6 de agosto de 2010

Minha opinião sobre o debate

Acho que foi uma experiência importante para Dilma. Ela ficou nitidamente nervosa no início, mas isso é perfeitamente normal para alguém que enfrenta pela primeira vez uma situação. No segundo debate, creio que ela deverá se sair melhor e assim sucessivamente.

O Serra também foi bem, tirando o final bem patético e falso, onde falou que sua filha lhe disse que ele sorriu pouco. Ora, e nós com isso? Seu esforço para chorar, sobretudo, pareceu-me um tanto forçado. Mas no geral ele se colocou razoavelmente bem e não apelou para baixaria. Seu problema é falta de conteúdo. O governo FHC, do qual fez parte, foi uma droga (com exceção do Plano Real) e ele mesmo procurou afastar qualquer comparação, falando em olhar para o futuro, o que não soou nada convincente.

Em relação à Marina Silva, eu desenvolvi uma enorme implicância para com a moça. Acho uma chata, no pior sentido que se possa imaginar. Essa história de querer acabar com a dialética política no país e criar um grande consenso sobre tudo, me parece uma proposta irracional, apolítica e hipócrita. Mas não se pode negar que é uma mulher de muita classe, o que é importante para melhorar o nível da campanha.

A presença do Plínio de Arruda Sampaio temperou o debate com pitadas de irreverência. Gostei dele, apesar de não concordar com quase nada do que ele disse. A idéia de limitar a propriedade de terra no Brasil em mil hectares é uma tremenda besteira, porque embute o preconceito da esquerda urbana contra o agronegócio, que se tornou um palavrão, quando é hoje um dos maiores geradores de empregos no país e o campeão de nossas exportações. O mito de que fazendas de soja "empregam pouco" já caiu, porque se poucos tratores são necessários para dar conta do recado, há que se contratar operários para produzir esses tratores, visto que o Brasil se tornou grande produtor, e mesmo exportador, de máquinas agrícolas. Também ignora-se que a soja brasileira está alimentando bilhões de seres humanos, direta ou indiretamente (via ração para animais), e me entristece ver a ignorância generalizada das pessoas em relação à importância disso. Há uma tendência muito egoísta a ignorar a função social de uma atividade só porque ela acontece no exterior, como se um chinês fosse menos importante que um brasileiro. Se a soja brasileira ajudou a melhorar a qualidade da alimentação em toda Ásia, eu acho isso uma maravilhosa contribuição à humanidade.

Plínio também vacilou ao insistir na choradeira. Tudo bem reclamar um pouco, mas gastar boa parte do seu tempo em lamúrias me pareceu contraditório. O PSOL já tem pouco tempo de TV; se for usar esse pouco tempo reclamando da falta de pouco tempo, então terá zero tempo.

Voltando à Dilma, a gente nota que a "dama de ferro" não é tão de ferro assim. Dilma é um ser humano com várias fragilidades e provavelmente seu jeito rígido e severo é uma defesa. Mas apenas a experiência ensina.

Serra ganhou pontos com o lance das Apaes, porque ficou no ar sua grave acusação de que o governo persegue as entidades. O vacilo talvez seja mais da assessoria de Dilma, que não teve argúcia suficiente para detectar, na visita recente que Serra fez à Apae, a necessidade de mais informação sobre o tema.

De resto, vale notar que a audiência do debate promovido pela Band foi pequena, apenas 4 pontos no Ibope, contra 28 pontos para a Globo, que exibiu o jogo Internacional X São Paulo.

Abaixo as considerações finais de Dilma no debate (via Tijolaço):



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E reúno abaixo, um clipping da blogosfera com os comentários sobre o debate que me pareceram mais interessantes:

15 comentarios

marci disse...

Caro Miguel,confesso que sou um pouco preconceituosa com o agronegocio(nao radical),mas,essa historia de soja virar racao pra alimentar animais que servirao de alimento para pessoas,me parece contraditorio,haja vista o fato de ser necessario ter dinheiro pra comprar e a maior parte dos famintos,nao tem esse dinheiro.Alem do que os paises maiores consumidores sao os eua(nao é a toa que estao obeserrimos) e a UE.Me parece que seria mais sensato produzir alimentos que fossem diretamente para o "bucho" de quem tem fome,apesar de saber nao ser economicamente atraente.
Te falo isso,pq meu fundamento é empirico e gostaria de me aprofundar no assunto.Agradeço se vc me sugerir alguma referencia ou link,pra eu me aprofundar no assunto.
Abraço e agradeço

Miguel do Rosário disse...

