7 de novembro de 2008

Entrevista com Vania Santayana, militante política & história macabra sobre meu tio



Essa é a primeira parte da entrevista com Vania Santayana, esposa de Mauro Santayana, filha de líder sindical na época da ditadura militar, que foi barbaramente torturado, e ela mesma militante e também torturada. E minha primeira contribuição ao debate atual sobre se devemos culpar ou não os torturadores. A opinião do blog é: SIM, OS TORTURADORES DEVEM SER CONDENADOS CRIMINALMENTE. NÃO OS INSURGENTES. INSURGENTE NÃO É CULPADO EM LUGAR NENHUM DO MUNDO. DEVEM SER CULPABILIZADOS OS HOMENS DO ESTADO, QUE TORTURARAM, COMETENDO CRIME CONTRA A HUMANIDADE, O ÚNICO CRIME QUE ESTÁ ACIMA DA POLÍTICA, RELIGIÃO OU CULTURA. TORTURA É CRIME CONTRA A HUMANIDADE. NÃO SE TORTURA CACHORRO, QUANTO MAIS UM SER HUMANO.

Eu, Miguel do Rosário, filho de José Barbosa do Rosário, tive um tio, irmão do meu pai, chamado Francisco do Rosário Barbosa, que foi barbaramente torturado, até a morte, em 1981. O irônico é que ele não era sequer militante político, que naquela época já tinham sido todos mortos ou exilados. Era um trabalhador sem ligação alguma com partido político ou mesmo movimento político. Nada. Era um poeta, na realidade, que trabalhava para viver. Um dia, voltando de seu trabalho, em Maria da Graça, subúrbio do Rio, até sua casa, em Copacabana, onde dividia uma quitinete com sua namorada, sua vida acabou.

A polícia militar parou o ônibus em que ele voltava. Agentes entraram no veículo e começaram a pedir documentos de todos os passageiros. Abordavam as pessoas aos gritos. As pessoas simples que voltavam de seus empregos reagiam com perplexidade e pavor. Então meu tio talvez tenha tido a única manifestação política de sua vida. Ergueu-se e protestou, com a voz surda, a dicção canhestra e o sotaque mineiro carregado, que caracterizavam o seu jeitão rural, usualmente calado, introvertido e confuso, como todos os barbosas.

Eu escrevi um artigo sobre essa história aqui.

4 comentarios

Peter Cordenonsi disse...

Miguel,
a tortura continua até hoje.
Notei a dificuldade dela para relatar estes absurdos, muitos têm medo de falar.
Abraço,
Peter

Anônimo disse...

Miguel, você continua fazendo de conta que a perseguição contra os agentes que participaram da Operação Satiagraha é coisa menor. Nao se trata de querer transformar ninguém em herói, mas perceber uma perseguição política, por motivos torpes, a funcionários públicos que cumpriram com o seu dever. Se esse tipo de coisa vinga, melhor parar de falar de tortura, porque a Ditadura está batendo à porta.

Miguel do Rosário disse...

nada disso, anarquista. acompanho de perto as notícias. escreverei sobre isso.

Anônimo disse...

Não podemos esquecer os que lutaram! Eles lutaram por nós, pela nossa liberdade. Vamos honrar nossos companheiros mortos, torturados e exilados. Se esquecermos pode acontecer de novo! E a Rede Globo ta aí... Nosso inimigo numero 1!

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