final do ano muitos quilômetros além do estado que ela tinha quando começou. Era uma empresa nova, não tinha orçamento, não tinha absorvido a Radiobrás. Ainda existia uma confusão institucional muito grande. A lei só foi aprovada em março, a empresa existia como fantasma. Se a lei não fosse aprovada, a EBC iria acabar. Depois disso, nós aceleramos muito o planejamento da empresa. Agora estamos fazendo mudanças na nossa estrutura organizacional para que ela fique mais adequada a sua finalidade. Então, considero que a empresa chega ao fim do ano muito melhor estruturada do que ao nascer.
C-se - Quais seriam essas mudanças organizacionais?
Tereza Cruvinel - Toda empresa tem estatutos. Os estatutos são regramentos. Então eles dizem, por exemplo, que tal coisa só pode ser resolvida de tal modo, por tal diretor. Se o diretor viaja isso fica amarrado. Isso que estamos tentando mudar. Na estrutura propriamente dita, definimos melhor o papel da diretoria geral, criamos uma diretoria jurídica e uma secretaria executiva, para ajudar na gestão.
C-se - O jornalismo sofreu alguma mudança?
Tereza Cruvinel - Não, nada muda no jornalismo.
C-se - E na TV Brasil, como foi o primeiro ano de funcionamento?
Tereza Cruvinel - Vou fazer um balanço rápido da TV Brasil. Ela também chega ao final do ano em uma situação muitíssimo melhor. No ponto de vista de programação, este ano nós lançamos Revista Brasil, Caminhos da reportagem, De lá pra cá, Três a um, Bossa Nova, Amálgama e Tal como somos. São sete programas novos, sem contar os dois telejornais, que dá um total de nove. Então nós chegamos ao fim do ano com nove programas novos e ainda podemos lançar mais alguma coisa.
C-se – Pode falar um pouco mais sobre a programação?
Tereza Cruvinel - Ainda tem muita programação da TVE na grade. Trocar 20 horas de programação não é fácil em qualquer televisão, muito menos no setor público. Para produzir em casa, nós temos dificuldades com o sucateamento dos equipamentos. E para contratar parcerias, com produtoras independentes, tem todo um procedimento burocrático. Tem regulação, licitação, essas coisas todas que tornam o processo mais complicado. Esse ano nós gostaríamos de ter feito mais, mas não foi possível porque nós estávamos nos estruturando para ter melhores condições. Para as produções próprias, estamos realizando uma grande licitação de equipamentos de produção e transmissão. E para a contratação de parcerias, estamos criando novos procedimentos jurídicos para tornar o processo de contratação mais simplificado.
C-se – Qual o valor dessas licitações?
Tereza Cruvinel - Elas devem superar R$ 100 milhões.
C-se - Vocês estão pensando em produzir programação nova em São Paulo, não é?
Tereza Cruvinel - Primeiro nós vamos chegar com a nossa programação lá. Depois, num segundo momento, vamos ter produções em São Paulo. E o primeiro produto tem que ser, claro, um telejornal local.
C-se – Tereza, muito se fala sobre a falta de cobertura da TV Brasil. Esse problema realmente existe?
Tereza Cruvinel - A TV Brasil tem apenas quatro canais abertos próprios. Ela nunca foi uma rede, como se fala. A TV Brasil é carregada obrigatoriamente por todos os canais por assinatura. A TV Brasil também é exibida pelas bandas C, que alcança 50 milhões de brasileiros que vêem televisão por parabólicas. Também entramos na programação das 24 emissoras educativas e universitárias que são nossas parceiras na Rede Pública de Televisão. Para 2009, estamos solicitando 39 canais de retransmissão ao Ministério das Comunicações. Eu acredito que serão concedidos porque a lei nos assegura essa prioridade. São canais que nós vamos instalar em grandes e médias cidades. Analógicos, abertos. Não vamos cobrir capitais. Demos prioridade às cidades onde a implantação da TV digital ainda vai demorar. A seleção foi minuciosamente estudada, levando em consideração lugares onde a gente não tenha transmissão e a Rede Pública não chega.
Nessa sexta-feira, dia 28, no Palácio do Planalto, estaremos assinando um protocolo com o Senado, com a Câmara, com o STJ e com o Ministério da Educação. Todos esses poderes têm redes digitais a montar. Com isso, nós vamos compartilhar a infra-estrutura para fazer a rede digital no Brasil. Então, são cinco parceiras para rachar os custos. Isso reduz significativamente os custos de implantação da nossa rede digital.
Queria que as pessoas soubessem como as redes comerciais trabalharam para se transformarem em rede. Fazer rede não é assim não, é um longo processo. Para as TVs comerciais não é fácil. Muito menos para uma TV pública que tem só quatro canais próprios. Agora, no ano que vem, com as 39 retransmissoras, teremos uma realidade melhor. E vamos cobrar que as TVs por assinatura cumpram plenamente a lei, coisa que elas não fazem. Nem todas estão carregando o sinal da TV Brasil.
C-se – Um ponto que é muito criticado é a audiência. Como a emissora enxerga essa questão?
Tereza Cruvinel - A natureza da nossa programação é diferente. Você leva muito mais tempo para fidelizar o telespectador com uma programação como a nossa. O cara que gosta de cinema nacional, ele começa a freqüentar a Faixa de cinema. O infantil, por exemplo, é muito bem visto. Fidelizar cliente, com uma programação como a nossa, é muito difícil, mas nós temos absoluta convicção de que não vamos fazer concessões na qualidade da programação para ganhar audiência.
C-se - Você falou que nesse primeiro ano a EBC passou por algumas dificuldades. Você pode destacar algumas delas?
Tereza Cruvinel - Primeiro foi a própria lei, num ambiente de muita incompreensão do que fosse TV pública, que chegou a ser chamada de TV Lula, Lula News. Ignorâncias misturadas com má-fé. Alguns não sabiam, outros não queriam entender. Então, foi um período muito difícil. Outro foi o momento que precedeu a incorporação da Radiobrás, que só aconteceu em 12/06. Sem isso, nós não tínhamos um centavo próprio. Outro momento difícil foi a saída de Orlando Senna. Ele saiu porque apontou grandes dificuldades de gestão que realmente existiam. E o momento do caso Luiz Lobo, que foi julgado pelo Conselho Curador. O Conselho constatou que o nosso telejornalismo é tecnicamente correto e politicamente isento. E durante todo o ano a gente sofreu com a Anatel para colocar o canal de São Paulo no ar. Isso sem falar nos problemas burocráticos, como contratação, licitação, coisas assim. Mas as dificuldades maiores foram essas.
C-se - Por falar em licitação, como está a escolha da empresa que vai produzir a Revista África?
Tereza Cruvinel - Uma produtora recorreu porque não apresentou os documentos necessários na época certa e isso gerou um atraso. Nós ainda vamos fazer a Revista América Latina, mas vamos fazer a África primeiro.
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Segunda Parte
"A lei engessa", lamenta Tereza Cruvinel
Sérgio Matsuura, do Rio de Janeiro
Na segunda parte da entrevista com Tereza Cruvinel, a presidente da Empresa Brasil de Comunicação (EBC) lamenta que poucos planos tenham sido botados em prática no primeiro ano, já que existe um "engessamento" - a empresa depende de licitações e leis para realizar mudanças e fazer acontecer.
O ano de 2009, segundo ela, é ideal para concurso, já que não será eleitoral.
Leia a segunda parte da conversa com Tereza Cruvinel.
C-se - Quando o Orlando Senna saiu, ele falou muito do engessamento. A EBC continua engessada?
Tereza Cruvinel - Engessamento são essas coisas, mas nós já “desengessamos” bastante a empresa. Nós estamos criando a diretoria jurídica, ocupada pelo doutor Luiz Henrique Martins dos Anjos, um advogado da União altamente qualificado. Estamos criando mecanismos que facilitem isso que ele chamava de engessamento. A lei engessa. Eu também poderia ter ido embora, porque ela era realmente muito engessada. Eu preferi ficar. Então o que a gente tem feito? Construído mecanismos de gestão, mecanismos jurídicos que nos tornem mais ágeis.
Nós conseguimos aprovar um decreto criando um regimento mais simplificado de compras, que já nos dá mais agilidade. Nós estamos regulamentando alguns artigos da nossa lei. Nós queremos regulamentar a contratação de programas por pitching. É preciso combinar legalidade com agilidade. Isso que é “desengessar”. Se fosse fácil fazer a TV pública ela já existiria no Brasil há muito tempo.
