20 de julho de 2011

Sobre a desindustrialização



Um leitor-amigo entrou em contato comigo para acusar o projeto de governo Lula/Dilma como sendo uma regressão à economia primário-exportadora. Eu respondi que iria buscar dados para respondê-lo e fazer uma análise baseada não em informações tendenciosas colhidas fragmentariamente na grande mídia, mas em fatos concretos.

Adiantei-lhe, porém, que a acusação de economia "primário-exportadora" costuma se fazer a países cuja economia ancoram-se na exportação de produtos primários. Embora a exportação deste tipo de produto seja muito importante para o Brasil, a nossa economia tem crescido baseada principalmente no consumo doméstico.

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) tem dados completos sobre a produção industrial no país. Preparei uma tabela para a gente analisar, com dados de fevereiro de 2002 a fevereiro de 2011. Clique nela para ampliar:


A tabela acima é apenas um resumo com os 20 subsetores industriais que mais cresceram. A tabela com todos os subsetores industriais do país, também devidamente editada, encontra-se neste link.

O IBGE divide a produção industrial brasileira em 73 subsetores. Deste total, apenas 13 apresentaram queda de 2002 até hoje, e mesmo assim, quedas suaves. Destes 13 subsetores, apenas um é realmente relevante à produção industrial brasileira: o setor de calçados, cuja produção caiu 20% de 2002 até hoje, certamente em função da concorrência dos produtos chineses.

De resto, o IBGE mostra um crescimento firme de quase todos os setores industriais importantes, com destaque para a indústria ligada ao setor de transportes: aviões, caminhões, ônibus, carros, motos, tratores e  navios.  Também registrou-se um crescimento relevante na produção de eletrodomésticos.

Tivemos um crescimento apenas medíocre de um subsetor fundamental, o de material eletrônico e aparelhos de comunicação: apenas 17% de 2002 até 2011. Entretanto, sabemos que estes produtos hoje são produzidos quase que exclusivamente na Ásia, que nós jamais os fabricamos em escala significativa.

Note que houve um crescimento de 60% num subsetor extremamente importante, porque serve de base para crescimentos maiores no futuro: o de máquinas e equipamentos para fins industriais e comerciais.

Até o momento, portanto, ainda não vi nenhuma "desindustrialização", ou regressão do Brasil a uma economia primário-exportadora.

Talvez eu esteja cometendo algum erro de interpretação. Peço aos que defendem a tese contrária, portanto, que me tragam informações e dados mais consistentes do que tem feito até o momento, porque senão serei obrigado a acreditar em... mim mesmo.

Por outro lado, não se pode negar que o declínio do dólar atrapalha fortemente o desejo da indústria brasileira de aumentar suas vendas externas. Mas o problema cambial é comum ao mundo inteiro, com exceção da China. Todos os países latino-americanos registraram forte valorização cambial. Nos EUA, o dólar, mesmo tendo caído, ainda é muito mais forte que a moeda chinesa e uma vez e meia o real: também é um problema lá. O Euro, uma das moedas mais fortes do mundo hoje, igualmente provoca estragos na indústria européia.

Ainda não ouvi ninguém trazer uma solução concreta que não seja a loucura de fixar novamente o câmbio.

O comércio exterior

Na verdade, há uma confusão provocada pela forte alta das exportações brasileiras de produtos primários. A exportação de industrializados também cresceu de maneira bastante firme nos últimos 10 anos, embora não no mesmo ritmo explosivo das vendas externas de matérias-primas. Resultado: mesmo tendo crescido, as exportações de industrializados perderam participação percentual na receita total exportada. Olhando sob uma perspectiva mais longa, a participação de produtos básicos na exportação brasileira, que chegava a quase 90% na década de 60, vem caindo substancialmente nos últimos cinquenta anos, e o aumento verificado a partir o início dos anos 2000 não reflete, necessariamente, o fim dessa tendência, mas possivelmente apenas um ajuste à um aumento muito forte da demanda mundial por essas mercadorias, o que se refletiu num mega-incremento da quantidade exportada das principais commodities nacionais, combinado a uma acentuada alta nos preços das mesmas. O importante, reitero, é verificar que tem havido, nos últimos dez anos, um crescimento muito grande, em termos absolutos, concretos, das exportações de manufaturados.



