18 de fevereiro de 2008

Por que gosto Tropa de Elite

Quais são as qualidades que contam num filme? O que faz de um filme um bom filme? Roteiro, fotografia, interpretação dos atores, harmonia? Naturalmente, é tudo isso. No entanto, há outro fator fundamental e mais misterioso: o gosto do público, aí incluindo o público especializado. No caso brasileiro, com a nossa profunda divisão social, é naturalmente mais difícil para um cineasta agradar gregos e troianos. Uns escolhem fazer filmes notoriamente de elite, e o fazem muito bem. Não falo de elite no sentido ideológico e econômico, negativo, mas no sentido positivo, de público especializado. Fazer filme para elite é muito mais barato, embora não necessariamente mais fácil. Produzir um bom filme sempre é difícil, seja um filme cult feito para agradar a crítica internacional e os resenhistas da Contracampo, seja feito para agradar o povão e bater recorde de público.

Muitos tentam alcançar os dois objetivos ao mesmo tempo, o que é mais arriscado ainda. Claro que é infinitamente mais fácil fazer uma xaropada romântica cheia de atores globais, como Sexo com Amor, do que um filme polêmico e ousado como Tropa de Elite.

Mas José Padilha, ao que consta, conseguiu. Fez um filme com forte apelo comercial e, ao mesmo tempo, um filme muito elogiado pela crítica - apesar das vozes discordantes.

O que realmente chamou a atenção, no caso do Tropa de Elite, foi o epíteto de "filme fascista". O mais estranho ainda é que se tenha associado essa crítica a uma suposta "esquerda". E pegou: começou-se a dizer que a esquerda não tinha gostado do filme, como se a esquerda fosse uma entidade monolítica. O sociopata nazista do Reinaldo de Azevedo começou a vociferar essa versão e muitos acreditaram. Aì a Veja adotou o filme: é nosso.

Claro que, a partir do momento em que se chama o filme de "fascista", automaticamente, associa-se a origem disso na esquerda, já que é a esquerda que gosta de chamar os outros de fascistas e reacionários. Também andaram chamando o filme de reacionário.

No entanto, para mim não importa se o próprio Hitler tivesse adorado o filme. Hitler gostava de Wagner. Os nazistas gostavam de Heidegger. E isso não interfere em nada no valor em si dos autores citados. Os nazistas da Veja podem gostar de quem eles quiserem. Se eles gostaram do Tropa de Elite, ótimo. Melhor para Tropa de Elite, melhor para o cinema brasileiro.

Mas, sobre o fato do filme ser fascista, eu realmente ainda não consegui entender a origem desta crítica. Já andaram tentando me explicar. O filme gera empatia entre o público e o Capitão Nascimento. A narrativa teria sido construído de forma a produzir essa afinidade entre o "fascista" Capitão Nascimento e o público. Por aí vai. Acontece que não consigo ver "fascismo" na figura do Capitão. O que eu vejo é um indivíduo torturado por um ofício desumano, por uma corporação policial corrupta - e isso, a corrupção, é mostrado no filme.

O que realmente incomodou a setores sociais é que o filme mostrou uma imagem estereotipada de uma ong. Incomodou muito também a setores médios com grande intimidade com as drogas, seja por uso próprio seja pelo meio em que vivem. Mas aí reside uma grande confusão. José Padilha tem repetido por toda a parte que é a favor da liberação das drogas, como única maneira de resolver a questão. Eu também sou. Um dia terão que fazer isso. Até porque, em função da própria proibição, a humanidade está inventando diariamente novos tipos de droga. E a nossa civilização tem como destino a liberdade. Enquanto a droga for proibida, é lógico que o consumo financia o tráfico. Os setores médios não querem conviver com essa culpa, mas isso é ingênuo. Há também hipocrisia. Consumidores que preferem a proibição, porque ela parece negar a realidade. Se é proibido e eu faço escondido, então é como eu não usasse.

Mas a proibição também gera um problema grave de saúde pública, porque expõe a juventude ao uso de drogas com resíduos tóxicos. E trata-se de cegueira e estupidez manter uma atitude olímpica e vingadora diante desse fato, do tipo: bem feito para eles, viciados. Não se deve julgar moralmente o uso das drogas. As melhores cabeças da humanidade, da música, da literatura e do cinema já usaram drogas. Não são as pessoas más que usam drogas, mas as pessoas fracas, ou ansiosas, ou frenéticas, ou simplesmente curiosas. As drogas, aliás, não são uma invenção moderna, existem há milhares de anos. A busca pela transcendência espiritual é um anseio milenar dos homens. Um dos livros mais belos da filosofia grega, O Banquete, de Sócrates, inicia com a descrição de um grupo de homens curando-se de um ressaca homérica, que combinam deixar de beber por algumas horas e, para conseguirem tal feito, decidem se distrair filosofando sobre o amor.

