2 de julho de 2005

Delúbio desabafa em evento em Goiás

O secretário de Finanças do PT, Delúbio Soares, fez um desabafo emocionado em Goiânia, onde participou de um evento organizado pelo Sintego (Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Goiás), no Auditório Costa Lima, na Assembléia Legislativa. O discurso de Delúbio pode parecer exagerado, mas é natural de quem está sofrendo na pele um terrível processo de fritura junto à opinião pública. Além do mais, existe uma espécie de lógica no comportamento da oposição: não podendo, nem querendo no momento, atacar diretamente a figura de Lula, começa por minar-lhe as forças, derrubando seus maiores quadros. Um de seus maiores quadros políticos era Dirceu, e a prova disso era que dialogava com Condolezza Rice, Chávez e Fidel com igual respeito de ambos. E a maior figura financeira, no sentido de ser o mais competente arrecadador e gerenciador de recursos para campanhas eleitorais que o PT já teve, Delúbio Soares. E, venhamos e convenhamos, ser o gerente financeiro que levou o PT a derrotar os dinossauros da política nacional, PFL, PSDB e PMDB, com toda sua vasta experiência em abarrotar seus cofres com recursos de grandes empresas e ainda contando com o apoio da mídia e de investidores internacionais, é um mérito que não se pode lhe tirar.

Da mesma forma que todos ouviram, com atenção e respeito, as declarações de Roberto Jefferson, vale a pena escutar, com isenção, a versão de Delúbio para as acusações que vem sofrendo.

É importante destacar que a reação emocional, quase transtornada, de Delúbio, assim como qualquer dos dirigentes petistas acusados. Revelam a indignação quase descontrolada de quem se vê esmagado por uma condenação midiática que beira o linchamento público. A pessoa, se não for terrivelmente fria e cínica como Jefferson, se sente deprimida, amedrontada, confusa, sem saber, num primeiro momento, como se defender.

Entretanto, Delúbio e outros dirigentes, se realmente são inocentes, como eu venho apostando que sim, saberão dar a volta por cima e construir uma defesa sólida que se transformará num ataque poderoso às forças que tentaram lhe destruir.

Caso ele e Dirceu estejam, de fato, envolvidos no tal esquema do mensalão, que creio bem irreal, foi uma traição imperdoável ao governo Lula; pior: uma traição ao movimento progressista latino-americano que vem crescendo nos últimos anos.

Minha versão é que esse Valério sim, é que era uma espécie de richelieu da propaganda oficial, desde o início dos anos 90; e estava conseguindo passar, despercebido durante a primeira metade do governo Lula. Soube conquistar a amizade de Delúbio, Dirceu e outros. Como todo bom corrupto, soube ser amigo de todo mundo.

E aí, Jefferson, com seu papel de um novo Iago querendo destruir a reputação de Desdêmona (PT) junto a Otelo (a opinião pública), decidiu mostrar o lenço da esposa - Desdêmena - em mãos do amante. Foi tudo uma armação de Jefferson.

O ex-presidente do PTB, como decidiu entrar pra história, e disso tem o mérito, como o maior lançador de material fétido ao ventilador que já existiu, aproveitou a onda para denunciar diversos esquemas de corrupção de seu conhecimento, sobretudo os ligados a seu desafeto principal (não se sabe ainda porque): Válério. Provavelmente porque Valério não quis participar de esquema junto com ele, Jefferson, e trabalhava somente com o PP, PL, outros partidos, e talvez mesmo com quadros do PTB em alguns ministérios, mas de forma que o dinheiro não chegava nem ao partido nem nos bolsos de Jefferson.

O estranhamento entre PTB e PT, que tentaram uma aliança esdrúxula, e ingênua da parte do PT, também contribuiu para Jefferson estar germinando planos de vingança e "vira-casaca" desde o início do governo Lula.

A afirmação de Jefferson de que ele e o PTB continuam apoiando o governo Lula é uma piada. Eles apoiariam até o Sérgio Malandro, caso este fosse presidente. PTB revelou-se um partido fisiológico, desfibrado ideologicamente, vazio moralmente, doente filosoficamente, que vem apoiando todos os governos: Sarney, Collor, FHC. O PTB é um partido, agora se vê, que sempre se beneficiou da corrupção nas estatais. Com Lula no poder, tudo ficou mais difícil, e por isso optou explodir tudo ele mesmo, salvando-se politicamente, a ser explodido pela Polícia Federal, que já estava chegando bem perto de suas armações.

Jefferson é um exímio orador, convicente e sangue frio. Mas todo bom mentiroso assim o é. Ele mescla fatos verdadeiros, com detalhes que conhece por tê-los vivenciado, a uma penca de acusações falsas. A opinião pública, como aprendemos nos cursos de comunicação, tem a mentalidade de uma mocinha de treze anos. Acredita em tudo o que dizem os jornais. O valor da palavra escrita num país de analfabetos funcionais é sagrado.

