30 de novembro de 2009

Protesto contra baixaria da Folha

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O blogueiro Eduardo Guimarães, presidente da ONG Movimento dos Sem Mídia (MSM), está preparando um protesto em frente ao jornal Folha de São Paulo, neste próximo sábado, dia 5 de dezembro, às 10 horas da manhã. O endereço está aí embaixo (via Andre Lux).






Quem já conhece o Eduardo, sabe que o protesto é muito sério, e que trará bastante gente para a porta do jornalão dos Frias.

*

Tudo tem uma razão de ser. A baixaria da Folha abre campo para convencer parlamentares a criarem um projeto de lei voltado para a defesa da honra dos cidadãos brasileiros contra os ataques midiáticos.

A Constituição Federal brasileira prevê, em seus Princípios Fundamentais (Título I):



Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:

- a dignidade da pessoa humana.

E isso não está sendo respeitado pelos órgãos de imprensa do país.

Logo a seguir, no Titulo II, onde trata dos Direitos e Garantias Fundamentais, há vários itens que abordam a questão da honra, da intimidade e do direito de resposta. Reparem que o anonimato é proibido pela Constituição. Entendo que blogueiros optem pelo anonimato, pois são pessoas físicas e, de qualquer forma, seus números de IP sempre estarão disponíveis. Mas não aceito que jornais de grande circulação ainda usem desse expediente, publicando editorais sem rosto.

Importante lembrar que, com o fim da Lei de Imprensa, o que vale agora é a Constituição. Confiram algumas das garantias que a Carga Magna oferece ao cidadão:

III - ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante;

IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato;

V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem;

IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença;

X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;

29 de novembro de 2009

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Efialtes está de volta, mas os gregos ainda vencem no final

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Eu conheci César Benjamin. Quer dizer, assisti a uma palestra sua. No início dos anos 90, eu trabalhava com meu pai e fazia faculdade, e mesmo assim dispunha de longas horas livres. Então lá estava eu, vagando pelos corredores da UERJ, quando resolvi entrar no auditório, onde um cidadão discorria sobre economia e política.

Sei que agora perdi a imparcialidade em relação a Benjamin, mas dou minha palavra de honra: não gostei nenhum pouco do que ouvi. Assim que saí de lá, desci ao bar para encontrar meus amigos, e relatei a horrível experiência que havia tido: passara quase uma hora sendo bombardeado com o discurso mais derrotista que já escutara na vida.

Na época, eu editava o jornal Arte & Política, que também possuía um site, e fazia oposição dura e sistemática ao Fernando Henrique Cardoso. Mas jamais com derrotismo. Jamais com mau humor. Nunca com baixo nível. A gente ouvia histórias escabrosas de Brasília, de orgias macabras, etc, mas isso não nos dizia respeito. Nossa crítica era exclusivamente política, de um lado, e provocantemente estética, de outro. Nosso jornal era irreverente, poético e cheio de esperança.

O discurso de Benjamin, por outro lado, era o discurso de um louco, eivado de profecias terríveis que, graças a Deus, não se realizaram. Graças a Deus não. O Brasil estava indo mal por aqueles dias, mas não havia razão para vaticinar desgraças como Benjamin fazia. Ele afirmava, categoricamente, por exemplo, sem agregar nenhum argumento mais consistente, que a moeda brasileira seria substituída pelo dólar, em território nacional. E uma série de outras coisas que, francamente, não tinham base na realidade. Não apenas porque FHC não quisesse enveredar por um caminho tão radical, mas porque a oposição já vinha se articulando de forma bastante vigorosa.

De qualquer forma, uma coisa me irritou profundamente na palestra de Benjamim. Ele não indicava caminhos de luta. Seu discurso era absolutamente niilista e desencantado. Claro, para quem se aferra sectariamente a uma idéia de mundo e de revolução que só existe, em forma pura, em sua própria cabeça, o Brasil nunca terá futuro.

O jornal que eu editava, o Arte & Política, tinha uma postura oposta. A nossa própria existência era motivo de otimismo e júbilo. Acreditávamos em nós mesmos, ou antes, a gente nem perdia tempo acreditando ou não acreditando. Apenas vivíamos a nossa rebeldia boêmia, entusiástica, insana. Ás vezes fazia calor demais no Rio e a gente saía do bar em que bebíamos quase todas as noites, em Vila Isabel, e íamos à praia do Arpoador, de madrugada, tomar banho de mar. Ou íamos a uma sinuca da Lapa, na época em que o bairro ainda era um ilustre maldito para a zona sul. Ou ficávamos por ali mesmo, fechando todos os bares da terra de Noel Rosa. Claro que havia o outro lado: traições, brigas, intrigas, separações, excessos. Mas prefiro, neste momento, lembrar somente as coisas boas. Isso não tem nada a ver com política, mas é que o artigo de César Benjamin também não fala de política. Tamanha podridão só pode ser combatida eficazmente com boemia, esperança e literatura.

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Depois disso, eu ouvi falar esporadicamente de César Benjamin. Até comprei um livro organizado por ele alguns anos depois, sem ligar muito o nome à pessoa.

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Até que voltei a encontrá-lo na Folha, o que me despertou uma certa curiosidade. Ué, esse radicalzinho escrevendo para a Folha, logo agora, quando os jornalões iniciaram um processo de expurgo completo de qualquer manifestação um pouco mais rosada de suas páginas? Ao iniciar a leitura, entendi logo, porém. Era um texto insosso, metido a técnico, sem virilidade ou coração. Um texto medíocre, inofensivo. A voz de um velho sem dentes, rouco, alquebrado, desprovido de qualquer vibração revolucionária. Tornou-se uma dessas colunas de jornal pelas quais passamos, por décadas, sem dar-lhes atenção. Como a Cora Ronai, do Globo, por exemplo. Até que um dia, o colunista, num lampejo de desespero, quiçá com medo do desemprego, resolve tomar uma atitude que despertará, ele sabe muito bem, o orgulho de seu patrão. Cora Ronai fez isso certa feita, quando abriu o berreiro por causa da tapioca do ministro dos Esportes. Agora foi a vez de Benjamin mostrar serviço.

Agora não venham me dizer que o artigo é bem escrito. É piegas e autopiedoso do começo ao fim. A parte que fala do Lula vem recortada, abruptamente, no meio, entre as historinhas tristes de si mesmo. Porque ele fala tanto de si mesmo num artigo cujo ponto central é divulgar uma calúnia sobre o presidente da República? São escudos de autopiedade. Pinta-se como coitadinho para melhor dar o bote.

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Pensando bem, o episódio representou uma derrota imensa para a Folha de São Paulo. Uma derrota moral. Sim, porque alguém ainda poderia conceber (como de fato, eu li por aí) que o editor, Otávio Frias Filho, não lera a matéria antes de publicá-la. Hoje vemos que isso é incoerente. A matéria de Benjamin só tem sentido por causa da calúnia nela contida. São três páginas dedicadas a malhar o filme de Lula. Críticas, aliás, idiotas. Uma das matérias acusa o filme de omitir esse ou aquele episódio da vida do presidente. Os moderninhos agora viraram censores. Depois passam a patrulhar, de forma autoritária e descarada, todos os patrocinadores do filme. Isso é irônico. É o primeiro filme de alto orçamento, em muitos anos, realizado sem verba pública, e os jornais vem criticar as empresas privadas que o patrocinaram por terem contratos com o governo. Como se houvesse alguma empresa grande no Brasil que não tivesse contratos com o governo. É ridículo.

Ontem, Arnaldo Bloch, colunista do Segundo Caderno do jornal O Globo, afirma que Filho do Brasil é um grande filme, um "puta épico" que irá deflagrar uma torrente de lágrimas em todos que o assistirem. Diz que sua mãe deverá ficar chorando por uma semana inteira. Enfim, já começa a ruir, no interior da própria corte midiática, a tese um tanto arbitrária da Folha de que o filme não teria legitimidade artística.

Entretanto, o mau caratismo da Folha ficou patente no dia seguinte, e também no domingo. As cartinhas que a Folha publica no sábado, de leitores que acreditam na calúnia de Benjamin, valem como provas criminais. Sim, porque o jornal publicou a calúnia sem nenhum contraponto, de forma que, para o leitor, aquela era a única informação disponível. Ao fazer isso, a Folha sacaneou o seu próprio leitor, botou-o contra a parede. Forçou-o a adotar um ponto-de-vista. Apenas no dia seguinte, ela traz o contraponto. Todas as fontes citadas e sugeridas por Benjamin, todos os fios perdidos da história apontam para uma calúnia grotesca, feitas por um adversário fidagal de Lula, alguém conhecido por um ódio incontrolável por tudo o que Lula representa: uma esquerda pragmática, astuta, que soube montar no corcel do capitalismo selvagem e dirigir o Brasil para um caminho saudável de maior distribuição de renda, redução da pobreza, desenvolvimento econômico e protagonismo geopolítico.

Hoje, domingo, a Folha volta à carga, com mais cartinhas chancelando a história de Benjamin. O único texto editorial da Folha é a coluna cínica de Eliane Catanhede, tratando de maneira odiosamente leviana uma baixaria jamais vista na história recente. Supera mesmo o golpe collorido de Miriam Cordeiro. Catanhede parece se divertir com uma calúnia que manchará para sempre o jornal onde escreve e que baixou irremediavelmente o nível do debate politico e eleitoral.

Nenhum outro colunista sequer ousou abordar o tema, como se fosse muito normal, em qualquer país do mundo, acusar-se o presidente da República de tentar estuprar alguém na cadeia. O próprio silêncio é covardia.

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A história toda é muito nojenta, por parte de Benjamin e por parte da Folha. Lula é pintado não como uma vítima da ditadura, não como um sindicalista que passou um mês preso nos porões da policia paulista, sofrendo risco de ser torturado e morto. Não nos esqueçamos que o irmão de Lula, Frei Chico, foi barbaramente torturado. Benjamin cria um novo personagem. A de um Lula lascivo e pervertido, cujo periodo na prisão se constituiu um prêmio para seus inomináveis vícios.

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A Folha cometeu um erro gigantesco. Auto-imolou-se em sua própria sem-vergonhice.

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Já César Benjamin fez o papel do invejoso traidor. Não sei se vocês conhecem a história da batalha das Termópilas, famosa por causa dos 300 espartanos, liderados por Leônidas, que resistiram aos ataques de mais de 200 mil soldados persas. Heródoto conta a história em detalhes. E tem o filme também, lançado recentemente. Aliás, tem dois filmes, um mais antigo e outro recente. Há um personagem importante na trama. É Efialtes, um espartano traidor, que se dirige até Xerxes, o rei dos Persas, para revelar uma trilha secreta que poderia levar à retaguarda do exército de Leônidas. Vende-se por dinheiro, e Xerxes vence Leônidas.

É preciso não esquecer, contudo, que, apesar de vencer aquela batalha, os persas perderam a guerra. Leônidas e seus 300 valentes foram alçados a condição de heróis supremos da Grécia, e Efialtes até hoje é sinônimo de traidor.

Não é preciso ser Fidel Castro para saber que a história nos julgará a todos. No caso de César Benjamin, Otávio Frias Filho, e Luiz Inácio Lula da Silva, há um grande olho lá em cima assistindo a tudo com muita calma, talvez mesmo se divertindo. Julgamentos severos e terríveis estão sendo feitos, nesse exato momento, e podemos sentir um pré-gostinho disso na consciência de cada um de nós. Esse é o sentido da indignação, da perplexidade, da revolta. Mesmo em silêncio, contribuimos, com nossa tristeza, com nossa ira, com nosso senso de justiça, como valiosas testemunhas no impiedoso tribunal da História.