Voltando ao Tropa de Elite, trata-se de um filme que retrata uma realidade brutal. Não adianta esconder. A identificação do público com capitão Nascimento é justamente um dos aspectos originais do filme. Se José Padilha fizesse um filme em que o protagonista fosse um bandido, estaria repetindo a fórmula de Cidade de Deus, outro grande filme que foi muito mal compreendido por setores da intelectualidade. As elocubrações sobre uma deliberada intenção de incentivar o extermínio também não se sustentam. A dramaturgia tem leis próprias. Se o diretor começar a se preocupar com possíveis leituras morais de seu filme, a criatividade morre. Ademais, desde quando o bom cinema se preocupou com moralismo. Taxi Driver também cria identificação com o motorista direitão interpretado por Robert De Niro, e não me lembro de o terem acusado de fascista. Se alguém o fez, arrependeu-se.

Os filmes devem ser analisados por suas qualidades intrínsecas. Kant afirmava que a arte deve ser admirada sem "interesse", ou seja, sem que elementos externos (ideologias, opinião da Veja ou da Vanity Fair, por exemplo) interfiram em sua análise pessoal. Claro que todas as opiniões são bem vindas. Para filmes, vale a máxima que vale para políticos: falem mal mas falem de mim. Nada melhor para o marketing de um filme do que uma boa polêmica. Desde que o filme tenha consistência e qualidade para sustentar um longo e proveitoso debate.

Aliás, essa qualidade e consistência não podem ser negadas ao Tropa de Elite. E o diretor, José Padilha, enfrentou dezenas de debates com muita galhardia e inteligência, defendendo seu filme com garra, paixão e lucidez.

O filme pode não ser perfeito. Mas até o Dom Quixote, de Cervantes, tem seus defeitos. Nenhuma arte, nem as mais altas obras humanas, escapam da irregularidade natural do ser humano. O que acho temerário, realmente, é essa pecha de "fascista", que não constitui uma crítica lúcida, mas um ataque moralista, ideologizado, esquerdóide, e não ao filme, mas à própria dignidade do filme e, logo, à dignidade do diretor e sua equipe, um diretor jovem , combativo e bem intencionado, que produziu e dirigiu 174, um filme de cunho fortemente social e político, no sentido mais absolutamente contrário ao que se conhece como fascismo, um filme que tenta humanizar um bandido, mostrar as origens de sua violência e revolta.

Não tenho cancha de crítico de cinema. Não sei fazer resenhas falando de grandes angulares e contracampos e analisando a profundidade da luz. Sou apenas um cinéfilo, como quase todo mundo. Discordo, todavia, dessa promiscuidade entre julgamento estético e ideologia. A arte é terreno da liberdade total, inclusive diabólica inclusive fascista. Não é o caso de Tropa de Elite, mas se o fosse, ainda sim teria todo o direito a sê-lo. Teria, em última instância, a finalidade de catarse. A arte não tem que pregar bom comportamento. Até porque não existe, em si, um bom comportamento.

Vocês viram Cafundó, do Paulo Betti? Pois é. Está aí um filme cheio de boas intenções e resultado catastrófico. Prefiro ver um documentário nazista a assistir Cafundó. Enfim, deixo registrado aqui o meu protesto. Não misturem juízo estético com impressões políticas superficiais. Só ajuda a desmoralizar as idéias que você defende e abre precedente para seus adversários atacarem o filme que você gosta e, logo, você mesmo, com argumentos similares.

Sem contar que, diante da crise profunda do cinema brasileiro, o sucesso estrondoso de Tropa de Elite e de Meu nome não é Jonnhy (outro filme que tem sido fortemente criticado por moralistas, neste caso da direita conservadora, por mostrar o lado humano de um traficante de classe média) junto ao público, significa uma conquista de mercado do cinema brasileiro sobre o cinemão hooliwoodiano, e logo um sinal de vigor da cultura brasileira, que deve receber o apoio firme de nossos intelectuais, porque é um gesto de independência política e virilidade econômica-cultural. É sempre mais gostoso quando um filme brasileiro não apenas é bom de crítica, mas também de público.

