Mostrando postagens com marcador blogosfera. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador blogosfera. Mostrar todas as postagens

1 de julho de 2011

Voltando à malandragem

8 comentarios

Pronto, já paguei minha cota de sacrifício ao deus do trabalho. Foram três semanas cruéis, trabalhando dia e noite para dar conta do prazo de entrega. Agora, como na canção do Simonal, voltemos à malandragem blogosférica! Isso aqui é trabalho duro também, mas é tão divertido que eu até esqueço do esforço.

Nesses dias de labuta insana, não parei de pensar nos temas queridos ao blog, sobretudo quando fazia uma caminhada pelas redondezas. Sem contar que eu participei do II Encontro Nacional dos Blogueiros Progressistas (II Blogprog) e não escrevi nada. De forma que tenho vários assuntos atravessados na goela.

Rola ainda uma rebordosa do caso Palocci, e os desdobramentos que perduram até hoje. A recente entrevista com o ex-governador Olívio Dutra, em matéria da Carta Capital prenhe de elogios à simplicidade franciscana, gerou uma nova rodada de polêmicas. Trata-se de um estímulo saudável à austeridade ou melancólico moralismo descalço? Onde termina o que poderíamos chamar viril convocação à moral socialista e começa o velho pobrismo eunuco pequeno-burguês?

A relação da blogosfera progressista com o novo governo permanece dominada por uma espécie de angústia. Durante o II Blogprog, tornou-se claro um certo mal estar em relação a seu papel de "defensora" e ao mesmo tempo algumas divisões em relação ao tema. Afinal, o mais difícil não é livrar-se da pecha de chapa branca, e sim fazê-lo sem que recaia na vala da crítica fácil, convencional, às vezes feita por vaidade, só para marcar posição e exibir uma falsa independência. Ou pior, sem aderir a uma postura crítica como forma de chantagem... No II Blogprog, falou-se disso nas mesas e também nos bares. No Feitiço Mineiro, um delicioso bar de Brasília onde houve uma confraternização na primeira noite, troquei ideias com um jovem diplomata, que acompanha os blogs e também queria vê-los mais críticos ao governo. Citou a blogosfera progressista norte-americana, que bate impiedosamente em Obama. O exemplo é importante, mas não resisti à ponderação de que o enfraquecimento do afronego permitiu o avanço da direita no Congresso americano, com a vitória dos republicanos nas eleições legislativas de 2010.

Essas questões me fizeram refletir em muita coisa. Até onde chega a legitimidade da pressão política? Por exemplo, meu amigo diplomata disse que o dilema pode ser resolvido fazendo uma crítica à esquerda. Certo, é assim que a blogosfera progressista vem conseguindo desvencilhar-se da imagem (que porém desempenhou com tanta paixão e idealismo) de cabo eleitoral. Por outro lado, como evitar o populismo, o oportunismo, o radicalismo? Trata-se afinal de encarar a política como a arte do possível, do diálogo democrático, da tolerância para com interesses necessariamente contraditórios de uma sociedade complexa.

Por trás dessas angústias, não teríamos também, infiltrados insidiosamente em nosso subconsciente por décadas de propaganda conservadora, preconceito e hostilidade, contra o sufrágio político, contra a democracia e suas inevitáveis idiossincrassias? Afinal, não seria também uma violência contra a liberdade de expressão, contra as liberdades individuais, esse constrangimento aos cidadãos que decidem apoiar, através de seus blogs ou simples comentários em redes sociais, o governo que ajudaram a eleger com tanto entusiasmo?

É saudável e necessário que haja crítica ao governo, mas isso tem de ser voluntário! Se for uma obrigação, acabou-se a liberdade!

Entende-se, além disso, que a mídia conservadora, que representa um poder que rivaliza com as instituições políticas, agrida os blogueiros progressistas com acusações de chapa-branquismo. Afinal, ela quer blogueiros que a ajudem em sua eterna guerra para enfraquecer as instituições cujo poder emana do sufrágio, com vistas a fortalecer o poder que emana exclusivamente do dinheiro e da herança. Mas é triste que os próprios blogueiros progressistas façam essa agressão a eles mesmos. Que se auto-agridam. Trata-se, além disso, de uma hipocrisia e de uma tolice: hipocrisia porque eles mesmos também são governistas e chapa-brancas, apenas se sentem constrangidos em sê-lo; tolice porque as forças conservadoras continuarão a chamá-los de governistas e chapa-brancas independentemente de suas veleidades. De maneira que essas acusações apenas os deixarão divididos, confusos, perdidos num limbo político. E isso sem falar na deselegância de cuspir no prato onde lancham. O governo federal ajudou generosamente a bancar os custos do II Blogprog. Por quê? Porque entende sim a blogosfera progressista como sua aliada. É um governo eleito e o que mais irrita os barões da mídia é que este governo eleito use o poder que lhe foi conferido pelo povo para tomar decisões tais como patrocinar eventos como o II Blogprog em vez de uma conferência do instituto Millenium.

Na minha opinião, portanto, a blogosfera deveria superar seus receios psicoanalíticos de ser ou não chapa branca. Trata-se de algo parecido com nossa mania (inclusive minha) de repetir que "não sou petista". Não pertenço ao PT, mas isso não impede que meus adversários me chamem de petista, ou que mesmo alguns conhecidos (anti-petistas) às vezes me recebam com um jocoso: "chegou o companheiro". Não podemos ligar para esse tipo de coisa.

Esta nobreza tão sonhada, essa independência utópica, não a alcançaremos nunca estabelecendo regrinhas de comportamento coletivo, ou forçando uma postura crítica artificial. A força da blogosfera está no que o detetive Hercule Poirot, nos livros de Aghata Chrisite, chamava de "massa cinzenta". Aí está a nobreza: na análise inteligente e franca, na liberdade de linguagem, no idealismo genuíno, no debate aberto, democrático, na busca pela verdade que só a transparência da internet aliada ao voluntarismo infinito dos ativistas digitais pode empreender.

A nobreza do blogueiro, por fim, é uma questão de beleza. Não adianta criticar ou elogiar se não há beleza no estilo, o que inclui uso racional e equilibrado de ferramentas lógicas, retóricas, estatísticas, humor e poesia. De nada adianta uma crítica neurastênica, que reage mal a qualquer contra-crítica. As verdadeiras críticas tem o vigor e a autoconfiança que o interesse popular e a lógica democrática lhes conferem. Receberão apoio social e serão legitimadas pelos especialistas bem intencionados.

Quando eu falo em beleza, não me refiro a nenhum tipo de pedância nem excluo o indivíduo leigo em conhecimento teórico de qualquer espécie. A realidade da blogosfera revela que qualquer um, seja um simplório trabalhador em restaurante, seja uma faxineira, tem capacidade política para fazer uma crítica elegante e racional. Refiro-me à beleza da própria simplicidade, à beleza dos argumentos consistentes, cuja força não reside no impacto contingente, efêmero, das afirmações demagógicas, mas na resistência ao fogo implacável da história.

