7 de janeiro de 2010

Estudando a economia brasileira

Eu acho que todos devem tentar entender um pouco a economia brasileira. Estamos em vias de nos tornar uma importante potência econômica e os brasileiros podem trazer celeridade a esse processo se aplicarem um mínimo de inteligência e tempo a ele. Em caso contrário, a riqueza da nação continuará, como aconteceu nos últimos 500 anos, usurpada por meia dúzia de espertalhões. Li algumas análises sérias que falam da possibilidade do fundo nacional de petróleo atingir a marca de alguns trilhões de dólares. Eu falei TRILHÕES. Parece loucura, né. Mas é isso mesmo, porque esse tipo de fundo recebe dinheiro do petróleo, mas cresce por outras vias, através de investimentos e aplicações lucrativas. Não se esqueçam que o pré-sal não é apenas tirar petróleo do mar, mas também oferecer, mediante pagamento, a tecnologia de exploração para o resto do mundo. O Brasil irá ganhar bilhões de dólares explorando petróleo no pré-sal de todos os continentes.

Não é pela imprensa, todavia, que os brasileiros irão compreender a economia de seu país. Por razões que ainda fogem ao meu entendimento, a imprensa vem boicotando sistematicamente o acesso dos brasileiros à sua própria realidade. Até agora não nos informou corretamente sobre as perspectivas do pré-sal. Primeiro lançou descrédito, dizendo que se tratava de propaganda do governo. Depois passou a esnobá-lo. Quando Haroldo Lima citou um número que corria solto na boca de segmentos especializados, de que o pré-sal não teria apenas os 20 bilhões de barris estimados inicialmente, mas poderia chegar a mais de 80 bilhões de barris, chegando até a 200 bilhões se confirmada a existência de petróleo no pré-sal em outras partes da costa brasileira, os jornalistas quiseram crucificá-lo. Como é possível informar aos brasileiros sobre algo assim? Não pode! Os brasileiros não podem saber das possibilidades de riqueza em seu próprio território! Isso ameaça gravemente o complexo de vira-lata!

Até hoje, muita gente não acredita no pré-sal. Dizem que está muito lá no fundo e que será muito caro explorar. Outros esnobam dizendo que somente daqui a 15 ou 20 anos começará a jorrar quantidades substanciais de combustível. Até a Marina Silva, que vem se esforçando para mostrar que é de fato uma tremenda traíra, pronunciou a colossal estupidez de que o pré-sal fará diferença apenas daqui a 20 anos. Esquece-se, por estupidez ou má fé, que bilhões, quiçá trilhões de dólares entrarão na economia brasileira por conta da montagem da infra-estrutura necessária para receber o petróleo tirado do fundo do mar. Equipamentos, plataformas, navios, refinarias, mão-de-obra, tudo isso significa empregos e investimentos. E não só do governo federal e da Petrobrás. Muito dinheiro já está chegando via agentes internacionais interessados em morder uma lasquinha desta nova riqueza nacional.

Como eu ia falando, todos deveriam deixar de lado esse aristocratismo ibérico, efeminado (desculpe feministas, mas ainda não encontrei outro termo. Adoro as mulheres.), pedante, que todos nós temos, de só gostar de abstrações genéricas e poéticas da realidade. Esse aventureirismo atávico, quixotesco. Esse heroísmo ingênuo, que produz uma consciência política deformada, insípida, irritadiça e que tão facilmente manipulável por quem detêm o poder midiático.

Nós temos que botar a mão na massa sem intermediários. Nós mesmos. A internet possibilita que o cidadão acesse diretamente as fontes de informação. O Brasil tem sites oficiais extraordinariamente bem feitos e atualizados, melhores do que muitos do primeiro mundo. Sigam as minhas dicas e familiarizem-se com eles. Saibam mais sobre o Brasil e suas riquezas. Só assim os cidadãos brasileiros irão ganhar dinheiro de verdade, e só ganhando dinheiro poderemos combater os barões da mídia. Todas as grandes crises dos últimos 20 anos originaram-se na ignorância econômica dos cidadãos.

Então vamos lá. Citarei as principais fontes de informação disponíveis no Brasil, discorrendo sucintamente sobre cada um. Todos são gratuitos. Em geral demandam apenas um cadastro bem simples.

Sistema Alice
http://aliceweb.desenvolvimento.gov.br/

É o site alimentado pela Secretaria de Comércio Exterior (Secex), órgão subordinado ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic). Traz dados completos sobre que produtos o Brasil exporta ou importa, para onde, de onde, por país, bloco econômico, porto, estado, etc. É um dos mais simples do gênero, então vale a pena começar por este. Todos os sites estatísticos são mais ou menos parecidos. Depois que se entende o funcioamento de um, fica bem mais fácil entender o de qualquer outro. Atualização mensal, por volta do dia 10 de cada mês. Por exemplo, os dados de dezembro de 2009 deverão entrar no próximo dia 10 de janeiro.

IPEA Data
Tem séries históricas muito interessantes, além de atualizadas. Usei uma delas para fazer o gráfico ao final desse post. É o melhor para dados de macro-economia.

IBGE
http://ibge.gov.br
É talvez o melhor site do gênero no mundo, e isso não é ufanismo bobo. Traz tudo sobre a economia brasileira, em detalhes.


UN Comtrade
http://comtrade.un.org/db/

É o site estatístico da ONU. Ainda deixa muito a desejar. Nunca está satisfatoriamente atualizado. Mas é um site importante. Pode-se obter hoje, por exemplo, dados completos até 2007, sobre o comércio exterior mundial. Qual os maiores exportadores de petróleo? Qual os maiores exportadores mundiais de soja, de autopeças, etc.