Há várias maneiras de se averigar uma possível deterioração da qualidade das exportações. Uma delas são os "termos de troca", que é a relação entre o valor das importações e exportações de um país durante um ano. Nos últimos 12 meses, o índice de termo de troca registrou alta.


Nos últimos anos, aliás, os termos de troca tem apresentado um resultado bem positivo. Ou seja, o valor das exportações tem aumentado a uma proporção maior do que o aumento no valor dos produtos importados.  Se alguém quer denunciar um processo de "primarização" da economia, portanto, não vai conseguir fazê-lo através de uma análise dos termos de troca, que indicam, ao contrário, uma sofisticação de nossa pauta exportadora.



Mas os termos de troca também refletem os preços maiores das commodities, então não podemos nos restringir a isso para avaliar a qualidade da exportação.

Os números do nosso comércio exterior mostram que houve, entretanto, um baque nas vendas de manufaturados, provocado pela forte crise financeira que se espalhou por todo mundo. Até então, as exportações de manufaturados vinham crescendo de maneira consistente. Em 2008, bateram um recorde histórico de 92,6 bilhões de dólare, caindo porém para 67,34 bilhões em 2009. Em 2010, assistem a uma vigorosa recuperação, alcançando 79,5 bilhões de dólares. Nos últimos 12 meses até maio de 2011, já subiram para 84,3 bilhões de dólares, alta de 16% sobre o período anterior.



Os números nos permitem dizer, portanto, que as exportações brasileiras de manufaturados se recuperam da crise financeira internacional, que ainda se faz presente sobretudo no mundo desenvolvido, mas não é justo afirmar que a economia brasileira está num processo de "primarização".


A produção industrial brasileira (não confundir com exportação) cresce, de qualquer forma, com exceção das fábricas de calçados, a um ritmo mais ou menos independente das oscilações do mercado externo. Seu principal destino não é a exportação, mas consumo pujante das famílias brasileiras.

Repare que a indústria de bens de capital, que produz os máquinarios industriais e, por isso, é considerada um termômetro do setor, cresceu  20,4% em 2010, ou seja, bem acima do crescimento médio da economia brasileira (o PIB cresceu 7% no ano passado). Por esse aspecto, portanto, também não se vê nada que indique um processo de "desindustrialização".

 Concluindo, entendo que a indústria brasileira enfrenta enormes desafios. A concorrência asiática tem sido predadora, terrível, às vezes covarde e praticando um verdadeiro dumping cambial. A situação da indústria nacional, por isso mesmo, não é nenhuma maravilha. A combinação de uma carga tributária alta, falta de mão-de-obra especializada, infra-estrutura precária, câmbio desfavorável, burocracia estatal excessiva, juros absurdamente altos, além da concorrência chinesa, não perfazem um cenário fácil para nenhum empresário. Para culminar, o mundo viveu uma de suas piores crises econômicas a partir de 2008, com reflexos até hoje, o que causou forte recuo no comércio global de produtos industrializados. Mesmo com todos esses problemas, porém, os números indicam que a indústria nacional tem se modernizado e crescido. Não cresce a um ritmo chinês, mas não se pode exigir do setor industrial aumentos de produção a uma velocidade só possível na realidade do agronegócio ou do extrativismo. Uma coisa é comprar um pedaço de terra, plantar e colher a soja no ano seguinte. Ou cavar um buraco e extrair minério em questão de meses. A instalação de uma nova indústria requer às vezes mais de dez anos, como é o caso das gigantes refinarias que o Brasil vem construindo. Havendo uma enorme massa cujo poder aquisitivo vem crescendo rapidamente, abundância de crédito e perspectivas de estabilidade econômica no longo prazo, a consolidação da indústria nacional é só uma questão de tempo.