Mas a beleza propriamente estética é igualmente fundamental à blogosfera, para lhe conferir poder de convencimento, sem o qual ela não teria sentido.

Sente-se no ar também uma espécie de depressão pós-eleitoral que, embora tenha amainado um pouco nos últimos meses, ainda tem gerado muito negativismo nas redes sociais. Neste ponto, eu cito com muito prazer (e com a ironia alegre de um ateu) nosso amigo Jesus Cristo: "não vim trazer a paz, e sim a espada". Continuo achando que a discussão política é também um divã, onde as pessoas filtram problemas íntimos, angústias, expectativas, fracassos ou sucessos pessoais, no coador de suas opiniões. Tudo está na conta, mas é preciso separar as coisas, examinar minuciosamente as diferentes opiniões, às vezes uma por uma, num trabalho de formiguinha que somente a blogosfera, com sua maravilhosa capilaridade, pode realizar.

21 de junho de 2011

Entrevista minha para o blog Fatos Sociais



Meu camarada, responsável pelo blog Fatos Sociais, fez uma entrevista comigo. Abordou a questão do financiamento dos blogs.

3 de junho de 2011

Carta dos Blogueiros Progressistas do Rio de Janeiro

Pedimos desculpa pelo enorme atraso na publicação dessa carta, mas depois do evento precisamos todos de várias semanas de descanso. É de justiça dizer que o principal redator é Theo Rodrigues do blog Fatos Sociais, mas vários de nós, do Rioblogprog participamos de sua elaboração, e sobretudo, é fruto do trabalho coletivo de centenas de blogueiros que se reuniram em maio deste ano.


Carta dos Blogueiros Progressistas do Rio de Janeiro

Somos jovens, somos não tão jovens. Somos homens e mulheres, meninas e meninos. Temos todas as cores, todas as religiões, diferentes crenças ideológicas, mas apenas um compromisso: liberdade com justiça social. Somos centenas e não baixamos a cabeça para ninguém. Somos os blogueiros progressistas do estado do Rio de Janeiro.

No atual estágio da luta de classes, a blogosfera é uma trincheira fundamental na defesa dos trabalhadores contra a selvageria e crueldade do capitalismo. Nossos blogs tornaram-se ferramentas de grande utilidade nas batalhas cotidianas contra as mentiras contadas e recontadas diariamente pela velha mídia golpista. Milhares de blogs nascem a cada dia, como flores anunciando a primavera. A cada embuste desferido pelos tradicionais meios de comunicação, ganha força o ativismo nas redes sociais, temperado no fogo da luta!

Como na bela canção de Chico Science, percebemos que “nos organizando podemos desorganizar”. Seguiremos nessa toada enquanto a ditadura da mídia prosseguir obstruindo um debate político mais livre. Depois disso, outras frentes de batalha virão, porque a luta pela justiça social é eterna.

Nos dias 6 a 8 de maio deste ano, realizamos o I Encontro Estadual de Blogueiros Progressistas do Rio de Janeiro. Com a presença de mais de 200 blogueiros de todo o estado (e vários de outras regiões do país) trocamos experiências, acumulamos debate, confraternizamo-nos alegremente, manifestamo-nos corajosamente em frente à sede da Rádio CBN - a rádio que troca a notícia –, e aprovamos a criação da Associação de Blogueiros do Estado do Rio de Janeiro (ABERJ).

Se você é blogueiro ou simpatizante da blogosfera e se indigna com a opressão midiática, então você é nosso companheiro.

Blogueiros Progressistas de todo o mundo, uni-vos!

Entre as propostas aprovadas na assembleia final do I Encontro Estadual de Blogueiros Progressistas do Rio de Janeiro estão:

- Apoio a PEC da Banda Larga;

- Defesa da neutralidade da rede;

- Luta pela aprovação do Conselho Estadual de Comunicação;

- Criação do Marco regulatório da comunicação;

- Pela simplificação da regularização das rádios comunitárias;

- Criação da "Associação dos Blogueiros do estado do Rio de Janeiro - ABERJ";

- Criação de uma linha de publicidade pública para blogs;

- Defender a simplificação dos processos de legalização de rádios comunitários;

- Moção de solidariedade ao blogueiro Esmael Morais, do Paraná, perseguido pelo governo daquele estado;

- Moção de solidariedade ao blogueiro carioca Ricardo Gama, que sofreu um hediondo atentado, no Rio de Janeiro, provavelmente em virtude de suas denúncias políticas.

13 de maio de 2011

Vídeos da abertura do I Rioblogprog

1 comentário

Parte 1



Parte 2



Parte 3



Parte 4



Parte 5



Parte 6

Palestra do Sérgio Amadeu no I Rioblogprog

Seja o primeiro a comentar!

Parte 1



Parte 2

Eu, no Rioblogprog, falando de rentabilidade na blogosfera

2 comentarios

Antes de começar a mesa do Sergio Amadeu, eu fiz um bate papo improvisado com o público. Havia pouca gente porque a maioria ainda não havia retornado do almoço. Ao final da conversa, o auditório já estava cheio e eu entrego o microfone para o Theo, que era o mediador, dar início às palestras do sábado à tarde.

27 de abril de 2011

Miro fala de blogosfera na TVT

Seja o primeiro a comentar!

12 de janeiro de 2011

Entrevista com Chomsky - parte 2

Seja o primeiro a comentar!

Entrevista com Chomsky: WikiLeaks, crise econômica e outros temas (2ª parte)


(Via Castor Filho).
11 de Janeiro de 2011










Amy Goodman

A estação alternativa de rádio estadunidense Democracy Now, na pessoa da sua principal animadora Amy Goodman, entrevistou à distância o linguista, filósofo e activista libertário Noam Chomsky, em vésperas do seu 82º aniversário. Uma longa conversa que publicamos em duas partes – hoje a segunda. Por Noam Chomsky e Amy Goodman

Leia também a Primeira Parte

AG: Agora, sobre o seu artigo “Outrage Misguided” [“Indignação desviada”] publicado a seguir às eleições intercalares [de começos de Novembro de 2010] e sobre o que, depois delas, irá acontecer aqui. Pode falar do movimento Tea Party [corrente da direita mais conservadora no interior do Partido Republicano]?











Noam Chomsky

NC: O Tea Party representa talvez uns 15 ou 20% do eleitorado. Gente relativamente abastada, branca, autóctone, claro, de tendência tradicionalista. Mais de metade da população diz ter-lhe dado algum apoio, ou ter apoiado a sua mensagem. O que essa gente pensa é extremamente interessante. Quero dizer que as sondagens revelam taxativamente que as pessoas estão zangadas, descontentes, hostis, contra tudo.

