1 de junho de 2007

Nao tenho nada contra o McDonalds

Olu Oguibe



(desculpem a falta de acentos)

O Vinicius Jatoba, amigo meu das antigas, dos tempos em que vendiamos o Arte & Politica de bar em bar, ganhou um premio de melhor blog, e rendeu homenagens a blogueiros que, segundo ele, fazem sua cabeça. Entre outros citou este blog, e teceu alguns comentarios muito simpaticos sobre a minha pessoa. Agradeço imensamente, Vinicius. Em vez de uma, agora sao duas, ou tres, cervejas que lhe devo. Mas nao posso me furtar a fazer ressalvas, as quais, inclusive, me dao oportunidade de esclarecer uns pontos que comumente confundem a cabeça das pessoas que dedicam um ou outro pensamento a essa coisa meio estranha chamada politica.

La pelas tantas, Vinicius observa que esta sempre curtindo meus textos, mesmo quando "ele ataca no mesmo comentário do McDonalds à Casa Branca".

Valeu Vinicius, mas eu nunca ataquei o MacDonalds. A Casa Branca, tudo bem. Ataco porque acho que a politica americana ha tempos faz uma burrada em cima da outra. Se limitassem a fazer burrada no pais deles, ok, mas eles fazem burrada nos paises dos outros. Esta provado, segundo fontes oficiais americanas (leiam Elio Gaspari, entre outros) que os EUA, por exemplo, moveram um encouraçado para a costa brasileira, para apoiar a ditadura militar. A guerra no Iraque foi outra burrada historica. Todo mundo sabia disso; somente os americanos, manipulados pela midia americana, nao sabiam. Agora, que nao da para tampar o sol com a peneira, os proprios americanos sao contra a guerra, admitem que foi uma burrada sem limites. E custou (esta custando) muito caro. O Bush disse que a guerra iria custar uns 3 bilhoes de dolares. Ja torrou mais de 500 bilhoes de dolares. Ja matou, sei la, meio milhao de pessoas. Ja fez disparar o preço do petroleo, aumentando o custo de vida em todo planeta e beneficiando os proprios inimigos que os americanos queriam combater (os arabes), alem de fomentar o terrorismo em todo mundo, e produzir, às margens do Eufrates, a maior escola de terrorismo da historia moderna.

Agora, sobre o MacDonalds, é outra historia. Eu gosto do McDonalds. Quantas milhares de vezes um lanche do MacDonalds nao me matou a fome! Por que eu atacaria o McDonalds? Uma empresa que faz hamburgueres nao tem nada a ver com esta guerra. Tem ligaçoes economicas, porque é uma empresa americana. Eventualmente, pode até fornecer hamburgueres para o exercito. Mas é um acidente. Mas se eu for culpar o MacDonalds por ser americano, teria que culpar tambem o Elvis, o Bob Dylan, o John Lee Hooker, por serem americanos.

Por isso que acho uma burrice sem limites quando alguem quer fazer boicote de produtos americanos para protestar contra a politica externa americana. Lembro que o Brasil de Fato, aquele jornal esquerdista até a raiz dos ossos, logo apos a sua fundaçao, iniciou uma campanha de boicote a produtos americanos. Eu nao acreditei no que vi. Pensei logo: esses caras sao loucos. Foi o suicidio publicitario mais imbecil que testemunhei na vida. Dito e feito. Algum tempo depois, eles vieram dizer que o jornal estava em crise, pedindo ajuda financeira das pessoas, e culparam a midia corporativa, o governo, sei la mais quem. Ora, qual o sentido de iniciar uma campanha para boicotar a Coca Cola? Primeiro que a campanha é ridicula. E prepotente achar que uma campanha num jornal ainda com pouca influencia vai ter algum resultado. Segundo, queimaram mais uma chance de criarem uma imprensa alternativa, auto-sustentavel, no Brasil. De quebra, torraram grana do MST, da CUT e de outras organizaçoes de trabalhadores, que bancaram o projeto. O editor era o Jose Arbex Jr, representante de uma esquerda rancorosa, corporativista, reacionaria e feia.