13 comentarios

Anônimo disse...

Quem me dera estar vendo esse "cerco" ao "Cinema, aspirinas e urubus". Mas como tu mesmo disse, a liberdade é nosso destino. Caminhemos então.

Wilson Cunha Junior

O Anão Corcunda disse...

Miguel, lá vou eu te chatear com vários pitacos:

- Acho que agradar ou não o povão é uma variável importante para se analisar, inserindo-o no momento histórico de nossa cultura. Mas, assim como sucesso de público não é sinônimo de qualidade, também não é sinônimo de falta de qualidade. Tem a ver mais com nosso espírito coletivo, nosso zeitgeist, sei lá o nome disso direito. Titanic, que ao meu ver é deprimente, fez um grande sucesso de público. Os filmes da Xuxa também fazem. Dona Flor e Seus Dois Maridos, que eu gosto muito, também fez... acho que esses sucessos dizem mais sobre o publico que sobre os proprios filmes.

- Eu acho que importa MUITO se a Veja gostou ou não do filme, se Hitler gostaria ou não do filme. Isso não precisamente acaba com o filme, mas pode depor contra ele. Ou então podem ser interpretações absurdamente opostas às nossas: tem gente que gosta de filmes bons, muitas vezes, pelos motivos mais babacas possíveis. Acho que é aí que está o ponto: se a pessoa gosta, ou desgosta, de determinado filme por um motivo babaca ou um motivo maneiro.

- "Nossa civilização tem como destino a liberdade" - tomara, Miguel, tomara! Oxalá! (acho que nao sou tao otimista assim...)

- Essa questão da identificação do público com alguns personagens autoritários é algo complexo mesmo. Mas acabo de pensar numa coisa: você já ouviu falar de alguém que se identifica com o Hermógenes? Fácil é identificar o Hermógenes em várias pessoas que conhecemos...

O que eu estou pensando agora, meio de bate-pronto, é o seguinte, baseado na sua afirmação de que a dramaturgia tem suas leis próprias. Talvez uma dessas leis seja a de que a dramaturgia não tem dono. A obra de arte não pertence ao sujeito que a filmou, pintou, escreveu, esculpiu, compôs. Tem alguma coisa a ver com ele, mas não é dele. Ela própria, a obra, trata de engrandecer e apequenar personagens. É claro que o autor tem a ver com isso também, mas isso não depende de determinações conscientes daquele indivíduo, mesmo porque um filme é feito sempre por muita gente. De repente o cara não se deu conta que pôs uma música toda gloriosa na hora do close no personagem mais babaca, ou do mais gente fina. Muitas vezes, isso é nitidamente proposital (tô lembrando agora do Alexander Nevsky, do Eisenstein).

Eu não vi Tropa de Elite. Mas quando o Luciano Huck faz uma convocação pública do Capitão Nascimento, um personagem que tortura bandidos, dá pra sacar que o personagem tem algo de muito autoritário, e essa característica é um elemento de identificação que vai atingir em cheio nossa direita, nossos concidadãos mais reacionários. Batata: se o Huck invoca o personagem como solução, ainda mais da maneira como fez, já sei que de solução ele não tem nada. E isso tudo pode não ter NADA a ver com o filme...

Além do mais, os personagens também tem vida própria. No ‘O que é Isso Companheiro?’, o policial torturador também aparece cheio de angústias, de problemas em casa com a mulher e etc. Mas o personagem faz sua escolha: continua torturando. E essa escolha, DO PERSONAGEM, é elemento vital do filme, ou do livro, e determina diretamente as identificações do público. Todo mundo gosta de determinados personagens, odeia outros. Uns gostam mais do Mussum, outros do Zacarias. Tem gente que acha Diadorim gente boa, tem gente que acha ele uma mala. Tem gente que acha o Chaves um saco, e adora o Quico... e certamente, vai ficar muito mais vidrado na tela na hora que seu personagem predileto aparece.

Sei lá, mas parece que tô falando algo ultra acaciano: uma coisa é o filme, outra coisa é o personagem. Outra é a relação do filme com o personagem. Os filmes geralmente têm suas preferências... isso é didaticamente exemplificável quando um livro é adaptado para o cinema: às vezes um personagem mais legal ganha menos destaque, ou vice-versa... sendo que isso sempre vai depender de algum recorte (tô com medo de agora ter relativizado demais). Enfim, a identificação sempre fala mais sobre quem se identifica, e se a identificação é em massa, fala muito sobre a coletividade (entendendo identificação como querer estar no lugar, se ver no lugar de determinada pessoa ou personagem).

