3 de setembro de 2007

Tardes do latim vulgar (uma crônica desconexa)

(Kandinsky)



Tenho uma relação difícil com a hora vespertina. A realidade se torna mais dura, mais direta, à tarde. Talvez seja a luz. Branca, séria, tensa. Consequentemente invento fugas. Ler crônicas do Machado de Assis, por exemplo, ou Diana Caçadora, da Márcia Denser.

Ainda era cedo para ir ao banco, onde eu me encontraria com minha mãe e meu irmão para assinarmos um documento. Então decidi ver como ficara a Biblioteca Nacional depois da reforma.

Continua honesta, simples, e as crônicas do Machadão são sempre boas. Por mais de quarenta anos, Machado colaborou com diversos jornais fluminenses. Com leveza, ironia e inocência Machado fala de tudo e todos sem nunca ofender ninguém - o que não é necessariamente uma virtude, mas com certeza uma forma de elegância.

Depois li algumas páginas dos contos da Denser. Os textos da Denser são ácidos, ágeis, imprevisíveis. Ao contrário do Machadão, nunca são inocentes nem buscam suavidade. Por outro lado, talvez sejam inocentes, mas de uma inocência desesperada, uma inocência que luta para não se transformar em desencanto, em cansaço, em "sabedoria".


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A verdade é que não me identifico com os seres humanos. Identifico-me muito mais com os cachorros, principalmente os vira-latas, que são mais inteligentes.

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Sentindo-me assim, naturalmente, não tenho ganas de abordar as questões políticas. Angústia metafísica é foda. Consome a gente por dentro. A tragédia é que eu não consigo estancar esse maldito processo de "amadurecimento". Que não é amadurecimento porra nenhuma. No meu caso, é engessamento da liberdade psíquica. Mas não quero complicar as coisas.

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O erotismo do Bataille é insuperável, e o latim deveria ser reincorporado à educação básica obrigatória, afinal asinus asinum fricat. O burro coça outro burro. Os bobos se amam e trocam elogios.

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Contaram-me que o Alexei Bueno escreveu um artigo-resposta à última crônica do Arnaldo Jabor, que havia detonado Fernando Pessoa em prol do João Cabral de Melo Neto. Estou caçando esse texto - quero acompanhar essa briga - adoro polêmicas literárias.

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Abaixo os links de algumas resenhas de minha autoria, publicadas em sites de literatura. Para organizar sob o item Marketing Myself ou coisa parecida.

No Portal Literal foram 3 resenhas
Cão sem Dono
Humanismo fora-da-lei de Márcia Denser
Cineasta mexicano adapta Rubem Fonseca

No Verdes Trigos
Resenha de Ossaturas, de Jeová Santana

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