1 de março de 2007

Bate papo rápido e inconsequente sobre a literatura tupi

Como você enxerga sua geração?

O escritor, entendido como aquela figura do observador da rua, está morrendo. A maioria dos novos escritores que estão em foco dos cadernos literários é formada por pessoas mais preocupadas com a forma que o conteúdo. Os temas estão cada vez mais egoístas: giram em torno da própria literatura ou do umbigo dos autores. A única marca perceptível, se é que existe uma que identifique esta geração, é a aproximação com o neo-naturalismo e com o roteiro de cinema. Os grandes dramas humanos pescados no cotidiano das calçadas não têm mais importância. A literatura está desumanizada porque muitas vezes os escritores não saem de casa, ficam o dia todo sentados na frente do computador.

Declaração de Marcelo Moutinho (foto), escritor carioca que acabou de lançar o livro Somos todos iguais nesta noite. O link é este (linkei tb ao lado):
http://pentimento.zip.net/


Observação rápida. Eu não concordo com isto. Já pensei assim também, não penso mais. Mas acho que a sacação dele é pertinente. Quando refletimos que livros contemporâneos, de gente badalada e tudo pela crítica, não vendem mais que 200 exemplares no Brasil, de fato alguma coisa está errada, e não adianta culpar o público. O escritor de fato se isolou em si mesmo. Eu não concordo com a afirmação, porém, porque eu vejo nesta literatura auto-centrada do escritor contemporâneo, "umbiguista", uma etapa natural da evolução narrativa nacional, uma tentativa de começar do zero, de construir uma nova verossimilhança e uma nova coerência. Em outras palavras, falar sobre assuntos que realmente conhecemos, o único que realmente conhecemos, nós mesmos. E olhe lá.

De fato, é preciso analisar friamente os fracassos e sucessos do romance brasileiro nos
últimos anos. Em geral, há uma grande coleção de fracassos. Recentemente, temos alguns que estão conseguindo sair da ego-bolha, como o Marçal Aquino. Mas entre escrever mal fora da ego-bolha ou escrever bem dentro dela, é claro que o mais digno é continuar no quentinho, no conforto. Morando com a mãe, naturalmente. O único lugar seguro, fora a mamãe, é trabalhar pra Globo. Sei disso de cadeira, porque meu falecido pai trabalhou lá 15 anos, como jornalista, antes de montar negócio próprio e virar pobre.

O escritor como observador da rua, ou dos acontecimentos do país, estaria morrendo? Não acho. Acho que está dormindo. Ou de ressaca. Enquanto isso, verdade seja dita, o romance americano vem ganhando cada vez mais mercado no Brasil. Seis dos dez mais vendidos, nas estantes de ficção contemporânea, são norte-americanos. Eles falam da rua, eles contam histórias. De fato, urge acordar o escritor brasileiro, ou curar-lhe a ressaca com café forte sem açúcar.

A preocupação com a forma do escritor brasileiro realmente é uma coisa a se pensar. Muitas vezes é excessiva, cria mais obstáculos que pontes com o leitor. No entanto, é uma tradição latino-americana, é fruto de uma competição feroz. Como ser de outra forma no país que gerou Guimarães Rosa? Li outro dia uma entrevista do Marcio Souza - ele mesmo um romancista com uma contribuição importante para a literatura nacional - em que ele diz que o escritor brasileiro está "condenado à excelência". Isso num contexto de que não há tradição de escritor mediano no Brasil, nem na América Latina. Todos querem ser Faulkner.

No entanto, creio que esse debate sobre o que é e o que deveria ser a literatura brasileira está exaurido, ou quase, porque o tempo deixou claro, pelo menos para mim, que uma coisa é debater, outra é produzir. O debate ocupou muito o cenário nos anos 90 e início da década atual e o momento hoje é de produção. Produzir febrilmente. Alguns resultados bem interessantes estão aparecendo e o que foi produzido nos anos 90 hoje podemos contemplar com mais imparcialidade, separando o trigo do joio.

O papo sobre literatura, para quem gosta, é importante, mas como passa-tempo, entre uma cervejinha e outra. A p
rática é outros quinhentos. Deixemos a seriedade para os acadêmicos, que escrevem mal à pampa, diga-se de passagem, e não tem tido culhão, ou talento, de produzir crítica literária consequente. Como diria nosso grande filósofo, Abilio Diniz, "vamo que vamo!"

5 comentarios

Anônimo disse...

miguel,
me lembrei de um texto seu, "retrado do escritor quando jovem", alguma coisa assim. que você fala justamente dos novos escritores. é um texto legal, não concordo com tudo nele, mas é bem lúcido. trás de volta aí, pra quem não leu, ler.
abraço.

Miguel do Rosário disse...

oi alvarez,

o texto esta no link abaixo. Eh um texto que eu nao escreveria de novo. Nao concordo mais com o que eu digo ali. Mas, enfim, conforme o pedido, eis o cujo:


http://www.novae.inf.br/pensadores/jovem_escritor.htm

Marcelo Moutinho disse...

Miguel, suas observações são pertinentes, claro. Discordo que seja uma fase, acho mesmo que a literatura virou algo tão insignificante do ponto de vista do público em geral que o perigo é que os escritores de prosa, assim como os de poesia claramente o fizeram, fechem-se em si mesmos, escrevam apenas para um grupelho, que se lê e se julga mais importante do que é. Este é o caminho que vejo sendo traçado - e lamento muito. Evidentemente, não estou generalizando. Na resposta ao entrevistador, não havia espaço suficiente para me aprofundar ou analisar exceções. Vamos ao chope!

Miguel do Rosário disse...

falou marcelo, quando eu voltar eu entro em contato pro chop. estou aqui tirando onda de brasileiro na frança. mas ainda vou demorar um pouco por aqui. abraço!

Anônimo disse...

Ficou ótimo o blog.

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