31 de janeiro de 2008

canibalismo virtual

pedras no sangue,
pedras e amor,
suave e falso desespero
quase um canto
quase um animal
oculto sob a folhagem

pedras da rua
implosivas, etéreas
como fêmeas ou doses
mal calculadas de cachaça
pedras e amor
e o grito lânguido
erótico
do amor ferino
e seco dos bares sujos
sonhos, pupilas e insígnias
de raças extintas

um futuro arrancado
à alegria morta
- à estranha música que
resgata o virtual
devastado por
teu sorriso
que rouba, por sua vez,
ao futuro,
às mal calculadas doses
um entusiasmo pálido
e frio
como lázaro bêbado
e cantando
sob uma chuva radioativa

sonhos, miséria,
computadores,
e a humilhação de ser
tão desesperadamente vulnerável
ao próprio sorriso, destruído
junto aos sonhos, todos.

livre e pobre como
os pombos (sob o olhar distraído do adolescente)
que sobrevoam
o teto do cinema paisandu

tão nervoso
que vomita nas laterais
da utopia, sem chorar,
as pupilas vazias
como rãs, como inertes,
poetas de escritório
ou infensos, imortais,
parasitas suburbanos.

2 comentarios

Vera Pereira disse...

Maravilhoso esse Antonio Berni. Não conhecia e estou há horas percorrendo a Web atrás de sites sobre o trabalho dele. Este trabalho é gravura ou desenho? Xilo ou metal? Vera Pereira

Guilherme N. M. Muzulon disse...

Muito bem feito.

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