C-se - No primeiro ano foram aplicados R$ 350 milhões. Para 2009 vocês já têm uma verba prevista?
Tereza Cruvinel - A gente tem R$ 350 milhões reservados no orçamento que o Governo enviou para o Congresso, mas a gente não sabe o que o Governo fará diante da crise internacional, se ele vai fazer cortes orçamentários. Se houver, pode nos atingir. Mas não é nada que vá ameaçar o funcionamento da empresa. Os cortes são lineares, não específicos para a TV Brasil ou para a EBC. O que pode acontecer é a gente não conseguir fazer tudo o que queria no ano. E nós temos que buscar mais parcerias com o setor privado, nós temos que nos virar. Não podemos ficar só esperando o Governo.
C-se – Como funcionam essas parcerias com o setor privado?
Tereza Cruvinel - As parcerias são feitas com base na Lei Rouanet. Nós temos, hoje, algumas parcerias, mas precisamos avançar mais. Agora estamos com um projeto com o Sesi sobre um programa novo. Em 2009 nós vamos lançar o programa Imagens do Brasil, que não foi possível lançar esse ano. A gente espera que o setor privado invista muito nesse fundo porque é um fundo para financiar produções independentes para a exibição na TV pública.
C-se – A verba deste ano já foi toda empenhada?
Tereza Cruvinel - Você tem três rubricas no orçamento público: pessoal, custeio e investimento. Pessoal, gasta-se, porque é o pagamento de folha. Custeio, nós já estamos com o nosso orçamento completamente esgotado, tendo até que deixar alguma coisa para o ano que vem. Agora, nós reservamos R$ 100 milhões para licitação. Essa que está em curso e esperamos conseguir concluí-la para gastar esse dinheiro e termos uma execução orçamentária muito boa. Execução orçamentária boa é aquela que você consegue gastar, corretamente, legalmente, mas consegue gastar.
C-se – Esse ano os funcionários fizeram uma greve. Como foi resolvido esse problema e como está sendo a discussão em torno do Plano de Carreira?
Tereza Cruvinel - A greve foi desnecessária, talvez um problema mais de comunicação do que um conflito propriamente dito. Quando tudo foi explicado, os funcionários voltaram a trabalhar imediatamente. Havia uma sobreposição de discussão de implantação do Plano de carreiras com a data-base. Separamos, negociamos e fizemos o acordo. O plano de carreira nós resolvemos discutir mais porque existem algumas questões que os funcionários não aceitaram bem. A idéia é que o plano aproxime mais os salários dos nossos funcionários com os do mercado. Agora ele não vai mais ser implementado este ano. Nós ainda vamos discutir alguns aspectos dele. Um plano de carreira é uma coisa duradoura e não pode ser feito assim. Se há coisas a discutir, vamos discutir.
C-se - Como está a situação dos funcionários da Acerp?
Tereza Cruvinel - A Acerp é uma organização social do terceiro setor. Não é Estado. Logo, ela não pôde, por força de lei, ser absorvida pela EBC como foi a Radiobrás. Agora, a situação deles está resolvida de forma estável. Não existe razão para se falar em demissões em massa. Não há nenhuma ameaça à estabilidade dos servidores. O contrato de gestão que mantém a Acerp funcionando será renovado agora em dezembro.
C-se - Existe alguma previsão de concurso público ou contratação?
Tereza Cruvinel - A EBC deve fazer concurso em 2009. Não sei quando, nem para que cargos, mas certamente ela precisará. Nós estamos expandindo, com a criação da sede de São Paulo. E o jornalismo carece de mais recursos humanos. Estamos criando programas novos e parte deles também será feito em São Paulo. Então, é possível que haja concurso em 2009, até porque é um ano bom para fazer concurso por não ser eleitoral.
C-se - Tereza, como foi a sua adaptação? Você escrevia para um jornal, de grande circulação, e agora está na presidência de uma empresa pública.
Tereza Cruvinel - Eu sinto saudade da televisão. Eu faço pouco vídeo. E tenho muita saudade de escrever. Mas às vezes eu faço algumas coisas. Escrever não tenho podido, a não ser documentos internos. Nas eleições eu fiz comentários e amanhã vai ao ar o Três a um com o Fernando Henrique de que eu participei. A gente faz alguma coisinha para matar a saudade. E na transição o jornalismo me ajudou muito, porque eu aprendi como funcionam as coisas, tanto no setor público como no privado. E já aprendi muito sobre engenharia, transmissão. Foi tudo muito rápido. Agora, continuo sendo essencialmente jornalista, mas eu acho que estou sendo uma boa executiva.
C-se - Para finalizar, qual o grande desafio para o ano de 2009?
Tereza Cruvinel - Na TV Brasil, particularmente, continuar avançando com a programação. Conseguir realizar todos os programas que não pudemos fazer esse ano. Nós temos muitas idéias, mas a gente precisa realizá-las. No aspecto de cobertura, ver se a gente consegue ampliar a nossa presença no Brasil. Agora, para a EBC como um todo, nós precisamos de um salto tecnológico. Nossa situação de tecnologia, em todas as áreas, é muito precária. Essa é a nossa grande deficiência.
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Miguel do Rosário
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sexta-feira, novembro 28, 2008
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25 de novembro de 2008
Labaredas da liberdade
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Por Miguel do Rosário
Como dizia Cazuza: senhoras e senhores, trago boas novas, eu vi a cara da morte e ela estava viva. No meu caso, porém, não foi a morte. Foi o mundo. Quer dizer, no caso de Tereza Cruvinel, presidente da TV Brasil. O mundo está vivo, afirmou a valorosa guerreira, recrutada por Lula para defender a tv pública nacional, em entrevista gentilmente concedida, ao vivo e a cores, ao escritor Miguel do Rosário. A América Latina vive um momento muito bom, com seus governantes adotando políticas para superar injustiças sociais históricas, observou Cruvinel, e Jorge Mautner, também presente, completou: A eleição de Obama é a eleição de um brasileiro - o Brasil está no poder.
Não uso aspas porque estou citando tudo de memória. Tentei anotar mas, sobretudo no caso de Mautner, não dá. Agora vou imitar o Juruna, e andar sempre com gravador no bolso. Mautner, divertido e brilhante orador, disse mil coisas geniais, e numa delas, referindo-se às mudanças que uma tv pública forte e autêntica pode trazer à cultura brasileira, usou a expressão "labareda da liberdade", título desse artigo.
Onde anda minha Tereza? Há pouco mais de um ano, Cruvinel assinava a principal coluna política do jornal O Globo, e foi mais um daqueles (ou daquelas) que não resistiram à pressão chauvinista, vinda dos últimos andares das empresas de comunicação, para alinhar-se aos patrões na virulenta briga política e partidária contra o governo Lula.
O problema do jornalista que trabalha para a grande imprensa é que ele não trabalha para uma empresa só. Ele presta serviço para um conglomerado de empresas que partilham a mesma ideologia. Comprar uma divergência política com o Globo, portanto, é assinar um atestado de óbito na imprensa corporativa escrita. Os canais de tv aberta, por viverem uma concorrência muita agressiva com a Globo, ainda abrem espaço para jornalistas rompidos com a família Marinho. Desde que eles se comportem direitinho, obviamente.
Eu lembro da coluna da Tereza no Globo. Percebia-lhe, nas entrelinhas, a angústia de se ver envolvida numa maquiavélica trama azul e amarela para derrubar Lula. Cruvinel não defendia o governo Lula em suas colunas. Ao contrário, atacava-o de vez em quando. Mas o fazia com uma sensatez e uma civilidade que, nitidamente, não satisfaziam a sede de sangue de um Ali Kamel, de um Reinaldo Azevedo, de um Civita, de um Mainardi. Tanto que foi vilmente agredida pelo blogueiro da Veja, em artigo racista em que usava jocosamente o termo "cabrôca" para se referir à Cruvinel, que é de fato uma bela e atraente morena, uma autêntica mulher brasileira. Azevedo tem um enorme talento para humilhar pessoas, usa-o constantemente, e é pago regiamente para fazê-lo. Eu a conheci virtualmente, a Tereza, nesta época. Escrevi um artigo defendendo-a, ela me agradeceu por email, e trocamos algumas mensagens.
