26 de dezembro de 2010

A oposição e o quarto mandato

Por Paulo Moreira Leite, na Época (via @stanleyburburinho).

A oposição começou mal a enfrentar o governo Dilma Rousseff — que sequer
tomou posse, aliás.

A atual idéia fixa da oposição é o retorno de Lula em 2014. O presidente admitiu essa hipótese de forma bastante vaga numa entrevista mas foi o suficiente para que comentaristas e porta-vozes da oposição acendessem uma luz vermelha, assumindo o tom de quem faz uma denúncia grave.

Essa postura é preocupante — do ponto de vista dos brasileiros que não gostam do PT, não votaram em Dilma nem querem a volta de Lula ao Planalto. É mais reveladora das fraquezas da oposição do que de excessivos apetites da situação.

Considerando que a lei autoriza que um presidente só dispute uma reeleição, mas nada diz sobre uma nova tentativa quatro anos mais tarde, não se compreende tamanho alvoroço em torno dessa possibilidade. Estamos falando de uma hipótese legal, que não pode ser encarada como uma espécie de ameaça a democracia.

O simples fato de Lula cogitar um eventual retorno à presidencia — coisa que nenhum outro presidente vivo poderia sequer sonhar em fazer — já é uma advertência para as dificuldades futuras dos oposicionistas. Ao lembrar essa hipótese de forma tão veemente, eles já demonstram o pouco apreço por seus possíveis candidatos, concorda?

A questão é política, porém.

Todos consideram a alternancia de partidos no poder como uma prática saudável das democracias mas ela não pode, obviamente, sobrepor-se a vontade popular. Quando o eleitorado manifesta, com toda clareza, sua vontade de manter um determinado partido no governo — ou enxotá-lo para casa na primeira oportunidade — a única atitute aceitável é respeitar essa decisão. Quem não foi vitorioso, tem a chance de preparar-se melhor para uma nova oportunidade no pleito seguinte.

A democracia americana é bastante rica neste aspecto. Entre 1933 e 1969, isto é, durante 36 anos, o Partido Democrática emplacou todos os presidentes dos Estados Unidos, com uma única excessão, Dwight Eisenhower, que governou o país por dois mandatos, entre 1953 e 1961. A conta é simples: entre 9 mandatos possíveis, os democratas ficaram com sete.

Como isso foi possível? A partir do New Deal de Franklin Roosevelt, que tirou o país da depressão e lançou as bases do Estado do bem-estar social nos Estados Unidos, formou-se uma maioria que unia trabalhadores e a classe média que os adversários republicanos tinham uma imensa dificuldade para combater. Os conservadores fizeram burradas memoráveis — como denunciar o New Deal como uma ponta-de-lança do comunismo — mas enfrentavam uma situação dificil, de qualquer modo, pois a população não parava de dar sinais de que estava satisfeita com os governantes. Os democratas ficaram com a Casa Branca por cinco eleições consecutivas.

Mesmo quando perdiam eleições presidenciais, venciam a disputa pelo Congresso, conservando boa parte de seu poder de influir nas decisões do país.

Ninguém deve nem precisa comparar o Brasil de Dilma Rousseff com os Estados Unidos daquele tempo. É outro país e outra conjuntura e muitas outras coisas.

Mas a oposição deveria acautelar-se. O simples gesto de levantar o fantasma do retorno de Lula lembra uma nova versão da estratégia adotada em 2007, quando o presidente iniciou o segundo mandato e a oposição começou o coro de que ele pretendia disputar um terceiro.

Pelo bem do país, e dela própria, a oposição faria um serviço melhor se procurasse encontrar razões para convencer o eleitorado a mudar de voto na próxima eleição. Concorda?

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