6 de agosto de 2006

A minha visão sobre o futuro de Cuba

O Eduardo Guimarães já falou sobre isso em seu blog, mas eu faço questão de completar. Na Folha de hoje, o Sergio Costa vem com uma nota absolutamente caricata, ridícula, clichê, mau intencionada e mau informada sobre Cuba, comparando-a à Disneylandia. Olha só como termina:

Sem Fidel, muitos empresários estrangeiros no país já previam, desde o início da década, que Cuba voltaria a ser uma ilha do Caribe como outra qualquer. Menos carismática, mais caricata no começo, até ser engolfada pelo capital global. A semente já estava plantada por grandes grupos hoteleiros europeus, sócios minoritários do Estado nos "resorts all inclusive" do balneário, onde impera a lei do rum. Para eles, a verdadeira vocação cubana seria a de um balneário para turistas de países ricos. Lá, já se vive assim no mercado paralelo.
"É a magia!", diria o Mickey.


Tá bom. Esse cara aí, Sérgio Costa, é doente ou o quê? E os cursos universitários de Cuba? E a produção de medicamentos a baixo custo e altíssima eficiência, contra doenças tropicais, como a dengue? Os tratamentos revolucionários (e a custos acessíveis) a doenças horríveis, como vitiligo, catarata e tantas outras?

Ilha do Caribe como outra qualquer? Como o Haiti? O sujeito parou para pensar na miséria que assola os países caribenhos, tirando isolados e pequenos centros de turismo? Este panaca já refletiu sobre o fato dos EUA ter invadido, patrocinado e bombarbeado diversos países centro-americanos, inclusive democracias com governantes eleitos?

Infelizmente, esse tipo de mentalidade tacanha é tão comum no Brasil, e a mídia corporativa ajuda a promover e a proliferar. É um comportamento, além disso, alienado em seu mais alto grau, pois o indivíduo não percebe que o fato de escrever para um jornal de grande circulação no Brasil, país mais poderoso da América do Sul, o capacita para tentar influir positivamente nos destinos da Ilha.

É impressionante que, diante da tragédia humanitária que assistimos no Haiti, da atitude humilhada, servil, dos centro-americanos (após serem massacrados pelos EUA nas décadas passadas), colunistas como esse Sérgio Costa e Clóvis Rossi estejam realmente assim tão preocupados com Cuba.

Falta de democracia em Cuba? Ah, não me façam rir! Por que não se preocupam com a Arábia Saudita, então, seus filisteus? Que, além de não ter democracia, é dominada por uma aristocracia corrupta que deixa a população na miséria e não dá um pingo de ajuda aos irmãos pobres árabes e africanos, o que ajuda a fomentar o terrorismo? Não esqueçam: Bin Laden é saudita e a maioria dos que fizeram o 11 de setembro também.

Por que se preocupar com Cuba, que todos sabem que viveu uma revolução popular, assim como viveu a França, na revolução francesa, e os EUA, na sua batalha de independência? Cuba não tem governantes democráticos? Tá bom, agora pergunte onde foram parar os governantes eleitos de Guatemala, El Salvador, Nicarágua, Chile, Brasil, que foram derrubados com auxílio dos EUA? Héin? Não percebem a armadilha?

Penso que, morrendo Fidel, Cuba poderá sim iniciar uma abertura democrática. Será saudável, e perigoso também. Entretanto, a nova geopolítica do continente, com Brasil, Argentina, Chile e Venezuela mais fortes economica e politicamente; as novas comunicações, que dificultam golpes de bastidores e campanhas de desinformação; são alguns dos fatores que contribuirão para que Cuba viva uma transição para a democracia sem experiências golpistas. Uma democracia mais justa, que servirá de exemplo a todos os países latino-americanos, que vivem uma farsa grotesca de democracia.

Prefiro, portanto, enxergar as coisas desse modo. Assim como Cuba tem servido de exemplo para a esquerda latina há décadas, com suas crianças estudando, se medicando e se alimentando bem (enquanto as nossas eram chacinadas na Candelária ou se prostituíam no litoral de Fortaleza), uma nova Cuba democrática e socialista poderá ser o espelho de justiça social que miramos e pelo qual lutamos.