28 de novembro de 2009

Folha atinge o paroxismo da calhordice

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Creio que todos estamos ainda em estado de perplexidade. Sim, porque a Folha hoje volta à sua calhordice. Publica no Painel de Leitores cartas de leitores que afirmam ter acreditado na história contada por César Benjamin.

A Folha publica a carta de um global, Marcelo Madureira, que desde longe vem realizando, de todas as maneiras, oposição sistemática ao Lula:

"Em tempos de unanimidades, bajulação, mentiras, censuras veladas e neoperonismos, o corajoso e sensível depoimento de César Benjamin só vem confirmar aquilo de que eu já desconfiava havia muito tempo: que o Brasil está sendo governado por um bando de cafajestes sem escrúpulos. E o que é pior: recebem indenizações pelas suas cafajestadas. Parabéns a César Benjamin e a esta Folha."

MARCELO MADUREIRA, "Casseta & Planeta' (Rio de Janeiro, RJ)

Madureira é um canalha alienado. Quer transformar vítimas da ditadura, pessoas que foram presas e torturadas em "cafajestes sem escrúpulos". Quando ele fala que já desconfiava, revela o objetivo da matéria publicada pela Folha, que era ir de encontro ao subconsciente de seus leitores, já devidamente preparado por manipulações diárias. Todos os antilulistas fanáticos agora se encarregarão de espalhar boatos e "confirmar" o que já suspeitavam.

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No interior do jornal, todos os procurados deram depoimentos negando veementemente a história. A Folha consegue, mesmo nessas matérias, botar as negações no final dos textos e fora dos títulos. Consegue, nos títulos, criar ambiguidades.

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Ao dizer que Silvio Tendler afirmou que era brincadeira, a Folha não publica a versão integral de Tendler, dando detalhes de tudo, contextualizando inteiramente o episódio. Confira aqui a versão de Tendler. A podridão atingiu o apogeu.

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Ou seja, todas as testemunhas citadas, ou sugeridas, por Benjamin, negaram a sua história. Mais ainda, afirmam que se trata de uma mescla de mau caratismo e ressentimento com estupidez. Lula já era uma figura pública. Hoje se sabe exatamente quem estava na cadeia com Lula durante todo o tempo em que ficou preso. O irmão de Lula, o Frei Chico, que foi torturado barbaramente na prisão, lembrou que o presidente ficou preso com outros diretores do Sindicato dos Metalúrgicos.

A Veja conseguiu, inclusive, encontrar um homem que, na época, pertencia ao grupo político MEP, e seria o tal "menino do MEP". O homem negou, enojado, a história. A Veja, claro, bota a negação ao final do texto, depois de um título acusatório e um começo de texto ambíguo.

Milhares, talvez milhões, de brasileiros, estão estarrecidos com o nível a que chegou a imprensa brasileira. Desespero, inveja, mau caratismo, cafajestagem, cinismo.

Diante de um descalabro desse quilate, o sentimento de revolta que germina em todos, porém, precisa de um pouco de tempo para ser assimilado racionalmente. Que vivíamos uma guerra, já sabíamos, ou ao menos desconfiávamos, mas creio que havia um fiapo de esperança de que não haviamos chegado aos extremos. Chegamos.

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Uma amiga da minha mulher veio falar com ela:

- Minha mãe contou que leu no jornal que o Lula estuprou um rapaz.

Daí você vê o prejuízo causado ao debate político. Em vez de estarmos falando de outros assuntos, agora teremos que suportar a indignação de milhões de polianas, que nada mais são que brasileiros normais, sem hábito de ler blogs. E agora?

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Diante de tal situação, apenas sugiro que nos concentremos no blog do Nassif, do Eduardo Guimarães, do Azenha. Com certeza, o tema terá desdobramentos interessantes. Um ataque desses deve ser respondido à altura.

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Não estamos mais falando de política. Trata-se agora de uma questão de direitos humanos. Do direito da imprensa de caluniar e humilhar pessoas. O Leviatã, finalmente, cometeu um grande erro. Não vamos perder essa oportunidade.

27 de novembro de 2009

César Benjamin atravessou o Rubicão

22 comentarios

Por todos os lados em que se analisa a acusação de César Benjamin, de que Lula teria assediado sexualmente um companheiro de cela, temos um caso de mau caratismo sem limite. A história, obviamente, caiu no colo da blogosfera de extrema-direita, que agora vai tentar faturar o máximo. Reinaldo Azevedo, o blogueiro da Veja, está soltando fogos. Obrigado, Cesinha, pela ajuda que prestou aos trabalhadores brasileiros.

César Benjamin não escreveu uma resenha do filme do Lula, como era a proposta do artigo, conforme dão a entender as fotos e o título. Também não falou em política. Fez uma fofoca suja, que agrediu todas as famílias brasileiras e compromete a reputação do presidente da república no exterior; e ao enfraquecê-lo dessa forma vil, atacando-o por baixo da cintura, atrapalha a posição do Brasil nos grandes fóruns mundiais.

Se pegarmos a página onde o texto é publicado e torcermos, sairá um líquido verde e gosmento, o suco concentrado da inveja. Cesar Benjamin, com o pretexto de resenhar o filme de Fábio Barreto, fala apenas de si mesmo, como a indicar o absurdo que Lula, e não ele, fosse o protagonista de uma obra que promete bater recordes de bilheteria.

Eu tô ligado nesse cara. Desde que Lula venceu o primeiro pleito, ele nunca moveu uma vírgula para atacar a direita. Sempre contra a esquerda. É desses esquerdinhas que passam a vida falando mal da própria esquerda, porque se acham o supra-sumo da intelectualidade crítica, a reencarnação de Gramsci ou coisa parecida, e descompromissados soberanamente com a realidade brutal dos pobres e da classe trabalhadora.

Eis que agora realiza o ataque mais abjeto que alguém poderia conceber, deixando em estado de perplexidade mesmo quem estava preparado para qualquer baixaria. Lula tem família. Esposa, filhos, irmãos, parentes. Uma fofoca desse quilate atinge profundamente a honra de todos. E para quê? Historinha babaca. Se ele falasse que estava na mesma cela que Lula e viu, com os próprios olhos, o presidente transar com outro homem, aí sim, ele seria um... dedo-duro confiável. Agora, vir com esse disse-me-disse, com uma historinha cujas testemunhas ele confessa sequer lembrar o nome, para dizer que Lula falou, numa conversa reservada:

- Não consigo ficar sem boceta.

Meu Deus! E a Folha publica isso? Não tem nada demais alguém falar isso numa conversa reservada. Todo brasileiro fala coisas muito piores o tempo inteiro. Mas botar essa frase no jornal... me desculpem, eu não aguento, é coisa de filho da puta. César Benjamin é um filho da puta.

Vejam só o papinho de invejoso babaca de Benjamin:

O homem que me disse que o atacou é hoje presidente da República. É conciliador e, dizem, faz um bom governo. Ganhou projeção internacional.

Ou seja, César quer dizer o seguinte. Lula faz um bom governo, ajuda os pobres, ganha projeção internacional, mas... tentou transar com um companheiro de cela trinta anos atrás. Tentou, héin, o mané não consegue nem inventar um podre completo. Podia fazer uma calúnia inteira e dizer que o ato foi consumado. Se quisesse, poderia até usar a linguagem bíblica: Lula "conheceu" o menino do MEP.

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O mais irritante é que César lança a fofoca no ar, e depois volta a falar de si mesmo, como se alguém fosse se interessar pela merda de sua vida depois do que ele acabou de dizer: uma calúnia indecorosa e irracional contra o presidente da república, uma bomba com poder de desestabilizar as instituições.

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Acudiram-me duas referências assim que soube da notícia:

1) Lembrei do Bezerra da Silva, falando do homem mais desprezível de todos, o alcaguete, o dedo-duro, o X9. Ou seja, César Benjamin. Sim, porque lançar no ventilador da Folha de São Paulo um papinho sujo de botequim de 15 anos atrás, é uma trairagem imperdoável. Mas é típico de ex-petistas, pessoas que, depois de anos bebendo água de coco à sombra do partido, saltam bruscamente para o campo adversário e se tornam os verdugos mais inescrupulosos daquilo que eles mesmo ajudaram a construir.

2) Lembrei de Suetônio, o romano que escreveu o clássico, A Vida dos 12 Césares. O capítulo dedicado a Julio Cesar é muito engraçado. Começa louvando de maneira magnífica o primeiro dos imperadores de Roma, mas salpica a narrativa com inúmeras fofocas escabrosas. A primeira, que irá perseguir César por toda a vida, é a história de que o imperador, quando ainda um rapazola endividado e vaidoso tentando fazer carreira no serviço público, teria cedido às investidas de Nicomedes, rei da Bitínia, na Ásia próxima.

Nas palavras de Suetônio:

Correu, então, a notícia de que se havia prostituído a este monarca.

Anos mais tarde, quando Cesar vence as difíceis guerras de conquista da Gália, seus soldados irão cantar, alegremente, a canção:

César subjugou as Gálias. Nicodemes subjugou César.

É muito curioso acompanhar a avacalhação que Suetônio faz de Júlio César, a que não falta uma deliciosa verve humorística. Quando ele entra na parte da biografia mais pessoal, Suetônio relata que Cesar...

Como não se conformasse com a iniquidade de sua calvície, que por mais de uma vez o expusera ao escárnio de seus detratores, adquirira o hábito de puxar para a testa os poucos cabelos que lhe ficaram.

Os adversários de César, conta Suetônio, estavam sempre lançando contra ele acusações de homossexualismo, na maioria das vezes se referindo a fofoca envolvendo Nicomedes. Ofendiam-lhe com alcunhas como: rival da rainha, a prancha inferior da liteira real; prostituta da Bitínia; escudo de Nicomedes. O próprio Cícero - que posteriormente será seu amigo -, publicou discursos fortemente insultuosos contra César, sempre escarnecendo do suposto caso com o rei da Bitínia.

Em seguida, Suetônio vai mais fundo e afirma que César era um libertino descarado, seduzindo todas as mulheres e todos os homens que lhe atraíam, não respeitando marido nem esposa. Um político romano chamou-lhe, num discurso: "o marido de todas as mulheres e a mulher de todos os maridos."

O interessante é que César reagia brandamente. Tratou bem todos seus adversários. Reconciliou-se com Cícero, que lhe atacara em centenas de discursos. Perdoou poetas que durante décadas haviam escrito poemas de baixo calão sobre sua pessoa.

Quanto aos que o ultrajavam em discursos, limitou-se a adverti-los, publicamente, de que não prosseguissem. Suportou pacientemente que um livro infamante de Aulo Cecina e versos maledicentíssimos de Pitolau lhe lacerassem a reputação.

*

Eu desviei do assunto principal porque achei mais saudável assim. Quis mostrar que a baixaria acompanha a política desde os primórdios da humanidade, mas ela nunca foi benéfica para a democracia. Julio César teve que atravessar o Rubicão com seus exércitos e dar um golpe de Estado. Com seu poder firmemente estabelecido, não temia que os insultos e calúnias que lançavam contra ele surtissem algum efeito prático. Já no sistema eleitoral que vivemos, as calúnias substituem o debate político e podem influenciar fortemente os pleitos. Por isso devem ser repudiadas com muita firmeza por todos os agentes, sobretudo pela mídia, que é quem tem o maior poder de difundi-las. O que a Folha fez, portanto, ao permitir a publicação de um insulto tão grosseiro e leviano ao presidente da república, igualmente não tem desculpa. Otavio Frias Filho, editor da Folha, é outro filho da puta. O Movimento dos Sem Mídia já está se mobilizando para protestar. Eduardo Guimarães, presidente do MSM, afirmou hoje que a entidade organizará mais um protesto em frente à Folha, na rua Barão de Limeira. Será no próximo sábado, dia 5 de dezembro.

