7 de dezembro de 2007

O Eduardo tem razão

(ainda sobre o debate dos últimos posts)

Acabei gerando um tolo desgaste de energia nesse debate. Preciso dar um jeito de aprender a lidar com meu egoísmo. Sou tão viciado em escrever que, quando fico sem assunto, começo a quebrar louças na casa. Volto à cerveja. Anyway, o Eduardo tem absoluta razão. Ele está fazendo o máximo dentro das suas possibilidades. Bobagem e arrogância minha ficar arrotando sugestões ornamentadas de poemas de Dylan Thomas. Foi mal aí, Edu e galera do MSM.



Um poema para relaxar:


Não sou eu quem descrevo. Eu sou a tela
E oculta mão colora alguém em mim.
Pus a alma no nexo de perdê-la
E o meu princípio floresceu em Fim.

Que importa o tédio que dentro de mim gela,
E o leve Outono, e as galas, e o marfim,
E a congruência da alma que se vela
Com os sonhados pálidos de cetim?

Disperso… E a hora como um leque fecha-se…
Minha alma é um arco tendo ao fundo o mar…
O tédio? A mágoa? A vida? O sonho? Deixa-se…

E, abrindo as asas sobre Renovar,
A erma sombra do voo começado
Pestaneja no campo abandonado…

Fernando Pessoa

1 comentário

O Anão Corcunda disse...

Opa!

Bom, fiquei uns dias sem acessar os dois blogs e, agora, madruga de domingo, tomo conhecimento do debate e leio tudo de uma vez!

Não tem como ficar meio desnorteado, mas tem coisas que já penso há muito tempo e que (parece) começam a ficar um pouco mais claras.

Nunca me empolgou muito essa idéia de organizar uma ong dos "sem mídia". Sempre me pareceu meio sem sentido: afinal, se agora temos essa ferramenta dos blogs, ou seja, se agora, enfim, temos uma mídia barata e fácil de manusear, por que nos declararmos "sem mídia"? "Sem mídia" éramos quando gastávamos uma boa grana para fazer jornaizinhos mequetrefes que tinham efeito ralo (com trocadilho, pois o ralo era o destino da maioria dos exemplares).

Agora é diferente: estamos conseguindo escrever, publicar, chegar aos olhos e ouvidos de outras pessoas, formando um público efetivo de leitores. Ainda não temos voz efetiva em rádio, televisão e mídia impressa, que ainda são muito importantes, apesar de já terem se enfraquecido. Mas, vejamos bem: comparado a dez anos atrás, ou mais, se preferirmos, veremos que esses setores também têm se diversificado, ainda que muito aquém de nossas exigências de qualidade e quantidade. Temos uma Carta Capital na mídia impressa. No rádio, uma BandNews, que dá banhos na CBN. Na TV, a Record se fortaleceu; temos RecordNews e BandNews que, por piores que ainda sejam, fazem saudavelmente balançar o monopólio global. Ainda é pouco? É. Mas se pensarmos que a força da inércia que move esse setor, veremos que não é tão pouco assim. As mudanças tecnológicas apontadas pelo Miguel tendem a remexer ainda mais esses alicerces. Que bom.

Não dá para ter dúvida disso tudo, e parece que todos concordamos com isso. Temos noção de que nossos alcances se ampliaram muito de uns anos para cá. Mas, irrequietos que somos, queremos fazer mais, ir além. E o Eduardo teve a idéia da ONG.

Faz algum tempo que coloquei no blog da Cidadania, não sei se antes ou depois do Miguel ter escrito as sugestões para o MSM, um comentário bem extenso, sugerindo que o Eduardo mudasse o blog da Folha para uma hospedagem que privilegiasse seus textos, e potencializasse sua leitura. Até agora, não mudou o formato antigo, embora o Eduardo sinalize que mudanças virão.

Os textos: esse é o ponto forte do trabalho de quem escreve. Esse é o lugar onde o investimento deve ser mais pesado. Mudar o formato do suporte de mídia para fortalecer os textos sempre me pareceu uma medida mais urgente que qualquer outra. E, nesse sentido, criar uma ONG, com todos os requisitos que uma ONG pressupõe, tudo isso cai para o segundo plano, juntamente com as manifestações de rua.

Acho que o Miguel nunca desaprovou as manifestações de rua e a criação da ONG, em momento nenhum eu interpretei sua crítica desta forma. Acho que, assim como eu, ele acha que tudo isso é SECUNDÁRIO em relação à nossa tarefa mais premente: ESCREVER, e cada vez melhor. ONG e manifestação de rua com megafone? Ótimo, bacana. Mas isso não pode superar em importância o trabalho da escrita.

