12 de novembro de 2009

Catolicismo subversivo e outras apagonices

Eu também me considero pretensioso - por querer escrever sobre tantos temas diversos. Ao mesmo tempo, e apesar do nome do blog, sou cristão e católico, e por isso estou sempre me culpando por tudo. Já tentei me livrar do cristianismo e do catolicismo, mas não consegui, e agora tento lidar com isso da melhor forma possível. Tornei-me, por assim dizer, um católico pós-moderno, que não gosta do papa e gostaria de revolucionar totalmente a Igreja Católica. Por exemplo, padres deveriam casar. É ridículo a Igreja manter essa verdadeira perversão sexual. Entenderia (sem concordar) se a Igreja incentivasse o celibato voluntário; a interdição autoritária do sexo, todavia, violentando brutalmente a liberdade individual (na contramão do sentido maior do cristianismo, que é a libertação do indivíduo, considerado a partir daí como um legítimo filho de Deus), apenas ajuda a criar mais vícios, mais taras, mais maldade. Outra imbecilidade católica da qual eu me envergonho terrivelmente é a falta de esclarecimento quanto ao uso de preservativos. Para mim, quando o Papa vai à África e prega contra a camisinha, ele deveria ser condenado e preso pela comunidade internacional. Eh eh, bom católico sou eu, que deseja ver o Papa algemado... Mas é isso mesmo. Meu maior sonho, como cristão e católico, era ver o Papa atrás das grades, por ajudar a propagar a Aids.

Também sou a favor do aborto, da eutanásia, da liberação das drogas, do casamento gay. Enfim, sou tudo aquilo que um católico conservador tem ojeriza. E ainda tenho um blog intitulado Óleo do Diabo! Ahahah. No entanto, é com um prazer quase diabólico, e ao mesmo tempo orgulhosamente santo e franciscano, que eu me considero muito mais cristão, muito mais católico, que todos esses carolinhas conservadores e agressivos que infestam o mundo.

Mas eu queria mesmo era falar do black-out. Que coisa, héin! Eu estava em casa, ainda bem, quando aconteceu. Da janela do meu apartamento, no oitavo andar, vi a escuridão tomar conta das montanhas de Santa Teresa e dos edifícios da Lapa e bairro de Fátima. Tudo escuro. Depois de um tempo, sentia-se um nervosismo no ar. No vale entre as montanhas e meu prédio, podia-se ouvir o eco dos gritos de jovens e adolescentes fazendo suas piadas eternas. Um deles gritou:

- É na América Latina inteira!

Um outro pegou ainda mais pesado:

- É o fim do mundo!

Confesso que senti um frio na espinha. Felizmente, uma voz de moça (sempre as mulheres, a nova força da razão no mundo) ecoou no vácuo.

- Não. É no Espírito Santo, Rio, São Paulo...

Não era exatamente uma boa notícia, mas muito melhor que pensar num black out sinistro em toda América Latina, e, claro, infinitamente melhor que o fim do mundo... Enfim, a coisa estava explicada.

Todo mundo entende a falta de luz. Acontece. Mas esse black out trouxe um desconforto particular porque mostrou que, de fato, a nossa sociedade tornou-se excessivamente dependente de eletricidade, e que falta, em toda parte, um planejamento melhor para eventualidades como essa.

Por exemplo. Todo mundo deveria ter ao menos uma extensão telefônica não elétrica dentro de casa. Um radinho a pilha. Lanternas. Fósforos. Velas. Por mais que o governo invista no sistema elétrico, acidentes sempre ocorrerão, e as pessoas precisam estar mais preparadas. Hospitais devem cuidar para terem geradores de boa potência.

Também seria interessante que os prédios possuíssem geradores, que permitissem, ao menos, destravar elevadores parados com pessoas dentro, e iluminar os corredores. O custo de um gerador é perfeitamente acessível para qualquer prédio.