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Várias pessoas que estiveram presas na mesma cela que Lula, em 1980, ou em celas vizinhas, além de observadores políticos atentos daquela época, estão postando comentários no blog do Nassif. Todos afirmam categoricamente que a acusação de César Benjamim é inverossímil, por várias razões:

- Lula, na época, era o preso mais vigiado do país. Qualquer informação desabonadora de sua pessoa seria passada à população, para tentar arrefecer uma força política que se mostrava extremamente perigosa para a ditadura.

- Vários sindicalistas e presos políticos se encontravam na mesma cela ou em celas vizinhas, ou conheciam gente ali, e a história de César nunca circulou em parte alguma. Muitos eram adversários políticos de Lula, no passado e hoje, como o pessoal do PSTU, que sempre achou Lula um pelego. Não hesitariam, portanto em divulgar uma história que desmascarasse o bom mocismo do ex-metalúrgico. José Maria de Almeida, na época militante da Convergência Socialista, e hoje dirigente do PSTU, declarou à imprensa: "Tenho motivos para atacar o Lula. O seu governo é uma tragédia para a classe trabalhadora. Mas isso que está escrito não aconteceu."


*

O delegado que vigiava Lula acaba de negar peremptoriamente a história. Ainda bem que temos o Nassif.

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Está explicado, enfim, porque César Benjamin é colunista do jornal da Ditabranda.

26 de novembro de 2009

Samba da geopolítica doida

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O que parecia impossível aconteceu. A radicalização ideológica do governador de São Paulo, José Serra, ao atacar tão virulentamente o presidente do Irã, colocou o jornal dos Frias numa situação extremamente desconfortável, porque a Folha, ao que parece, não quer perder ainda mais leitores e assinantes do que já perdeu nos últimos anos, ao comprar as plataformas tucanas; não quer perder ainda mais alinhando-se a este acesso histérico de extremismo neocon e sionista de Serra e Reinaldo Azevedo.

A Editora Abril, com sua miríade de revistas femininas, de saúde, ciência, com seus vastos negócios com livros escolares (comprados sem licitação por Serra), consegue diluir as eventuais perdas que sofre por conta dos textos extremistas de Azevedo. A Folha, cuja receita é bastante concentrada no jornal, não pode se dar a esse luxo.

Editorial da Folha, hoje, afasta-se, mais uma vez, do artigo de José Serra, publicado esta semana no jornal, e elogia a atitude de Lula em receber Ahmadinejad. Naturalmente, a Folha, também dá na ferradura, diabolizando exageradamente o líder iraniano. O importante, contudo, é que o editorial chancela a postura do presidente da república, que recebeu os três líderes de países que são os principais responsáveis, hoje, pela tensão política no oriente médio: Israel, Palestina e Irã.

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O Globo, por sua vez, prestou um papel ridículo. Tirando setores minoritários e radicais dos EUA, o mundo começa a tirar o chapéu, mais uma vez, para a atitude ousada do presidente Lula em receber o presidente do Irã em seguida a visitas do judeu Shimon Peres e o palestino Abbas. O Le Monde publicou artigo elogiando Lula ter recebido o presidente iraniano. E a carta de Obama para Lula, que o Globo procurou transformar numa ameaça de guerra, hoje, sabemos, foi um pedido do presidente americano no sentido de Lula ajudar a distender as relações entre Irã e os EUA.

Olha como esses kamelistas são ardilosos. Ontem, deram página inteira e editorial informando seus leitores de que as relações entre EUA e Brasil estavam tensas. A impressão que se passou aos incautos aposentados que lêem o Globo pela manhã, passam a tarde jogando sueca na praça, e à noite, assistem ao William Bonner e mandam emails furiosos contra tudo e todos, é que soaram as trombetas de guerra, e que os esquerdistas radicais do governo Lula resolveram, finalmente, pintar as faces com a tinta da luta anti-imperialista.

Pois bem, hoje, quando todos aguardavam notícias sobre o desdobramento da guerra, o Globo não traz nenhuma matéria sobre o tema. Nenhuma. Estranho, não? Por sorte (?), o senhor Frias continua me mandando de graça (eu acho, tenho que checar meu extrato de cartão de crédito) o seu valoroso folhetim, e descubro diversas novidades escondidas pelos kamelistas espertinhos: um secretário de Estado dos EUA ligou para Marco Aurélio Garcia, dizendo que as coisas nunca estiveram tão bem. Celso Amorim fala em fantasia da mídia, e que as relações entre Brasil e EUA seguem tranquilas. E o principal: o teor da carta de Obama, em verdade, era uma espécie de conversa urgente entre Lula e Obama, para afinarem o discurso internacional perante o Irã.

E mais: Marco Aurélio Garcia, assessor para assuntos internacionais, publica um artigo na Folha derrubando todos os extremismos sionistas de José Serra como contraproducentes para a paz mundial.

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O melhor, porém, vou contar agora. Na página 2 da Folha de São Paulo, Clóvis Rossi e Eliane Catanhede falam duas coisas inteiramente opostas. Rossi, por incrível que pareça, critica a "mídia" brasileira, por ter dado a entender que haveria um conflito entre Brasil e EUA.

Catanhede, por outro lado, diz o contrário, que a coisa "vai mal". Mas o ponto culminante, que me levou a imaginar o som apoteótico de um vaso sanitário funcionando a pleno vapor, é quando a colunista da Folha diz o seguinte:


E o mais curioso é o desequilíbrio do comércio bilateral: superávit de US$ 4 bi para os EUA, um aumento de 284%. Perguntar não ofende: então o Brasil é comprador, em vez de vendedor para o maior e mais disputado mercado do planeta?


Sim, Catanhede, perguntar ofende sim. Ofende muito. Quando a pergunta é ofensivamente idiota, ofende muito. Por que os EUA são ricos, minha cara? Não seria justamente por que eles vendem caro e compram barato? Ah, não dá. Ela que é madame mas sou eu que vou dar chilique. Eu acompanho os dados online do comércio exterior do Brasil, através do sistema Alice, atualizados mensalmente pelo Ministério do Desenvolvimento, e publico, de vez em quando, matérias por aqui. Ao fazê-lo, confesso, até violento um pouco o meu lado ibérico-aristocrático, que acha plebeu abandonar o mundo dos pensamentos abstratos e poéticos e pisar no chão de terra das estatísticas.

Não é preciso nem fazer tanto. Se a dona Catanhede lesse o próprio jornal, saberia que, nos últimos anos, o superávit das exportações brasileiras cresceu gigantemente. Saberia que o Brasil sempre teve déficit com os EUA. E se pingasse um pouco de cachaça em sua aguinha perrier talvez despertasse nela um pouco de senso para perceber que não importa, para um país, se tem déficit ou superávit com UM país, e sim se tem déficit ou superávit com todos os países. Em outras palavras, os dólares da Argentina, China e Israel valem tanto quanto os dólares dos EUA, e se as exportações brasileiras bateram, nos últimos 10 anos, todos os recordes imagináveis, é no mínimo estupidez e ranhetagem protestar contra um fato normal e histórico, contra o déficit que o Brasil tem com os EUA, um déficit que, repito, tem mais de 300 anos. Sem contar uma coisa, tão óbvia que requereria esforço hercúleo para adentrar a engalanada mas estreita caixa cerebral de Catanhede: o Brasil exporta muito para os EUA. As madames que lerem o textinho de Catanhede terão a impressão de que o Brasil não exporta nada para o Tio Sam, quando é o contrário. Os EUA são nosso maior comprador individual, ultrapassado apenas recentemente pela China. E as exportações para os EUA caíram nos últimos meses por uma razão conhecida (mais cachaça na perrier, Eliana): a crise, lembra? Como diria o mineiro, eles tão com uns probleminhas meio brabos por lá. Um trem danado de grande de uma crise...

*

Olha que ainda tem coisa mais ridicula ainda no Globo. Agora os colunóides estão protestando contra o cortes de impostos e informando, como se fosse uma tragédia, que as indústrias estão vendendo "demais". Ou seja, bom é aumentar IPTU, e apertar o contribuinte, de forma a dificultar a vida das fábricas e lojas, como fazem Kassab e Serra. Quando o governo estimula a economia, reduzindo impostos e ampliando o crédito, é ruim, mesmo que o resultado seja a superação da crise financeira mundial, a perspectiva de excelente crescimento para os próximos anos (inclusive este, 2009), a redução da pobreza e elogio das principais publicações financeiras internacionais. Valha-me Deus!

25 de novembro de 2009

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Diatribe estudantil do Globo

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As críticas políticas do Globo às vezes parecem saídas da boca de um estudante radical. Um radicalzinho de direita, mas igualmente utópico, exagerado e maniqueísta quanto qualquer trostkista de 17 anos. Pra começar, tudo é esquerdismo. Claro, da ótica de um seguidor fanático das facções ideológicas mais reacionárias dos EUA, tudo é esquerdismo. Receber o Ahmadinejad, presidente do Irã, é fruto de "um esquerdismo infantil que tenta afirmar a independência diante dos EUA".


(Clique para ampliar).

É impressionante como eles pintam a bajulação mais vil dos EUA com a tinta bege do cinismo antiesquerda. Sempre contra o Brasil, sempre a favor dos Estados Unidos. O pior é que essa submissão, hoje sabemos muito bem, é politicamente inútil e economicamente negativa. O Brasil já não ganha nada, se é que ganhou algum dia, alinhando-se aos segmentos mais conservadores da potência do norte.

Na verdade, a coisa é ainda mais absurda. Porque há hoje uma clivagem na Casa Branca. De um lado, uma esquerda, ligada à Obama, a certo número de democratas e a vastos setores da opinião pública americana, com ênfase na intelectualidade acadêmica; de outro, Hillary Clinton, a direita, e a mídia americana, com ênfase na Fox e nos lobbies industriais ligados à guerra.

Mas a Casa Branca é ocupada por Obama, que vive um momento de recuo, de queda de popularidade, de crise política enfim. O Globo, que já teve editorialistas que apoiaram Obama (seguindo a onda moderninha), agora se alinha, decididamente, às alas mais conservadoras da política norte-americana.

O Globo fala em "adular" Ahmadinejad. Que adular! Desde quando receber um presidente, numa visita inclusive que foi pedida pelo próprio Ahmadinejad, é adular? Nada tem sentido. A semântica de tudo é distorcida. O Globo diz o seguinte:

"Não ajudará as ambições do Planalto, em termos de promoção da boa imagem de Lula no exterior, adular um Ahmadinejad mantido no poder por um golpe militar da Guarda Revolucionária - depois de uma eleição fraudada -, tudo em nome de um esquerdismo infantil que tenta afirmar a independência diante dos EUA - o "império".

É inacreditável. Em todo o período, não há uma frase verdadeira. Vamos:

1) Ajudará sim. O Brasil é respeitado justamente por sua política externa altiva e independente. Se fosse seguir os conselhos do Globo, Lula não teria conquistado o prestígio que tem. O Globo só pensa em adular os EUA, mas não entende que, ao fazê-lo, não agrada nem aos EUA, porque ninguém respeita quem não se respeita. Lula fez muito bem em receber Ahmadinejad e conversar com ele e ajudar a distender as relações internacionais entre o Irã e alguns países ocidentais. Ademais, o mundo não é só EUA, Inglaterra, França e Alemanha. Existem mais de 200 países no mundo, e todos olham com orgulho para o Brasil quando Lula exerce uma política externa independente. O Globo representa um ponto-de-vista simplesmente burro. O comércio exterior do Brasil com o mundo em desenvolvimento, hoje, é muito maior do que com o mundo desenvolvido. A "imagem no exterior" de Lula, portanto, deve ser avaliada por esse prisma também. Com que fundamentos o Globo afirma que a visita de Ahmadinejad não contribuirá para a "boa imagem de Lula no exterior"? Não acertou uma vez sequer no passado recente e quer dar uma agora de especialista na imagem exterior de Lula?