*

Por fim, encontrei uma outra tabela (abaixo, clique nela para ampliar), mais simplificada, mostrando o crescimento ou queda dos diversos setores da indústria nos últimos três anos. Note-se queda na indústria têxtil e de calçados, por causa provavelmente da concorrência chinesa. Trata-se de uma indústria extremamente importante, em tamanho e geração de emprego, e que deveria merecer alguma atenção do governo. Mas competir com a China é cruel. E desde que não podemos fechar nossas fronteiras para a China, pois isso significaria impor um protecionismo que não é o que defendemos na OMC, a única solução é investir pesado no aumento da produtividade das indústrias nacionais. Seja como for, a indústria têxtil hoje em dia não é mais vanguarda.

Repare que 2009 foi um ano ruim para todos os setores, em função da crise financeira internacional. Mas em 2010 assistimos uma forte recuperação. O segmento de máquinas e equipamentos cresceu 24% em 2010. O segmento de máquinas para escritório e equipamentos para informática, depois de cair em 2008 e 2009, apresentou crescimento de 13% em 2010 e 15% em janeiro de 2011. Não sei o que isso significa em termos de relevância em relação ao PIB, só sei que é bom. Crescer é bom de qualquer jeito. O segmento de "equipamentos médicos/hospitalares, ópticos e outros" cresceu 21% em 2010. Enfim, os setores mais avançados da indústria apresentaram uma recuperação vigorosa no ano passado. Até o momento, portanto, a tese da "desindustrialização" não está colando comigo. Quer dizer, sei que há setores sofrendo, particularmente aqueles ligados à exportação, por causa do câmbio hiper-valorizado. Eu também, no período 2003 a 2008, enquanto o Brasil crescia extraordinariamente, passei por um processo de rápido empobrecimento. Isso acontece. Uns sobem outros descem. Para analisar a economia de um país, no entanto, é preciso considerar o quadro inteiro. No geral, a indústria brasileira continua crescendo. Isso não significa que as coisas estão maravilhosas. Se formos procurar problemas, vamos encontrar, com certeza, e se formos averiguar a fundo veremos que setores sofreram por causa da incúria e negligência governamental e quais perderam por incompetência deles mesmos.


17 comentarios

Cristiano Rabelo disse...

Meu caro, matou a pau! Sua capacidade como blogueiro independente é incrível. Você faz sozinho o que uma redação inteira dos nossos jornalões não tem capacidade para fazer (mesmo se houvesse vontade política e autorização para tanto). Compreendo que blogueiros independentes ralam muito para sobreviver, mas se a produção do blog fosse menos errática, você estaria facilmente classificado como um dos maiores pensadores do Brasil na atualidade.

Parabéns pelo excelente trabalho e sorte.

jozahfa disse...

De qualquer forma, considerando-se as últimas, como poderei dizer, acomodações históricas dos últimos anos, a bem dizer, essa última crise financeira mundial e sua irmã gêmea, (é o que eu acho) as revoltas populares que se iniciaram na África muçulmana, se espalhando pelo Oriente Médio e, agora, pelo Europa, via Grécia, há que se pensar que a exportação de primários - entre eles os grãos - pode se configurar como um bom caminho para a economia brasileira. Isto é, não sei se é fantasia minha, mas há uma certa tendência de democratização da riqueza, que vem forçando a barra pelo mundo afora. Democratizar a riqueza, para mim, em primeiro lugar, é distribuir comida, que é a primeira necessidade. Com a agricultura familiar bancando o consumo interno, a agroindústria pode ir trazendo divisas para o país. Pena que esse negócio, ironicamente, é muito pouco democrático. Quer dizer, a exportação de commodities é, essencialmente, um negócio concentrador de renda. Complicado, né?
Não sei se falei bobagem.

Ccesarbento disse...

