3 de janeiro de 2006

Ano novo, brigas novas


Bem, é isso. Chegamos em 2006, senão ilesos, mas vivos, muito vivos. Estarei por aqui com mais frequência, nos interstícios de meu ganha-pão. O trabalho de um blogueiro não é tão simples como parece. Estou seguro que, em breve, será divulgada pesquisa mostrando que 90% dos blogs são abandonados após alguns meses de entusiasmo. O blogueiro precisa estar sempre melhorando o visual de seu blog, procurando assuntos novos, fazendo novos links com outros blogs e sites e, sobretudo, escrevendo algo que preste.

Esse blog é voltado principalmente para a política, e particularmente a política brasileira. Dito isto, prossigamos.

Encontrei um site que me proporcionará bastante material de discussão. O editor-chefe é J.Carlos de Assis, também principal colunista do site. César Benjamin também participa ativamente do empreendimento.

O pensamento exposto do site é o tipo que mais gosto de criticar. Sobretudo porque me identifico em grande parte com os ideais por trás deste pensamento. Trata-se do velho ideal socialista, enfraquecido pela perplexidade diante da conjuntura econômica e política internacional. Tal perplexidade se reflete numa linguagem grandiloquente, amarga e quase sempre pessimista em relação ao Brasil e ao mundo.

Em meus artigos, vocês encontrarão constantes críticas sobre este tipo de atitude, que contém sempre um ranço acadêmico e uma psicologia derrotista. Também noto um certo chauvinismo, um autoritarismo disfarçado, um caudilhismo pós-moderno. Esse pensamento se inclina muito mais para Kirchnner e Chávez, do que para Lula, que consideram excessivamente liberal.

Não pretendo perder muito tempo com as viúvas da guerra fria, aqueles que ficam vomitando sobre a esquerda os 100 milhões de mortos pelo comunismo internacional e os espiãozinhos da Cia de Cuba. Sou estudioso de história e sei muito bem os horrores do comunismo. Mas sei também os valores. Os avanços trabalhistas do mundo capitalista, as conquistas constitucionais dos trabalhadores em todo mundo, foram obtidas pela enorme sombra do comunismo. Após a vitória dos bolcheviques, em 1917, patrões do mundo inteiro passaram a ter um pouco mais de respeito pelos trabalhadores.

Minha teoria é que hoje não existe capitalismo puro nem comunismo puro. O socialismo está dentro do capitalismo através das constituições, das leis trabalhistas. Aliás, foi engraçado ver o Pedro Bial, nesta entrevista com Lula domingo passado, perguntando se o governo não iria pressionar pela reforma trabalhista e sindical. Lula riu. Se uma coisa a crise ensinou ao Lula é que seus únicos aliados de verdade são os sindicalistas. Ele responde ao Bial, após encerrar o sorriso maroto: "a reforma trabalhista tem que ser resultado de um acordo". Isso quer dizer o quê? Lula não vai apoiar uma reforma trabalhista em benefício dos empresários? Bem, acho que é isso mesmo...

O tema a ser abordado hoje é um dos pratos preferidos tanto da esquerda quanto da direita: o neoliberalismo. A direita ama, a esquerda repudia. Lula é chamado de neoliberal por setores acadêmicos da esquerda, como o site supra-citado. A direita critica Lula pelos gastos sociais e elogia a politica econômica, embora sempre enfatizando a suposta "continuidade".

Enfim, o neoliberalismo é tema que pertence à essência do debate político contemporâneo no Brasil. Discutir, desmistificar, destrinchar, analisar, o neoliberalismo é o que compete aos interessados em pensar a política brasileira.

Há muita confusão sobre o tema. Parece-me que os "especialistas", os acadêmicos, não estão dando conta de esclarecer as pessoas sobre isso, seja porque eles simplesmente não têm nada de novo a dizer, seja porque não têm espaço adequado para se expressar.

Vamos aos exemplos. J.Carlos de Assis e César Benjamin dizem que o governo Lula é neoliberal. Dizem não, acusam veementemente. Acusam desde antes da eleição, mas sobretudo durante o primeiro ano de 2003. Houve um certo silêncio constrangido em 2004, por causa do crescimento econômico e queda no desemprego. A crise política em 2005 deu fôlego novamente a esta tendência, que voltou a bater na mesma tecla, retomando a mesma ladainha, sem nem ao menos se dar ao trabalho de atualizar suas planilhas com os dados de 2004 e 2005.

Eu assisti uma palestra de Cesar Benjamin em 2001 (não tenho certeza da data), na UERJ. Ele previa que, em poucos anos, o Real seria substituído pelo dólar, entre outras previsões catastróficas.