2) É mentira também que Ahmadinejad "foi mantido no poder por um golpe militar". Ele foi eleito duas vezes pelo sufrágio universal. Doideira do Globo. Golpe militar aconteceu no Brasil, em 1964, apoiado entusiasticamente pelo Globo. Golpe militar aconteceu na Venezuela, em 2002, apoiado pelo Globo. Golpe militar acaba de ocorrer em Honduras, igualmente apoiado pelo Globo.

3) A eleição não foi fraudada. Houve suspeita de fraude lançada pela oposição. Venhamos e convenhamos. Se quem perde eleição tivesse o poder final de decretar se houve fraude ou não, não haveria mais eleições no mundo. O Irã é um país soberano, com instituições republicanas capazes de julgar ou não se houve fraude. Eles decidiram que não houve fraude. Houve erros, problemas, talvez até mesmo tentativas de fraude, mas, segundo eles, nada que alterasse o resultado das urnas e justificasse o gasto de outros centenas de milhões de dólares na realização de outro pleito. É preciso respeitar a soberania do Irã.

4) Quem tem esquerdismo infantil? A política externa de Lula é respeitada por todos os países do mundo, inclusive por mandatários de direita, como Nicolas Sarkozy, da França, e Angela Markel, da Alemanha, para não falar das boas relações que Lula manteve com George Bush, o anti-esquerdista por excelência. Onde está o esquerdismo infantil? O último problema de Lula e de sua diplomacia é esquerdismo infantil. O Brasil tem uma política externa inteligente e merece ser aplaudida e está sendo aplaudida no mundo inteiro, ponto final. Lula, sorry periferia, é o cara. Em vez de atrapalharem, sentem-se e aprendam. Quem sabe não conseguirão fazer melhor no futuro, se ficarem quietos e observarem como se faz?

5) Ahmadinejad foi visitar Bolívia e Venezuela. O Globo é tão burro que finge não entender as relações econômicas entre países produtores de petróleo e gás.

6) Por fim, uma crítica que está me dando nos nervos é essa obrigação agora do Brasil cobrar direitos humanos do Irã. Que moral o Brasil tem para fazer isso? O Brasil que mata dezenas de milhares de jovens por ano, em execuções frias realizadas por policiais corruptos? Que moral tem o Brasil? O Brasil é um dos países com as maiores taxas de criminalidade no mundo, e agora quer ensinar o Irã, uma civilização de milhares de anos, a resolver os seus problemas com segurança pública? O Irã trata mal os seus prisioneiros? Ãã. Macaco olha seu rabo. Brasil, olhe para suas próprias prisões. Olhe para seus orfanatos. Que eu saiba, no Irã não existem milhares de crianças abandonadas nas ruas, cheirando crack, como temos no Rio, São Paulo, Recife e em todas as grandes cidades. Que eu saiba, em Teerã, não temos milhares de pessoas catando lixo para comer e dormindo bêbadas pelas ruas, como vemos nas metrópoles brasileiras. Olha teu rabo, macaco!

7) Esse histeria anti-iraniana não nos permite enxergar algumas coisas. O Irã é um dos países em desenvolvimento com maior índice de jovens estudando em universidades. Os choques políticos de hoje, inclusive, são o resultado dialético dessa situação. O contato com uma realidade maior, mais complexa, faz os jovens aspirarem por mais liberdade, o que é natural, e aí entram em choque com as autoridades. Essa é a dinâmica dos conflitos no Irã. É uma dinâmica que, hora ou outra, terá que ser superada, mas outros problemas irão surgir, naturalmente. Nenhum país está livre de conflitos.

8) Sobre a questão dos judeus, a situação é mais ridícula. A imagem que se está passando para a opinião pública é que foram os iranianos os responsáveis pelo holocausto. Admito que é irritante ouvir o Ahmadinejad falar sobre o holocausto, mas, tirante as traduções mau feitas, não podemos esquecer que quem matou os judeus foram europeus de olhos azuis, cabelos louros, residentes num país chamado Alemanha. Então, senhores judeus, não confundam as coisas. Ahmadinejad pode falar besteira, e a comunidade internacional deve mesmo interpelá-lo, como fez Lula, para que se retifique e esclareça as suas posições. Mas quem matou os judeus foram os alemães, e não os iranianos. Está combinado?

9) Ninguém contou a história recente do Irã, e essa omissão impede os brasileiros de formarem uma opinião mais embasada sobre o tema. Por exemplo, os jornais não lembraram que o Irã viveu uma das guerras mais cruéis da história recente. Saddam Hussein, para quem não se lembra, era amiguinho dos EUA e da Inglaterra, e atacou o Irã. A guerra Irã X Iraque resultou na morte de mais de um milhão de iranianos. E todos sabiam que Saddam recebia dinheiro, armas e relatórios de inteligência dos EUA. Creio que esse fato não tenha ajudado os iranianos a ficarem mais tolerantes, pluralistas, pacifistas, ambientalistas e fãs do rock 'n roll.

10) O resto do editorial contém outras mentiras. É demais para mim. Num editorial de duas laudas, o Globo consegue fazer umas duzentas manipulações, forçando-me a um trabalho dez vezes maior que o editorialista que o escreveu. Porque eu devo contextualizar cada fato diacronica e sincronicamente, ou seja, fazendo a contextualização histórica e a contextualização geopolítica. Tudo bem, prefiro muito mais o meu esforço do que o golpismo tacanho e fácil do editorialista do Globo, que não tem nome, não tem ética, não tem patriotismo. Patriotismo? Isso é um terrível palavrão nas redações do Globo. Tornou-se cafona, bizarro, excêntrico, esquerdista... Enquanto os cineastas americanos, de Quarantino a Clint Eastwood, prosseguem enfiando a bandeira americana em todas as cenas, nossos intelectuais midiáticos parecem achar que apenas o amor por seu time de futebol é permitido. Por isso, para o Globo, é tão absurdo, ou esquerdismo, o Brasil "tentar afirmar a sua independência diante dos EUA".

11) Daí entrevistam diplomatas da era fernandista, e todos se alinham caninamente às opiniões midiáticas, o que apenas serviu para mostrar o quão incompetente eles são, e o quão subserviente e medíocre era a política externa de FHC. Mesmo diante do sucesso político, diplomático, comercial, e inclusive na mídia estrangeira, da política externa do governo Lula, eles não dão o braço a torcer e continuam achando que o certo era ver nossos diplomatas tirando o sapato em aeroportos, pedindo dinheiro ao FMI e silenciando-se obsequiosamente nos grandes debates mundiais.

*

Reitero que não tenho nenhuma simpatia especial pelo Irã. Sempre ouvi histórias escabrosas de lá, de suas prisões, do uso de tortura, de punições medievais. Mas sei que são práticas muito antigas. Eu sou um ocidental do tipo ultraliberal, desbocado, libertário. Acredito no Estado do bem estar social, e acredito na liberdade e na democracia. E acho que o Estado deva ser laico, radicalmente laico e mesmo ateu. Essas diatribes contra o Irã, contudo, são infantis e irresponsáveis, e servem a interesses específicos da indústria bélica norte-americana, que estão chantageando Obama e, sobretudo, não tem nada a ver com a gente. Nos EUA, os lobbies armamentistas ainda anunciam em jornais e bancam campanhas políticas. E aqui? O que esses babacas ganham com essa bajulação descarada de segmentos que, inclusive, nem tem mais tanto apoio junto à Casa Branca?

*

Azenha matou a charada. José Serra é, seguramente, o candidato de Washington. Sua gestão com certeza será muito benéfica, para eles, e desastrosa, para nós. Já que os conservadores de lá não podem destituir Obama, eles vão tentar, ao menos, impor alguém amigo no país mais poderoso ao sul do Rio Grande...

*

E olha que nem comentei a tentativa do Globo de criar uma crise política e diplomática entre Brasil e EUA... Cansei disso por hoje.

Banda larga gratuita?

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Meus amigos, se o Lula vencer essa parada e conseguir montar uma estatal de banda larga, que preste inclusive os serviços de provedor, para todo o país, será a vitória final da blogosfera. Eu, como blogueiro, não quero ajuda nenhuma do governo. Não suporto editais, burocráticos demais e que, de qualquer forma, criam amarras. A única maneira que o governo pode realmente me auxiliar é aumentando a banda larga no Brasil. A conexão telefônica é, hoje, praticamente inútil para se conectar a internet. Nem email dá para ver direito. E a conexão é a vida da internet, obviamente. De maneira que a banda larga é a vida da internet. Sem banda larga, não há internet no Brasil. E sem internet, não há cultura digital.

A extensão continental do Brasil, o tamanho de sua população, e o relativo atraso tecnológico do país, justificam plenamente a adoção de um vasto plano de governo para levar a banda larga para todas as regiões brasileiras.

Meu irmão, de quem já falei a vocês, vive num sítio em Rio Bonito, e está aborrecido porque a internet que as operadores lhe oferecem são muito caras e ruins. A maior parte da área rural do Brasil ainda vive um apagão internáutico.

Aqui não estamos mais falando de nenhuma guerra contra a grande mídia. A internet, atualmente, é condição fundamental para o cidadão integrar-se ao mundo moderno. Não se trata de moda, porque a internet possibilita, inclusive, a conexão com o passado. A internet é uma grande memória virtual e, numa democracia vibrante como a do Brasil, faculta ao povo o direito de opinar nas grandes questões nacionais.

Sendo assim, é com muito entusiasmo que eu defendo a banda larga universal e gratuita para todos os brasileiros. O custo de um projeto desses seria infinitamente menor que as vantagens proporcionadas.

Outra utopia seria a criação de nuvens de wifi gratuitas sobre as cidades, o que será fácil após a implementação de um vasto sistema de banda larga interligado nacionalmente, de maneira que todos, brasileiros ou estrangeiros, pudessem acessar a internet, de seus laptops, em qualquer lugar que estivessem, seja restaurantes, bares ou praia.

24 de novembro de 2009

Distorções geocomerciais

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Olha só isso. Uma típica matéria que, sem mentir, falseia a realidade e, sobretudo, produz uma interpretação geopolítica equivocada. A capa do Caderno Dinheiro da Folha de São Paulo, hoje, começa dizendo que o Brasil vem perdendo espaço no comércio com os Estados Unidos. Só lá pelas tantas, somos informados que o Brasi passou de 14º para 16º na lista dos principais fornecedores para os EUA.




O erro da matéria é que ela não contextualiza. Não lembra ao leitor que as exportações brasileiras experimentaram um salto impressionante nos últimos dez anos, de 228%.

Até a matéria do IPEA é distorcida, e talvez por culpa da ingenuidade dos pesquisadores. Confiram a manchetinha à direita: Commodities passam a dominar a exportação. A impressão que se passa é que o Brasil está voltando ao passado, a ser um exportador de matérias-primas. Ser burro é fácil. É só relaxar. O mundo é complicado  e tudo fica mais difícil se quem deveria nos ajudar, como a imprensa, tenta nos tornar mais burros do que já somos.

O jornalista poderia ajudar o pesquisador do IPEA a enxergar uma coisa óbvia. As exportações brasileiras de produtos industrializados não caíram. Ao contrário, aumentaram de maneira muito forte. A exportação de autopeças, por exemplo, cresceu 156% em 10 anos e já é o quinto principal produto no ranking, gerando 9 bilhões de dólares nos últimos 12 meses. A venda de aviões cresceu 146% em 10 anos. A exportação de produtos eletrônicos cresceu 206% no mesmo intervalo.