Há um perigo muito grande em institucionalizar muito nossas construções. Se ficamos angustiados com seus efeitos, acho que o melhor a fazer é potencializar ainda mais essas construções. Se não o fizermos, corremos o grande risco de burocratizar nossa força criativa, e aí ela deixa de ser criativa e passa, automaticamente, para um lado conservador. Eu interpreto a criação da ONG um pouco por esse lado. Apóio o MSM em tudo que fez e pretende fazer, mas sinto o risco de ver nossa criatividade, em pouco tempo, burocratizada, inerte, inoperante.

O que fez do Óleo do Diabo e do Blog da Cidadania sites tão visitados, lidos, comentados, propagados? A força dos seus textos. A emoção utilizada para transmitir análises racionais. Os textos são frutos do trabalho da razão, mas são escritos de forma vigorosa, apaixonada, emotiva, transparente, poética - e são muito representativos, muitos dos leitores se identificam com eles e/ou acham neles respostas para suas perguntas. Se todo muito soubesse de antemão o que vocês escrevem, ninguém leria os sites de vocês. Essa sensibilidade de analisar e escrever com mais agilidade e fluência - é isso que nos move.

Assim como Miguel, também não tenho mais o mínimo tesão em participar de assembléias, ongs e passeatas. Já participei de muitas nessa vida e 95% delas se demonstrou muito broxante - e não é de potência que estamos falando?

Não podemos esquecer que Rio e São Paulo, cidades tão grandes que são, tem passeatas todos os dias. São diversas as classes e os subgrupamentos sociais que se reunem e, na angústia de acharem que TÊM QUE APRESENTAR resultados logo, resolvem fazer passeatas, ongs, etcs. No mundo dos movimentos sociais, isso é um lugar comum mais que manjado. É claro que muitas dessas ações são pertinentes e algumas, motivadas por situações de desespero, são absolutamente necessárias. Mas a grande maioria é inócua e pra inglês ver. Ou americano ver, tá mais na moda. Quantas vezes neguinho já não se juntou para tacar ovo e tomate no consulado dos EUA no Rio? Tá certo que os americanos merecem, mas isso não soa meio ridículo, meio patético, até mesmo meio covarde? Porque aquela galera nunca se reuniu para fazer algo mais consistente que isso? Existe muita gente que taca ovo justamente para aliviar sua própria culpa e se poupar do trabalho que é mais valioso e importante - e transformador.

Tem um sentimento que o Miguel expressou que eu também senti. Em determinado momento, por ser leitor tão assíduo do Eduardo e, acompanhando a criação do MSM, me senti impelido a participar, fiquei cobrando de mim mesmo a adesão, ir para São Paulo, fazer tudo conforme o script, etc. e tal. Só que eu, pela minha própria experiência de vida, não tinha o mínimo saco para fazer esse tipo de coisa. Demorou para eu perceber isso, até que o Eduardo começou a fazer algumas cobranças em seu blog, que me soaram como: "ou você adere totalmente ao movimento, ou você é contra ele". Claro que, no calor da criação de algo que a gente considera importante, tendemos a alguns exageros, sobrevalorizações, mas me espantou a quantidade de investimento de energia na criação de uma ONG. E me espantou em todos os sentidos: depois de um tempo acompanhando o MSM, já tem algumas semanas que não entro no blog do Eduardo, por achar que esse assunto de MSM já rendeu muito mais do que devia, já tava ficando chato. Só voltei ao blog da Cidadania hoje, por via do blog do Miguel, do qual virei "assinante" (que chique!) de uns tempos para cá.

E, já terminando (ufa!), concordo quando o Miguel rejeita a insinuação de "fogo amigo", que foi uma denominação muito pejorativa de sua crítica.

Já passei um bom tempo de minha vida em reuniões com gente de ONG, tempo que foi suficiente para que eu desmistificasse o valor desse tipo de instituição. Não que novas ONGs não possam contribuir para nossa democria. Não que muitas tenham seu valor, mas se a maioria tivesse o valor que acha que tem, estaríamos numa maravilha de mundo. Acho que a experiência do Miguel com mídia alternativa também, pelo que ele falou, também passa por essa desmistificação. E, por termos essa experiência, e talvez por lidarmos um pouco mais com trabalhos artísticos, somos muito desconfiados de todo movimento que tende a "organizar" nossas forças, ainda mais em momentos em que elas, apesar de meio desordenadas, parecem estar tão cheias de vida.

Pois, como diria Guimarães Rosa, viver é... ah, os senhores sabem.

Deixarei este comentário no blog de ambos. Desculpem a falta de brevidade e os exageros de minhas interpretações. Devo uma rodada de chopp a vocês.

Um grande abraço.

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