A causa mais importante é seguramente o desastre econômico. Não é apenas uma catástrofe financeira, é um desastre econômico. Na indústria manufatureira, por exemplo, a taxa de desemprego está ao nível da Grande Depressão, esses postos de trabalho não serão recriados. Os proprietários e os administradores estadunidenses há muito tempo tomaram a decisão de que podem obter mais lucros por meio de complicados negócios financeiros do que através da produção. De modo que as finanças – e isto vêm dos anos sessenta, aumentou, sobretudo com Reagan, e depois –… A economia foi “financeirizada”. No conjunto dos lucros das empresas, a parte das instituições financeiras cresceu enormemente. Poderá ser algo como um terço, na atualidade. Ao mesmo tempo, exportou-se a produção. Se compramos algum artefato, é chinês. A China é uma fábrica de montagem para o centro de produção do nordeste asiático. As peças e componentes chegam dos países mais avançados e dos EUA, assim como a tecnologia. Por isso, sim, é um sítio barato para montar coisas e, na volta, vendê-las aqui. Semelhante ao que acontece com o México, e agora com o Vietnam, etc. É a maneira de conseguir lucros.










http://passapalavra.info/wp-content/uploads/2011/01/tea-party-meeting.gif
<== Reunião do Tea Party      Realidade ==>





Isso destrói a sociedade neste país, mas isso não preocupa a classe proprietária e a classe dos gerentes. Esses só se preocupam com os lucros. É o que impulsiona a economia. O resto é consequência. As pessoas andam muito zangadas com isso, mas parece que não o entendem. De modo que essa mesma gente, que constitui uma maioria, e que diz que Wall Street [o principal centro financeiro dos EUA, em Nova Iorque] é que tem a culpa da crise atual, vota nos republicanos. Os partidos estão completamente nas mãos de Wall Street, mas com os republicanos muito mais do que com os democratas. E o mesmo vale para outros temas que venham a seguir. O antagonismo contra todos é muito forte – um autêntico antagonismo, a população não gosta dos democratas, mas odeia ainda mais os republicanos. Está contra as grandes fortunas. Está contra o governo. Está contra o Congresso. Está contra a ciência.

AG: Noam, gostaria de lhe perguntar: se fosse o principal assessor do presidente Obama, que conselho lhe daria neste momento?










Franklin Delano Roosevelt

NC: Dir-lhe-ia para fazer o que fez Franklin Delano Roosevelt perante a oposição das grandes fortunas: ajudar a organizar, a estimular a oposição pública e introduzir um grande programa populista, o que é possível. Estimular a economia. Não dar tudo de presente aos grupos financeiros. Impor uma verdadeira reforma do sistema de saúde. A reforma da saúde que foi feita poderá ser uma ligeira melhora, mas deixa de fora alguns problemas importantes. Se o déficit o preocupa, ele que preste atenção ao fato de que é quase totalmente atribuível às despesas militares e a este sistema de saúde absolutamente disfuncional.

A economia está um desastre. Oficialmente há 10% de desemprego, realmente será provavelmente o dobro. Muita gente desempregada há anos é uma imensa tragédia humana, mas é também uma tragédia econômica. São recursos não utilizados que poderiam estar ativos produzindo coisas de que este país precisa. Os EUA estão-se convertendo numa espécie de país do terceiro mundo.

Há dias apanhei um trem de Boston para Nova Iorque, a estrela do sistema ferroviário da Amtrak. A viagem durou uns vinte minutos menos do que o trem que eu e a minha mulher tomávamos há sessenta anos entre Boston e Nova Iorque. Em qualquer país europeu, ou realmente em qualquer país industrial, teria demorado metade do tempo. E em muitos países não industriais. A Espanha, que também não é um país super-rico está construindo um trem que anda a 300 km por hora. É só um exemplo. Os EUA precisam desesperadamente de muitas coisas: infra-estruturas decentes, um sistema educativo decente, melhor salário e mais apoio para os professores, todo o tipo de coisas. E as políticas que são levadas a cabo foram pensadas para enriquecer, sobretudo as instituições financeiras. E há que lembrar: muitas das maiores empresas, como por exemplo, a General Electric ou a General Motors, são também instituições financeiras, as finanças constituem grande parte das suas atividades. É bem pouco claro se essas maracutais fazem algo pela economia; alguns economistas deste país – da tendência dominante – começam a levantar esse problema. Podem mesmo estar prejudicando a economia, na realidade. O que fazem é enriquecer os ricos, e é esse o propósito das políticas.

Uma alternativa seria estimular a economia. A procura é muito fraca – essas grandes empresas estão atulhadas de dinheiro, conseguem lucros enormes. Mas não o querem gastar, não querem investir. O que querem é obter mais lucros com ele. As instituições financeiras não produzem nada, só movimentam o dinheiro e ganham dinheiro com diversos negócios. O público tem procurado consumo, mas pouco. Há que lembrar que houve uma bolha da habitação de 8 bilhões de dólares que rebentou, destruindo os ativos da maioria das pessoas.



Agora tentam desesperadamente poupar um pouco para se safar. A única fonte de procura, neste momento, seriam as despesas do governo. Nem sequer tem de afetar o déficit; podem ser feitas com empréstimos da Reserva Federal que envia os juros diretamente ao Tesouro. Se alguém se preocupa com o déficit que é, de fato, um tema menor, creio, esse é que é o problema importante.










Poluição - Aquecimento Global

Deveria haver um investimento massivo em infra-estruturas, deveria haver gastos com coisas simples como o meio ambiente. Deveríamos ter um programa substancial para reduzir a gravíssima ameaça do aquecimento global. Mas, infelizmente, isso é pouco provável com as novas legislaturas republicanas e os efeitos da propaganda massiva das grandes empresas para convencer as pessoas de que isso é um engano liberal. As últimas sondagens mostram que cerca de um terço dos estadunidenses acreditam no aquecimento global antropogênico – isto é, a contribuição humana para o aquecimento global. É quase um golpe mortal para a espécie. Se os EUA não fizerem nada, ninguém o fará.

AG: Que pensa da cimeira global sobre as mudanças climáticas que se celebra em Cancún?

NC: Bem, a cimeira de Copenhaguen foi um desastre, não aconteceu nada. Esta, de Cancún, fixou objetivos muito menores na esperança de conseguir alguma coisa. Mas suponhamos que atinjam todos os seus objetivos, o que é muito pouco provável; será uma gota de água no oceano. Há muitos outros problemas graves nesse campo.

Estamos agora numa situação em que os negacionistas das mudanças climáticas estão se apoderando das comissões relevantes da Câmara de Representantes – ciência, tecnologia, etc. De fato, um deles disse recentemente: “Não temos que nos preocupar com essa questão porque Deus se encarregará de resolvê-la”. É incrível que isto esteja a acontecer no país mais rico e mais poderoso do mundo. É uma área importante em que deveria haver uma mudança substancial e melhoras. De contrário, não haverá muito mais de que falar dentro de uma ou duas gerações.

Outros consideram a simples reconstrução da economia deste país, para que as pessoas possam voltar ao trabalho, possam produzir coisas de que o país precisa, possam viver vidas decentes. Tudo isso pode ser feito. Os recursos existem, faltam as políticas.