(Clique na tabela para ampliar).

Ocorre que, comparado ao salto gigantesco das vendas de ferro, petróleo e soja para a China, elas perdem no percentual. Entende? No percentual, as exportações de industrializados perdem pontos na comparação com a tríade petróleo, ferro e soja. O petróleo é um produto caro e pesado, e já é um dos principais produtos de exportação do Brasil. A exportação brasileira de petróleo cresceu 3.000% em 10 anos! É claro que nas estatísticas os produtos primários aumentam sua participação. Mas daí a falar que estão "dominando" é, no mínimo, ambíguo.

Mas não tem graça, porque o Brasil também importa muito, de forma que a balança cambial do petróleo fica empatada e, até que o pré-sal entre em atividade, permanecerá empatada muito tempo. E tem a carne também, cujas exportações cresceram 547% em 10 anos. A carne entra no grupo de produtos primários, o que tem um aspecto muito injusto, porque a tonelada da carne é vendida por quase 2.000 dólares, contra 40 dólares do ferro. A carne, por tão perecível, deve ser semi-industrializada antes de seguir viagem.

A soja é incrível mesmo, e os brasileiros devem ter muito orgulho do Brasil. Os produtores brasileiros ultrapassaram os americanos (que por um século dominaram esse mercado) em produtividade, quantidade produzida e quantidade exportada. A soja gera dezenas de bilhões de reais para a economia brasileira, por isso tem que ser vista como um de nossos produtos mais importantes. É preciso um olhar urbano e cultural para a soja, pois há uma civilização que floresce no centro-oeste e sudeste em torno dela.

É uma cultura conservadora, com certeza. A força de José Serra tem essas forças por trás. É por isso que a esquerda deve respeitar a grande cultura agrícola. É um voto eternamente conservador e representa forças econômicas poderosas. É contrabalançado, porém, pelo voto popular da pequena agricultura, muito mais relevante em termos populacionais, e que não possui uma representação no Congresso correspondente a sua grandeza.

As exportações brasileiras de produtos industrializados, sobretudo autopeças, cresceram, a um ritmo honesto e firme nos últimos 10 anos, e continuam crescendo. A exportação de soja explode num ano, mas vem uma seca, um problema climático qualquer, e desaba no outro. O ferro é vendido a quarenta dólares a tonelada e apenas perpetua a miséria no Pará e em Minas Gerais.

Os setores progressistas da exportação são as autopeças, maquinários, sapatos, carnes, e centenas de produtos agrícolas, muitos levando certificação de qualidade ambiental e social, conforme é a tendência nos mercados de consumo do primeiro mundo.

*

Os grandes compradores de produtos industrializados do Brasil são nossos vizinhos. O Financial Times, a The Economist, em toda Europa, os EUA, todos estão falando muito bem do Brasil, mas no frigir dos ovos quem põe a mão no bolso e compra nossos manufaturados são argentinos, venezuelanos, chilenos, mexicanos, caribenhos, equatorianos.

Sem esquecer um ponto fundamental, que falta à matéria da Folha. As exportações brasileiras de produtos industrializados têm uma boa razão para não terem crescido muito: a forte demanda interna. Em todo país, quando há forte demanda interna e o câmbio é favorável, é evidente que é muito mais confortável ao industrial vender a seus locais do que mandar seus produtos para o outro lado do mundo. Empresário não escolhe cliente. Vende para quem pode e quer comprar. E o consumo de industrializados no Brasil, este sim, explodiu. Na verdade, as fábricas de eletrônicos não estão dando conta de atender a demanda doméstica. Há falta de DVDs, TVs, rádios, celulares, laptops, computadores. As vendas de computador no Brasil aumentaram, nos últimos 6 anos, a taxas anuais superiores a 20%. Chegou a quase 40% em 2006 ou 2007.

O leitor da Folha, mais uma vez, encerrará a leitura do Caderno Dinheiro com uma conclusão pessimista. Se for um empresário, pode ser que tome uma decisão que envolva um recuo em seus investimentos e mesmo a demissão de gente. No auge da crise, citei Keynes no blog. O economista amigo de Roosevelt escreveu sobre o dano à economia causado pela propaganda de incentivo à recessão, gerada na imprensa por motivação política.

É por essas e outras que a China, que o Sardenberg, para nos diminuir, adora comparar ao Brasil, cresce 15% ao ano e nós crescemos, no máximo 6%. Eliminar essa imprensa que insiste em falsear a realidade para prejudicar a economia brasileira, seria como um balonista lançar, para fora de seu balão, um hipopótamo inusitado que ali tivesse se escondido.

Qual o mistério de Serra?

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Está cada vez mais difícil saber qual o sentido eleitoral dessa guinada ideológica de Serra à extrema direita. O artigo furibundo contra Ahmadinejah não repercutiu bem nem mesmo entre seus simpatizantes. Na Folha, houve nítido constrangimento. Eliane Catanhede e Janio de Freitas afastaram-se, educadamente, das posições semiticas radicais do governador. Clóvis Rossi fez um gesto ainda mais delicado: disse que a opinião de Serra sobre o Irã tinha uma "ética e moral" impecável, mas não o acompanhou.

Pelo visto, o único "formador de opinião" a aprovar entusiasticamente o artigo de Serra foi Reinaldo Azevedo, para cujas opiniões o serrismo converge cada dia mais. Com essa radicalização ideológica, no entanto, Serra perde todo o centro. E perde a direita liberal, a la Clint Eastwood, que tem ojeriza ao conservadorismo tacanho invadindo as liberdades individuais (como a Lei do Fumo). Perde a direita e a esquerda ambientalistas, que agora já tem sua candidata dos sonhos: Marina. E torna-se uma espécie de vilão de histórias em quadrinhos para a esquerda brasileira, que voltou a exalar um pouco de auto-estima, depois de ser humilhada e caluniada durante o escândalo do mensalão. Vale acrescentar que essa esquerda cresceu nos últimos anos justamente em virtude da radicalização conservadora de setores midiáticos e partidários. Gente como Nassif, PHA, diversos ex-jornalistas da Globo, foram praticamente expulsos da pacata residência centrista que ocuparam por tantos anos. Forçando um pouco a barra, lembrou-me os movimentos migratórios que transformaram a Europa pós-romana, quando tribos do oriente deslocam-se para o ocidente, criando um empurra-empurra de diversos povos cada vez mais para o ocidente, até que algumas tribos decidissem invadir e destruir o império romano.

Uma explicação que me parece plausível, embora espantosa, é que esse enorme deslocamento de setores da opinião pública para a direita foi influenciado fortemente pela presença de Reinaldo Azevedo, o blogueiro da Veja. Espantosa porque é incrível que um indivíduo tenha tanta responsabilidade num processo. É preciso, contudo, enxergar o indivíduo dentro do contexto sociológico. Azevedo recebeu, notoriamente, uma missão no Brasil. É o blogueiro ou mesmo o formador de opinião que mais liberdade goza dentro da grande mídia. É o único que recebeu carta branca para dizer o que quiser. Suas opiniões mais escabrosas são toleradas. Difere, inclusive, da condescendência meio paternalista que se dá à Diogo Mainardi, porque este último não desempenha o papel de "sério" ou "politizado" que Azevedo procura transmitir. A liberdade de RA para assumir defesas partidárias explícitas lhe dá um diferencial importante. Colunistas tradicionais do Globo, Estadão e Folha não tem essa liberdade, nem essa desenvoltura. Usam estratégias muito capciosas, mas raramente demonstram a parcialidade orgulhosa e direta de RA.

Diversas personalidades da cultura aderiram ao conservadorismo incendiário de RA. É no mínimo curioso, por exemplo, que um Nelson Mota, boêmio veterano, que já entrevistou Raul Seixas, que biografou Tim Maia, um homem, portanto, que conhece (e gosta delas, ao que parece) as loucuras da vida, tenha se deixado seduzir de forma tão completa por um neocon radical, racista, careta e preconceituoso como o Esgoto. Isso também é um mistério para mim.

Mesmo sem entender, arrisco algumas conjecturas. Voltei a pensar no blogueiro da Veja porque ele deu entrevista ontem ao Jô Soares. Não assisti porque evito enervar-me desnecessariamente. Eu considero RA um desequilibrado mental, um golpista, e aborreço-me com o deslumbramento que sua erudição emporcalhada provoca no brasileiro médio. As pessoas precisam entender que a intelectualidade produz monstros ideológicos do tipo de RA com uma frequência impressionante. A defesa que ele faz de um golpe de Estado no Brasil e na América Latina, para mim, deveria ser razão para prenderem-no. Recordo dos músicos do Planet Hemp, presos algumas vezes, por cantarem músicas sobre maconha, e não entendo porque a pregação de um golpe de Estado, que é notoriamente uma incitação criminosa ao desrespeito à ordem pública, feita por alguém com amplo espaço na midia, não é motivo de condenação por parte do Ministério Público. Ele, RA, que está sempre incitando as autoridades a prenderem os outros por suas declarações, ele é que deveria ser preso, por pregar o maior de todos os crimes: o golpe de Estado. Imagino o que fariam autoridades e opinião pública na Inglaterra, se alguém ofendesse dessa forma a Rainha. Ou na Espanha, se ofendesse o rei, ou nos EUA, se atacassem o Obama e pregassem a sua derrubada por um golpe de Estado.

Muito mais interessante, por outro lado, tem sido a rearticulação das forças jornalísticas, reagindo à direitização acelerada e brutal de redações e tvs. Criou-se uma ala independente que nunca existiu, de jornalistas blogueiros. E, claro, surgiram os blogueiros puros, essa legião de irreverentes incorrigíveis, que não perde uma pauta, um assunto, digerindo tudo com suas milhões de bocas.

A história se acomoda, aos encontrões. Tribos empurram outras tribos. O império romano desaba. Mas não esqueçamos que Roma também já foi uma pequena e simplória vila rural. E que cresceu em função de sua agressividade sem limites. Não é aconselhável subestimarmos nossos adversários. Eu acho Serra um imbecil e RA um louco, mas a humanidade já cansou de ser dominada por imbecis e loucos. Onde eles querem chegar? O que eles desejam? Terminar de privatizar o Brasil? Realizar uma demissão em massa do funcionalismo? Converter o país numa imensa praça de pedágios? Brutalizar os milhões de pobres que ainda vivem em áreas contestadas pela justiça?

A única bandeira realmente popular dos partidos conservadores, a redução dos impostos, é posta em ridículo pela ação concreta desses mesmos partidos quando ocupam o poder. Dentre todos os presidentes do Brasil, FHC foi o campeão em aumento de impostos. A carga tributária brasileira subiu fortemente em sua gestão. Cresceu um pouquinho nos primeiros anos de Lula, mas deve cair substancialmente este ano. E agora, Serra e Kassab promovem, sucessivamente, aumentos tributários. O prefeito de Sâo Paulo está elevando o IPTU em até 300% em vários bairros da cidade. É apavorante. Com base em quê? Nos altos e baixos da especulação imobiliária! Enquanto viadutos, metrô, shopping center, casas de show, desabam, matando pessoas e causando prejuízos bilionários ao contribuinte paulista (e, de forma indireta, ao Brasil todo), por culpa de uma fiscalização falha, terceirizada, as autoridades paulistas, perante um mundo ainda convalescente daquela que foi chamada de pior crise financeira desde o crash da bolsa em 1929, aumentam os impostos e criam novos pedágios nas rodovias do estado!