Nada como um dia após o outro. Enquanto Reinaldo Azevedo é hoje um blogueiro de extrema-direita desprezado por 99% da opinião pública, inclusive por jornalistas conservadores, como Luis Nassif, e Mainardi foi desmascarado como lobbista de Daniel Dantas e já tem um pé na cadeia, a história, essa adolescente incorrigível, elegeu um negro socialista para comandante supremo dos Estados Unidos, a "cabrôca" preside o que será, em breve, a maior tv pública das Américas, e Lula foi reeleito em 2006, com uma vitória esmagadora, contando hoje com mais de 80% de aprovação popular!
E eu ali. E o Jorge Mautner, que também participava da entrevista. Mautner, como todo coerente intelectual de esquerda, é um fanático defensor da tv pública. É essencial, é uma necessidade absoluta, disse o escritor-músico-intelectual.
Cruvinel mostrou-se visivelmente aborrecida com matéria publicada ontem no caderno Ilustrada da Folha de São Paulo. Meus leitores, que são macacos-velhos em imprensa golpista, já podem imaginar o teor da matéria. O título é algo assim: TV de Lula não engrena, e traz informações totalmente distorcidas sobre audiência. Cruvinel explicou que a matéria trazia informações sobre audiência apenas no município do Rio de Janeiro, e que existem graves falhas nas metodologias de produção estatística de audiência no Brasil, até por causa das ultra-novas tecnologias de difusão e captação de imagens. Ela explicou que existem mais de 50 milhões de brasileiros que assistem tv, inclusive a TV Brasil, via antena parabólica, e que esses dados não constam das convencionais grades de audiência. A TV Brasil, além disso, por lei, consta obrigatoriamente nas tvs por assinatura - apesar de algumas não cumprirem a norma. Esses dados também não constam dos números usados pela Folha para desprestigiar a TV Brasil.
O jornalista da Folha, naturalmente (pela Folha ser o que é), não procura compreender as dificuldades inerentes a uma TV recém-criada. Cruvinel explicou que a TV Brasil, criada por medida provisória há um ano, só foi oficialmente implantada em março, após complicadíssimas votações no Congresso e, sobretudo, no Senado, onde a oposição partidária, com apoio histérico da mídia corporativa (Globo à frente), tentou de tudo para impedir a sua existência. A incorporação da Radiobrás ocorreu somente em junho e só a partir daí a TV Brasil contaria com verba própria.
Por fim, houve dificuldades enormes para entrar em São Paulo. Claro. Dá até vontade de rir. Misteriosamente, o estado mais industrializado, informatizado, moderno, do país, está sendo o último a receber a programação da TV Brasil. Mas, enfim, a TV Brasil está entrando em São Paulo a partir das próximas semanas.
Cruvinel explicou, em suma, que somente agora a TV Brasil superou os primeiros obstáculos técnicos, jurídicos, políticos, financeiros, e pode se dedicar ao que seria a sua missão primordial: produzir e distribuir programas culturais inteligentes, autênticos e originais. É o que está fazendo. Nas próximas semanas, estréiam programas de grande qualidade, dirigidos por alguns dos intelectuais e artistas mais importantes do país: Marçal Aquino, na literatura; Marcelo Gomes, no cinema; Felipe Ehrenberg nas artes visuais; e o grande Jorge Mautner, na cultura em geral.
Perguntei ao Mautner se ele achava que a eleição de Obama pode trazer mudanças positivas para o Brasil e significar mudanças geopolíticas. Claro, ele disse, e mudanças que irão colocar o Brasil na liderança do mundo. A vitória de Obama é uma vitória nossa. Mautner lembrou que Obama disse, na primeira entrevista a um repórter tupi: "eu sou brasileiro". Ele é um vira-lata, um autêntico "moreno", que reúne criatividade, coragem e prudência, como todo brasileiro que se preza.
Essa mudança geopolítica - a eleição de um negro de esquerda nos EUA - provocará mudança ideológica no status do Estado, e isso naturalmente beneficiará órgãos estatais, como a TV Brasil, que terão mais prestígio.
*
Notícia recente publicada em todos os jornais informa que Obama contratou, como assessores próximos, intelectuais de um conhecido "think tank" esquerdista, e que já sinalizou que adotará as idéias e projetos desse instituto. Queria ver a cara de Olavo Carvalho, nosso não tão querido filósofo nazista, ao ler essa bomba. Ele saiu do Brasil, fugindo do Lula, e refugiou-se em Washington, crente que lá estaria protegido dos malditos esquerdistas, e eis que os malditos tomam a Casa Branca! Olavão, eu já disse alhures, deveria urgentemente buscar abrigo na Polônia, presidida por dois gêmeos retardados, psicopatas e conservadores.
*
Cruvinel explicou que a tv pública implantará no Brasil um sistema de multicanais, que possibilitará a criação de tvs legislativas para cada câmara de vereadores de cada município brasileiro. Será analogicamente mesmo, num primeiro momento, distribuído pelas vias tradicionais.
*
A TV Brasil, nos últimos meses, fez grandes investimentos para re-estruturar e melhorar a qualidade das imagens transmitidas. Construiu torres novas nas grandes cidades e estabeleceu dezenas de parcerias com retransmissoras de todo país, públicas e privadas.
Em 2008, a verba da TV Brasil foi de R$ 350 milhões. Cruvinel explicou que os recursos são gastos de três maneiras: pessoal, custeio e investimento. A parte de pessoal e custeio já foi inteiramente gasta. Eles reservaram R$ 100 milhões para os investimentos no conteúdo. Em 2009, a verba destacada é novamente de R$ 350 milhões.
*
Algumas idéias anarquistas que o papo com Mautner me inspirou:
1) Proibição de bancos privados. Deveria existir somente o Banco do Brasil. O BB rouba a gente mas pelo menos o dinheiro é usado para saúde e educação. Para onde vai o dinheiro do Itaú? Do Bradesco? Para conta de playboys otários. Banco privado faz mal ao próprio capitalismo, porque rouba dinheiro da maioria dos empresários, agricultores, assalariados, artistas. A pessoa, se quisesse, poderia abrir conta num banco estrangeiro. Mas a União deveria decretar o monopólio estatal do sistema financeiro no país, e proibir o lucro do banco oficial. O Banco do Brasil, por lei, não poderia cobrar nada de seus clientes. O banco já obtém lucro suficiente apenas movimentando o dinheiro guardado. Não precisa cobrar juros. Ainda mais um banco oficial. A China faz isso e é por isso que a China cresce 15% ao ano. E isso não é comunismo. Ao contrário. Os bancos privados são os maiores adversários do capitalismo, porque eles drenam o dinheiro para si mesmos, dificultando a circulação do capital pelas atividades econômicas. Não sei se Marx percebeu ou disse isso. Eu digo. Bancos privados são como senhores feudais do capital. Eles travam a circulação do dinheiro. Os únicos bancos do mundo deveriam ser os próprios governos, pois são os únicos entes que podem ser fiscalizados pela população. A civilização humana não pode depender de instituições cujo funcionamento e hierarquia não são democráticos. O desespero levou governos do primeiro mundo a entenderem isto. Qual foi a única solução que os governos encontraram para resolver a crise mundial? Eles compraram os bancos. Minha opinião é que os governos deveriam comprá-los todos, os bancos, pra sempre. Não faz sentido o Estado ter gasto trilhões de dólares comprando os bancos e depois se desfazer deles, criando o risco de outra quebradeira no futuro.
2) Construção de estradas que permitam o tráfego humano a pé e de bicicleta, restrição do uso de carros privados nas grandes cidades, e investimentos maciços na construção de ciclovias e calçadas decentes para as pessoas poderem caminhar melhor por toda parte.
3) Construção de duas grandes linhas férreas no Brasil, norte X sul, leste X oeste, para transporte de pessoas e mercadorias. Um trem de alta velocidade hoje é mais veloz que avião, e pode inclusive ser subterrâneo, de maneira que poderíamos ligar o norte ao sul do pais em poucas horas, criando novos fluxos de comércio que possibilitariam a geração de muita riqueza e cultura. É um investimento de trilhões de reais, e que demandaria uns cinco ou dez anos para ficar pronto, mas valeria a pena. Esse projeto poderia ser pago com o dinheiro do pré-sal.