Darrell Issa

AG: Noam, acerca do novo Congresso leio no The New Yorker: “Darrell Issa, um representante republicano da Califórnia, é um dos homens mais ricos do Congresso. Enriqueceu a vender alarmes para automóveis, o que é interessante porque foi acusado, por duas vezes, de roubar automóveis. Disse que teve uma “juventude pitoresca”. Agora que os republicanos estão prestes a tomar o controle da Câmara, Issa prepara-se para chegar a presidente da Comissão de Supervisão. O lugar concede amplos poderes de intimação de comparecimento e Issa já indicou como tenciona usá-los. Não lhe interessa – assegurou a um grupo de republicanos da Pensilvânia durante o verão – andar a cavar informações que possam embaraçar outros multimilionários: “Não vou usá-los para fazer os empresarois dos EUA viverem assustados”. Em vez disso, ele quer chegar onde se encontra a verdadeira maldade. Quer investigar os climatologistas. À cabeça da sua lista estão os pacientes e sofridos investigadores cujos correios eletrônicos foram pirateados no ano passado, a partir da Universidade de East Anglia na Grã-Bretanha. Embora o trabalho [desses investigadores] tenha sido tema de três investigações separadas do “Climagate” – tendo todas elas estabelecido que as alegações de manipulação de dados careciam de fundamento –, Issa não está satisfeito. Disse recentemente: “Vamos querer outra oportunidade”.

NC: Pois. Isso faz parte da ofensiva massiva, basicamente uma ofensiva das grandes empresas. E não o esconderam. A Câmara do Comércio, o maior dos lobbies empresariais, o Instituto Estadunidense do Petróleo e outros disseram, de forma bastante pública, que estão fazendo uma “campanha educativa” massiva para convencer a população de que o aquecimento global não existe. E dá resultados. Vê-se até na forma como é apresentado na mídia: lê-se, digamos, numa discussão no New York Times sobre a mudança climática. Como têm de ser objetivos, apresentam os dois lados, onde, de um lado, estão 98% dos cientistas qualificados e, do outro, Issa e alguns cépticos da mudança climática. Mas, se repararem, falta aí uma terceira parte, isto é, uma quantidade muito substancial de destacados cientistas que afirmam que o consenso está longe de ser suficientemente alarmista e que, de fato, a situação é muito pior. Os EUA andam a arrastar este assunto há muito tempo, e agora está ainda pior.

Não há muitos dias apareceu um relatório sobre uma análise da produção de tecnologia verde. Dele resulta que a China vai à frente, seguida pela Alemanha, com a Espanha já muito adiantada e sendo os EUA um dos [países] mais atrasados. De fato, o investimento em tecnologia verde é maior na China – creio que duas vezes maior – do que nos EUA e na Europa juntos. São verdadeiras patologias sociais, exacerbadas pelas últimas eleições, mas é só um dos aspectos em que a política se move numa direção totalmente errada. Há alternativas significativas, e se não forem levadas em conta pode ser um verdadeiro desastre. Pode não demorar muito.

AG: Gostaria de mudar de tema por um momento, Noam Chomsky, e falar das eleições que acabam de ter lugar no Haiti.











Haiti - candidatos querem anulação das eleições

NC: “Eleições” devia ser posto entre aspas. Se tivéssemos eleições nos EUA nas quais os partidos democrata e republicano fossem excluídos e os seus dirigentes políticos exilados na África do Sul, não seriam consideradas eleições sérias. Mas é exatamente o que aconteceu no Haiti. Os principais partidos políticos estão proibidos – como sabemos, os EUA e a França invadiram essencialmente o Haiti em 2004, sequestraram o presidente e mandaram-no para a África central. O seu partido continua proibido. A maioria dos analistas supõe que, como no passado, se lhe fosse permitido apresentar-se como candidato provavelmente ganharia a eleição. O ex-presidente Aristide é, segundo toda a informação disponível, a personalidade política mais popular do Haiti. Não só não lhe permitiram apresentar-se, essencialmente os EUA, como, além disso, não permitem que ele regresse ao seu país. Trataram de mantê-lo fora do hemisfério.. O que teve lugar foi uma espécie de farsa. Quero dizer, foi alguma coisa. Os haitianos tentam exprimir-se. E devíamos respeitar isso. Mas as principais alternativas que poderiam ter são excluídas pelas potências estrangeiras, o poder dos EUA e da França, que é o segundo dos torturadores históricos do Haiti.

AG: Honduras. É interessante que, no meio destes telegramas que vieram à luz do dia com a publicação da WikiLeaks, se encontre o telegrama diplomático dos EUA de 2008 que diz exatamente aquilo que o governo dos EUA não se dispôs a dizer em público: que o golpe contra Manuel Zelaya foi totalmente ilegal. Como reage, Noam?










Golpe Militar em Honduras

NC: Sim, é isso. É uma análise da embaixada em Tegucigalpa, [capital de] Honduras, onde dizem terem feito uma cuidadosa análise dos antecedentes legais e constitucionais e que conclui – pode ler o resumo na conclusão – que não há dúvidas de que o golpe foi ilegal e inconstitucional. O governo de Washington, como você disse, não se dispôs a dizê-lo. E de fato, depois de algumas dúvidas, Obama acabou, no essencial, por reconhecer a legitimidade do golpe. Apoiou a realização de eleições sob o regime golpista, que a maior parte da América Latina e da Europa se recusou a reconhecer. Mas os EUA reconheceram. De fato, o embaixador dos EUA acusou publicamente os latino-americanos que discordaram de estarem “seduzidos pelo realismo mágico”, como nos romances de Garcia Márquez ou assim, uma pura declaração de desdém. Que deveriam estar conosco e apoiar o golpe militar, que é ilegal e inconstitucional. E que tem muitas consequências. Uma delas é que preserva, para os EUA, uma grande base aérea, a base aérea Palmerola, uma das últimas que restam na América Latina. Os Estados Unidos foram expulsos de todas as outras.

AG: Tenho duas perguntas e só nos restam dois minutos. Uma sobre a Coreia do Norte. Os documentos da WikiLeaks mostram diplomatas chineses afirmando que os dirigentes chineses “têm cada vez mais dúvidas sobre a utilidade da vizinha Coreia do Norte” e apoiariam a reunificação. Que significa isto?

NC: Sou muito céptico acerca dessa declaração. Não há nenhum sinal de que a China esteja disposta e ter tropas dos EUA na sua fronteira, e essa seria uma consequência muito provável de uma Coreia reunificada. Eles [os chineses] têm objectado severamente contra as manobras navais dos EUA no Mar Amarelo, não longe da sua costa – a que chamam “águas econômicas territoriais”. A última coisa que querem é a expansão das forças militares dos EUA próximo das suas fronteiras. Talvez pensem – não sei – que a Coreia do Norte simplesmente não é viável e que terá de ser derrubada, e é um problema difícil de muitos pontos de vista, mas isso eu não sei. Mas sou muito céptico acerca dessa revelação.