Ao menos é um ocmentário bem embasado, porque a maioria das afirmações sobre a desindustrialização não apresentam dados concretos. O Eduardo Guimarães escreveu exatamente o contrário no Blopg da Cidadania http://www.blogcidadania.com.br/2011/04/a-desindustrializacao-do-brasil/.
Porém, em um aleitura rápida, me parece que há uma confusão sobre o fato de o Brasil ser um exportador de produtos básicos, sem considerar se a exportação de produtos industrializados está crescendo ou não.
De qualquer modo, é um debate que só pode ser feito como método e rigor , para não ficar no velho blá-blá-blá.

Anônimo disse...

Muito bom, Miguel. Dados como base de uma argumentação. Parabéns.

É assim que se debate, não com clichês genéricos, como faz nossa velha mídia partidarizada, que sustentem uma tese qualquer para falar do governo de um partido que tem ligações trabalhistas.

Cláudio Freire

Anônimo disse...

Miguel, na primeira tabela o crescimento é medido em unidades fabricadas ou valor da produção?
André M.

Adriano Matos disse...

Muito bom post, Miguel. Como o André, também não entendi a métrica da tabela de produção por setor: seria quantidade, valor médio praticado na venda, ... ?

Também não entendi sua argumentação referente ao índice 'Termo de Troca' como indicativo do valor agregado do produto nacional. Por exemplo, se minério de ferro teve alta de 1000% na cotação da tonelada comercializada no mercado exterior, esse dado será refletido no índice, não?

@Limarco disse...

Vamos aguardar o contraditório.
Excelente matéria.

Miguel do Rosário disse...

Na primeira tabela, o crescimento é medido num índice que tem a média do ano 2002 como base 100. É a única maneira pela qual o IBGE mede a produção industrial (além da geração de emprego, etc).

Adriano, o termo de troca é um dos índices que medem o valor do agregado. Tem isso que você falou, da influência do preço das commodoties, eu acho, por isso não podemos usá-la como única. Por isso usei a tabela da exportação por classe de produto, mostrando o valor dos industrializados.

RLocatelli Digital disse...

Excelente artigo!! Procuremos, cada vez mais, não nos basearmos na grande mídia.

Não acho ruim que exportemos muitos produtos primários. Como observou, acima, o Jozahfa, pode ser também um caminho interessante. Uma coisa não exclui a outra.

Miguel do Rosário disse...

Isso também é válido, Locatelli e Josa. Os EUA se consolidaram-se como potência econômica mundial exportando matérias-primas, sobretudo alimentos. A produção industrial deles voltava-se mais para o consumo doméstico. Claro que também sempre foram importantes exportadores de industrializados, como carros e cigarros, mas o grosso era a exportação de soja, carne, trigo, milho, laranja. Até não muito tempo atrás, os EUA dominavam quase 80% da exportação mundial dos cereais mais importantes. Ou seja, controlavam o mundo pelo estômago.

Também é importante entender que a produção de alguns produtos considerados básicos hoje não é igual há 20 ou 30 anos. Esses setores também agregaram tecnologia. Eu sempre repito: o que requer mais tecnologia, produzir carne congelada ou guarda-chuvas? E, no entanto, o primeiro item é classificado como "básico", enquanto o segundo é "industrializado". O processo de divisão internacional do trabalho embute alguns imperativos históricos e econômicos, ligados aos talentos específicos de cada povo, seus recursos
naturais. Esses imperativos, naturalmente, são dinâmicos e não devem nos acorrentar ao subdesenvolvimento. Ao contrário, devemos ser criativos para encontrar novas maneiras de participarmos do comércio internacional de maneira vantajosa e soberana, com perspectivas de desenvolvimento econômico, social e tecnológico.

Adriano, é preciso também considerar um outro fator muito importante, além dos termos de troca e da análise das exportações por classe de produto: a geração de emprego no setor industrial. Nos últimos anos, aumentou a oferta de emprego no setor? Vou analisar os dados do IBGE sobre isso, mas de antemão já sabemos que o emprego no Brasil tem crescido fortemente em todas as áreas. Esses dados também não favorecem a teoria da "desindustrialização", a qual ainda carece de fontes e dados mais consistentes para que eu possa validá-la.

@Limarco, também aguardo ansiosamente o contraditório.

Miguel do Rosário disse...