*
Aproveite a proximidade do Natal para fazer uma boa ação. Compre um livro no sebo virtual Gonzum ou assine a revista impressa Manuskripto, as principais fontes de financiamento do blog. Publicação mensal, a assinatura anual do Manuskripto custa R$ 48. Para assinar, basta clicar no botão do PagSeguro aí embaixo. Esse mesmo.
Como dizia Cazuza: senhoras e senhores, trago boas novas, eu vi a cara da morte e ela estava viva. No meu caso, porém, não foi a morte. Foi o mundo. Quer dizer, no caso de Tereza Cruvinel, presidente da TV Brasil. O mundo está vivo, afirmou a valorosa guerreira, recrutada por Lula para defender a tv pública nacional, em entrevista gentilmente concedida, ao vivo e a cores, ao escritor Miguel do Rosário. A América Latina vive um momento muito bom, com seus governantes adotando políticas para superar injustiças sociais históricas, observou Cruvinel, e Jorge Mautner, também presente, completou: A eleição de Obama é a eleição de um brasileiro - o Brasil está no poder.
Não uso aspas porque estou citando tudo de memória. Tentei anotar mas, sobretudo no caso de Mautner, não dá. Agora vou imitar o Juruna, e andar sempre com gravador no bolso. Mautner, divertido e brilhante orador, disse mil coisas geniais, e numa delas, referindo-se às mudanças que uma tv pública forte e autêntica pode trazer à cultura brasileira, usou a expressão "labareda da liberdade", título desse artigo.
Onde anda minha Tereza? Há pouco mais de um ano, Cruvinel assinava a principal coluna política do jornal O Globo, e foi mais um daqueles (ou daquelas) que não resistiram à pressão chauvinista, vinda dos últimos andares das empresas de comunicação, para alinhar-se aos patrões na virulenta briga política e partidária contra o governo Lula.
O problema do jornalista que trabalha para a grande imprensa é que ele não trabalha para uma empresa só. Ele presta serviço para um conglomerado de empresas que partilham a mesma ideologia. Comprar uma divergência política com o Globo, portanto, é assinar um atestado de óbito na imprensa corporativa escrita. Os canais de tv aberta, por viverem uma concorrência muita agressiva com a Globo, ainda abrem espaço para jornalistas rompidos com a família Marinho. Desde que eles se comportem direitinho, obviamente.
Eu lembro da coluna da Tereza no Globo. Percebia-lhe, nas entrelinhas, a angústia de se ver envolvida numa maquiavélica trama azul e amarela para derrubar Lula. Cruvinel não defendia o governo Lula em suas colunas. Ao contrário, atacava-o de vez em quando. Mas o fazia com uma sensatez e uma civilidade que, nitidamente, não satisfaziam a sede de sangue de um Ali Kamel, de um Reinaldo Azevedo, de um Civita, de um Mainardi. Tanto que foi vilmente agredida pelo blogueiro da Veja, em artigo racista em que usava jocosamente o termo "cabrôca" para se referir à Cruvinel, que é de fato uma bela e atraente morena, uma autêntica mulher brasileira. Azevedo tem um enorme talento para humilhar pessoas, usa-o constantemente, e é pago regiamente para fazê-lo. Eu a conheci virtualmente, a Tereza, nesta época. Escrevi um artigo defendendo-a, ela me agradeceu por email, e trocamos algumas mensagens.
Nada como um dia após o outro. Enquanto Reinaldo Azevedo é hoje um blogueiro de extrema-direita desprezado por 99% da opinião pública, inclusive por jornalistas conservadores, como Luis Nassif, e Mainardi foi desmascarado como lobbista de Daniel Dantas e já tem um pé na cadeia, a história, essa adolescente incorrigível, elegeu um negro socialista para comandante supremo dos Estados Unidos, a "cabrôca" preside o que será, em breve, a maior tv pública das Américas, e Lula foi reeleito em 2006, com uma vitória esmagadora, contando hoje com mais de 80% de aprovação popular!
E eu ali. E o Jorge Mautner, que também participava da entrevista. Mautner, como todo coerente intelectual de esquerda, é um fanático defensor da tv pública. É essencial, é uma necessidade absoluta, disse o escritor-músico-intelectual.
Cruvinel mostrou-se visivelmente aborrecida com matéria publicada ontem no caderno Ilustrada da Folha de São Paulo. Meus leitores, que são macacos-velhos em imprensa golpista, já podem imaginar o teor da matéria. O título é algo assim: TV de Lula não engrena, e traz informações totalmente distorcidas sobre audiência. Cruvinel explicou que a matéria trazia informações sobre audiência apenas no município do Rio de Janeiro, e que existem graves falhas nas metodologias de produção estatística de audiência no Brasil, até por causa das ultra-novas tecnologias de difusão e captação de imagens. Ela explicou que existem mais de 50 milhões de brasileiros que assistem tv, inclusive a TV Brasil, via antena parabólica, e que esses dados não constam das convencionais grades de audiência. A TV Brasil, além disso, por lei, consta obrigatoriamente nas tvs por assinatura - apesar de algumas não cumprirem a norma. Esses dados também não constam dos números usados pela Folha para desprestigiar a TV Brasil.
O jornalista da Folha, naturalmente (pela Folha ser o que é), não procura compreender as dificuldades inerentes a uma TV recém-criada. Cruvinel explicou que a TV Brasil, criada por medida provisória há um ano, só foi oficialmente implantada em março, após complicadíssimas votações no Congresso e, sobretudo, no Senado, onde a oposição partidária, com apoio histérico da mídia corporativa (Globo à frente), tentou de tudo para impedir a sua existência. A incorporação da Radiobrás ocorreu somente em junho e só a partir daí a TV Brasil contaria com verba própria.
Por fim, houve dificuldades enormes para entrar em São Paulo. Claro. Dá até vontade de rir. Misteriosamente, o estado mais industrializado, informatizado, moderno, do país, está sendo o último a receber a programação da TV Brasil. Mas, enfim, a TV Brasil está entrando em São Paulo a partir das próximas semanas.
Cruvinel explicou, em suma, que somente agora a TV Brasil superou os primeiros obstáculos técnicos, jurídicos, políticos, financeiros, e pode se dedicar ao que seria a sua missão primordial: produzir e distribuir programas culturais inteligentes, autênticos e originais. É o que está fazendo. Nas próximas semanas, estréiam programas de grande qualidade, dirigidos por alguns dos intelectuais e artistas mais importantes do país: Marçal Aquino, na literatura; Marcelo Gomes, no cinema; Felipe Ehrenberg nas artes visuais; e o grande Jorge Mautner, na cultura em geral.
Perguntei ao Mautner se ele achava que a eleição de Obama pode trazer mudanças positivas para o Brasil e significar mudanças geopolíticas. Claro, ele disse, e mudanças que irão colocar o Brasil na liderança do mundo. A vitória de Obama é uma vitória nossa. Mautner lembrou que Obama disse, na primeira entrevista a um repórter tupi: "eu sou brasileiro". Ele é um vira-lata, um autêntico "moreno", que reúne criatividade, coragem e prudência, como todo brasileiro que se preza.
Essa mudança geopolítica - a eleição de um negro de esquerda nos EUA - provocará mudança ideológica no status do Estado, e isso naturalmente beneficiará órgãos estatais, como a TV Brasil, que terão mais prestígio.
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Notícia recente publicada em todos os jornais informa que Obama contratou, como assessores próximos, intelectuais de um conhecido "think tank" esquerdista, e que já sinalizou que adotará as idéias e projetos desse instituto. Queria ver a cara de Olavo Carvalho, nosso não tão querido filósofo nazista, ao ler essa bomba. Ele saiu do Brasil, fugindo do Lula, e refugiou-se em Washington, crente que lá estaria protegido dos malditos esquerdistas, e eis que os malditos tomam a Casa Branca! Olavão, eu já disse alhures, deveria urgentemente buscar abrigo na Polônia, presidida por dois gêmeos retardados, psicopatas e conservadores.
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Cruvinel explicou que a tv pública implantará no Brasil um sistema de multicanais, que possibilitará a criação de tvs legislativas para cada câmara de vereadores de cada município brasileiro. Será analogicamente mesmo, num primeiro momento, distribuído pelas vias tradicionais.
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A TV Brasil, nos últimos meses, fez grandes investimentos para re-estruturar e melhorar a qualidade das imagens transmitidas. Construiu torres novas nas grandes cidades e estabeleceu dezenas de parcerias com retransmissoras de todo país, públicas e privadas.
