25 de setembro de 2007

Tropa de elite: a polêmica continua

O Wagner Moura assina artigo no Segundo Caderno do Globo de hoje defendendo Tropa de Elite. Muito bom o artigo do Moura. E o João Paulo Cuenca entra na onda de chamar o filme de reacionário, em sua coluna no Magazine, o encarte para adolescentes do jornal O Globo.

Tô sem tempo no momento, escrevendo bem rápido, mas quero dizer uma coisa: se o filme gerou tanta polêmica é porque é bom. Filme bom gera polêmica, todo mundo fala dele. Filme ruim, gera desprezo e cai na indiferença geral do público. Outra: ser chamado de reacionário não é necessariamente um xingamento, não em caso de arte. Céline e Dostoiévski já foram chamados de reacionários. Se o filme fosse ruim, chamavam-no de ruim, não de reacionário.

A consciência pesou? Não acho que o filme bote a culpa da violência urbana nos maconheirinhos da puc. Eles é que estão vestindo a carapuça. O Rio de Janeiro inteiro fuma maconha, a galera do flamengo, vasco, botafogo, fluminense. A UFRJ, a UERJ, o Circo Voador, a turma da Ilha do Governador, todo mundo fuma um baseado. Apure o olfato e sinta a marola vindo de toda parte. Sabemos também que é a cocaína que move a maior parte do dinheiro do tráfico. Mas o diretor escolheu mostrar a PUC, escolheu a maconha, e tem todo o direito de fazer o que quiser. Se mostrasse uma turma de Ramos torrando um na beira do Piscinão, ninguém iria chamar o filme de reacionário.

Hum, reacionário... Essa palavra, esse conceito, correndo livre leve solto pelas páginas do jornal O Globo, onde reina a histeria opusdeiana, me soa um tanto incoerente... Não seria melhor sermos mais humildes e, em vez de detonarmos um dos filmes mais populares dos últimos anos, nos perguntarmos o que é exatamente "reacionarismo"? Sob que perspectiva, precisamente, esse filme é reacionário?

Ele pode ter seus deficiências, inclusive morais (eu disse isso?), mas daí a chamar de reacionário é um exagero. Chamar de o mais reacionário do cinema brasileiro, então, é uma besteira. Acho que é um filme muito bom e que tem possibilidade de causar impacto parecido ao de Cidade de Deus, também bastante discriminado por aqui mas que trouxe visibilidade e respeito para o cinema brasileiro em todo mundo.

Não é nenhum escriba peruano radicado nos EUA ou Espanha que vai me fazer mudar de idéia. O tal Daniel Alarcón disse que seu livro (cujo tema é violência) fica parecendo um poema de amor diante de Tropa de Elite. Bem, prezado Alarcón, a violência é SEMPRE pior na realidade e talvez o seu poema de amor seja mais interessante que a história do BOPE. Mas o problema da segurança pública no Rio de Janeiro não será solucionado com poemas românticos.

A tortura, a corrupção, os esquadrões da morte, acontecem em escala MUITO maiores do que mostra o filme, que mostrou apenas a pontinha do iceberg. O buraco é bem mais embaixo.

6 comentarios

Anônimo disse...

Reacionário [De reação + -ário, seg. o padrão erudito.]
Adj.
1. Relativo à, ou próprio da reação (5 e 6).
2. Que é sectário dela.
3. Aferrado à autoridade constituída; contrário à liberdade; tirano, despótico.

Miguel do Rosário disse...

copiar o dicionário não é exatamente discutir um conceito.

Anônimo disse...

Chegamos num ponto onde você pega um jornal ou revista pra ler e não da pra levar nada do que tem ali dentro a sério.
Daí eu parei mesmo de dar importância a notícias e manchetes.
Me alienei. Se é bom ou ruim, não sei. Mas estou legal assim.

Projeto Miolo Mole disse...

falou e disse, miguel.

Anônimo disse...

Tropa de Elite não é um filme violento, apenas retrata a realidade carioca, como, de resto, toda a realidade brasileira.

Sem querer me arrogar em crítico de cinema, penso que o autor da obra pretendeu mostrar à sociedade que o tráfico de droga existe, porque é alimentada pelo usuário.

E quem é esse usuário?A classe de maior poder aquisitivo, representada na obra por estudantes universitários da classe média alta, filhinhos-de-papai residentes em bairros luxuosos do Rio de Janeiro.

O filme não é uma mera ficção. Ele retrata uma realidade inquestinável: quem usa droga alimenta o tráfico, que alimenta a violência, que alimenta a corrupção, que degenera a sociedade.

Haemocytometer disse...

... por outro lado, se descriminalizassem o uso de drogas, quem vive do crime iria se especializar em outra área. Os sequestros-relâmpago, por exemplo.

Quem consome drogas só alimenta a violência porque a lei gerou a possibilidade dessa violência, 'tutelando' exageradamente o cidadão.

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