Dei uma garibada no texto, eliminando algumas repetições e acrescentando alguns comentários e gráficos.

Marcos Dantas disse...

Miguel, antes de mais nada, parabéns pelo excelente trabalho. Você é do ramo. E, de fato, nada melhor do que debate racional e embasado. Leio sobre o tema tudo o que posso e muita gente boa tem advertido sobre a "reprimarização" do Brasil. Nos seus argumentos, percebi alguns pontos fracos. 1) Não mostra dados sobre a participação dos diversos grandes setores no PIB, ao longo de um tempo mais um menos largo. Seria possível confirmar (ou não) a redução (ou não) da indústria manufatureira diante da agroindústria; 2) o gráfico "participação % nas exportações" mostra muito claramente que depois de quase 30 anos fortemente ascendente, a exportação de manufaturados vem declinando ano após anos desde 1993 enquanto que a de produtos básicos, depois de mais de 30 anos descendente, passou a crescer exatamente a partir de 1993 (com ligeira "exitação" até 2000); 3) os termos de troca podem expressar a recente valorização de algumas matérias-primas; 4) por fim, faltam comparativos de balança comercial: e as importações? No ramo eletro-eletrônico (que eu conheço um pouco melhor e não concordo que o Brasil não tenha tido, no passado, produção "em escala significativa" - teve sim!), o déficit comercial chega a ser escandaloso! Obrigado pela aula, @marcos__dantas

Miguel do Rosário disse...

Valeu Marcos, seu comentário é instigante e me fará pesquisar exatamente os pontos mencionados. Também tenho lido a gente boa advertindo sobre a desindustrialização. Mas acho que há confusão com a ressaca da crise financeira que assolou o mundo em 2008 e 2009 e que ainda soluça de vez em quando. Essa crise provocou, de fato, uma forte queda nas exportações de industrializados. Mas a produção industrial brasileira lastreia-se sobretudo no consumo doméstico, embora a exportação seja extremamente importante.

É natural, em qualquer país, que determinados setores industriais entrem em crise eventualmente, por causa da concorrência estrangeira sobretudo. Nos EUA, Inglaterra, em t todos os países altamente industrializados, são conhecidas as cidades fantasmas, por causa da desativação de uma fábrica ou mesmo de um setor inteiro. O importante é que o desemprego no país esteja em baixa, porque isso permite ao trabalhador migrar rapidamente de um setor para outro.

As importações explodiram no Brasil, trarei mais dados aqui num segundo post sobre o assunto. Mas isso é uma consequência natural do desenvolvimento e mesmo do próprio desenvolvimento industrial. Países industrializados importam muito, porque no mundo globalizado de hoje existe um grande entrelaçamento dos negócios.

Quanto aos termos de troca, naturalmente a valorização das matérias-primas geram efeito positivo, mas temos que ver isso também pelo lado positivo, que é agregar renda e injetar capital no país, capital este que será necessário justamente para fazer política industrial.

Se você analisar as linhas de crédito público disponíveis no Brasil, verá que o governo tem colocado muito dinheiro para investimento e expansão das indústrias brasileiras. De janeiro a maio deste ano, o BNDES já injetou 41 bilhões de reais junto à iniciativa privada, sendo 141 bilhões de reais nos últimos 12 meses.

A indústria brasileira tem recebido muito apoio público, portanto. Mas como eu disse, se um setor enfrenta problemas estruturais (falta de competitividade, sobretudo), não adianta dinheiro do governo.

Em relação ao ramo eletro-eletrônico, por exemplo, acredito que a velocidade alucinante das transformações tecnológicas tenham transformado qualquer eventual experiência brasileira no passado como obsoleta hoje. O que é uma pena.

Mas não vou ficar de conversa antes de checar os dados que você mencionou, para continuarmos o papo com mais embasamento.

Adianto apenas (e desculpa por ser tão tagarela) que estou consciente das deficiências profundas do governo. Burocracia burra, complicações tributárias, juros altos, para ser um industrial honesto no Brasil é preciso ser um verdadeiro artista, imagino eu.

