11 de junho de 2007

Desobstruindo a goela

Impedidos pela linha editorial de seus jornais de fazerem qualquer elogio ao governo Lula, os colunistas politicos e econômicos da mídia corporativa insistem sobre a tese de que Lula apenas deu continuidade à politica econômica do governo anterior. Isso é verdade? Então políticas como: o pagamento da dívida externa, a interrupção da escalada do aumento da dívida interna, a manutenção do câmbio livre, a estabilidade ou mesmo redução do preço das tarifas publicas, a não continuidade do processo de privatização, o aumento dos gastos em políticas sociais, o aumento dos recursos destinados à agricultura familiar, as medidas para popularizar o acesso ao crédito; essas políticas não constituíram mudanças? Não valem nada? Ou apenas são negadas para fazer valer a tese da "continuidade"?

Pior, agora alguns colunistas, como Noblat, começam a esnobar o bom momento econômico como uma estratégia do governo para evitar crises.

Perguntei a minha mãe o que ela achava das operações da PF, ela respondeu: "acho muito bom, Miguel, mas não vai dar em nada". Minha mãe é um bom modelo do pensamento médio. Não tem outra fonte de informação que não o jornal O Globo.

Ela admitiu, porém, que nunca, em sua vida, viu gente poderosa ser investigada e presa como agora: juízes, governadores e ex-governadores, desembargadores, deputados, grandes advogados e mega-empresarios. Mas disse: eles são presos e depois são soltos.

Bem, é importante distinguir as coisas. Os acusados são presos para facilitar as investigações. Presos, eles ficam isolados, permitindo à PF recolher provas. Trata-se de prisão provisória. Eles são soltos com Habeas Corpus, mas as denúncias continuam correndo pelos trâmites da Justiça. Em alguns casos, eles podem ser inocentados. E, dentre os que são inocentados, há os que são realmente inocentes, e os que são culpados. No caso dos inocentes, obviamente é bom que sejam inocentados, porque se cumpre a Justiça. No caso dos culpados, é um mal que sejam inocentados, mas pelo menos criou-se um desgaste enorme à sua imagem, rompeu-se o mecanismo que lhe permitia roubar, pregou-lhe um grande susto, nele e em seus comparsas, enfim produziu-se um exemplo público que inibirá outros ilícitos.

As pessoas precisam parar de avaliar somente a prisão como meio de reparar a criminalidade. O primeiro grande justiçador é a nossa consciência: quando um é pego pela Policia, mesmo que depois seja (equivocadamente) inocentado, o seu crime é exposto à sociedade, à sua familia e, sobretudo, à si mesmo. E se o sujeito for pego novamente, será bem mais difícil se safar pela segunda vez.

Enfim, é besteira falar que não deu em nada, visto que as investigações da PF desbaratam as quadrilhas, desmontando-lhes as artimanhas que usavam para roubar os cofres publicos, gerando, portanto, economia. Além disso, as ações constituem em si um belo exemplo moral. E permitem um importante acúmulo de inteligência para a Polícia Federal e para a sociedade civil, que, ciente das maneiras como é usurpada, pode ficar mais atenta para que tais crimes não aconteçam novamente, votando melhor e monitorando políticos e autoridades através da imprensa e instituições civis.

Na sua coluna da semana passada, Arnaldo Jabor pendura as chuteiras. Elogia Lula. Mas de uma forma tão rocambolesca que não vale muita coisa. Chama Lula de grande líder. Diz que nenhuma liderança teve tanta popularidade (70% de aprovação, admite Jabor) e chance de fazer um grande governo como Lula, nem JFK, nem Vargas, nem FHC. Mas não indica que a causa deste sucesso estaria em acertos do governo Lula.

Por fim, Jabor pede que a sociedade apóie Lula, para que ele possa dar jeito no Brasil. Mas o que Jabor chama de sociedade é nada mais nada menos que Fernando Henrique Cardoso e o PSDB. Aí Jabor dá uma surtada básica e pede a Lula que privatize as estatais corruptas. Queria saber que estatal ele quer que Lula privatize: a Petrobras? O Banco do Brasil? A Caixa Economica Federal? Humm. Sem comentários sobre isso. Ridícolo Jabor louvar o acúmulo de prestígio e popularidade de Lula e querer que ele o use para executar o programa do candidato derrotado. Sem contar que Jabor diz que Lula, para se livrar do PMDB "podre", devia se ligar ao PSDB, que seria exemplo de santidade e ética na política. Ah ah ah! Jabor, por favor, vá ler o ultimo livro do Luis Nassif, sobre a roubalheira que foi a maxi-desvalorizaçao cambial de 1999. Ou então, vá se tratar numa ambulância super-faturada no tempo do Serra, ou viajar numa estrada esburacada feita pela Gautama, nos áureos tempos tucanos.

Ah, por falar em ambulância, interessante esta morte súbita do Abel Pereira, um dos responsáveis para máfia das ambulâncias. Alguns diriam que se trata de queima de arquivo… Evidentemente, nao fosse um escandalo ligado à tchurminha de penas, a imprensa teria se esbaldado em maliciosas suposiçoes....

2 comentarios

Anônimo disse...

Depois que um dos amigos do tal Abel falou que êle estava bem conforme os últimos exames médicos que havia feito, ficamos realmente desconfiados da morte súbita.

Anônimo disse...

Você disse: "No caso dos culpados, é um mal que sejam inocentados, mas pelo menos criou-se um desgaste enorme à sua imagem, rompeu-se o mecanismo que lhe permitia roubar, pregou-lhe um grande susto, nele e em seus comparsas, enfim produziu-se um exemplo público que inibirá outros ilícitos."

Será que é isso mesmo, ou será que o povo brasileiro adora canalhas? Como explicar a expressiva votação de Paulo Maluf depois daquela temporada na cadeia? Você podia nos brincar com uma explicação que isente o povo de culpa no quesito "eu invejo os cafajestes e, se tivesse uma chance, roubaria igualzinho a eles"?

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