Seja como for, acho que o mais importante é respeitar a vontade do povo cubano e não se meter com eles. Se eles quiserem, por exemplo, criar uma monarquia, que nós temos a ver com isso? Não temos já problemas suficientes por aqui? A América Latina tem muitos problemas, e o pior deles é, seguramente, a humilhação que a miséria impõe a milhões de pessoas. A miséria sim é que é a pior arma de destruição em massa. Por que não mata somente o corpo, mas também a alma, degradando o ser humano, afastando crianças e jovens do estado de humanidade, que prevê conhecimentos básicos sobre o mundo e a história. Cuba ousou enfrentar esses problemas, e nunca deixou de assumir as consequências de sua ousadia. Pagou um preço alto pela justiça social, mas foi um preço que os cubanos escolheram. Entre serem uma democracia miserável, humilhada, servil aos interesses imperialistas, com seu povo agonizando em hospitais decadentes e suas crianças e jovens se prostituindo, morrendo de fome, sem escola e sem apoio do Estado, optaram por ser uma ditadura socialista, orgulhosa, altiva e com todos seus jovens estudando em colégios de boa qualidade e sendo tratados em hospitais limpos e eficientes. O cubano de hoje e de amanhã nunca será o que teria sido se a ditadura de Fulgêncio Batista houvesse triunfado sobre a revolução.

Sergio Costa fala em "hotéis permissivos ao turismo sexual", das praias de Varadero. Peraí! Que espécie de ET é Costa? Até onde eu sei, turismo sexual (o normal, sem exploração infantil) existe na China, Japão, EUA, Suíça, Holanda, Brasil, em toda parte do mundo. São mulheres adultas que gostam de dinheiro mais do que de seus escrúpulos morais, sendo impossível evitar que elas se comportem desta maneira. Agora, é muito hipócrita falar assim. Além de socialista, queria o colunista da Folha que Cuba fosse "terra santa"?

Clóvis Rossi termina sua notinha dizendo: "No ocaso, Fidel e o castrismo não têm futuro. Só passado".

Pois eu digo o contrário: Em seu ocaso, Fidel já tem seu nome marcado na história como o mais importante revolucionário da América Latina. Daqui a cem anos, seu nome será lembrado e sua história continuará sendo estudada e analisada. Suas ações servirão de exemplo para alguns idealistas por muitos séculos, pelo menos enquanto houver miséria e opressão social no mundo. Enquanto isso pessoas como Clóvis Rossi serão esquecidas pela História, como servis e medíocres intelectuais de Terceiro Mundo, que venderam sua alma e o que restava de seus ideais em troca da "esmola" que os senhores dão a seus escravos.

Uso a palavra "esmola" deliberadamente, para ofender mesmo, como contra-ataque ao fato de Rossi se referir ao Bolsa Família como esmola, o que é um desrespeito, uma grosseria injustificada, que mereceria processo criminal, porque todos os países desenvolvidos têm programas de assistência social.

7 comentarios

Anônimo disse...

o engraçado é que os quem mais se preocupam com a miséria e a falta de liberdade por lá, não dão a mínima pra miséria e a falta de liberdade daqui

Anônimo disse...

Temos, se necessário, que estar prontos para ajudar o povo de Cuba a continuarem independentes.

Anônimo disse...

Miguel,
Precebo agora que i grande problema de nosso país não está na política, nem na miséria do nosso povo. Nosso maior entrave é dar ouvido a corja "inntelectual" desse país, que está representada pela trupe de Clóvis Rossi, Arnaldo Jabor, Reinaldo Azevedo, Diogo Mainardi, Ricardo Noblat, Caetano Veloso, entre outros, que parecem ser maiores que a República e o povo Brasileiro, vivendo exclusivamente em suas bolhas de "opinião", não participando da vida socila brasileira.

Precisamos expurgar essa classe de "cultos burros" do país e valorizar a formação de uma atitude, pois o que vejo também é que damos mais valor pro formador de opinião do que pro formador de atitude.

Abraços

Miguel do Rosário disse...

guilherme, creio que a solução não consiste em expurgar, mas em democratizar os meios de comunicação de massa, de forma a que suas opiniões sejam o que realmente são, opiniões sectárias, representantes de pequenos segmentos sociais. abraço, miguel

Anônimo disse...

Ué Miguél, não consegui entender o que você me disse. Não gosto desse ar de superior que os intelectuais brasileiros tem sobre o nosso povo. Parecem tão indiferentes.
Não tive a intenção de generalizar, pois adoro seu blog, é um dos únicos que eu consigo ler e perceber que existem seres humanos inteligentes e com muita esperança e amor no coração.

Miguel do Rosário disse...

desculpe guilherme, minha resposta ficou confusa, não quis falar das suas (vossas) opiniões, mas a da mídia corporativa, que representam um pequeno segmento social ou seja uma elite burra, retrógrada, racista e anti-nacionalista.

Anônimo disse...

Valeu Miguel...

Sugestão: gostaria que rolasse aqui um Debate a respeito da revista Veja, porta voz do atraso nacional

Postar um comentário