Em 2008, a verba da TV Brasil foi de R$ 350 milhões. Cruvinel explicou que os recursos são gastos de três maneiras: pessoal, custeio e investimento. A parte de pessoal e custeio já foi inteiramente gasta. Eles reservaram R$ 100 milhões para os investimentos no conteúdo. Em 2009, a verba destacada é novamente de R$ 350 milhões.
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Algumas idéias anarquistas que o papo com Mautner me inspirou:
1) Proibição de bancos privados. Deveria existir somente o Banco do Brasil. O BB rouba a gente mas pelo menos o dinheiro é usado para saúde e educação. Para onde vai o dinheiro do Itaú? Do Bradesco? Para conta de playboys otários. Banco privado faz mal ao próprio capitalismo, porque rouba dinheiro da maioria dos empresários, agricultores, assalariados, artistas. A pessoa, se quisesse, poderia abrir conta num banco estrangeiro. Mas a União deveria decretar o monopólio estatal do sistema financeiro no país, e proibir o lucro do banco oficial. O Banco do Brasil, por lei, não poderia cobrar nada de seus clientes. O banco já obtém lucro suficiente apenas movimentando o dinheiro guardado. Não precisa cobrar juros. Ainda mais um banco oficial. A China faz isso e é por isso que a China cresce 15% ao ano. E isso não é comunismo. Ao contrário. Os bancos privados são os maiores adversários do capitalismo, porque eles drenam o dinheiro para si mesmos, dificultando a circulação do capital pelas atividades econômicas. Não sei se Marx percebeu ou disse isso. Eu digo. Bancos privados são como senhores feudais do capital. Eles travam a circulação do dinheiro. Os únicos bancos do mundo deveriam ser os próprios governos, pois são os únicos entes que podem ser fiscalizados pela população. A civilização humana não pode depender de instituições cujo funcionamento e hierarquia não são democráticos. O desespero levou governos do primeiro mundo a entenderem isto. Qual foi a única solução que os governos encontraram para resolver a crise mundial? Eles compraram os bancos. Minha opinião é que os governos deveriam comprá-los todos, os bancos, pra sempre. Não faz sentido o Estado ter gasto trilhões de dólares comprando os bancos e depois se desfazer deles, criando o risco de outra quebradeira no futuro.
2) Construção de estradas que permitam o tráfego humano a pé e de bicicleta, restrição do uso de carros privados nas grandes cidades, e investimentos maciços na construção de ciclovias e calçadas decentes para as pessoas poderem caminhar melhor por toda parte.
3) Construção de duas grandes linhas férreas no Brasil, norte X sul, leste X oeste, para transporte de pessoas e mercadorias. Um trem de alta velocidade hoje é mais veloz que avião, e pode inclusive ser subterrâneo, de maneira que poderíamos ligar o norte ao sul do pais em poucas horas, criando novos fluxos de comércio que possibilitariam a geração de muita riqueza e cultura. É um investimento de trilhões de reais, e que demandaria uns cinco ou dez anos para ficar pronto, mas valeria a pena. Esse projeto poderia ser pago com o dinheiro do pré-sal.
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Aproveite a proximidade do Natal para fazer uma boa ação. Compre um livro no sebo virtual Gonzum ou assine a revista impressa Manuskripto, as principais fontes de financiamento do blog. Publicação mensal, a assinatura anual do Manuskripto custa R$ 48. Para assinar, basta clicar no botão do PagSeguro aí embaixo. Esse mesmo.
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terça-feira, novembro 25, 2008
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7 de novembro de 2008
Entrevista com Vania Santayana, militante política & história macabra sobre meu tio
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Essa é a primeira parte da entrevista com Vania Santayana, esposa de Mauro Santayana, filha de líder sindical na época da ditadura militar, que foi barbaramente torturado, e ela mesma militante e também torturada. E minha primeira contribuição ao debate atual sobre se devemos culpar ou não os torturadores. A opinião do blog é: SIM, OS TORTURADORES DEVEM SER CONDENADOS CRIMINALMENTE. NÃO OS INSURGENTES. INSURGENTE NÃO É CULPADO EM LUGAR NENHUM DO MUNDO. DEVEM SER CULPABILIZADOS OS HOMENS DO ESTADO, QUE TORTURARAM, COMETENDO CRIME CONTRA A HUMANIDADE, O ÚNICO CRIME QUE ESTÁ ACIMA DA POLÍTICA, RELIGIÃO OU CULTURA. TORTURA É CRIME CONTRA A HUMANIDADE. NÃO SE TORTURA CACHORRO, QUANTO MAIS UM SER HUMANO.
Eu, Miguel do Rosário, filho de José Barbosa do Rosário, tive um tio, irmão do meu pai, chamado Francisco do Rosário Barbosa, que foi barbaramente torturado, até a morte, em 1981. O irônico é que ele não era sequer militante político, que naquela época já tinham sido todos mortos ou exilados. Era um trabalhador sem ligação alguma com partido político ou mesmo movimento político. Nada. Era um poeta, na realidade, que trabalhava para viver. Um dia, voltando de seu trabalho, em Maria da Graça, subúrbio do Rio, até sua casa, em Copacabana, onde dividia uma quitinete com sua namorada, sua vida acabou.
A polícia militar parou o ônibus em que ele voltava. Agentes entraram no veículo e começaram a pedir documentos de todos os passageiros. Abordavam as pessoas aos gritos. As pessoas simples que voltavam de seus empregos reagiam com perplexidade e pavor. Então meu tio talvez tenha tido a única manifestação política de sua vida. Ergueu-se e protestou, com a voz surda, a dicção canhestra e o sotaque mineiro carregado, que caracterizavam o seu jeitão rural, usualmente calado, introvertido e confuso, como todos os barbosas.
Eu escrevi um artigo sobre essa história aqui.
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Miguel do Rosário
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sexta-feira, novembro 07, 2008
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28 de outubro de 2008
Entrevista com Glauco Matoso
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Uma entrevista que eu fiz há uns anos para o jornal Arte & Política. Vale a pena ler de novo.
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Miguel do Rosário
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terça-feira, outubro 28, 2008
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16 de julho de 2007
O humanismo fora-da-lei de Marcia Denser
Seja o primeiro a comentar!
Publicado originalmente no Portal Literal, em 16/07/2007.
Não tem flagrante, porque a fumaça já subiu pra cuca. Uso os versos imortalizados por Bezerra da Silva* para lembrar que Márcia Denser está na área.
A escritora paulistana, com trinta anos de carreira e uma das melhores fortunas críticas do país (era a preferida de Paulo Francis) – o que equivale a não fazer nenhum ponto na loteria esportiva! –, vem aproveitando sua coluna no Congresso em Foco para mostrar sua insatisfação contra o conservadorismo e o marasmo que, segundo ela, tomaram conta da vida intelectual brasileira nos últimos anos. Não há flagrante porque a sintática de Denser é brilhante, psicodélica, terrível e, ao mesmo tempo, delicada e triste. Não é aí que a polícia do pensamento conservador encontrará algum ilícito. Está tudo na mente, na história, ou, como prefere Denser, no corpo da linguagem. Nas histórias de devassidão, amores traídos, bebedeiras, estranhos jogos de sedução, desesperadas reflexões existenciais, construção e desconstrução de personagens – aí mora o crime. Aí encontrar-se-á aquela fundamental subversão, raiz de todo humanismo verdadeiro, que é sempre rebelde e fora-da-lei, visto que sua ética e justiça não podem ser aprisionadas em nenhuma carta constitucional.
Nunca recebeu prêmios, mas – ainda citando Bezerra – é na frente do homem que bate o martelo que veremos quem é que errou. É o julgamento final da História que irá assegurar o justo lugar da autora de obras-primas como o conto "O quinto elemento" e "O vampiro da alameda Casa Branca".
A literatura de Denser é daquelas que, mais do que serem lidas, merecem ser assimiladas no sangue, como anfetamina. O coquetel de erudição, feroz análise psicológica e delirante descrição de cenários e situações te deixa realmente bêbado. Maravilhosamente bêbado de literatura. Com a vantagem de não atacar o fígado e não dar ressaca no dia seguinte – embora, como os livros de Henry Miller ou uma chamada telefônica num sábado à noite, a literatura de Denser nos empurre, inexoravelmente, para a vida e seus drinks - reais ou afetivos.