23 de novembro de 2009

Analisando os números do Sensus

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(Clique nas imagens para ampliar)

Eu gosto desses números que dividem o eleitorado por faixa de renda, porque ajudam a entender a dinâmica eleitoral de cada candidato. Prestem atenção no quadro acima. Ele mostra que a clivagem classista cresceu nos últimos meses, com Lula abrindo uma vantagem impressionante entre os mais pobres. A popularidade de Lula vai caindo conforme a renda sobe, até chegar num patamar mais baixo, de 55%, entre as famílias com renda mensal superior a 20 salários (mais ou menos 9 mil reais). No entanto, o presidente lidera em todas as faixas. Mesmo entre os mais ricos.



A lista 3 do Sensus é a melhor, na minha opinião, porque não inclui Ciro Gomes, que não deve mesmo disputar a eleição presidencial, e mesmo se o fizer, deve permanecer fiel à situação. Vejamos essa lista com atenção, portanto. Acima, há uma tabela por sexo. Dilma vai muito mal entre as mulheres, enquanto Serra tem mais voto entre mulheres do que homens. Há algo estranho aí. Não tenho nenhuma teoria para explicar isso. Seria o fato de Dilma ser desconhecida para a maioria das mulheres? Seria uma rejeição feminina por uma mulher no poder? Sei que as colunistas mulheres só tem feito críticas à Dilma justamente por ser mulher: é durona demais, é deselegante, é professoral, etc.



Outra tabela muito interessante, talvez a mais relevante dessa série. Ela mostra Dilma reproduzindo o mesmo padrão de Lula. Em pesquisas anteriores, eu havia notado que o eleitorado de Dilma fugia um pouco da clivagem classista do lulismo. Nessa pesquisa, porém, o quadro muda novamente. A candidata do governo tem sua maior força entre os mais pobres (27%, contra 39,7% de Serra), possivelmente em virtude de parte crescente desses segmentos estarem se inteirando de que ela representa o projeto lulista.

Serra, por outro lado, tem força especialmente entre o eleitorado mais rico, onde obtém o número de 58% das intenções de voto, contra 13,8% de Dilma.





Essa tabela aí também comprova que a transferência de votos de Lula para Dilma já teve início. O Nordeste, onde Lula tem uma popularidade fora do comum, está começando a reconhecer a candidata. Dilma conseguiu 33% das intenções de votos no Nordeste, contra 41% de Serra. O padrão do voto em Dilma por região ficou muito parecido com a distribuição regional da popularidade de Lula. Ou seja, há transferência. E ela está só começando.

José Serra assume seu lado neocon e vai pra capa da Folha

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Eu estava me preparando para fazer uma análise ponderada e interessante sobre a pesquisa do CNT/Sensus. Separei os gráficos que achei mais relevantes, os quais publicaria, seguido de comentários sobre diversos itens. Fá-lo-ei, porém, mais tarde, porque cometi a imprudência de descer à portaria e pegar a Folha de São Paulo, que o sr.Frias continua a me enviar de graça.

Aliás, tenho que checar meu cartão de crédito. É capaz d'eu ter pago por essa joça e não estar sabendo. Se for o caso, tudo bem. Tive uma idéia excelente sobre como ganhar dinheiro com a mídia, e fazer muitas pessoas ganharem dinheiro. Essa gente só conhece a linguagem do capital, então vamos esfregar as verdinhas em suas faces.

Alguém precisa provar que não são apenas os imbecis que sabem ganhar dinheiro no campo da comunicação de massa no Brasil. Mas depois eu falo sobre minha idéia para vocês.

Como eu ia dizendo, eu já estava conseguindo me acalmar, porque tive uma noite de insônia, não consegui parar de pensar numa idéia muito boa, uma idéia incrível, e preparava-me para escrever mais um post analítico e tranquilo sobre a pesquisa do CNT.

Muita gente desqualifica essas pesquisas, mas eu gosto muito de todas elas, porque elas me fornecem dados importantes para entender algumas coisas. Mesmo que sejam manipuladas, mas desde que não sejam inteiramente falsas (o que não gostaria de acreditar), sempre pode-se identificar proporções, variáveis, tendências e tirar conclusões minimamente científicas sobre a realidade eleitoral brasileira.

A política já é um universo tão cheio de imponderáveis que não acho que devamos desprezar açodadamente o trabalho de pesquisadores, mesmo que alguns de seus patrões sejam notoriamente parciais e tendenciosos.

Então, eu ia falar disso. Mas antes tenho que fazer uma denúncia muito grave. O sr.José Serra, governador de São Paulo e presidenciável, é um louco, um imbecil e uma pessoa totalmente despreparada para assumir o controle da política externa de um país como o Brasil. Sem exagero, ele representa um perigo não apenas para o Brasil, mas para a paz mundial. É o que se depreende de seu artigo publicado na Folha nesta segunda-feira. Com chamada na primeira página!

Leiam vocês mesmos:



Talvez nem todos percebam o quanto essa acusação alarmista e peremptória é desrespeitosa contra o Irã. José Serra não apenas ofendeu Ahmadinejad, presidente do Irã. A Casa Branca já reconheceu a vitória de Ahmadinejad e o Conselho dos Sábios do Irã não encontrou provas de fraude. Houve problemas em várias cidades, mas o Conselho não entendeu que eles alterariam o resultado eleitoral. O Irã é um país com profundas disparidades tecnológicas, com áreas muito atrasadas. O Bush foi suspeito de fraudar eleições, mas, como a Justiça americana entendeu que não houve fraude, nenhum mandatário estrangeiro desrespeitou a decisão das instituições norte-americanas. Serra não fez isso com Irã. Ele trata o Irã com imensa arrogância e preconceito.

É um louco, porque sabemos muito bem o que acontece com os países que tratam árabes ou persas com tamanha arrogância. Os EUA pagaram e pagam um preço alto por sua política externa agressiva e arrogante. Os contribuintes americanos que o digam, pois são obrigados a pingar alguns trilhões de dólares, anualmente, e enriquecer meia dúzia de nababos amigos do Dick Cheney, tudo para financiar a parlapatice guerreira de idiotas como Serra.

O caso de Serra, no entanto, é muito mais grave que o Dick Cheney. Porque o Brasil nem indústria bélica tem. E o Brasil tem relações comerciais muito intensas com o Irã.

Se o Serra quer ofender alguma ditadura, que dirija sua verve para mais perto, para Honduras, onde há um ditador usurpando um presidente legitimamente eleito. Lá não houve suspeita de fraude. Micheletti perdeu feio nas eleições. Mas deu um jeitinho e está lá na presidência. Porque Serra não fala nada sobre Honduras e agora vem à público ofender tão gravemente o presidente do Irã.

Que uma coisa fique bem claro. Eu não gosto do Irã e não gosto do Ahmadinejad. O país e o presidente são conservadores e eu não sou conservador. Mas eu tenho senso de justiça. Se o Brasil recebe o presidente da China, do Paquistão, da Arábia Saudita, sem que Serra publique artigo histérico nos jornais, não é lógico, a meu ver, que ele tome essa atitude com o Irã.

Serra alinha-se, com essa linguagem incendiária, aos conservadores mais agressivos dos Estados Unidos. José Serra assumiu agora de vez que é um marionete político do senhor Reinaldo Azevedo, blogueiro da Veja e principal ideólogo da extrema-direita no Brasil.

Qual a moral do governador de São Paulo para acusar o presidente do Irã de responsabilidade na repressão aos protestos, se ele, Serra, autorizou o espancamento de estudantes e professores da USP, ordenou a expulsão violenta de centenas de famílias pobres de um terreno baldio, chancela a matança e brutalização indiscriminada de inocentes em bairros pobres de São Paulo?

Ainda há revolta no Irã, mas a causa não é fraude, e sim a tensão política natural do país. Serra é tão burro que não percebe que, no Brasil, há muito mais revolta. No Irã, por exemplo, os índices de criminalidade são próximos de zero. As pessoas se revoltam com a política. Por outro lado, Serra mostrou-se um neocon obtuso, porque não oferece as pessoas o contexto histórico do Irã, país que teve a sua democracia e a sua esquerda massacrada por um ditador patrocinado pelos Estados Unidos. A única coisa que restou da matança promovida pelo Xá Mohammad Reza Pahlevi foi o clero muçulmano. E aí o clero muçulmano assumiu a liderança da revolução e tomou o poder.

Se não fosse, contudo, a ditadura sanguinária de Reza Pahlevi, não haveria esse desdobramento político-religioso. O Irã, antes do Pahlevi, era um país que dava passos saudáveis na direção de uma sociedade laica e democrática, como a Turquia, que está prestes a entrar na União Européia.

A demonização do Irã é uma estratégia do lobby armamentista americano, uma chantagem astuta para que a Casa Branca continue assinando cheques trilionários para proprietários de fábricas de bombas e mísseis. Ahmadinejad é um político simplório, um camponês, faz declarações cômicas (e sombrias) sobre homossexualismo, etc. Mas a Sarah Palin, colocada como a "renovação" do Partido Republicano dos EUA, não é ainda pior?

O senhor José Serra não está à altura do Brasil. As suas declarações são particularmente chocantes se considerarmos que o Brasil ocupa, no momento, um assento temporário do Conselho de Segurança da ONU e está tentando obter uma vaga permanente. Com um presidenciável não comprometido com a paz mundial, o Brasil corre o risco, se eleger Serra, de contribuir para a instabilidade política do planeta.

22 de novembro de 2009

Mutirão antimídia

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Para fazer uma crítica bem feita, satisfatória, dos jornalões brasileiros, seria preciso o trabalho de um equipe de umas seis ou sete pessoas, trabalhando de oito a dez horas por dia. Eu pensei isso hoje porque cheguei ontem de uma viagem de dois dias ao sítio de meu irmão, numa área rural bastante isolada de Rio Bonito, e resolvi ler os jornais de sábado e domingo. Ainda bem que não comprei o Globo. Fiquei só na Folha, e mesmo assim minha mente quase entupiu de tantos exemplos de manipulação.

É uma situação estranha, irônica. Os jornais, hoje em dia, tornaram-se uma fonte de tanta desinformação e falsidades, que, para lê-los, temos que estar munidos de uma enorme bagagem de dados, informações, análises, de forma a poder "interpretar" objetivamente as matérias escritas, ou seja, depurá-las dos elementos tóxicos. O cidadão que lê um jornal impunemente, sem tomar as medidas cautelares necessárias, acaba se tornando um autêntico imbecil, cheio de opiniões alheias, embasadas em pilares tão sólidos quanto papel jornal.

Não tem jeito. A mídia, definitivamente, se tornou uma pedra no caminho para a democracia e para a paz mundial. O que é uma grande ironia. Evidentemente, o mundo livre e democrático precisa de uma mídia livre. Também é evidente que os cartéis midiáticos que assumiram a comunicação de massa no mundo se pretendam representantes exclusivos da "liberdade de imprensa", e isso enquanto escravizam jornalistas, desestabilizam governos, beneficiam interesses escusos, fazem campanhas de guerra, manipulam desgraças.

A crise financeira mundial é um exemplo. Eu não consegui engolir ainda que os governos do mundo inteiro alocaram trilhões de dólares para salvar bancos privados. Ou seja, para que os filhinhos-de-papai possam continuar fazendo windsurf na Indonésia. Com esse dinheiro, o mundo poderia transformar a África com grandes obras de infra-estrutura, programas sociais e educação, tornando o continente negro num mercado gigantesco que, por sua vez, serviria para alavancar o crescimento do próprio mundo desenvolvido. Seria o Plano Marshall aplicado à Africa. O Plano Marshall, para quem não sabe, foi uma ajuda econômica dos Estados Unidos à Europa, aplicada em 1947, visando a reconstrução econômica de países que ainda secavam as feridas de guerra. A contribuição norte-americana equivaleu, em termos atualizados, a 130 bilhões de dólares, e o plano obteve resultados estupendos. Após os quatro anos durante os quais o plano foi implementado, a Europa voltou a crescer vigorosamente. E os EUA ganharam com isso, por causa das intensas relações comerciais e culturais que, a partir da ali, ganharam ainda mais força.

