18 de junho de 2007

Alguns comentarios sobre o novo filme do Tarantino



(acima, um video-clip da musica Down on Mexico, com cenas de Deathproof)

Com Deathproof, o cinema de Quentin Tarantino ganha uma nova dimensão. Trata-se de seu filme mais elaborado, mais artístico. Ironicamente, também é também seu filme mais simples. O filme incita um novo olhar sobre toda sua obra.

No cinema de Tarantino, as perseguições não são apenas perseguições. Representam arquétipos modernos, os quais o cineasta manipula para provocar o efeito estético que deseja.

A última edição de Cahier du Cinema traz uma longa entrevista com Tarantino, em que ele se auto-declara um escritor, especializado em diálogos, e admite que, com as cenas de violência e perseguição, visa atingir os arquétipos profundos do espectador.

Por exemplo, as cenas de perseguição constituem, desde os anos 60, um clichê do cinema americano. Tarantino, porém, longe de considerá-las apenas um recurso comercial para conferir movimento à narrativa, considera-a enquanto um símbolo enraizado no inconsciente das novas gerações, cuja formação cultural hoje é indissociada do audivisual, sobretudo da vertente moderna, popular, do cinema de ação.

Ou seja, mal ou bem, todos nós, ocidentais, passamos nossa infância e adolescência assistindo - na sessão da tarde, no supercine, na tela quente, ou em vídeos vhs - a perseguições, brigas, tiroteios, artes marciais, guerras, psicopatas trucidando jovens sexys e alegres…

Usando elementos culturais próximos de todos nós, Tarantino consegue reciclar todo aquele “lixo” cultural, que aliás deixa mesmo de ser visto como lixo. Não eram lixo, então? Aquelas tardes perdidas vendo porcaria na tv, comendo pipoca e bebendo coca-cola, enfim, elas valeram alguma coisa? Após Tarantino, pode-se estar certo que sim. O cinema, mesmo o cinema ruim, os chamados filmes B, fornecem imagens, símbolos, arquétipos, que enriquecem nossa imaginação e que, mais tarde, podem ser convertidos em arte ao serem revalorizados e reassimilados pela perspectiva original de um cineasta de gênio.

Tarantino não perde de vista as fórmulas que fizeram o sucesso da indústria cinematográfica americana: movimento, sangue, violência, sexo e uma trilha sonora envolvente. Sem medo dos clichês, o cineasta os usa com originalidade, extraindo deles uma grande energia estética.

O filme possui uma excelente fotografia, com tomadas sempre inventivas, e os diálogos e a interpretação dos atores mesclam humor e futilidade, com doses equilibradas e insuspeitas de surrealismo, marcando claramente a personalidade e o espaço de cada personagem.

Na entrevista para o Cahier du Cinema, o cineasta revela que suas maiores influências literárias são Elmore Leonard e Bob Dylan. Do último, sem comentários; de fato, Dylan tornou-se uma referência artística para todas as artes que usam a palavra, devido à genialidade de sua poesia. Elmore Leonard é um escritor do tipo bandido-sensível, com um longo histórico de marginalidade, drogas e prisões antes de se tornar um autor famoso. Já dei uma folheada em alguns livros seus, numa livraria, e me pareceu muito bom. Está na fila.

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