- Enquanto você diz que não gosta da promiscuidade entre julgamento estético e ideologia, eu adoro, e inclusive acho que não existe pureza nessa hora. E, por mais que ideologia seja uma palavra meio safada, ela não se dissocia nunca de idéias, de abstrações, de valores – coisas que estão sempre incluídas em todo e qualquer julgamento estético. Mas eu entendo, e assino embaixo, quando você rejeita as taxações de “filme fascista”, essas picuinhas tão típicas do esquerdismo xiita p-sol.

- “Não gosto de rótulo nenhum. Sou um livre pensador” – Ai, desculpa, não consegui deixar passar essa...

- Quanto à conquista de mercado do cinema brasileiro sobre o hollywoodiano, também tenho minhas ressalvas, ainda mais quando o cinema brasileiro se porta como aspirante à Hollywood, e aí nem brasileiro direito é. Se o filme da Xuxa faz tanto sucesso, ou mais, que o Titanic, para mim estamos na mesma merda. O desenvolvimento da indústria brasileira de cinema, em termos econômicos, é muito interessante. Em termos artísticos, acho que devemos sempre desconfiar, ficar com um pé atrás, e aproveitar os progressos técnicos sempre a favor de nossa arte, na medida do impossível. Mas para isso é preciso, talvez, um momento de resistência.

Anônimo disse...

Caro Miguel,
Boa tarde.
Como não achei seu e-mail aqui no blog resolvi te escrever por aqui. Sou assessora de imprensa da ESPM e a escola está com as inscrições abertas para a pós-graduação em Comunicação Pública.
O curso visa a formar profissionais que compreendam as peculiaridades do setor pública e que sejam gestores na área. Segundo estimativas da própria escola, há uma demanda crescente por este tipo de profissional no setor público: existem cerca de 40 mil cargos nas esferas administrativas ou institucionais do país que lidam diretamente com a produção de comunicação pública. Abaixo, encaminho mais informações sobre o programa.
Gostaria de saber se você tem interesse em receber mais informações sobre as atividades deste programa de pós-graduação como palestras, fóruns, cursos e outras atividades realizadas pela ESPM relacionadas à comunicação pública e política.
Para mais informações, estou à disposição.

um abraço,
Aline Marques
Tamer Comunicação Empresarial
(11) 3031-2388
www.tamer.com.br

ESPM recebe inscrições para pós-graduação em Comunicação Pública



Programa lato sensu propõe reflexão sobre o exercício das atividades em comunicação pública e contribui para aperfeiçoar a democracia do país



São Paulo, 18 de fevereiro de 2008 - As dimensões para a formação em comunicação pública - essenciais em sociedades democráticas - são as principais responsáveis para consolidar o processo de participação popular e representa mais uma etapa para o aperfeiçoamento da democracia brasileira. Consciente de seu papel nessa área, a ESPM oferece o programa de pós-graduação em Comunicação Pública e as inscrições seguem até o próximo dia 21 de fevereiro.



O setor aponta uma demanda crescente e carece de profissionais que sejam gestores na área e que compreendam as peculiaridades da área pública em todas as esferas sejam municipais, estaduais ou federais. Segundo estimativas da ESPM, existem 40 mil cargos nas esferas administrativas ou institucionais do país que lidam diretamente com a produção de comunicação pública.



A principal responsabilidade da comunicação não é apenas a transmissão de informações, mas sim, a construção de canais para a decisão partilhada pela sociedade civil por meio de órgãos como ong´s, sindicatos, universidades e autarquias. A área pública deve apresentar estratégia diferenciada da comunicação mercadológica tradicional e muitas vezes, o profissional que passa a atuar nestas esferas projeta uma prática de mercado que, na maioria das vezes, não alcança seus objetivos.



O programa apresenta os fundamentos teóricos para questões como relação entre Estado/Sociedade Civil e entre Estado/Mídia; a necessidade de ética e transparência na comunicação pública; a comunicação como elemento fundamental de mediação e reconhecimento social; e a estrutura do mercado brasileiro de mídia, entre outros.