Pode nos contar como foi a sua formação cultural? Os livros que te marcaram na infância. Você lia muito quando criança? Seus pais ou o colégio contribuíram para seu interesse por literatura?
Márcia Denser. Minha formação foi essencialmente humanista: eu gostava de História e Mitologia (e isso não é um paradoxo, porque ambas se completam). Acho que essa pode ser uma boa base para um ficcionista, acrescentando-se a biblioteca do meu avô – cheia de romances e ficção. Na época, éramos umas trinta crianças, entre primos e primas, que passavam retas pela biblioteca sem se deter, salvo eu. Que dia a dia subia um lance de escada rumo às prateleiras mais altas. Lembro que na festa de meus nove anos, larguei meus amigos, primos, presentes, brincadeiras, larguei tudo e me enfiei no quarto para ler Monteiro Lobato, cujos três primeiros livros, Reinações de Narizinho, Viagem ao céu e O Saci, meu pai havia me dado. Dei as costas para o mundo porque outro universo se abriu. Então, a priori, nós, escritores, somos leitores, a nossa vocação é a leitura, aliás compulsiva. De Proust à bula de remédio, sem contar os filmes de Hollywood.
Você já parou para pensar até que ponto São Paulo influenciou a sua forma de escrever?
Denser. Sou escritora e a cidade é meu campo de ação, meu altar de sacrifícios, minha entidade mais secreta. E também a mais pública. Desde tempos imemoriais, a cidade é um símbolo feminino, é mulher, então compreende-se porque as estátuas de deusas-mãe, como a Diana de Éfeso, ostentam coroas em formas de muros. Assim, minha personagem Diana Marini é uma representação de São Paulo. Na novela Welcome to Diana ela dá boas vindas ao leitor (em inglês, posto ser cosmopolita), seu lema é seduzi-lo – para melhor devorá-lo! Meu último romance Caim é uma história de São Paulo, é a saga de uma família diaspórica e a crônica de uma cicatriz.
No conto "O quinto elemento", você faz uma extravagante e poética análise de sua própria personagem Diana Marini. Segundo suas próprias palavras, é um processo de desconstrução da Diana. A Diana morreu? Ou como dizia Guimarães Rosa, encantou-se? Onde o momento histórico do país e o seu momento existencial se confundem com essa "desconstrução"?
Denser. No "Quinto elemento" conto a história secreta da minha personagem pública, Diana Marini que, no plano pessoal, extrapolou e me invadiu, provocando uma crise de identidade, aliás uma crise em todos os setores da minha vida e, paradoxalmente, pelo sofrimento, me fez amadurecer, como escritora e como ser humano. Porque Diana Marini é um arquétipo, e arquétipos não pagam aluguel! Por outro lado, DM também não morre, arquétipos são imortais, cara, o destino trágico e o desencadear das Fúrias cabe ao ser humano, sempre que este se identifica com arquétipos, os deuses.
O momento foi o início dos anos 90, com o colapso da literatura brasileira (bem como do cinema, da música, do teatro,etc.), quer dizer, com o colapso de toda a cultura brasileira, que até então cultivava o próprio imaginário e tinha orgulho de si, mediante o ataque da globalização e a imposição de seus parâmetros aos quais – só hoje eu sei – não era necessário render-se, não tão completamente, tal como ocorre hoje no âmbito cultural. Se você abre mão das suas raízes culturais, estará condenado à irrelevância em toda parte e para sempre! É o que a burguesia rica brasileira está fazendo – detonando culturalmente o país – sempre a serviço do patrão ianque/europeu, a quem nossos dirigentes de fato servem como sócios menores. Mas não adianta dizer isso, estou gastando meu latim, as pessoas sabem disso, sabem e não se importam, isto é que é terrível!
Denser, qual a importância da literatura no Brasil? Mais especificamente, qual a função social da literatura no Brasil?
Denser. Se a literatura é a empresa de conquista verbal da realidade, como definia Cortázar, no Brasil a importância dela então é imensa, neste país do alheio e do alienado, a função da literatura é acender a luz, conscientizar as pessoas da nossa realidade aqui e agora, para que esta conquista – da literatura e da realidade – se consume. Veja que então nossa tarefa é dupla, nada fácil. O francês, o norte-americano, o inglês, incluindo o mexicano, o argentino, o venezuelano, sentem-se donos de seu território, com direito às suas tradições culturais, das quais se orgulham, como parte inclusive do próprio patrimônio individual! Nenhum artista existe como tabula rasa, ele precisa se ligar a algo que veio antes, a começar da própria língua, etc. Este desmanche cultural a pretexto de globalizar-se a longo prazo é suicídio!
Falando sobre crítica literária, você acha que, diante da grande liberdade que a arte respira hoje (depois de Duchamp, Joyce, Faulkner, Godard), esta crise da "crítica", ou seja, da falta de "critérios" seria o preço a pagar? Ou seria falta de coragem para apontar defeitos ou qualidades? Ou seria realmente que a arte, no caso a literatura, foi mais rápida que a crítica, que ficou para trás, confusa e infantil?
Denser. Olha, crítica e criação são uma só e mesma coisa. Porque a literatura só avança, se desenvolve, amadurece, quando as obras são lidas, relidas, criticadas, discutidas até à exaustão! Os textos precisam ser polemizados, colocados na berlinda, o diabo. O que não pode de forma alguma é prevalecer o presente estado de coisas (agora me desculpe, mas vou citar a mim mesma): Será que a crítica da cultura e da literatura agora se resume a este exercício de insinceridade estética que se traduz pelo tipo de resenhas/matérias/critérios de premiação/badalação praticado oralmente e por escrito, na internet, na imprensa, em sociedade, enfim, na vida? É importante captar a pulsação do "espírito de época" (ou da "falta de espírito de época") porque essa "insinceridade cultural" praticada a torto e a direito, de efeitos catastróficos a longo prazo, é produto da Censura Econômica a que se sujeitou o ser humano que, ou se acanalha ou morre de fome, mandando para o diabo toda a literatura e a liberdade para escrevê-la!
Que lições tem tirado de sua experiência como colunista política no Congresso em Foco?
Denser. As melhores possíveis, porque se eu escrevesse na outra mídia – toda ela – não poderia dizer o que penso, teria que mentir ou me omitir. Seria um grande problema. Uma coluna on-line me garante liberdade de expressão! Mas pior que o pensamento único dominante é a própria ausência de pensamento que contamina os contemporâneos e suscita a generalização da cretinice e do oportunismo político enquanto embota a percepção, donde a falência da elite intelectual, que parece ter desistido ao mesmo tempo do Brasil e da reflexão sobre o processo histórico em curso. Segundo Paulo Arantes, o que acontece é a "extinção da inteligência dos inteligentes" no mesmo instante em que ocorre a formação de um "bloco histórico da crueldade social", que envolve a grande mídia na atmosfera envenenada e obscura duma Censura (e auto-censura) Onipresente, infinitamente pior que a Censura praticada durante a ditadura que, comparada à atual, não passava de brincadeira de amadores.
Aproveitando o gancho político, o que pensa do governo Lula? Na sua opinião, qual a razão da mídia (digo, os jornalões) estar assumindo uma linha editorial cada vez mais oposicionista?
Denser. Acho que aquela minha coluna Mídia Perversa & Burra esgota a questão da mídia. Quanto ao Lula, na medida do possível, ele está fazendo um bom governo, bem intencionado, etc., mas acho que ele não devia mais fazer tantas concessões à direita, mesmo porque a mídia tem deixado claro que não só jamais será sua aliada, (posto que controlada pela elite perversa e burra), como desde que se elegeu presidente, não deixou um só dia de trabalhar para derrubá-lo do poder.
Aliás, essa elite só tem um inimigo: o povo brasileiro. Assim como nos Estados Unidos, o inimigo não são os iraquianos/afegãos/cubanos/etc., porque a guerra não é contra o Iraque/Afeganistão/Cuba, etc. mas contra o povo norte-americano. No mundo inteiro trata-se de promover a guerra contra os civis!