AG: Finalmente, Noam, acerca do seu mais recente livro Esperanças e Perspectivas. O que é que lhe dá esperanças?

NC: Bem, a parte das esperanças nesse livro tem a ver, sobretudo com a América do Sul, onde realmente houve algumas mudanças significativas e espetaculares na última década. Pela primeira vez em 500 anos estão caminhando para a integração, que é um requisito prévio para a independência, e começaram a enfrentar alguns dos seus problemas internos realmente desesperados. Existe uma imensa disparidade entre ilhas de extrema riqueza e de pobreza massiva. Uma série de países, incluindo o mais destacado, o Brasil, deram passos nesse sentido. A Bolívia foi bastante espetacular, com a vitória da população indígena em importantes eleições democráticas. São fatos importantes.

AG: Noam Chomsky, obrigado por ter estado conosco. Ah, e feliz aniversário!

NC: Muito obrigado.

Extraído do blog Passa Palavra

Tradução do inglês: Passa Palavra

Original (em inglês), em DemocracyNow


http://redecastorphoto.blogspot.com/2011/01/entrevista-com-chomsky-wikileaks-crise_12.html

10 de janeiro de 2011

Oito calúnias sobre a WikiLeaks

Seja o primeiro a comentar!

Na capa, duas moças para representar os problemas de Assange com mulheres da Suécia...



Ataques mal intencionados à WikiLeaks procuram perpetuar falsos conceitos que se recusam a morrer por mais que entrem em conflito com a realidade.

Por Julianne Escobedo Shepherd e Tana Ganeva, AlterNet



ARTIGO | 9 JANEIRO, 2011 - 23:29 (Via castorphoto)

A tendência da comunicação social empresarial de difundir informações falsas e notícias fabricadas tem sido particularmente notória na cobertura da WikiLeaks. Como Glenn Greenwald tem defendido, as principais agências de notícias têm divulgado repetidas difamações e falsidades sobre o sítio de fugas de informação e o seu fundador Julian Assange, ajudando a perpetuar uma série de “mentiras imbecis” – falsos conceitos que se recusam a morrer por mais que entrem em conflito com a realidade conhecida, a lógica básica e informação bem divulgada.


Aqui estão as falsas narrativas que continuam a aparecer nos jornais e na rádio.

1. Fomentar campanhas de alarmismo afirmando que as revelações da WikiLeaks irão provocar mortes.

Até ao momento não há evidência de que as revelações da WikiLeaks tenham custado vidas. De fato, mesmo antes de os telegramas terem sido revelados, funcionários do Pentágono admitiram não haver casos documentados de mortes causadas pela informação exposta por divulgações anteriores de documentos da WikiLeaks (e ao contrário dos telegramas diplomáticos, os arquivos do Afeganistão não estavam editados).

Não quer dizer que a exposição dos ficheiros secretos do governo não possa de alguma forma levar a que alguém, em algum lugar, seja um dia magoado. Mas isto é ir longe de mais, especialmente por parte de um governo envolvido em múltiplas operações militares – muitas das quais secretas – que levam a um número incontável de vítimas civis.

2. Espalhar a mentira que a WikiLeaks divulgou todos os telegramas.

A WikiLeaks divulgou menos de 2.000 dos 251.287 telegramas na sua posse. Divulgou aqueles documentos em conjunto com as mais importantes agências de notícias, incluindo o Guardian, El País e Le Monde, e utilizou a maioria das redações desses jornais para proteger as identidades de pessoas cujas vidas poderiam ser ameaçadas pela exposição. A AP detalhou este processo num artigo em 3 de Dezembro, mas isto não impediu que funcionários e analistas afirmassem que a WikiLeaks tinha colocado todos os telegramas “indiscriminadamente” na Internet. Muita da comunicação social repetiu a afirmação sem pensar.

Greenwald e outros têm lutado para acabar com o mito de que o sítio de fugas de informação divulgou todos os telegramas sem tomar quaisquer precauções para proteger as pessoas, mas este mito continua. Ainda esta semana a NPR emitiu um pedido de desculpas por todas as vezes que os colaboradores e convidados sugeriram ou expressaram abertamente ser uma calúnia que a WikiLeaks tenha colocado cegamente todos os telegramas de uma só vez.

3. Afirmar falsamente que Assange cometeu um crime no que diz respeito à WikiLeaks.

O Departamento de Estado tem trabalhado arduamente para incriminar Julian Assange. O problema é que até agora não parece que ele tenha infringido qualquer lei. Assange não é um cidadão dos Estados Unidos, não trabalha para o governo dos Estados Unidos e os documentos da WikiLeaks divulgados foram obtidos por outra pessoa. Conforme Greenwald tem sublinhado repetidamente, não é proibido publicar informações secretas do governo dos Estados Unidos. Se assim fosse, centenas de jornalistas estariam agora na prisão.

Enquanto o governo tenta evocar uma justificação legal para processar Assange, a comunicação social está a ajudar, estimulando a afirmação que ele é uma mente criminosa. Importantes meios de comunicação continuam a acolher convidados que acusam Assange de comportamento criminoso sem especificar de que crime se trata. Num debate bastante ridicularizado na CNN entre o Conselheiro da Segurança Interna de Bush Fran Townsend e Glenn Greenwald, moderado por Jessica Yellin, Greenwald teve que repetidamente rebater a afirmação de que Assange “lucrou” com atos “criminosos”.

O esforço para classificar Assange como um criminoso – liderado pelos membros do governo e ajudado pela comunicação social – pode ter um efeito perturbador sobre futuros autores de fugas de informação.

4. Negar que a WikiLeaks é uma empresa jornalística.

Autoridades e especialistas continuam a afirmar que a WikiLeaks não é uma fonte jornalística, ainda que tenha conseguido o mais importante furo jornalístico de uma década. Mas muito do que a WikiLeaks faz é idêntico às atividades de outras fontes de notícias. A WikiLeaks recebe informações secretas de fontes anônimas, que depois revela ao público – as notícias não são mais do que um sistema de controlo e equilíbrio para o governo, um direito fundamental de liberdade de imprensa. A seguir, trata essas informações secretas antes de divulgá-las – um jornalista ao selecionar material relevante e adequado de um documento confidencial não é diferente da WikiLeaks, ao editar certos excertos dos telegramas.

Como as ações da WikiLeaks estão de acordo com a Primeira Emenda, todos os jornalistas deveriam ficar indignados com as tentativas de acusação do governo americano. Se a WikiLeaks for processada por gerir uma empresa jornalística, que direitos irão ser retirados aos jornalistas no futuro? A denúncia vem de uma das mais respeitadas instituições jornalísticas do mundo, a Columbia University Graduate School of Journalism. No início deste mês, 20 membros da faculdade elaboraram e assinaram uma carta ao Presidente Obama e ao Procurador-geral Eric Holder dizendo que ao processar a WikiLeaks o governo irá abrir “perigosos precedente aos repórteres de qualquer publicação ou meio de comunicação social, amedrontando potencialmente o jornalismo de investigação e outras atividades protegidas pela Primeira Emenda…

Processar o caso WikiLeaks irá prejudicar grandemente os americanos participantes em debates na imprensa livre em todo o mundo e desencorajar os jornalistas que procuram este país para inspiração.