A iluminação pública das cidades também deveria possuir algum tipo de energia alternativa, como postes à gás, para fazer frente à emergências como esta. Não digo todos os postes, mas alguns postes em ruas principais.

É uma pena que a nossa imprensa queira usar o caso somente para desgastar o governo federal, em vez de ajudar a sociedade a encontrar maneiras de se sentir mais segura.

No blog da Miriam Leitão, há um post de um de seus leitãozinhos - coitado desses rapazes! já é ruim ser uma golpista, imagina como é ser um lacaiozinho de golpista - que diz que o apagão de 1999 foi pior que o de 2009.

Tremenda mentira. O apagão do governo FHC foi resultado de uma vergonhosa e incompetente falta de investimento em geração de energia e ausência de linhas de transmissão. O país teve um prejuízo superior a 45 bilhões de dólares, segundo demonstrou um estudo recente, com a falta de energia na era fernandista. O Brasil teve seu crescimento estrangulado. E porquê? Porque, para os tucanos, o dinheiro do Tesouro era para pagar juros, que eles mesmo aumentavam irracionalmente, para pagar ainda mais. O BNDES, em vez de financiar grandes obras de infra-estrutura, emprestava dinheiro, a juros subsidiados, a grupos estrangeiros para que adquirissem patrimônio nacional.

De certa forma, o apagão de ontem também é conseguência da tragédia tucana no setor de energia, porque, se FHC entregasse uma infra-estrutura mínima para o sucessor, o Brasil poderia estar hoje num estágio ainda mais avançado em termos energéticos.

Há um lado bom para tudo. O nosso sistema elétrico ainda é novo. A tecnologia de interligação no país é recente, de maneira que o blackout serviu para a instauração de novos procedimentos de segurança.

A declaração que mais emocionou, porém, em toda essa cobertura sensacionalista do episódio, veio do Martinho da Vila:

- O lado bom foi que eu jantei com minha mulher à luz de velas.

Viva Martinho da Vila!

9 comentarios

Anônimo disse...

Pô, Miguel! Católico? Religioso? Esperava uma visão mais racional do mundo.

Anônimo disse...

Presidente da Eletrobrás diz que problema deveria ter sido isolado em São Paulo


O presidente da Eletrobrás, José Antônio Muniz, disse à Agência Brasil que deveria ter ocorrido o "ilhamento" do problema que originou a falta de luz em 18 estados do país. Segundo ele, houve falha e é preciso investigar o motivo que levou o sistema de segurança a não ser ativado.



“Nós tivemos um problema meteorológico em Itaberá, estado de S.Paulo, que levou à queda das três linhas de 750 Kilovolt (kV), o que significa dizer que perdemos a capacidade de transmitir metade da energia gerada por Itaipu. Deveria ter acontecido o ilhamento do problema para possibilitar o religamento do sistema. Mas como isto não aconteceu, aí o problema se estendeu para as duas linhas de corrente contínua que liga Itaipu a São Paulo. O que é preciso levantar é porque não entrou em operação o sistema chamado ERAT que existe exatamente para levar ao ilhamento”.



O presidente da holding que controla as empresas de energia do governo disse que não houve problema de falta de energia, mas sim uma interrupção temporária nas linhas de transmissão. Para ele, o sistema elétrico está bem dimensionado e os investimentos foram feitos.



Muniz lembrou o fato de que, dentro do planejamento energético elaborado para o país, várias novas usinas, principalmente hidroelétricas de grande capacidade de geração, estão em fase de construção ou de licitação - citando as usinas do Rio Madeira e de Belo Monte, no Pará, que entrá prevista para entrar em operação em 2014 interligando as regiões Norte e Sul e, consequentemente, fortalecendo o sistema elétrico brasileiro. “Com as obras que estão planejadas e sendo executas, nós não temos dúvidas de que vamos atender ao aumento da demanda. O sistema não só está apto a atender ao crescimento, como a população pode ficar tranquila, porque acidentes como este dificilmente voltarão a se repetir”.