Li uma entrevista sua, por ocasião de lançamento de seu último romance, em que você, citando Faulkner, se não me engano, diz algo como: todas as histórias já foram contadas, ou seja, o que importa hoje, na literatura, é a maneira como a história é escrita. Entretanto, em suas histórias, assim como nas de Faulkner, temos histórias incríveis, originais, delicados e terríveis dramas psicológicos, embora naturalmente intrínsecas à "forma" como são contadas, só poderiam ganhar vida através das ferramentas sintáticas usadas. Na realidade, então, a forma da narrativa ainda não estaria, dialeticamente, presa ao conteúdo? A diferença não seria que, no romance contemporâneo, a forma acaba, muitas vezes, se tornando mais um personagem?
Denser. O romance enquanto obra maior da linguagem, tal como o conhecemos, é invenção relativamente recente, por incrível que pareça. Do final do século XIX e início do XX, a partir de Proust e Joyce. Proust desenvolveu ao máximo aquilo que conhecemos como "fluxo de consciência", levando ao infinito as possibilidades do "romance psicológico" praticado pelos franceses, de Stendhal a Flaubert. Quanto à Joyce, veja-se a re-proposição mítica da estória – pessoal – e da história – social, tudo num só dia em Dublin, sem contar o reinventar das palavras em "palavras-valise". Quer dizer, passa a existir a chamada "prosa de raiz poética" – de invenção aparentemente inesgotável. Porque de Homero ao século XIX o que existia era o "romance vertical" – no caso da poesia épica – e o novelão, os mitos e o mar de histórias. Literatura ponto, não literatura como arte. Que fique bem claro: escritor não é contador de histórias porra nenhuma!!!!!!!!!!!!! Ao escrever um texto, a última coisa que me preocupa é a história, o plot, o enredo, a trama, cara. Tudo o que me preocupa, só o que me preocupa é a linguagem, e então sim, encontrada esta voz, e nenhuma outra, poderei dizer o que eu quiser, porque forma e conteúdo serão indissociáveis, serão uma só e a mesma coisa, percebe?
MÁRCIA DENSER Bio-biblio
Paulistana da capital, nascida a 23/05, cinqüenta anos, graduação em Programação Visual/Comunicações e Artes no Mackenzie, 1975, e pós-graduação em Letras e Comunicação pela PUCSP, 2003. Publicados nove livros solo: Tango fantasma (contos, 1976-2003), Exercícios para o pecado (novelas, 1984), O animal dos motéis (contos, 1981), Diana caçadora (contos, 1986-2003), A ponte das estrelas (aventuras, 1990), Toda prosa (inéditos e dispersos, 2002), Diana caçadora/Tango fantasma (reedição, 2003, Ateliê Editorial), Caim (romance, 2006, Record) e a sair em outubro Toda prosa II - Obra escolhida (Record, contos e novelas). Participação em dezenas de antologias no Brasil e exterior. Obras traduzidas e publicadas na Alemanha, Bulgária, Suíça, Estados Unidos, Holanda, Espanha, a sair na Hungria e Argentina. Curiosidades: o conto "O vampiro da alameda Casa Branca" (em primeiro lugar nos anos 80 entre os Cem melhores contos brasileiros do século, org. Ítalo Moriconi, Objetiva) já foi traduzido em três idiomas: inglês, holandês, alemão.
* Versos da canção "A fumaça já subiu para a cabeça", de Bezerra da Silva.
Não tem flagrante, porque a fumaça já subiu pra cuca. Uso os versos imortalizados por Bezerra da Silva* para lembrar que Márcia Denser está na área.
A escritora paulistana, com trinta anos de carreira e uma das melhores fortunas críticas do país (era a preferida de Paulo Francis) – o que equivale a não fazer nenhum ponto na loteria esportiva! –, vem aproveitando sua coluna no Congresso em Foco para mostrar sua insatisfação contra o conservadorismo e o marasmo que, segundo ela, tomaram conta da vida intelectual brasileira nos últimos anos. Não há flagrante porque a sintática de Denser é brilhante, psicodélica, terrível e, ao mesmo tempo, delicada e triste. Não é aí que a polícia do pensamento conservador encontrará algum ilícito. Está tudo na mente, na história, ou, como prefere Denser, no corpo da linguagem. Nas histórias de devassidão, amores traídos, bebedeiras, estranhos jogos de sedução, desesperadas reflexões existenciais, construção e desconstrução de personagens – aí mora o crime. Aí encontrar-se-á aquela fundamental subversão, raiz de todo humanismo verdadeiro, que é sempre rebelde e fora-da-lei, visto que sua ética e justiça não podem ser aprisionadas em nenhuma carta constitucional.
Nunca recebeu prêmios, mas – ainda citando Bezerra – é na frente do homem que bate o martelo que veremos quem é que errou. É o julgamento final da História que irá assegurar o justo lugar da autora de obras-primas como o conto "O quinto elemento" e "O vampiro da alameda Casa Branca".
A literatura de Denser é daquelas que, mais do que serem lidas, merecem ser assimiladas no sangue, como anfetamina. O coquetel de erudição, feroz análise psicológica e delirante descrição de cenários e situações te deixa realmente bêbado. Maravilhosamente bêbado de literatura. Com a vantagem de não atacar o fígado e não dar ressaca no dia seguinte – embora, como os livros de Henry Miller ou uma chamada telefônica num sábado à noite, a literatura de Denser nos empurre, inexoravelmente, para a vida e seus drinks - reais ou afetivos.
Pode nos contar como foi a sua formação cultural? Os livros que te marcaram na infância. Você lia muito quando criança? Seus pais ou o colégio contribuíram para seu interesse por literatura?
Márcia Denser. Minha formação foi essencialmente humanista: eu gostava de História e Mitologia (e isso não é um paradoxo, porque ambas se completam). Acho que essa pode ser uma boa base para um ficcionista, acrescentando-se a biblioteca do meu avô – cheia de romances e ficção. Na época, éramos umas trinta crianças, entre primos e primas, que passavam retas pela biblioteca sem se deter, salvo eu. Que dia a dia subia um lance de escada rumo às prateleiras mais altas. Lembro que na festa de meus nove anos, larguei meus amigos, primos, presentes, brincadeiras, larguei tudo e me enfiei no quarto para ler Monteiro Lobato, cujos três primeiros livros, Reinações de Narizinho, Viagem ao céu e O Saci, meu pai havia me dado. Dei as costas para o mundo porque outro universo se abriu. Então, a priori, nós, escritores, somos leitores, a nossa vocação é a leitura, aliás compulsiva. De Proust à bula de remédio, sem contar os filmes de Hollywood.
Você já parou para pensar até que ponto São Paulo influenciou a sua forma de escrever?
Denser. Sou escritora e a cidade é meu campo de ação, meu altar de sacrifícios, minha entidade mais secreta. E também a mais pública. Desde tempos imemoriais, a cidade é um símbolo feminino, é mulher, então compreende-se porque as estátuas de deusas-mãe, como a Diana de Éfeso, ostentam coroas em formas de muros. Assim, minha personagem Diana Marini é uma representação de São Paulo. Na novela Welcome to Diana ela dá boas vindas ao leitor (em inglês, posto ser cosmopolita), seu lema é seduzi-lo – para melhor devorá-lo! Meu último romance Caim é uma história de São Paulo, é a saga de uma família diaspórica e a crônica de uma cicatriz.
No conto "O quinto elemento", você faz uma extravagante e poética análise de sua própria personagem Diana Marini. Segundo suas próprias palavras, é um processo de desconstrução da Diana. A Diana morreu? Ou como dizia Guimarães Rosa, encantou-se? Onde o momento histórico do país e o seu momento existencial se confundem com essa "desconstrução"?
Denser. No "Quinto elemento" conto a história secreta da minha personagem pública, Diana Marini que, no plano pessoal, extrapolou e me invadiu, provocando uma crise de identidade, aliás uma crise em todos os setores da minha vida e, paradoxalmente, pelo sofrimento, me fez amadurecer, como escritora e como ser humano. Porque Diana Marini é um arquétipo, e arquétipos não pagam aluguel! Por outro lado, DM também não morre, arquétipos são imortais, cara, o destino trágico e o desencadear das Fúrias cabe ao ser humano, sempre que este se identifica com arquétipos, os deuses.