Além disso, todos os governos do mundo criaram ou estão em vias de criar sites estatísticos, com dados de comércio exterior e economia doméstica.

*

Abaixo um gráfico que mostra o bom momento do salário mínimo no Brasil. Com base em dados do IPEA, traz a evolução do salário em termos reais e atualizados. Clique para ampliar.


6 comentarios

Vera Pereira disse...

Gente, essa curva do salário mínimo subindo vertiginosamente explica porque saímos da crise tão rápido, não?

Marcos Doniseti disse...

Miguel, um site muito bom, também, sobre a economia brasileira é o do Banco Central.

Aliás, fiz uma pesquisa hoje lá no site do BC e descobri o seguinte:

Taxa Média Anual de crescimento do PIB brasileiro:

1990/1994: 1,38% a.a.;
1995/1998: 2,5% a.a.;
1999/2002: 2,2% a.a.;
2003/2006: 3,7% a.a.;
2007/2008: 5,8% a.a.


É bom ressaltar a diferença entre os desempenhos dos governos de Collor e de Itamar. Nos três primeiros anos, 1990 a 1992, que corresponderam ao governo Collor, o Brasil acumulou um crescimento negativo de 3,8%. Assim, o PIB brasileiro encolheu neste período.

Já nos anos de 1993/1994, que correspondem ao governo Itamar, o PIB cresceu 4,9% em 1993 e mais 5,9% em 1994, acumulando um crescimento significativo de 11,1% nestes dois anos (o crescimento é cumulativo).

Portanto, o desempenho do governo Itamar Franco foi muito superior ao do governo Collor em termos de crescimento econômico.

Outras informações interessantes que se pode deduzir destes dados, é que no primeiro mandato de FHC a taxa média de crescimento do PIB caiu para 2,5% ao ano e no segundo mandato caiu ainda mais, para apenas 2,2% ao ano.

E olha que em 1993 o PIB brasileiro havia crescido 4,9% e em 1994 cresceu 5,9%. Somando os dois anos dá 11,1% de crescimento, como já comentei.

Assim, FHC recebeu um país em boas condições econômicas, ao contrário do que os tucanos dizem por aí.

Mas, nos dois últimos anos de governo FHC o Brasil cresceu apenas 4% (1,3% em 2001 e 2,7% em 2002). Assim, FHC recebeu de Itamar um país crescendo 11,1% em dois anos (1993/1994) e entregou para Lula um crescimento de apenas 4% em dois anos (2001/2002), o que dá uma média anual de apenas 2%, que é muito baixa, portanto.

Já no governo Lula, a taxa média de crescimento passou de 2,2% ao ano no segundo mandato de FHC para 3,7% ao ano no seu primeiro mandato (2003/2006). E no segundo governo de Lula, a taxa média subiu ainda mais, para 5,8% ao ano (2007/2008), o que corresponde a um crescimento de 11,5% nestes dois anos iniciais do segundo governo Lula.

Portanto, FHC pegou um país em forte crescimento (11,1% somando 1993/1994, o que dá uma média de 5,5% ao ano) e reduziu o mesmo para apenas 4% somando 2001/2002 (o que dá uma média de apenas 2% ao ano em seus dois últimos anos de governo).

Enquanto isso, Lula herdou um país crescendo pouco (4% somando 2001/2002; apenas 2% ao ano) e acelerou este crescimento já no seu primeiro mandato (para 3,7% ao ano) e, mais ainda, no segundo mandato, quando o PIB cresceu 11,5% somando 2007/2008 (o que dá uma média de 5,75% ao ano).

Está explicado porque Lula é muito melhor avaliado do que FHC...

Vejam a taxa de crescimento anual da economia brasileira entre 1990/2008:


1990: -4,3%;
1991: 1,0%;
1992: -0,5%;
1993: 4,9%;
1994: 5,9%;
1995: 4,2%;
1996: 2,2%;
1997: 3,4%;
1998: 0,0%;
1999: 0,3%;
2000: 4,3%;
2001: 1,3%:
2002: 2,7%;
2003: 1,1%;
2004: 5,7%;
2005: 3,2%;
2006: 4,0%;
2007: 6,1%;
2008: 5,1%.

Fonte: Banco Central.

http://guerrilheirodoentardecer.blogspot.com/2010/01/dados-do-banco-central-comprovam-que-o.html

Lívio Nakano M.D. disse...

Miguel,

Venho a algum tempo acompanhando seus artigos abertos no blog, interessado por conta da qualidade e relativo ineditismo das abordagens realizadas.

Voce nunca pensou em montar uma coluna para ser publicada por diferentes jornais, nos moldes do Nassif, Joelmir Betting e outros?

Thales disse...

Miguel, trairagem da Marina Silva?

Como assim, como que se dá a suposta trairagem da Marina?

Miguel do Rosário disse...

Thales, como é?

O Caetano chama o Lula de analfabeto e diz que vota nela, Marina, e ela nem para fazer um comentário crítico? Diz que agradece e ponto final? Até políticos da oposição criticam, falando que foi deselegância com o presidente da república, e ela, que foi ministra de Lula, que foi senadora pelo PT, que foi do PT por mais de 20 anos, não fala nada? Marina deve tudo ao PT. Foi eleita com o capital político (e financeiro também) do PT. Ganhou projeção como ministra do meio ambiente pelo PT. E agora deixa todo mundo falar que pode ser vice de Serra? É uma traíra.

Thales disse...

Miguel,

Agora compreendo sua colocação, e também concordo com ela, em partes. Afinal, a própria Marina, apesar de ter curso superior, não teve uma formação básica "tradicional"- não que isso valha coisa alguma.

Entretanto, será que o Lula, com todo a seu jogo de cintura político, não faria igual ou semelhante?

Tenho minhas dúvidas...

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