19 de fevereiro de 2005

Sempre achei que os grandes prosadores em geral são poetas medíocres. E vice-versa. Talvez o grau de especialização necessário para cada modalidade literária absorva tão intensamente o artista que ele dificilmente consegue desenvolver-se em mais de uma. Tentando romper com isso, eu, que comecei como poeta e, há alguns anos, passei para a prosa, agora, estou voltando a trabalhar a poesia. Considero importante trabalhar a poesia para o desenvolvimento da síntese linguística, da mitologia, das metáforas. É importante também para aqueles que, em função da profissão (jornalismo, no meu caso), acabam por adquirir vícios anti-literários, que somente a poesia pode desmanchar.

Aí vai a minha última experiência no campo da arte dionisíaca.

Verde

A cor da justiça é o verde
Porque o verde é a cor da floresta
E a floresta é a flor do mundo.

Verde é a flor do inferno,
Traição dos traidores,
Guerrilha noturna
Contra a tirana da dor.

Apesar do cinza, sangue das cores,
O verde resiste
No interior do azul,
Seu amante mais fiel
E cúmplice nas lutas.

Sem o verde, o homem é covarde,
Suicídio à tarde,
Natureza morta.

Graças aos exércitos
Terríveis do verde,
E os batalhões
Numerosos do azul,
A terra e o céu,
O mar e os rios,
Forjam o dourado e o vermelho,
Que embriagam a alvorada.

Miguel do Rosário

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