12 de março de 2007

Política de paisagens e catedrais




A medição clandestina das paisagens belas
se faz com réguas da inocência comprada
com o dinheiro obtido
no leilão dos sentimentos ambíguos

ou das catedrais, também conhecidas
em outros planetas
como erupções góticas
vulcões extintos
de onde jorrou cerveja
no tempo em que os monges
frequentavam tavernas
e amavam prostitutas

As políticas do império
que agulham o coração enegrecido
de fumo e desencanto
seriam suficientes para deter
a aurora líquida
que inunda a metrópole
com seu amor urgente?

Não há respostas
o sangue empoçado
é um sorriso falso
uma criança torturada
o vazio constrangido
do homem sóbrio
vinte mil pessoas
marchando na direção
de um violeta fanático

o espetáculo mórbido
de sombras em declínio
como o seio de uma jovem
no interior da minha boca
algo infinitamente frágil e louco
o calçadão enorme
de uma Copacabana endomingada
de sol, arrastões, liberdade

a violência almejada
catarse de um exílio
em fogo lento,
dez mil estrelas
ou montanhas
ou edificíos semi-destruídos
por guerras
amizades e casamentos
equivocados
olhares tortos
beijos de sal e filmes
assistidos pela metade

o mais duro, porém
é o muro, a escuridão
o anonimato das horas
o desgaste de tudo
mesmo do desespero
restando apenas
o fio de luz por baixo da porta
quando acordamos de ressaca
tristes e silenciosos
o fio de luz que anuncia
por seu brilho
exagerado, insano
que é mais
de meio-dia

1 comentário

Priscila disse...

Louco e bonito.

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