A Fundação Walkley, uma instituição de jornalismo no país de Assange, a Austrália, coloca este assunto mais sucintamente na sua própria carta de apoio à WikiLeaks:

“Tentar fechar a WikiLeaks agressivamente, ameaçar processar aqueles que publicam fugas de informação oficiais, e pressionar empresas a deixarem de negociar com a WikiLeaks, é uma séria ameaça à democracia, que se baseia numa imprensa livre e sem medo”.

5. Negar uma ligação entre os Documentos do Pentágono de Ellsberg e a WikiLeaks, apesar do apoio de Ellsberg ao site.

Em 1969, Daniel Ellsberg fotocopiou secretamente documentos secretos que provavam que a administração Johnson tinha mentido ao povo americano sobre as hipóteses de ganhar a guerra do Vietnã, que sabia desde o início serem quase nulas.

Em 1970, Ellsberg ficou desiludido com a situação desesperada e começou a fazer circular os documentos, primeiro aos senadores dos Estados Unidos, depois ao New York Times, que divulgou o conteúdo numa inovadora série de artigos que pôs em marcha o fim à guerra… e à administração Nixon. Ao proceder desta forma, ajudou a acabar com uma guerra injusta realizada em nome do povo americano. As suas ações foram amplamente aplaudidas.

Num cenário paralelo, a WikiLeaks está a fazer a parte do Times e de outros meios de comunicação que relataram os Documentos do Pentágono – divulgando informações de ações secretas, e em muitos casos, injustas efetuadas em nome do povo americano sem o nosso conhecimento.

O alegado delator Bradley Manning é Ellsberg nesta situação; semelhantemente, se as conversas entre ele próprio e Adrian Lamo impressas na Wired forem verdadeiras, ele divulgou os telegramas com um esmagador sentido de justiça, dizendo, “eu quero que as pessoas, sejam elas quem forem, vejam a verdade, porque sem informação, como público, não se podem tomar decisões informadas.

No início deste mês, Ellsberg apareceu no Colbert Report e elogiou Manning. “Se Bradley Manning fez aquilo de que é acusado, então ele é o meu herói e eu acho que ele prestou um grande serviço a este país” disse Ellsberg. “Esta confusão em que nos encontramos, no mundo, não é por causa de demasiadas fugas de informação… embora diga que devem existir alguns segredos. Mas também digo que invadimos o Iraque ilegalmente porque nos faltou um Bradley Manning na altura.”

6. Acusar Assange de lucrar com a WikiLeaks.

Os jornais divulgaram a notícia que Assange assinou um contrato lucrativo de um livro, informação que inspirou as principais fontes de informação como a CNN a ridicularizar Assange por “lucrar” com os telegramas apesar da sua ideologia anti-empresarial. Na entrevista mencionada acima, Yessica Yellin perguntou a Glenn Greenwald se tinha “Alguns dúvidas sobre o fato de ele estar a lucrar essencialmente com a fuga de informação.” Greenwald assinalou que Assange quase não lucra com esse material, mas tenta cobrir os ganhos legais acrescidos, já que todos os governos do mundo estão atrás dele. Greenwald também assinalou que tentar ganhar dinheiro com o jornalismo é pura rotina na profissão. Bob Woodward, por exemplo, escreveu vários livros baseados em documentos secretos.

7. Chamar terrorista a Assange.










Joe Biden

A semana passada o Vice-presidente Joe Biden, que faz parte de uma administração que supervisiona a escalada da desastrosa guerra no Afeganistão, juntou-se a Mitch McConnel e a Sarah Pallin ao chamar “terrorista” a Assange.

Tanto quanto sabemos, as fugas de Assange não mataram ninguém. Nem sequer ele tentou perpetrar violência para promover uma agenda política, a definição de terrorismo. No entanto os membros do governo continuam a tentar vincular Assange ao terrorismo na consciência do público.

8 Minimizar a importância dos telegramas.

Embora só uma pequena fração dos telegramas tenha sido divulgada, muitos críticos promoveram a ideia de que eles não revelaram “nada de novo” e, portanto não têm qualquer valor. Mas mesmo os telegramas divulgados até ao momento continham revelações importantes sobre os Estados Unidos e seus aliados.

Aqui estão algumas das histórias divulgadas pelos documentos:

– Forças Especiais dos Estados Unidos trabalham dentro do Paquistão

– A Inglaterra concordou proteger interesses dos Estados Unidos nas provas do Iraque

– Bombardeamentos secretos do Iêmen

– O papel do Departamento de Estado no golpe de estado das Honduras

– Estados Unidos pressionaram a Espanha a ignorar as provas da tortura de Bush

– Os Estados Unidos procuraram retaliar contra a Europa por se recusar a permitir as culturas geneticamente modificadas da Monsanto.

– A Drug Enforcement Agency torna-se global, para além das drogas

– Aperto da Shell sobre o estado da Nigéria

A promessa de que a próxima divulgação irá atingir um banco dos Estados Unidos, e que irá ter um efeito semelhante às divulgações da Enron, segundo Assange, certamente prenuncia um tesouro de informações sem precedentes que poderá ser explosivo. E isso é incrivelmente valioso para o povo americano.

Julianne Escobedo Shepherd é editora associada da AlterNet e escritora e editorafreelancer em Brooklyn. Anteriormente diretora executiva da The FADER, o seu trabalho tem aparecido na VIBE, SPIN, New York Times e em várias outras revistas e sítios da internet.

Tana Ganeva é editora da AlterNet. Podem acompanhá-la no Twitter ou enviar-lhe um mail para tanaalternet@gmail.com.

Tradução de Noêmia Oliveira para o Esquerda.net
Enviado pelo pessoal da Vila Vudu

6 de janeiro de 2011

O jornalismo neocon e a militância virtual

Seja o primeiro a comentar!



Por Maurício Caleiro, do Cinema & Outras Artes

Muito já foi dito sobre as razões que levaram as grandes corporações jornalísticas à aderência ao chamado jornalismo neocon, denominação do estilo agressivo e marcadamente conservador que se difundiu inicialmente nos EUA - de radialistas populares para a Fox News - e que, no Brasil, ganhou abrigo nas páginas da outrora prestigiada revista Veja.

Resumidamente, mudanças e pressões econômicas, tecnológicas, políticas e ideológicas fizeram com que elas passassem a abrigar em suas redações e estúdios adeptos desse jornalismo malcriado e raso em informação histórica. Ainda que seu alvo principal sejam certos estratos sócio-econômicos, setores do público jovem têm sido muito receptivos a tal "estilo".