Miguel do Rosário disse...

Marcos, agora percebo que as suas questões já estavam respondidas no meu post. Por exemplo, sua pergunta sobre os diferentes setores da indústria pode ser vista aqui.

https://spreadsheets.google.com/spreadsheet/pub?key=0AicwJvRkbvrgdHpVUHV3R3RUaGhKSnNwaE5xczRmU1E&output=html

Não achei onde podemos ver um dado sobre a participação percentual de cada setor em relação ao PIB, mas isso não tem importância. O importante é ver se a indústria cresceu ou não.

Se o setor, por exemplo, de eletrodomésticos da linha branca (geladeiras, etc) cresceu 64% de 2002 até agora, isso é positivo, mesmo que eventualmente tenha perdido participação no total. Se a indústria crescer 10% todo ano, e o setor primário crescer 15%, a indústria vai perder participação, mas isso não quer dizer que o crescimento de 10% da indústria é negativo.

Miguel do Rosário disse...

Quer dizer, seria negativo se o setor crescesse abaixo da média do crescimento do PIB. Não é o que tem acontecido, porém. Confira a última tabela que acabei de adicionar.

Anônimo disse...

Olá Miguel,

Conheci o seu blog depois de procurar dados sobre as exportações brasileiras para a América Latina e muito pouco encontrar. Deparei-me com "As Veias E$perta$ da América Latina" do qual gostei muito, e recomento a todos os leitores do blog. Uma coisa que me muito impressionou foi o fato de quase metade dos duzentos bilhões de dolares do saldo comercial brasileiro no governo Lula até então se deverem a América Latina. Além dos latinos serem os melhores clientes dos nossos produtos industrializados, e pensar que tem gente que acha que o Brasil deveria comprar briga com os vizinhos de esquerda ou de direita.

Mas a questão que quero levantar aqui é sobre os altos juros da taxa selic, que pretensamente serve para reduzir o consumo, aumentando por tabela os juros dos empréstimos para consumo, além de supostamente diminuir a quantidade de dinheiro no mercado para estes empréstimos. Não sou economista, sou leigo no assunto, mas fico com uma pergunta na cabeça quanto a esse assunto: por que não dividir com os bancos os custos do aumento dos juros para o consumo?

Vou ser mais direto, por que em vez de ter apenas uma taxa selic que paga juros aos banqueiros, não criar também uma taxa variável que aumenta ou diminui os impostos sobre os empréstimos para o consumo, deixando-os mais caros quando a necessidade for esfriar o mercado? Isso me parece muito simples e viável, porém como não sou economista posso estar sendo apenas simplório.

Valeu,
Fred

Ana Cruzzeli disse...

Seu Diabo

Tem uma coisa nesse exato momento que também depoe contra essa tal tese da desindustrialização, cuja mantra contra o cambio é cantado dia sim outro também por esse povo lá da FIESP, a inflação das comodities.
Se o elemento essencial da industria é materia-prima e se o cambio não conseguir segura-las aqui a preços menores como a industria pode manter preços competitivos?
O cambio valorizada nesse momento de inflação de commotidies foi bom para a industria nacional, pois conteve o preço interno e sendo o Brasil exportador essa politica sim ajudou a industria interna, já para a chinesa foi um desastre afinal eles são grandes compradores de matéria-prima, com aumento de preços seu preço final de manufaturas também ficou mais caro. Como eles conseguem ainda penetração no Brasil? Aí quem deve responder são os industriais de SP que mesmo tendo essa ajudinha não souberam aproveitar ou fazem essa propaganda contra o Cambio para desestabilizar a politica economia do governo Dilma, cujos principios doutrinários da FIESP todo mundo é conhecedor.

Tudo que foi colocado aí emcima mostra claramente que há sim uma tentativa de sabotar a politica economica desse governo. Querem quebrar o Brasil, para assim voltarem ao poder.

Essa direita não tem jeito mesmo.
Parabens seu Diabo. Sabia que poderia confiar na politica macroprudencial desse governo de olhos fechados.

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