Surge contra Lula o mesmo tipo de oposição golpista (embora disso o médio clero dos jornais, ou seja, colunistas e empregados em geral, não tenha ainda consciência, eles também iludidos) que cresceu contra Chávez.

Jornalistas, colunistas, apresentadores, todos assalariados, não resistem ao atiçamento que vem de cima. Nas redações, nos estúdios de TV, começa a haver uma atmosfera de agressivadade e hostilidade contra o governo Lula e os profissionais, pensando no próprio emprego, passam a usar a mesma linguagem.

E aí o discurso anti-Lula começa a virar, mais que uma posição crítica, uma linguagem. Quando os comediantes e cartunistas da Globo passam a desenvolver um tipo de humor construído sobre as teorias apresentadas por Jefferson, o ciclo está completo e a opinião da classe média já está formada. Quem resistirá a uma boa gargalhada diante de um quadro de Casseta & Planeta, ou uma charge do Chico? Para rir da piada, já se torna implícito acreditar exatamente nas versões apresentadas pelos grandes jornais.

Não, não acho que haja conspiração, nem que Casseta & Planeta ou o Caruso estejam envolvidos. Eles não têm culpa de nada, são artistas; seu material de trabalho é o inconsciente coletivo, real e imaginário. Se as denúncias fazem parte do imaginário, valem como matéria-prima para eles produzirem humor. No entanto, é sempre triste ver artistas à serviço do poder, seja ele estatal ou privado. Quer dizer, não há demais em escrever ou desenhar para O Globo ou para qualquer outro jornal, o problema é quando você passa a fazer campanha política junto com eles.

Não é conspiração, mas por outro lado há sim, e isso é quase lógico. Desde o momento em que existe luta política, existe conspiração. Não existe luta política sem conspiração. Achar que a luta política se resolve apenas em campo aberto é desconher a realidade política, o caráter humano e a história brasileira (e mundial)O Brasil, como bom latino-americano, sempre foi um país de conspirações.

Existem, no país, algumas entidades que reúnem características extremamente perigosas para o governo Lula: Veja, Época, Globo, Estadão, Folha. Todos eles apresentam uma tradição editorial e ideológica muito distante do ideário original e moderno do PT. São de um conservadorismo radical, fanático, apesar de dignamente disfarçado às vezes por um profissionalismo jornalístico inegável. Mas quando entram em cena os fatos mais polêmicos, e expressivos simbólicamente para os debates ideológicos, Veja e Estadão chegam a ser pateticamente reacionários, utilizando estratégias caricatas para satanizar figuras como João Pedro Stédile e o MST de forma geral; e agora o Chávez.

A consolidadação das esquerdas latino-americanas, entre dirigentes nacionais de orientação ideológica progressista, anti-colonialista, como Lula, Chávez, Kirchnner, e outros que já chegaram ou estão por vir na América Latina, vem assustando a direita de todo continente. Cisneros, o magnata das comunicações venezuelano, deve ter alertado seus amigos pessoais das famílias Mesquita (Estadão) e Civita (Veja), sobre o perigo de permitir o crescimento de uma figura popular como Lula. No começo, eles são mansinhos (deve ter dito Cisneros sobre as novas lideranças populares, como Lula), mas depois, quando se sentem mais seguros no poder, revelam sua verdadeira face revolucionária.

O fato é que o Brasil está crescendo e tem gente que não está gostando. A luta de classes, desde a posse de Lula, mudou de padrões. As elites, até agora, mantiveram-se tranquilas, lucrando o que sempre lucraram. Mas parece que começam a se mover, discretamente, com álibis e razões que o poder econômico lhes confere. Afinal, não podemos esperar que Miriam Leitão, Ancélmo Góes, Merval Pereira, Teresa Cruvinel ou mesmo o Arnaldo Jabor, por mais que sejam competentes e íntegros, não esperemos que sejam eles que irão denunciar uma estratégia maquiavélica e desonesta de seus patrões para enfraquecer politicamente o governo Lula.

Por último, sem por isso ser o menos importante, muito pelo contrário, quero lembrar que, enquanto Jefferson monopoliza, com seu teatro, as atenções do Congresso Nacional, os deputados não estão votando o Estatuto do Desarmamento. Vale lembrar que Jefferson é um dos principais lobbistas da indústria de armas, já que foi uma grande indústria de armas a principal doadora de sua campanha e sendo ele um adversário importante do referido Estatuto. Caso o Estatuto não seja realizado este ano, esta será uma vitória de Jefferson.

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