A consciência no tempo

A brilhante jornalista que é Maria Inês Nassif teceu as seguintes considerações, em artigo recente, do qual vale a pena ler também os emocionados comentários:
“Há quase 47 anos o Brasil iniciava seu último período ditatorial. Faz 25 anos que acabou o último governo militar. 21 anos nos separam da primeira eleição direta para presidente; e há 20 anos se promulgava a nova Constituição brasileira.

Uma geração que já é adulta nasceu na democracia e sequer tem lembranças do período negro da ditadura. Essa geração não tem a dimensão do que é, para a história do país, o fato de uma mulher que foi presa política assumir a presidência da República. Isso é história em seu estado puro”.
Não é frequente que prestemos atenção a tais efeitos exercidos pela passagem do tempo na consciência política. Tal gap generacional, convém reforçar, faz com que um jovem que esteja ingressando na universidade hoje – aos 18, 19 anos – sequer tenha acompanhado o governo Fernando Henrique Cardoso, já que era uma criança com cerca de 10 anos quando ele terminou.

Essa amnésia histórica ajuda a explicar o porquê de um número relativamente expressivo de jovens se deixar seduzir pelo canto de sereia neocon.


Insegurança e catarse
Em primeiro lugar, porque, para essa geração, o governo Lula - e agora Dilma - constitui o poder, e é da natureza da juventude contestar o poder vigente, com razão ou não, seja ele qual for.

Em segundo, porque o jornalismo neocon brasileiro, de criaturas como Reinaldo Azevedo, Mainardi e Augusto Nunes, ao abrir mão da argumentação criteriosa, balanceada, em prol da agressividade e do ataque desqualificador, oferece uma experiência catártica que tende a seduzir particularmente a ainda revoltados e inseguros pós-adolescentes, os quais tendem a mimetizá-la. Há, muitas vezes, algo de afirmação pessoal e de recalque exorcisado nessa identificação.


Neoudenismo
Convém considerar, ainda, a questão da penetrabilidade do discurso moralista, uma arma histórica do conservadorismo brasileiro, popularizada pela UDN nos anos 40/50 e retomada pelo demotucanato com o auxílio da mídia amiga.

O alcance de tal discurso extrapola, evidentemente, o público jovem, já que a corrupção é – sempre foi - um problema grave e real no Brasil. Daí a afirmar que o governo Lula tenha sido o mais corrupto da história – como fazem os neocons – trata-se de uma generalização que, como debateremos em breve em outro post, não se sustenta minimamente e sublinha, uma vez mais, a falta de compromisso com a verdade e de conhecimento histórico por parte de tais jornalistas.

Por fim, é necessário reconhecer que o jornalismo neocon, com sua leviandade cafajeste e irresponsável, encontrou nas redes sociais um terreno prolífico, como o demonstra de forma cabal o caso dos jovens que clamaram (e ainda clamam), em tom de brincadeira ou não, pelo assassinato da presidenta eleita Dilma Rousseff.


Militância virtual
Até recentemente, a blogosfera, a despeito de sua diversidade, constituiu-se, majoritariamente, como um foco de resistência contra uma mídia partidarizada, agregando desde a esquerda anti-Lula até os que, sem cor político-ideológica, mostravam-se indignados pela perda de parâmetros da imprensa brasileira - além de simpatizantes do lulopetismo, é claro.

Com o incremento e acelerada difusão de novas redes sociais – o Twitter, notadamente – houve um processo de fragmentação e de “tribalização”, e ainda que os setores anti-conservadores tenham se fortalecido, a irrupção de uma militância neocon, açulada pela campanha suja e sem escrúpulos de José Serra, também assoma à cena, trazendo em seu bojo a intolerância, o racismo, o ódio de classe e, mais grave, a sem-cerimônia em divulgar ideias golpistas.

Ela representa a grande ameaça a ser combatida, o grande desafio: desarmar espíritos e trazer o debate político de volta ao âmbito das soluções democráticas e do diálogo civilizado.

1 de janeiro de 2011

O Bem-Amado e o ativismo político-cultural

Seja o primeiro a comentar!



Por Maurício Caleiro, do Cinema e Outras Artes

A adaptação de O Bem-Amado por Guel Arraes não decepciona apenas pelo roteiro frouxo, repetitivo, por atuações demasiado histriônicas e pela tentativa de inserir a narrativa em um contexto histórico inverossímil, mas, sobretudo, por distorçer gravemente a criação de Dias Gomes, ao negligenciar um traço distintivo da obra do dramaturgo baiano: a crítica político-ideológica consistente.

Marco Nanini, na pele do “coronel” Odorico Paraguaçu, e Tonico Pereira, personificando o populista de esquerda Vladimir, substituem o que poderia ser um duelo entre dois grandes atores por um torneio de quem grita mais alto. Às lúbricas saracotices das irmãs Cajazeiras com Odorico é dispensado um tom de chanchada, o qual, somado à superficialidade dos jogos eróticos pudicos, tende a cansar pela repetição. O casal central da trama, formado pelo jornalista Neco Pedreira (Caio Blat) e pela filha de Odorico, Violeta (Maria Flor), não bastasse a chatice de suas coqueterias calienta huevos, é fotografado com uma luz que acentua os tons brancos, dando a suas cenas idílicas a aparência de um comercial de margarina.

Um dos poucos personagens que se salva é o soturno e árido Zeca Diabo de José Wilker: sem chegar a ser, de forma alguma, melhor do que a versão brejeira do personagem quando na pele de Lima Duarte, ao menos é inovador. Já o Dirceu Borboleta de Matheus Nachtergaele é talvez o pior momento da carreira desse ator fenomenal – ainda mais para os que guardam memória da impagável personificação do secretário de Odorico por Emiliano Queiroz, com direito a gagueira e a ar apalermado.

A trilha sonora de Caetano Veloso & cia. é, para dizer o mínimo, preguiçosa – e a canção-tema, dissonante ao extremo, está no rol das mais pobres contribuições do baiano ao cinema. Para compeltar, em termos de tecnologia sonora o filme regride algumas décadas, a uma era pré-desenho de som: com frequência música e falas se contrapõem, indistinguíveis, não há nivelamento máximo ou preenchimento mínimo – de forma que, enquanto os berros de Nanini ardem nos tímpanos, os sussurros de José Wilker são eventualmente inaudíveis -; há ruídos e efeitos em níveis desiguais e às vezes inverossímeis: por vezes é como se estivéssemos ante um daqueles filmes do Jabor dos anos 70...

Salva-se uma direção de arte cuidadosa, com um quê de cinema malasiano nos tons de verde e vermelho e no uso de cortinas à guisa de molduras, resultando em belos interiores para uma Sucupira praiana e em colonial baiano. Mas mesmo nesses ambientes predomina uma certa pasteurização inerente às produções da Globo Filmes, dadas sua modorra narrativa característica, em allegro ma non troppo, e sua linguagem cinematográfica quadrada, mais previsível do que a de uma novela das oito.

