12 de agosto de 2009

Os EUA estão de volta aos anos 30?


Por João Villaverde

Depois dos tempos neoliberais dos anos 80, 90 e 00, a explosão da enorme crise financeira nos Estados Unidos, no ano passado, fez ressurgir um modelo há tempos dado como morto: o keynesianismo. Isso é o que dizem alguns economistas e analistas expoentes do cenário internacional, certo? Quer dizer, os keynesianos estão eufóricos com o "retorno". Os liberais (ou clássicos) estão enraivecidos com o que chamam de "retorno do keynesianismo".

Ou seja, está todo mundo falando em keynesianismo, desde, pelo menos, os acontecimentos de setembro/outubro do ano passado.

Vamos pensar um pouco, então.

Segundo a teoria de John Maynard Keynes, que virou papa econômico entre os anos 30 e 60 do século XX, o Estado deve participar ativamente da economia. Ou seja, não deve apenas regular mercados, mas atuar como agente, seja investindo em obras públicas, contratando funcionários, aumentando gastos, etc.

Foi com as teorias de Keynes que os EUA, sob a presidência de Franklin Delano Roosevelt (1933-1945) sairam da mais grave crise da história do capitalismo: a Grande Depressão que se seguiu ao crash de 1929. Depois, a partir do sistema desenhado pelo acordo de Bretton Woods de 1944, os ideais keynesianos viraram consenso pelo mundo ocidental. O Estado de Bem-Estar Social europeu é resultado direto deste consenso.

Importante lembrar que o contra-peso ideológico representado pela União Soviética, com Estado centralizador e soberano sobre a sociedade e o mercado, exercia grande força econômica em muitos pensadores ao longo das décadas de 30 e 60, mais ou menos.

Keynes gostava de dizer (ou seria Roosevelt? não lembro com certeza) que suas ideias ambicionavam salvar o capitalismo dele mesmo, isto é, dar ao sistema uma segurança que a forma liberal (ou neoliberal) era incapaz de assegurar.

Por que então os analistas -- políticos e econômicos -- dizem que os EUA de Obama são keynesianos?

O déficit fiscal americano saltou, entre o primeiro semestre de 2008 e o primeiro semestre de 2009, de US$ 285,85 bilhões para US$ 1,086 trilhões. Estão computados aí, os gastos promovidos pelo governo americano para salvar o país de uma Depressão semelhante a que ocorreu nos anos 30. Obama, assim que assumiu, já saiu anunciando pacote de US$ 800 bilhões para "salvar" a economia -- acabou sendo aprovado em US$ 787 bilhões pelo Congresso. Pouco antes, ainda sob Bush, em outubro/novembro de 2008, o secretário do Tesouro Henry Paulson lançara pacote semelhante, da ordem de US$ 700 bilhões em gastos federais.

A diferença é que as centenas de bilhões de dólares gastos pelo governo americano foram, em sua maior parte, transferidos para os bancos (comerciais e de investimentos) que estavam na beira da falência. Transferência direta de dinheiro, além de títulos repassados e garantia financeira. Tudo para manter o sistema financeiro seguro.

Existem também as enormes quantias repassadas às indústrias automobilísticas -- GM, Ford e Chrysler -- para que estas não falissem.

Há mais gastos em obras federais? Certamente. Mas eles não são tão vultosos assim e não se comparam -- nem de longe! -- com o que Roosevelt levou à cabo nos anos 30.

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Imagem tirada daqui.

3 comentarios

Unknown disse...

Miguel,
A crise nos EUA apenas parou de piorar, o governo e o FED focaram na crise de liquidez, que rapidamente evoluiu para crise de crédito, que trouxe a recessão, e por fim a crise bancária, quebra dos bancos, para evitar essa última, Obama gastou muito "combustível", quase todo o "tanque" e agora podemos dizer que ele esta na "reserva", se bobear vai ficar "à pé", no meio do caminho, e na "chuva", para piorar, tomara que não, e para o bem geral, pode acreditar, se fracassar a fatura será de todos nós, querendo ou não.

Roberto Ilia disse...

Prezado Miguel,

Leiam no blog Terra Goyazes, o excelente post: Blogosfera violentou o esgoto do PIG!

Roberto

Anônimo disse...

Esse texto do Azenha é excelente e deve ser divulgado em toda a blogosfera. Vamos nos armar contra o que vem por aí:

Estudem os golpes midiáticos. Eles virão em 2010?
Atualizado em 23 de agosto de 2009 às 15:18 | Publicado em 23 de agosto de 2009 às 14:07

por Luiz Carlos Azenha

De original o Brasil só inventou a jabuticaba. O resto quase tudo vem de fora. Especialmente as grandes idéias dos marqueteiros políticos. A inspiração deles tem origem clara: os Estados Unidos.

Em quarenta anos de profissão, nunca vi a mídia tão partidarizada. Jamais. Jamais testemunhei um fenômeno como o de Lina Vieira: a mídia martela uma tese e simplesmente descarta todas as outras que possam contradizer aquela tese. Uma tese bancada por Agripino Maia. Uma tese que tem o objetivo de carimbar Dilma Rousseff como "mentirosa". Que faz parte da campanha para demonizar a candidata do governo. Que, em minha opinião, obedece a uma campanha milimetricamente traçada por marqueteiros de José Serra e executada por prespostos dos Civita, Marinho, Frias e Mesquita.

http://www.viomundo.com.br/opiniao/estudem-os-golpes-midiaticos-eles-virao-em-2010/

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