Bem, não ocorreu exatamente o que Benjamin previa. Gostaria de saber o que os excelentíssimos senhores J.Carlos de Assis e Cesar Benjamin acham do aumento real do salário mínimo para mais de 130 dólares, quase um recorde histórico. Na época do segundo mandato de Getúlio, ao que parece, o salário mínimo chegou ao apogeu. Mas quem ganhava salário mínimo? Tínhamos 60% do Brasil na miséria total, com bolsões de desenvolvimento no sudeste e no sul.

No Brasil (creio que isso deve se repetir em todo lugar), se faz crítica política com o fígado, não com a cabeça. Há setores da intelectualidade que são amargurados porque são velhos. Senão velhos de idade, velhos de alma.

Todos os governos precisam de crítica. Os governos são nossos. Nós votamos, mas temos que aprofundar nossa democracia. Temos que participar dos processos decisórios. Isso significa produzir crítica construtiva, projeções econômicas consistentes.

Bem, falávamos do neoliberalismo. A confusão sobre o neoliberalismo é grande. Controle de inflação é uma política neoliberal? Bem, se for, então eu sou neoliberal. Gerar empregos de carteira assinada, reduzir o preço dos alimentos, aumentar o salário mínimo, alocar recursos maiores para a agricultura familiar e bater recorde de assentamentos rurais, isso é neoliberal? Então sou neoliberal.

Peraí. Há controvérsias sobre os assentamentos. O MST diz que não são os 115 ou 120 mil que o governo diz. Então são quantos? 100 mil? 90 mil? Se forem assentamentos de qualidade, com recursos do Pronaf e participantes de projetos sociais governamentais, tá mais que bom. Não importa só a quantidade e sim a qualidade.

As estradas estão ruins, é a crítica de fim de ano do jornal Globo. Boa crítica, parabéns ao Globo. Então, aumente-se a verba para as estradas. Triste é ver que os Estados não fazem porra nenhuma. O governo federal deu 12 bilhões de reais para eles reformarem as estradas e não fizeram nada.

No Globo de hoje, a manchete, governo usa dinheiro das estradas até para seguro de saúde de funcionários. Fica parecendo que o governo usou o dinheiro para pagar o seguro-saú de familiares do presidente. Não sublinham que um percentual ridiculamente insignificantes foi alocado para seguro saúde de funcionários ligados ao sistema de transporte. O Globo esquece que consertar estradas implica em pagar operários e, portanto, também seus seguros saúde.

O governo teve 9,5 bilhões de reais e gastou 6,5 bilhões de reais. Tudo bem, não gastou tudo, mas gastou um bom montante. Citar o seguro saúde de meia dúzia de funcionários acidentados na reforma de alguma estrada foi uma tática ridícula de diminuir a ação do governo. Ademais, o jornal sabe muito bem onde o governo gastou o dinheiro, na maldita dívida pública que herdamos de FHC. O Arnaldo Jabor nunca lembra dessa dívida, amplificada em dez vezes por seu ídolo, o mauricinho-mor, nosso ex-presidente, que coincidentemente é colunista aos domingos no Globo...

O Brasil quitou sua dívida com o FMI, com o Clube de Paris e terminou o ano com uma boa reserva internacional, o que é importante para manter nossa economia blindada contra sustos externos. Os governantes estaduais não fizeram a sua parte, então o governo federal está retomando as estradas. Lembre-se que quem empurrou o problema para os estados foi o governo anterior.

Neste ano que começa, espera-se que o atual governo se empenhe em recuperar as estradas. Já tem um plano de emergência. Veremos se terá algum plano definitivo. Aproveito para incluir uma observação pertinente. Todas as estradas brasileiras precisam ter uma faixa segura para uso de pedestres. Em todas as regiões cortadas por estradas, as comunidades são obrigadas a correr risco terrível, pois o acostamento que existe é para os carros e não para os pedestres. Não esqueçam dos pedestres quando fizerem ou reformarem as estradas!

Finalizo com essa tabela do IBGE sobre a taxa de desocupação da população brasileira. O ano de 2005 teve os melhores números em toda série histórica. Que 2006 tenha números ainda melhores!

3 comentarios

Anônimo disse...

Miguel, você já visitou o blog "Amigos do Presidente", da Helena Sthephanowitz? Dê uma chegadinha lá e, se gostar, assine o Livro de Visitas.
Um abraço

Anônimo disse...

Esqueci de colocar o link
http://www.amigosdopresidentelula.blogspot.com/

Anônimo disse...

Faltou o site da Caros Amigos nos indicados.

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