Marci, o Brasil não exporta soja para os EUA, porque os EUA já produz sua propria soja. O Brasil exporta para China. Parte dele é consumida em forma industrializada, parte entra na composição de rações para galinhas, porcos, bovinos, e demais animais. Abraço.

Luis Henrique disse...

Eu gosto da idéia de se limitar o tamanho máximo das propriedades agrícolas - e de estabelecer um tamanho mínimo também - mas a coronelada solta os jagunço se tocar no assunto no Brasil.

O Jango foi derrubado por menos.

Anônimo disse...

O governo FHC, do qual fez parte, foi uma droga (com exceção do Plano Real) ?

O Brasil só começou depois do Plano Real, nada do que temos hoje existiria sem ele.

marci disse...

Miguel mas esses bois daqui que sao exportados pros eua,nao comem racao de soja,alem do pastto?(é uma pergunta mesmo;eu nao sei)O problema da soja, me parece,ademas de ocupar grandes extensoes de terra,usar os venenos da monsanto,vai ser industrializado(oleos,creme vegetal,etc)e nao chega aos famintos!É certo que vira commodities e esse talvez seja o principal argumento!!

Miguel do Rosário disse...

O Brasil não exporta boi para os EUA, e sim carne congelada. Quanto aos venenos da Monsanto, é um dos agrotóxicos usados. Tem outras marcas. Mas aí é um outro problema.

A soja chega aos famintos sim. Se alguém comprar um frango com dinheiro do bolsa família, estará comprando um frango cuja ração tinha soja.

JEAN CARLOS disse...

Sem delongas, seu comentário sobre o debate foi o melhor que li até o momento.

Luis Henrique disse...

Tem também a venda casada das sementes transgênicas com o agrotóxico. Lembram do Roundup?

IV Avatar disse...

Gostei de ver que todos os presentes ao debate sairam da ninhada de Lula, exceto o candidato da direita, Serra
de forma que o brasil pode se orgulhar deste seu filho

Fernando Miller disse...

só escrevendo pra dar os parabéns pelo blog. Leio sempre, gosto muito, mas acho que nunca tinha deixado qualquer comentário.
Parabéns, Miguel, pelo seu ótimo trabalho.

Miguel Oliveira disse...

Correção: O Plano Real foi lançado pelo Itamar Franco, e não pelo governo FHC, ou seja, o governo FHC foi uma droga completa.

Anônimo disse...

Para Miguel Oliveira.

No governo do Itamar Franco, quem era o Ministro da Fazenda que implantou o Plano Real?

Você pode até não gostar, mas essa vai ter que engolir.

SERRA PRESIDENTE!!!

IV Avatar disse...

Vou mais volto, se o spin deus quiser

http://www.josecarloslima3.blogspot.com

Araquem disse...

'O mito de que fazendas de soja "empregam pouco" já caiu...'

Certíssimo. Já se descobriu que onde há trabalho escravo é no agronegócio da cana.
Trabalho infantil só nas carvoarias que abrem a floresta para o agronegócio do boi.
O agronegócio da soja 'apenas' destrói a fertilidade da terra e a diversidade de insetos.
Verdadeiros santos...

Araquem disse...

"A idéia de limitar a propriedade de terra no Brasil em mil hectares é uma tremenda besteira"

O inciso XXIII do Artigo 5. da Constituição dispõe que "a propriedade atenderá a sua função social". Segundo o artigo 186, a função social define o conteúdo do direito de propriedade, e é constituída por:

- um elemento econômico (aproveitamento racional e adequado),

- um elemento ambiental (utilização adequada dos recursos naturais e preservação do meio ambiente) e

- um elemento social (observância das normas que regulam as relações de trabalho e exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e trabalhadores).

Somente cumpre a função social a propriedade rural que atenda simultaneamente aos elementos econômico, ambiental e social.

Trabalho escravo, agrotóxicos, destruição da fauna e flora certamente não é cumprimento da função social da propriedade

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