Mas tais problemas não são o pior: ao igualar os dois políticos rivais encarnados por Nanini e Tonico Pereira, caracterizando ambos como manipuladores corruptos e velhacos, o filme substitui a crítica mordaz e matizada que o original de Dias Gomes fazia aos dois espectros político-ideológicos – aos quais o autor sobrepunha de maneira clara uma teleologia de valores republicanos, ausente no filme - por um discurso niilista, de descrença na política, de “políticos são todos iguais e não prestam” que é o que há de mais contraproducente para o avanço da democracia no Brasil.

Do CPC para a TV
A geração de Dias Gomes (e de Gianfrancesco Guarnieri e Oduvaldo Viana Filho, o Vianinha) tornou-se exemplar em termos de atuação política no campo cultural. Tendo seu raio de ação dramaticamente reduzido pela censura militar e pelo AI-5, optou por agir nos interstícios da mídia corporativa (leia-se Rede Globo), apostando num reformismo de longo prazo em oposição à inviabilizada revolução.

Tal estratégia acabou por levar à elevação do nível da dramaturgia televisiva e à introdução de temáticas que esgarçavam ao máximo a tolerância, superando em muito os limites que o poder militar e a igreja achavam aceitáveis. Destarte, a história da dramaturgia televisiva brasileira nos anos 70, início dos 80, é de uma dupla queda de braço: no interior da emissora, entre autores engajados e intelectualmente dotados e o sentido corporativo de auto-preservação de seus executivos; nos corredores governistas, entre os primeiros e as instituições religiosas e militares – notadamente a Censura.

O resultado de tais embates, embora inescapavelmente oscilante e imprevisível - muitas vezes negativo - foi mais de uma década de intensa dilatação dos padrões morais e da incisividade da crítica política em plena ditadura. Se, como sugere Roberto Shwarz, o interregno 1964-1967, imediato pós-golpe militar, é, paradoxalmente, marcado pela “hegemonia cultural da esquerda” no campo cultural, os anos de chumbo, ao menos na longa distensão do governo Geisel em diante, marcam um período único na história da TV brasileira, em que produtos como as novelas Gabriela, Saramandaia e O Bem-Amado e séries como Plantão de Polícia, Carga Pesada, Ciranda,Cirandinha e a proibida Amizade Colorida não subestimavam a inteligência do espectador ao mesmo tempo em que esgarçavam os então estreitos limites do permissivo e da representação político-social.

Face à banalidade e ao bom-mocismo que, no último quarto de século, assomou à teledramaturgia global, é difícil acreditar que emissora protagonizou tais avanços, mas ela o fez – e, em grande parte, como resultado de uma ação político-cultural deliberada de agentes culturais egressos dos Centro Populares de Cultura da Une, como os supracitados.

Eu tinha 6 anos quando a novela O Bem-Amado estreou, em 1973, e não me lembro de quase nada (a não ser o que vi depois, em trechos reprisados). Mas recordo perfeitamente da série semanal homônima, que foi ao ar entre 1980 e 1984, com praticamente o mesmo elenco da novela: Paulo Gracindo na performance de sua vida como o prefeito Odorico Paraguaçu, Lima Duarte como um hilário Zeca Diabo, o ator único que é Emiliano Queiroz como o estabanado Dirceu Borboleta, Ida Gomes, Dorinha Duval e a adorável Dirce Migliaccio como as irmãs cajazeiras, o bilioso oposicionista personificado com calculada imperfeição por Lutero Luiz, além de Carlos Eduardo Dolabella como o jornalista escolado e a gostossíssima Fátima Freire como a repórter novata e indignada (suas coxas cruzadas em um episódio em que Zeca Diabo a atacava em um cinema iluminaram meus, como diria Manuel Bandeira, alumbramentos pré-adolescentes).

Cada episódio, baseado nos pequenos contos de Dias Gomes, constituía um rico olhar sociológico sobre os costumes e as relações – sexuais, comerciais, políticas – características do modo de ser do Brasil no período, endereçado principal mas não exclusivamente aos coronéis regionais apoiados pela ditadura, e pleno de crítica bem-humorada e picardia. Para completar, havia a deliciosa e marcante trilha sonora de Toquinho e Vinicius de Moraes. Poucas vezes a televisão foi tão inteligente – e como iguais concebeu e tratou seus telespectadores.

Trata-se, sem sombra de dúvida, de um dos melhores produtos que a TV brasileira já levou ao ar, com um amálgama perfeito entre dramaturgia, humor e crítica política.

Ativismo e blogosfera
Mas o que é importante assinalar, no âmbito deste post, é que o fenômeno O Bem-Amado não constitui uma mera ocorrência histórica, perdida no tempo, mas um exemplo que suscita importantes reflexões sobre ativismo político-cultural e mídia corporativa. E de que forma isso nos diz respeito atualmente? De muitas, creio eu, como pretendo debater nos próximos parágrafos.

Vivemos, atualmente, com o advento da web 2.0 e do admirável mundo novo digital, uma era de profunda crise da mídia corporativa em geral – no que concerne a direitos autorais e de propriedade, controle sobre a veiculação de produtos audiovisuais, porcentagem de ocupação de mercado, mudança de suporte tecnológico, etc. As gravadoras e a imprensa são os dois exemplos mais gritantes, mas de forma alguma os únicos.

No Brasil, particularmente, esse crise estrutural é agravada – na mídia jornalística em especial – por uma questão conteudística: o engajamento político-ideológico de publicações como Veja e Folha de S. Paulo ou dos jornais, programas de rádio e de TV da Rede Globo de forma geral, ao atentar contra pressupostos éticos fundamentais do jornalismo, suscitou a desconfiança e a descrença dos segmentos mais bem-informadas do público.

Em decorrência desse quadro - e de forma mais intensa do que vem acontecendo em outros países -, a ação político-cultural na blogosfera e nas redes sociais, no Brasil, tem sido construída, em larga medida, em oposição a uma mídia estruturalmente em crise e desacreditada – mas, no que concerne particularmente à TV Globo, ainda capaz de uma penetração tentacular em todo o país impensável para qualquer outra modalidade comunicacional.

Em virtude da persistência dessa audiência medida em milhões – em oposição à difusão atomizada e de outra ordem de grandeza, consideravelmente menor, da blogosfera e que tais – é que se recoloca, em um cenário renovado, a questão enfrentada pela geração de Dias Gomes: ignorar a mídia corporativa e combatê-la através de uma guerrilha político-cultural (antes via espetáculos de rua, ora via internet) ou lutar em seu interior pela difusão de contra-discursos que contrariem a hegemonia conservadora/neoliberal?

Não é uma questão fácil de ser respondida, mas, ainda que as brechas das corporações estejam muito mais fechadas aos discursos dissonantes do que no imediato pós-1968, tampouco pode ser simplesmente descartada, como vários blogueiros fazem com desdém. Toda uma corrente de pensadores crê estarmos atravessando uma primavera da comunicação digital, a qual, segundo eles, tende, a médio prazo, a ser absorvida e controlada pelo grande capital via corporações. Esta seria só uma das razões para a manutenção na crença da possibilidade de se penetrar nas estruturas e modificá-las a partir de dentro.