Por que não fizeram isso com a África? Por que os EUA não fazem isso com a devastada América Central?

A resposta, naturalmente, é política. E daí voltamos à mídia, esse Leviatã que olha governos e povos de cima para baixo. O linguista Noam Chomsky explica que não se trata de encontrar figuras diabólicas articulando planos macabros em salas de redação. É um processo natural, como uma doença. Poder gera poder e a mídia, amparada por Constituições escritas há séculos (para não dizer milênios), quando não existia comunicação de massa, conseguiu se tornar um tumor maligno que ameaça a própria existência da democracia, sobretudo em regiões com instituições democráticas ainda frágeis, como é o caso da América Latina.

É importante, claro, que exista mídia independente no mundo, mas é preciso, antes disso, que se criem leis para trazer justiça e civilidade ao universo midiático. Especialistas em saúde pública vem fazendo severas denúncias sobre os incalculáveis prejuízos que a desinformação causa aos governos e à população, por conta da irresponsabilidade das pautas midiáticas ligadas ao tema.

O caso da febre amarela no Brasil, em que mais gente morreu em virtude do pânico gerado pela mídia do que vitimadas pelo vírus, foi apenas o caso mais emblemático e que chamou mais atenção. Na época, porém, diversos médicos disseram que o problema se repete em larga escala. Esse é um problema, repito, mundial, e a humanidade, um dia, terá que realizar uma grande conferência internacional para legislar sobre a mídia. Já era tempo disso, aliás. Em vez de doar trilhões para banqueiros, o mundo poderia montar um grande sistema de tvs abertas, por satélite, para integrar as diferentes culturas mundiais. Seria lucrativo para todos.

Não é o caso de termos uma mídia dominada pelo Estado. Ao contrário, a mídia hoje é absurdamente dependente do Estado, e não é por outra razão que ela tanto luta para assumir o controle do mesmo.

O aspecto mais vergonhoso dessa situação, todavia, é a dependência do Estado em relação mídia. E o Estado democrático é o povo institucionalizado. Intelectuais midiáticos vivem falando em democracia, mas mantém o debate sempre em nível rasteiro. Não lhes interessa criar um vínculo mais estreito entre a cidadania e a política, e por isso eles tratam, de todas as formas, de afastar o cidadão do universo político, seja pintando as instituições com cores dantescas, seja através de uma criminalização da atividade política, que é o que eles fazem com a militância partidária e com o sindicalismo.

Em resumo, a situação é a seguinte: nós, brasileiros, cidadãos de uma nação livre e democrática, entregamos nosso futuro, nossa cultura, nossa saúde, à meia dúzia de nababos cujas empresas ajudaram a articular o golpe de Estado em 1964 e, depois, a consolidá-lo por vinte longos tristes anos. Isso é um absurdo. Liberdade é liberdade. Podemos mexer nas leis da comunicação no Brasil ao nosso bel prazer, desde que o assunto seja discutido democraticamente e o objetivo seja o bem geral da nação. Quer dizer, os povos têm inclusive o direito de cometer erros. O importante é haver liberdade. A mídia latino-americana vende a ideologia de que os povos não tem liberdade para mudar suas leis, de que isso seria um "bolivarianismo" e não a própria essência da democracia, que é a liberdade para mudar ou não mudar, mas sobretudo a liberdade, conferida pelo voto popular, para que os representantes eleitos realizem os ajustes necessários na Carta Magna. Como um amigo gosta de dizer, a Carta Magna não é uma pedra onde estão escritos dos 10 Mandamentos. A Constituição é um pacto entre os cidadãos livres e soberanos de seu país.

O que não pode é dar golpe de Estado, como fizeram em Honduras. Esse é o crime capital contra a democracia, porque viola o seu princípio basilar. O poder emana do povo. Acabou. Se eles conseguirem tirar isso da Constituição (e é o que eles querem), então podem piar. Por enquanto, quem manda é o texto escrito e aprovado pelo Congresso Nacional em 1988.

Não são firulas ou chicanas jurídicas que podem justificar isso. Eu posso castigar levemente o meu filho, mas não estourar a sua cabeça com um tiro de revólver. Foi o que fizeram em Honduras. É bem sintomático que nossa mídia tenha simpatizado com o que foi feito lá. O golpe em Honduras também foi um golpe midiático, porque foi todo articulado em torno dos principais grupos de comunicação do país. A mesma coisa aconteceu na Venezuela em 2002. A mesma coisa aconteceu no Brasil em 1964! Muitas reuniões políticas preparatórias para o golpe militar no Brasil ocorreram em salas de redação.

A imprensa não precisa ser "apartidária", conforme a Folha agora se pretende, em mais um acesso de autismo e hipocrisia. Não precisa também ser uma "mosca" em nossa sopa, como o mesmo jornal se qualificou, em peças publicitárias que mais pareciam uma campanha de auto-desmoralização. A imprensa precisa, isso sim, assumir a sua responsabilidade como uma instituição central numa democracia, um quarto poder, e como tal sujeita aos rigores de uma Constituição democrática e livre!

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Em dezembro, acontecerá a Conferência Nacional de Comunicação. A importância desse evento, que a imprensa procurará de todas as formas desqualificar, já é visível: o debate propiciado sobre um tema fundamental. O governo já liberou mais de 200 milhões de reais para a sua realização, e já aconteceram, em todo país, conferências estaduais de comunicação. O blog vem acompanhando o evento através da internet. Se alguém me convidar, estarei lá em Brasília, representando a blogosfera, essa nova instituição, tão curiosa, tão diferente do formato monstruoso e unicelular da grande mídia. A blogosfera tornou-se (ou vem se tornando) tão grande como outras grandes mídias, mas não tem uma cabeça só. É um monstro com milhões de cabeças. Sobre a Conferência, sugiro que assistam a esse vídeo, da Conferência da Bahia, que teve a participação do governador do estado, Jacques Wagner.

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A imprensa é nociva porque ela começa informando mal as próprias autoridades. Juízes, parlamentares, governadores, prefeitos, são mal informados sobre pontos centrais de sua atividade, porque se apresentam números falsos, interpretações equivocadas, entrevistam-se analistas incompetentes e parciais, e a opinião dos leitores é recortada de forma tendenciosa.

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O caso de Honduras para mim serviu como a pá de terra que faltava para enterrar de vez a reputação democrática da imprensa brasileira. Neste sábado (21/nov/09), a Folha publicou um editorial cínico, defendendo as posições mais conservadoras do Estados Unidos, em oposição ao que pensa todo o resto do mundo. A única saída, defende a Folha, é aceitar o resultado das eleições. Mesmo sem Zelaya ter sido restituído. O jornal fala em eleições livres e competitivas. Como se houvesse liberdade num regime ditatorial onde o presidente da república, eleito pelo voto popular, é forçado a pedir refúgio numa embaixada estrangeira. A ditadura hondurenha não permite que Zelaya tenha acesso aos meios de comunicação do país, bloqueando o debate eleitoral. O que Zelaya fez? Ele é algum terrorista? É algum bandidão perigoso? Ele foi deposto porque queria incluir uma pergunta na cédula eleitoral:

- Você acha que Honduras precisa de uma assembléia constituinte?

Era uma pergunta ao povo! Nem tocava no tema da reeleição, outro ponto ridiculamente explorado pelos golpistas de lá e daqui. Sendo que o grau de hipocrisia, por aqui, atingiu as raias da loucura, visto que tivemos um presidente da república que, com apoio de toda a grande imprensa, mudou as regras eleitorais para si mesmo - e sem consultar o povo.

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Em seu editorial, a Folha desinforma, porque, quando fala em eleições livres e competitivas, omite o que seus próprios repórteres informaram: o fechamento de jornais, rádios e canais de tv favoráveis a Zelaya; toque de recolher; proibição de reunião; e o mais importante, o cerco e agressão sistemática ao líder político mais importante do país. Zelaya não concorre à eleição. Não concorria antes, nem concorre agora. Quantos colunistas não escreveram, muitas vezes, en passant, como que dando isso por verdade consensual (o que é mais irritante), sobre a vontade de Zelaya de se reeleger? No entanto, mesmo não concorrendo, ele é um quadro político fundamental no jogo de poder democrático do país. Ao silenciá-lo, vetando-lhe o acesso aos meios de comunicação mais importantes (que em Honduras também são uma concessão pública, e como tal vem sendo usados sistematicamente por Micheletti e asseclas, que a todo momento aparecem na TV fazendo pronunciamentos), a ditadura hondurenha não permite uma eleição livre. Era como se, nas eleições do Brasil em 2010, um governo golpista impedisse Lula de aparecer em qualquer grande canal ou jornal, para falar de política e pedir votos para este ou aquela candidata.

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Outra coisa que a Folha procura esconder é o fiasco da interferência americana na crise em Honduras. A mídia tentou interpretar (açodadamente, agora se vê) a ação diplomática americana como uma prova da insignificância do Brasil. Bajularam os EUA de uma forma vergonhosa, e humilhante para nós brasileiros. E agora querem forçar goela abaixo da opinião pública brasileira uma solução desesperada, resignada, derrotista, de aceitar um pleito eleitoral ilegítimo, defendido apenas pelos setores mais reacionários do governo Obama. Aliás, quem acompanha um pouco o processo político norte-americano sabe que Obama está sendo terrivelmente chantageado, atacado, caluniado por numerosas, endinheiradas e ultra-agressivas hordes reacionárias. Isso explica, mas também não legitima o que Obama está fazendo em Honduras. Ele está sendo pusilânime. Pô, ele foi chamado de "negrinho que não sabe nada", por um ministro do governo golpista! Eu esperava que ele fosse mais duro. Por outro lado, entendo que a administração do Estado americano envolve um corpo de funcionários tão gigantesco, que é difícil para Obama controlar tudo em pouco tempo. É necessário mais alguns anos para que as novas orientações ideológicas da Casa Branca percorram as artérias de todos os órgãos governamentais. Ainda mais depois de tantos anos de Reagan e Bush.

19 de novembro de 2009

Salvando o PIG

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A notícia de que a Folha vendeu ridículos 21,8 mil exemplares avulsos, na média diária, entre janeiro e setembro deste ano muda tudo. O foco da blogosfera, a partir de agora, deve ser uma campanha para salvar o PIG, em nome da diversão geral. Tudo bem que, sem o PIG, o país pode crescer muito mais rápido. Mas de que adianta crescer e não se divertir?

Brincadeiras à parte, o certo é que agora está explicado porque o Brasil enfrentou tão bem a crise econômica e a geração de emprego voltou a bater recordes. Os cidadãos brasileiros, sobretudo os empresários, pararam de ler jornais. Cansados do bombardeio de notícias ruins e análises furadas do qual eram vítimas diariamente, optaram por se informar pela internet, que, além de gratuita, oferece uma gama de opiniões múltipla e democrática.

Ao que parece, portanto, alguém se irritou de verdade com a mosquinha zumbindo no ouvido e esmagou-a contra a parede. Esse alguém foi o consumidor.