“Eu não tenho dúvidas de que o sistema elétrico brasileiro está preparado para atender à demanda de energia por parte da população, como também está preparado para atender ao crescimento econômico do país esperado para os próximos anos. O que houve foi um problema no sistema de transmissão, tanto que restabelecida a operação, o país está funcionando dentro da normalidade do ponto de vista energético desde às 4h da manhã desta terça-feira”.Queriam tanto pôr a culpa no Governo Federal,e esqueceram que a culpa poderia ser do governador paulista.Confirmando, a notícia irá sumir do Jornal Nacional, não teremos mais o biquinho do Willian Bonner, o revoltado.

http://www.osamigosdopresidentelula.blogspot.com/
Fonte:

Левая икра disse...

Religião não tem nada opcional, é pegar ou largar. Católico é contra o aborto e ponto final.

Além da questão do aborto também precisa acreditar em jumenta falante e similares.

Miguel do Rosário disse...

A minha religião tem opção. Eu sou livre para acreditar no que eu quiser. O catolicismo e o cristianismo não são estáticos. Já mandou queimar gente na fogueira que dizia que a terra girava em torno do sol. E mudou de opinião. Se mudou nesse ponto, como mudou em tantos, pode mudar em outros. Um dia, o Papa ainda vai pedir desculpas pela Igreja não ter ajudado a humanidade a combater a Aids.

jozahfa disse...

Esse é mais um papa cachorro. E, para mim, o apagão foi feito por um ovni que passou pelo local para que as pessoas pudessem curtir um pouco de escurinho.

Anônimo disse...

Oi Miguel,
Você não sabe ainda, mas por suas declarações você pode até ser cristão (é o que me parece, por suas posições justas e pelo ardor em defender um mundo melhor em todos os sentidos, para todos), mas católico você não é não. E ser cristão é muito maior do ser católico. Mais abrangente! Infelizmente ser católico requer submeter-se à cartilha do Catolicismo. Forçar uma definição de catolicismo miguelino-rosariano não dá, senão as palavras deixam de ter utilidade.
Abraços,
Luís Fraga

Joao A. disse...

Me decepcionou ao ser favorável ao aborto, pois acreditava que era um intelectual que valorizasse a justiça!

Dentre as diversas opiniões que poderiam horrorizar os católicos você não incluiu a pena capital. Gostaria, sinceramente, que explicasse os motivos que te levam a ser favorável ao aborto e contrário a pena capital. Eles devem ser muito bons para que os mostre e não receie parecer hipócrita.

Espero que não tenha abraçado essas causas apenas para se mostrar progressista. Esse é um grande defeito da esquerda atual que valoriza mais a imagem que a coerência das opiniões.

Miguel do Rosário disse...

Oi Luis Fraga, talvez você tenha razão. Sei lá. Vou deixar em aberto essa questão para mim mesmo. Acho, porém, que enquanto não for excomungado, posso me considerar católico.

Oi João A. Sou contra a pena de morte, mas sou a favor do aborto. Claro que não sou a favor do aborto com feto já maduro, mas sim com menos de 3 meses, com o cérebro ainda não formado. Essa é uma discussão interminável.

Vera de Oliveira disse...

Fui educada por freiras e somente aos 56 anos consegui "cortar o cordão umbilical" que me ligava à igreja, e discordo de vc quanto ao aborto e à eutanásia. Acho que NINGUÉM tem o direito de tirar a vida de ninguém, muito menos de algúem indefeso. E quem me levou a "enxergar" a hipocrisia das religiões foram, principalmente, a Canção Nova e a Rede Vida. Esses vendilhões da fé levam representantes da direita reacionária, gente da pior espécie, tipo: Chalita, Edson Aparecido, Roberto Drummond (que defende a ditadura militar, o Caiado para vice do serrágio e condena o MST) etc., para fazer lavagem cerebral e alienar o povo.

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