23 de junho de 2007

Saudades da Vale

Muita coisa já se falou contra a privatização de nossa principal mineradora. O Santayanna escreveu um belíssimo artigo em 2006 sobre o asssunto. Enquanto a mídia e seu rebanho se preocupam com os bois sem nota do Renan Calheiros, eu volto meus pensamentos para o que, para mim, representou um dos maiores atos de traição ao interesse nacional. Num artigo abaixo, eu já tinha tocado no tema. Volto a ele. Os preços do minério de ferro e do aço vem explodindo nos últimos anos, devido ao vigoroso aumento da demanda asiática, sobretudo da China. Na época da privatização, um analista mais sagaz poderia prever que, dentro de alguns anos, o preço de uma matéria-prima não-renovável não poderia seguir outra tendência que não a de alta.

A Vale não dava lucro antes da privatização? Ah, primeiro que isso é mentira. Mas, mesmo que os lucros fossem pequenos, dentro de alguns anos, estes aumentariam vertiginosamente (como vem ocorrendo), em virtude da escalada das cotações internacionais do ferro e do aço. A Vale detinha um conhecimento acumulado de mais de 50 anos, estudos e pesquisas sobre o subsolo nacional.

Não sou contra, por princípio, à privatização. A privatização do sistema telefônico, por exemplo, tinha mesmo que ser feita, embora seguramente sem as falcatruas e favorecimentos como aconteceu. O governo poderia aproveitar a enorme sede de gigantes pelo mercado brasileiro e exigir contra-partidas de transferência de tecnologia e investimentos sociais que poderiam dar resultados muito interessantes no combate à pobreza e à falta de cultura. Mas a telefonia não detinha os tesouros do sub-solo nacional, não detinha conhecimentos estratégicos sobre as jazidas de ouro, ferro, bauxita, urânio, etc, que a Vale detinha.

Mas não adianta falar da Vale agora. A mídia inventa uma nova crise diariamente, com o fim de impor a sua agenda. Uma nova crise sempre caindo em cima do governo federal, naturalmente. E observo ainda que existe uma estratégia calculada de desmoralizar as instituições, deixando as pessoas confusas, sem saber onde agarrarem-se senão em seu mundinho privado, lendo o Estadão.

Leiam só um trecho do artigo que o Mauro Santayanna escreveu em 2006:

Talvez devêssemos dar razão a Galileu, que desconfiava do muito saber.

“Molta saggézza” – disse o grande físico do Renascimento – “molte volte vuol dire molta follia”. A inteligência pode enrolar-se em si mesma e se transformar em insânia. É assim que podemos entender que homens tão bem informados, conhecedores de História, excelentes calculistas, tenham causado tantos e irreparáveis danos ao povo brasileiro com a privatização dos bens nacionais. Ou acreditamos na aporia de Galileu, ou somos forçados a admitir que eles foram movidos por desprezíveis interesses pessoais, ou, pior ainda, com o ânimo da traição.

Quando o Sr. José Serra, então ministro de Planejamento do governo passado, bateu o martelo, confirmando a privatização da Cia. Vale do Rio Doce, a explicação foi surpreendente. Começavam com a Vale, a propósito, porque era o símbolo mais destacado da presença do Estado na economia nacional. Não faltaram advertências contra o ato, que revelava “molta follia”. O ex-presidente José Sarney enviou carta ao então chefe de Governo, advertindo-o das conseqüências econômicas e políticas daquele passo. Disse mesmo Sarney que a privatização da Vale seria muito mais grave do que a também pretendida privatização da Petrobras.

A Vale do Rio Doce foi construída com imensos sacrifícios do povo, depois de vigorosa resistência, dos mineiros e do presidente Vargas, contra a Itabira Iron, de Percival Farquhar. Obtivemos os empréstimos do Eximbank para a exploração das minas do Cauê e para indenizar os acionistas ingleses da Itabira Iron, mediante os Acordos de Washington, de 1942, que nos exigiram, de contrapartida, a cessão das bases do Nordeste para as operações das forças norte-americanas e o envio de tropas brasileiras para a guerra na Europa. Ali perdemos vidas valiosas, entre elas as dos bravos pilotos do Esquadrão de Caça, dizimados em centenas de missões quase suicidas. Não investimos na Vale somente os recursos do Erário; investimos em sangue, investimos em coragem, investimos na dignidade do patriotismo.

Para ler o artigo na íntegra, clique aqui.

2 comentarios

José Carlos Lima disse...

Apesar do silêncio sepulcral da mídia sobre o assunto, não podemos parar de falar nisso mesmo

Imagine só se tivesse sido Lula o "vendedor" da Vale (100 bi)

vendida por 3 bi

( melhor dizer doador )

se tivesse sido Lula o doador da Vale estaríamos ouvindo=lendo=vendo na mídia, 24 horas por dia, a ladainha:
"Lula deu a Vale e recebeu por fora"

"Lucro recorde da Vale prova que Lula errou ao doar a estatal"

"Preço do aço nas alturas expõe o prejuizo acarretado ao Brasil com a venda da Vale"

Como o "doador" da Vale foi FHC o silêncio desta mídia tucana-DEMente é sepulcral

Anônimo disse...

Como militante esquerdista engajado comemoro, em nome de todos os jegues vermelhos e dos guerreiros da liberdade social nacional-democrata bolivariana, o encerramento de mais um blog imperialista. Um ajuntamento de liberticidas reacionários com o intuito de prevaricar e deturpar o grande trabalho que nosso amado Lula, nosso amado Hugo Chávez, o absoluto Fidel, o impagável Evo e tantos outros representantes do real desenvolvimento econômico mundial.

Saudamos a morte tardia. Viva a revolução bolivariana.

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