O momento foi o início dos anos 90, com o colapso da literatura brasileira (bem como do cinema, da música, do teatro,etc.), quer dizer, com o colapso de toda a cultura brasileira, que até então cultivava o próprio imaginário e tinha orgulho de si, mediante o ataque da globalização e a imposição de seus parâmetros aos quais – só hoje eu sei – não era necessário render-se, não tão completamente, tal como ocorre hoje no âmbito cultural. Se você abre mão das suas raízes culturais, estará condenado à irrelevância em toda parte e para sempre! É o que a burguesia rica brasileira está fazendo – detonando culturalmente o país – sempre a serviço do patrão ianque/europeu, a quem nossos dirigentes de fato servem como sócios menores. Mas não adianta dizer isso, estou gastando meu latim, as pessoas sabem disso, sabem e não se importam, isto é que é terrível!
Denser, qual a importância da literatura no Brasil? Mais especificamente, qual a função social da literatura no Brasil?
Denser. Se a literatura é a empresa de conquista verbal da realidade, como definia Cortázar, no Brasil a importância dela então é imensa, neste país do alheio e do alienado, a função da literatura é acender a luz, conscientizar as pessoas da nossa realidade aqui e agora, para que esta conquista – da literatura e da realidade – se consume. Veja que então nossa tarefa é dupla, nada fácil. O francês, o norte-americano, o inglês, incluindo o mexicano, o argentino, o venezuelano, sentem-se donos de seu território, com direito às suas tradições culturais, das quais se orgulham, como parte inclusive do próprio patrimônio individual! Nenhum artista existe como tabula rasa, ele precisa se ligar a algo que veio antes, a começar da própria língua, etc. Este desmanche cultural a pretexto de globalizar-se a longo prazo é suicídio!
Falando sobre crítica literária, você acha que, diante da grande liberdade que a arte respira hoje (depois de Duchamp, Joyce, Faulkner, Godard), esta crise da "crítica", ou seja, da falta de "critérios" seria o preço a pagar? Ou seria falta de coragem para apontar defeitos ou qualidades? Ou seria realmente que a arte, no caso a literatura, foi mais rápida que a crítica, que ficou para trás, confusa e infantil?
Denser. Olha, crítica e criação são uma só e mesma coisa. Porque a literatura só avança, se desenvolve, amadurece, quando as obras são lidas, relidas, criticadas, discutidas até à exaustão! Os textos precisam ser polemizados, colocados na berlinda, o diabo. O que não pode de forma alguma é prevalecer o presente estado de coisas (agora me desculpe, mas vou citar a mim mesma): Será que a crítica da cultura e da literatura agora se resume a este exercício de insinceridade estética que se traduz pelo tipo de resenhas/matérias/critérios de premiação/badalação praticado oralmente e por escrito, na internet, na imprensa, em sociedade, enfim, na vida? É importante captar a pulsação do "espírito de época" (ou da "falta de espírito de época") porque essa "insinceridade cultural" praticada a torto e a direito, de efeitos catastróficos a longo prazo, é produto da Censura Econômica a que se sujeitou o ser humano que, ou se acanalha ou morre de fome, mandando para o diabo toda a literatura e a liberdade para escrevê-la!
Que lições tem tirado de sua experiência como colunista política no Congresso em Foco?
Denser. As melhores possíveis, porque se eu escrevesse na outra mídia – toda ela – não poderia dizer o que penso, teria que mentir ou me omitir. Seria um grande problema. Uma coluna on-line me garante liberdade de expressão! Mas pior que o pensamento único dominante é a própria ausência de pensamento que contamina os contemporâneos e suscita a generalização da cretinice e do oportunismo político enquanto embota a percepção, donde a falência da elite intelectual, que parece ter desistido ao mesmo tempo do Brasil e da reflexão sobre o processo histórico em curso. Segundo Paulo Arantes, o que acontece é a "extinção da inteligência dos inteligentes" no mesmo instante em que ocorre a formação de um "bloco histórico da crueldade social", que envolve a grande mídia na atmosfera envenenada e obscura duma Censura (e auto-censura) Onipresente, infinitamente pior que a Censura praticada durante a ditadura que, comparada à atual, não passava de brincadeira de amadores.
Aproveitando o gancho político, o que pensa do governo Lula? Na sua opinião, qual a razão da mídia (digo, os jornalões) estar assumindo uma linha editorial cada vez mais oposicionista?
Denser. Acho que aquela minha coluna Mídia Perversa & Burra esgota a questão da mídia. Quanto ao Lula, na medida do possível, ele está fazendo um bom governo, bem intencionado, etc., mas acho que ele não devia mais fazer tantas concessões à direita, mesmo porque a mídia tem deixado claro que não só jamais será sua aliada, (posto que controlada pela elite perversa e burra), como desde que se elegeu presidente, não deixou um só dia de trabalhar para derrubá-lo do poder.
Aliás, essa elite só tem um inimigo: o povo brasileiro. Assim como nos Estados Unidos, o inimigo não são os iraquianos/afegãos/cubanos/etc., porque a guerra não é contra o Iraque/Afeganistão/Cuba, etc. mas contra o povo norte-americano. No mundo inteiro trata-se de promover a guerra contra os civis!
Li uma entrevista sua, por ocasião de lançamento de seu último romance, em que você, citando Faulkner, se não me engano, diz algo como: todas as histórias já foram contadas, ou seja, o que importa hoje, na literatura, é a maneira como a história é escrita. Entretanto, em suas histórias, assim como nas de Faulkner, temos histórias incríveis, originais, delicados e terríveis dramas psicológicos, embora naturalmente intrínsecas à "forma" como são contadas, só poderiam ganhar vida através das ferramentas sintáticas usadas. Na realidade, então, a forma da narrativa ainda não estaria, dialeticamente, presa ao conteúdo? A diferença não seria que, no romance contemporâneo, a forma acaba, muitas vezes, se tornando mais um personagem?
Denser. O romance enquanto obra maior da linguagem, tal como o conhecemos, é invenção relativamente recente, por incrível que pareça. Do final do século XIX e início do XX, a partir de Proust e Joyce. Proust desenvolveu ao máximo aquilo que conhecemos como "fluxo de consciência", levando ao infinito as possibilidades do "romance psicológico" praticado pelos franceses, de Stendhal a Flaubert. Quanto à Joyce, veja-se a re-proposição mítica da estória – pessoal – e da história – social, tudo num só dia em Dublin, sem contar o reinventar das palavras em "palavras-valise". Quer dizer, passa a existir a chamada "prosa de raiz poética" – de invenção aparentemente inesgotável. Porque de Homero ao século XIX o que existia era o "romance vertical" – no caso da poesia épica – e o novelão, os mitos e o mar de histórias. Literatura ponto, não literatura como arte. Que fique bem claro: escritor não é contador de histórias porra nenhuma!!!!!!!!!!!!! Ao escrever um texto, a última coisa que me preocupa é a história, o plot, o enredo, a trama, cara. Tudo o que me preocupa, só o que me preocupa é a linguagem, e então sim, encontrada esta voz, e nenhuma outra, poderei dizer o que eu quiser, porque forma e conteúdo serão indissociáveis, serão uma só e a mesma coisa, percebe?
MÁRCIA DENSER Bio-biblio
Paulistana da capital, nascida a 23/05, cinqüenta anos, graduação em Programação Visual/Comunicações e Artes no Mackenzie, 1975, e pós-graduação em Letras e Comunicação pela PUCSP, 2003. Publicados nove livros solo: Tango fantasma (contos, 1976-2003), Exercícios para o pecado (novelas, 1984), O animal dos motéis (contos, 1981), Diana caçadora (contos, 1986-2003), A ponte das estrelas (aventuras, 1990), Toda prosa (inéditos e dispersos, 2002), Diana caçadora/Tango fantasma (reedição, 2003, Ateliê Editorial), Caim (romance, 2006, Record) e a sair em outubro Toda prosa II - Obra escolhida (Record, contos e novelas). Participação em dezenas de antologias no Brasil e exterior. Obras traduzidas e publicadas na Alemanha, Bulgária, Suíça, Estados Unidos, Holanda, Espanha, a sair na Hungria e Argentina. Curiosidades: o conto "O vampiro da alameda Casa Branca" (em primeiro lugar nos anos 80 entre os Cem melhores contos brasileiros do século, org. Ítalo Moriconi, Objetiva) já foi traduzido em três idiomas: inglês, holandês, alemão.
* Versos da canção "A fumaça já subiu para a cabeça", de Bezerra da Silva.
# Escrito por
Miguel do Rosário
#
segunda-feira, julho 16, 2007
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