1 de julho de 2005

Reflexões sobre o último depoimento de Jefferson na CPI

Vi ontem e hoje várias horas de Jefferson na CPI e acho que, desta vez, teremos uma leitura mais isenta sobre a crise política. Jefferson conseguiu, com apoio de sua inegável inteligência e sangue frio, junto à uma incrível capacidade de intimidação emocional e política, impor um grande respeito à maioria dos deputados federais. Mesmo o deputado do PT que quis imprecá-lo, recebeu um troco violento e bem articulado de Jefferson. Outro do PT, que quis trazer um pouco de equilíbrio a uma CPI que corre o risco de tornar-se apenas palanque para a oposição, fez uma intervenção mais equilibrada, apesar de igualmente emocionada, porque não quis atacar pessoalmente Jefferson.

Um deputado tucano, muito sensato, lembrou que quase todas as quadrilhas do mundo são desbaratadas por denúncias de algum membro. Está aí o grande ponto fraco dos bandidos: não são confiáveis nem para si próprios. A mesma deslealdade que mostram para com a lei e com a moral humanas, também revelarão, um dia ou outro, para com seus companheiros de "trabalho".

O deputado argumentou, portanto, de maneira elegante e discreta, que Jefferson, mesmo sendo bandido, merece o respeito por estar contribuindo para o fim de práticas políticas desonrosas no Congresso Nacional e que vinham ocorrendo há vinte anos (para não dizer desde a criação do Estado brasileiro). É culpado, não se exime de culpa - repetidamente confessou irregularidades de campanha e suas explicações sobre a relação que mantinha com diretores de estatais também é uma confissão de chantagem.

Aquela frase já enjoada, vinda da China, de que crise tem que ser transformada em oportunidade, continua valendo. Lula e o PT precisam entender que não basta desenvolver economicamente o país. Tem que mudar o país por dentro, pela alma.
Aliás, Lula até já tá começando a perceber isso. Essa crise política não é com Lula. É com o Congresso Nacional. É uma crise da opinião pública e das pessoas de bem deste país contra práticas que não aceitamos. Um deputado disse que não era bem contra o mal, tentando tranquilizar o desespero de alguns parlamentares da base governista aterrorizados que a CPI exploda a popularidade do presidente Lula, ao qual todos se agarram como a uma bóia de salvação. Concordo com ele que não é uma briga neste sentido. Por outro lado, é sim uma briga do bem contra o mal. No sentido de ser uma luta entre a ética e a corrupção, uma luta de fundo moral que é muito mais consequente historicamente do que qualquer número referente à exportação nacional, superávit ou juros.

O Congresso Nacional precisa tomar cuidado. A opinião pública brasileira é, às vezes, exageradamente crítica; outras vezes passiva, conforme aa manchetes. Chacina na Baixada? Ah, tudo bem, quem liga para um bando de pobre morrendo na periferia? Mas não é mais tão burra quanto antigamente. A própria internet quebrou um pouco o monopólio da informação. Aliás, o governo estará patrocinado uma verdadeira revolução se der continuidade, ou mesmo agilizar, seus projetos relacionados à popularização do computador e do uso de internet pelo país, começando pelos colégios públicos.

O brasileiro tem fome de informação. A informação é o conteúdo do qual a educação é a forma. Porque o ser humano educa-se a si próprio se tiver acesso à informação. A auto-educação é o que vem salvando o brasileiro. Não temos boas faculdades no país, mas temos olhos para ler e cabeça para pensar.

Agora, os intelectuais não devem argumentar usando a racionalidade da mídia, que é simplória. Assim faz a extrema-esquerda, que pega informações no Globo, na Folha e no Estadão, para criticar Lula. Aí não vale. Não foi assim que aprendemos com Noam Chomsky. Se eu quero criticar Lula, preciso pegar documentos do governo e do PT, porque aí saberemos que são isentos no sentido de "querer" deliberadamente criticar Lula.

Chomsky consegue destruir retoricamente todos os governos americanos usando reportagens do New York Times favoráveis ao governo e, sobretudo, relatórios governamentais e declarações da própria Casa Branca.

O povo brasileiro tem dado sinais de amadurecimento político expressivos e, inclusive, até surpreendentes para uma população ainda tão marginalizada da informação de qualidade. É hora dos intelectuais darem sua contribuição, fugindo ao sectarismo ideológico e produzindo novos raciocínios, resgatando história e, porque não, criando linguagens originais e revolucionárias que tragam, no seu íntimo filosófico, uma moral mais pura e mais moderna.

Termino meu artigo com um "Fora Papa", devido a seu estúpido e reacionário conservadorismo, que beira o desumano e o cruel, ao condenar o uso de camisinha em continentes com a África; e dando mais salva ao grande Bezerra da Silva, que faleceu, em avançada idade, este ano; e meus cumprimentos à seleção brasileira que soube mostrar que o brasileiro não quer uma revolução dos deprimidos, desencantados e tristes. Quer uma revolução do forte, do alegre, do riso franco e honesto na cara de quem não tem nada de podre a esconder.

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