A Caros Amigos poderia sempre ter se tornado uma revista com maior circulaçao, mas sua politica mesquinha, anti-publicitaria, anti-artistica, voltada apenas para um publico esquerdista, masculino, intelectual, nunca lhe permitiu ser mais influente e se projetar no mercado e disputar o grande publico nacional. Qualquer outra publicaçao que se pretender "progressista" ou "de esquerda", precisara ter isso em mente: nao basta ser de esquerda, tem que ser bonita.

Nao sou contra o MacDonalds. Sou de esquerda porque defendo politicas de justiça social. Vejo a Guarda Municipal metendo o cacete em camelo e acho errado, e uso a palavra como arma para combater o que acho errado. Agora, a esquerda tem que ser mais inteligente e atraente. Se os americanos se limitassem a exportar redes de lanchonetes, o mundo seria melhor.

Levando a coisa mais longe. Nem sou contra, por principio, a produçao de armas. Calma. Sou pacifista, mas nao anti-militarista radical. O mundo seria infinitamente melhor sem armas, claro. E sem exercitos, obvio. Mas isso nao é uma realidade e compreendo que os paises precisam se defender. Compreendo a necessidade de exercitos para assegurarem a soberania das naçoes. Defendo, vejam bem, a ONU e as politicas de desarmamento. Mas a culpa, se pensarmos bem, nao é da produçao de armas, embora os lobbies armamentistas influenciam sobejamente a decisao de se fazerem ou nao guerras. Mas apenas influenciam. A culpa maior é dos politicos que decidem. Por isso, volto minhas baterias para a Casa Branca e, as vezes, para vastos setores da sociedade que defendem as decisoes da Casa Branca. Por exemplo, nao fosse o apoio, e a subserviencia, da midia americana, os EUA nao teriam logrado reunir o apoio politico interno para levarem adiante uma guerra contra a ONU e contra as principais potencias militares do mundo, como França, China e Russia, que se posicionaram firmemente contra a guerra no Iraque.

Como veem, as coisas nao sao simples. Nao basta ser de direita, ser de esquerda, ser o raio que o parta. O mais importante é compreender a complexidade das relaçoes internacionais, saber enxergar os fundamentos economicos e politicos de determinadas situaçoes historicas, como a eleiçao de Sarkosy na França, de Lula no Brasil ou Chavez na Venezuela. E, sobretudo, nao se deixar levar por lugares-comuns como associar "ser de esquerda" com "ser contra o MacDonalds".

Vinicius, por favor, nao leve a mal. A gente conversa melhor depois numa mesa de bar. Estou com muita saudade disso. Obrigado pelos elogios e parabéns pelo premio!

4 comentarios

Patrick disse...

Eu tenho bons motivos para ser contra o sistema de alimentação industrial. Acho até que já sugeri aqui o livro "O Mundo não é uma mercadoria", do José Bové e aquele filme, "Supersize Me", que revi recentemente. Não consigo ver estas duas obras como radicais.

wilson cunha junior disse...

Além do que o Patrick citou recomendo os documentários "A corporação", "Quarta guerra mundial". Desculpe, mas discodo da defesa das corporações americanas.

Anônimo disse...

ae primo, como tá a Europa?

voltei já pro Brasil faz quase um mês. Pegou quais livros do Philip K Dick? Eu tava lendo All Tomorrow Parties é bom demais. O cara escreve muito.

Miguel do Rosário disse...

exato patrick, exato wilson, mas ai nao eh exatamente contra corporaçoes americanas, mas inglesas, suiças, alemas,israelensese e mesmo brasileiras. nao é mesmo?

wilson, eu nao faço nenhuma defesa de corporaçoes americanas. eu esclareço um ponto de vista porque um amigo me citou atacando o macdonalds. acredito que a esquerda precisa atualizar o seu discurso se quiser sobreviver nos proximos anos. acho que vou escrever melhor sobre isso.

Postar um comentário