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Da minha parte, eu continuo ajudando o PIG. Leio a Folha, que está me dando uma assinatura grátis. E, agora que sou um blogueiro profissional, que vende assinaturas e ganha doações, compro o Globo diariamente. Ler jornal é um hábito antigo e não gostaria de perdê-lo. No fundo, não quero o fim dos jornais tradicionais, mas sim que eles enveredem por um caminho mais racional e democrático do ponto-de-vista ideológico. E sejam mais éticos também, porque muito do que eles fazem é simplesmente mau caratismo puro e simples.

No entanto, quando iniciam suas campanhas histéricas, minha atitude imediata é parar de comprá-los. Não quero nem de graça. Tenho muita coisa boa para ler. Tenho pilhas e pilhas de livros em casa que ainda não li e, quando os jornais começam a ladainha golpista conhecida, decido me concentrar em leituras mais instrutivas.

Nem sempre isso é possível, por outro lado, em virtude da pusilanimidade do Congresso Nacional, que ainda não entendeu a nova realidade midiática do Brasil. A imprensa, mesmo em decadência, consegue pautar os debates políticos em Brasília e quase aplicou um golpe branco no presidente Lula. Enquanto isso durar, a blogosfera deve fazer um combate implacável contra o golpismo da imprensa. Golpismo o qual, aliás, tornou-se marca da imprensa latino-americana como um todo.

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Hoje, por exemplo, li uma notícia no O Globo sobre a Conferência Nacional de Comunicação, a ser realizada mês que vem, em Brasília. Escrita em tom alarmista, informava a posição do PT sobre o evento. Vocês podem imaginar a ladainha, mas o que me chamou a atenção, e que denuncio aqui é uma declaração do Carlos Di Franco, representante do Opus Dei no Brasil, e colunista semanal do periódico dos Marinho. Ele falou que a imprensa brasileira é democrática e "lutou contra a ditadura". Que mentira, héin, seu Franco? Cara de pau de uma figa. Esses jornalões não só apoiaram o regime militar como foram um dos mais importantes articuladores do golpe de Estado, pois as forças políticas conservadoras conversavam através da imprensa, que, além disso, disseminava todo o tipo de calúnia sobre o governo Jango, debilitando-o severamente, sobretudo junto às instâncias políticas mais poderosas, como a Suprema Corte, o Congresso e a elite empresarial.

Muquiranagem do paulista otário

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Olha só que pérola. É cartinha de um leitor da Folha, publicada hoje:

Lendo a enxurrada de cartas de protesto contra o aumento do IPTU, tenho a impressão de que a classe média, quando molestada no bolso, sai atirando sem nem sempre se assegurar em acertar o alvo certo.

A faixa de isenção subirá para R$ 92 mil. Logo, quem está gritando é quem de fato pode pagar mais.

Sugiro que aqueles que reclamam se juntem aos vereadores petistas que eram a favor de cobrar mais dos ricos para distribuir a riqueza, mas que, claro, por serem oposição, são contrários à medida.

Que bonito, héin? Agora apartamento de 92 mil reais é coisa de rico. Meu irmão, há poucos meses, vendeu o apartamento dele para comprar um sítio na roça. Resolveu morar lá, viver de agricultura. Fez uma boa escolha. Ele vendeu o apartamento exatamente por 92 mil reais. Era um quarto e sala num prédio decadente, sujo, feio, ao lado do fétido Instituto Médico Legal (IML). Ele morou apenas meses lá, mas sofria com o aroma de cadáveres que impregna o edifício. Se morasse em São Paulo seria considerado rico? Extorquir de quem possui apartamento de 90 mil agora, para os missivistas cínicos da Folha, é cobrar dos mais ricos... Esse imbecil deveria ser informado que um barraco na favela está valendo isso. Se a prefeitura de SP tivesse a intenção mesmo de conceder uma isenção justa socialmente, deveria elevar o valor para, no mínimo, 500 mil reais. E mesmo assim eu não concordaria com uma medida dessas. Afinal, a prefeitura de SP está com problemas de caixa? Não, não está, e as consequências de uma voracidade tributária tão descontrolada como essa serão danosas para todo país.

A muquiranagem desses leitores do PIG chegou a um ponto crítico, que não respeita nem a lógica. A Folha, pelo jeito, agora vai dar espaço para esse tipo de manifestação em defesa dos impostos altos.... É incrível o que não se faz pelo rei. Li também que o IPTU da área conhecida como Cracolândia registrará uns dos maiores aumentos. Fico pensando nos milionários que moram por lá...

A mordida será especialmente cruel em imóveis comerciais, de maneira que o custo de vida de São Paulo, que já é um dos mais altos da América Latina, deverá crescer ainda mais, pois os comerciantes terão de repassar o custo adicional aos produtos que vendem. Criar-se-á um efeito cascata que não sabemos onde irá chegar.

Não dá nem para pensar no aspecto positivo dessa história, que é enfraquecer o PSDB em seu ninho eleitoral, porque medidas como essa servem de referência para outras prefeituras do Brasil, e daí toda a economia brasileira poderá sofrer, em mãos de prefeitos birutas (mas com apoio midiático local), a elevação brutal de um tributo bastante perigoso, pois seu não-pagamento acarreta perda do imóvel. E tudo isso num ano delicado, em que o mundo ainda atravessa uma crise financeira de gravíssimas proporções. A recuperação econômica brasileira foi tão incrível que a direita simplesmente esqueceu da crise e adota medidas que nem em anos de exuberante crescimento teriam sentido.

É o DEM e o PSDB trabalhando pelo desenvolvimento do Brasil.

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Observação pertinente: continuo recebendo a Folha gratuitamente em minha casa. Agradeço muito a gentileza, senhor Frias. E sinto não poder ajudá-lo nesse momento difícil.

O destino não bate à minha porta (mas eu gosto dele mesmo assim)

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Minha mulher e minha mãe vivem tentando me convencer a seguir uma carreira normal, e eu mesmo, de vez em quando, acabo me convencendo disso. Mas o destino não tem batido em minha porta, e mais uma vez percebo que normalidade não é mesmo meu forte. Tudo bem. Escrevi um projeto muito "original", quiçá excessivamente original, a ponto de ninguém gostar dele, e daí que a Academia perdeu um cérebro, mas a blogosfera e meus caros leitores ganham uma boa notícia. Se o destino não bate à minha porta, toquemos o boteco do jeito que dá. Eu estou muito satisfeito nessa nova profissão que inventei. "Mas o que você não sabe por inteiro / é como ganhar dinheiro! Mas isso é fácil e você não vai parar...", cantava Raulzito.

Agora posso voltar ao Faulkner, à desesperança, à aventura. Se o Brasil atingir o quinto lugar no ranking das maiores economias do mundo, talvez sobre uns trocados para um blogueiro esforçado. O importante é o seguinte: alguém tem que botar a mão na massa, cacildis! Se todo mundo virar assessor da Petrobrás, diplomata, jornalista da Record, artista ou bolsista do Capes, quem vai trabalhar na blogosfera? Sim, porque se todos desistirem, senão desenvolvermos uma blogosfera independente, o Leviatã irá tomar conta daqui também. Ou vocês duvidam disso? Não duvidem do talento e da capacidade do monstro!

E voltaremos às lamúrias de sempre.

Por mim, confesso, estou feliz em recuperar minha liberdade. Sempre que me flagro catando tickets-refeição na lixeira do futuro, sinto uma tristeza opressiva doendo na lateral da virilha.

Tudo que eu preciso é acreditar em mim mesmo, e como isso é tão difícil, voltei a crer em Deus, para decepção de meu público, quase inteiramente ateu. Quer dizer... nem sei se acredito mesmo. Talvez seja provocação, uma tentativa de ser "diferente". Caetanices, enfim.

Eu aprendi uma coisa: disciplina é fundamental; e coragem. Como tão bem disse Péricles: "tendo em vista que felicidade é liberdade e a liberdade é coragem, não vos preocupeis exageradamente com os perigos da guerra."

E já que agora é pra valer, já que o nêgo decidiu, de uma vez por todas, lançar os dados de seu destino neste imenso mesão virtual, chegou a hora de você assinar a minha Carta Diária e ajudar, na prática, o nascimento de uma autêntica, treinada, independente, autônoma e altiva blogosfera de esquerda.

18 de novembro de 2009

A grande derrota de Gilmar Mendes

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Um dos assuntos mais discutidos hoje em blogs políticos e jurídicos foi, naturalmente, o julgamento de Cesare Battisti no Supremo Tribunal Federal. A importância do caso advém não somente da culpabilidade ou não do réu, ou do dilema humanitário em enviar um possível inocente às masmorras da Itália neofascista de Berlusconi, mas também das complicações que sua extradição, ao contrariar a decisão do governo de lhe conceder asilo político no Brasil, pode trazer para milhões de refugiados políticos no mundo inteiro.

A Organização das Nações Unidas (ONU), que é o órgão internacional deliberativo mais importante do planeta, já se posicionou fortemente contrária à extradição de Cesare Battisti, alegando que, se o governo brasileiro concedeu asilo, não cabe recurso ao Supremo Tribunal Federal (STF), porque, neste caso, abriria-se um precedente internacional que representaria um retrocesso perigossíssimo.

Quem defende a extradição de Battisti, no Brasil, é a grande mídia, como sempre amarrada a posições conservadoras, e Mino Carta - italiano e, como tal, conectado umbilicalmente à corrente de rancor que ora arrasta inteiramente a pátria de Antonio Gramsci, da direita à esquerda. Aliás, vale a pena lembrar que o principal renovador do marxismo (sem querer compará-lo à Battisti), viveu quase toda a sua vida atrás das grades.

O STF decidiu duas coisas nesta quarta-feira. Primeiro, por 5 votos a 4, que Battisti poderia ser extraditado. Depois, também por 5 a 4, que a decisão final cabe ao presidente da República.

A última dessas decisões beneficia Battisti, claro, porque abre a possibilidade de que Lula, coerente com a determinação de seu ministro da Justiça, decida pela não-extradição. Ou seja, Battisti poderá, finalmente, ser livre.

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Mas há outras questões extremamente importantes por trás do caso Battisti. A principal delas é a politização do Supremo e a usurpação de poderes que, via de regra, pertencem ao Executivo e ao Legislativo, instâncias expostas ao sufrágio universal e, portanto, verdadeiras portadoras do poder democrático. Aos juízes cabe, exatamente, deliberar se a democracia está sendo exercida, e não o contrário, não cabe aos juízes violar a democracia e usurpar os poderes que o povo empresta a seus representantes eleitos.

A última decisão do STF, no sentido de entender que o presidente é quem deve decidir sobre a extradição de Cesare Battisti representa, desta forma, uma derrota para as tendências usurpadoras que vinham predominando na entidade presidida por Gilmar Mendes; e uma derrota para o próprio Mendes, principal artífice desse conceito, tanto que seu voto foi no sentido de não dar ao presidente Lula o direito de tomar a decisão final sobre o ativista. Gilmar Mendes terá que encerrar o seu mandato como presidente do STF com esse travo amargo da derrota em sua boca mole.

Lembremos que o mandato de Mendes expira no dia 31 de dezembro. Eu proponho a todos os leitores que moram no Rio de Janeiro que organizemos, em meados de janeiro, uma festa em comemoração ao fim da ditadura Mendes, que tantos riscos trouxe à institucionalidade da república democrática do Brasil.

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O julgamento de Battisti fez a mídia arregaçar os dentes para os membros do STF e para todos os juristas que não partilhavam de sua opinião, ou seja, não empenhados em extraditar Battisti. Foi o caso do eminente Celso Antonio Bandeira de Mello, que escreveu uma resposta antológica à Folha de São Paulo. O mais interessante mesmo, porém, é que Mello não quis publicar sua resposta na Folha. Num gesto de altivez que achei maravilhoso decidiu publicar a resposta num blog. Essa aí é mais uma que devo ao mestre Nassif.