Além disso, o curso capacita os profissionais dos quadros gerenciais das diversas esferas e das agências responsáveis por contas públicas ao apresentar as mais recentes práticas do planejamento estratégico e da administração da comunicação com foco na esfera pública. Não é um curso de marketing político ou eleitoral, e sim de gestão, possibilitando a melhor articulação do conhecimento técnico aprofundado dos meios e com uma consciência clara da agenda e dos desafios desse campo.



O curso tem duração de 15 meses e carga horária de 360 horas/ aula. Para pleitear a vaga, o candidato deve apresentar diploma de conclusão de curso superior, passará por análise curricular e entrevista.



Pós-Graduação em Comunicação Pública

Duração: 15 meses

Carga Horária: 360 horas/aula

Período: Noturno, terças e quintas-feiras.

Taxa de inscrição: R$ 150,00

Preço: R$ 22.003,32 (à vista) ou 18 parcelas de R$ 1.423,58

Início das aulas: 4 de março



Inscrições - até 21 de fevereiro de 2008

Campus Rodolfo Lima Martensen

Rua Joaquim Távora, 1240, Vila Mariana, São Paulo

Informações: www.espm.br

Telefone: (11) 5081-8225 ou pelo e-mail

candidato@espm.br



Entre as principais disciplinas estão:

Estado, Governo e Sociedade;
O cidadão como parceiro do Estado
Estado e estratégias de comunicação pública;
Estudo da mídia brasileira,
Comunicação e cultura nas organizações públicas,
Administração de sistemas integrados de comunicação pública,
Mobilização e propaganda ideológica de Estado,
Planejamento e implementação de campanhas publicitárias sociais,
Gerenciamento de crise na comunicação pública,
Palestras e discussão de casos a cargo de profissionais do mercado.
Informações à imprensa

Tamer Comunicação Empresarial

(11) 3031-2388/ (11) 9940-0128

Geyse Alencar – geyse@tamer.com.br

André Lux disse...

Miguel, você é um cara brilhante e muito culto, porém sua defesa do "Tropa de Elite" não faz sentido.

Você gostar ou não de um filme é uma coisa, algo totalmente subjetivo. Agora, querer provar que o filme é bom só porque ele "bem feito", "fez sucesso" ou "ganhou prêmios" não quer dizer nada. Pelo contrário. Se fosse assim, "Titanic" seria o melhor filme de todos os tempos. O mesmo poderíamos dizer de "Armageddon", outro exemplo de cinema super bem acabado.

Assim, "Tropa de Elite" realmente é um bom filme no sentido de ser bem feito, ter narrativa trepidante, efeitos sonoros arrasadores, atuações convincentes e fotografia elaborada. Porém, a ideologia que o filme defende, dentro de sua estrutura narrativa, é fascista do começo ao fim. É para isso que muitos críticos e curiosos tentam alertar.

Eu mesmo cheguei a ver "Comando para Matar" e "Rambo II" nos cinemas umas 6 vezes na época (dá um desconto, pois eu tinha uns 15 anos!) e provalmente continuaria a me divertir com toda aquela baboseira muito bem filmada e montada. Agora, se alguém falar que são filmes fascistas, serei obrigado a concordar, por mais que "goste" dos produtos...

Eu tenho certeza que o Padilha não teve a intenção de fazer um filme fascista, porém ele falhou em vários pontos e me parece que alguém o convenceu, na última hora, a trocar a narração que era feita pelo policial negro e passá-la para o grotesco Nascimento, tirando assim qualquer possibilidade de crítica ou aprofundamento psicológico do protagonista do filme (que é o Matias, não o Nascimento).

Assim, não adianta tentar justificar que o Nascimento é “profundo” por ser problemático ou sofrer de síndrome do pânico, pois, vale lembrar, o Rambo do Stallone também era um desajustado que tinha traumas psicológicos provocados pela guerra do Vietnã e dizia com orgulho que confiava "apenas no seu facão". Mas isso não o impedia de metralhar heroicamente os vilões malvados com frieza e requintes de crueldade em nome do imperialismo estadunidense para deleite da platéia, da mesma forma que faz o capitão Nascimento em nome de algo que nem fica claro no filme.

Bom, não quero me estender. Se quiser ler minha crítica ao filme, feita na época em que estava nos cinemas, siga este link: http://tudo-em-cima.blogspot.com/search?q=rambo+dos+pobres

Miguel do Rosário disse...

Resposta à Andre, Anão e Wilson.

Andre, minha defesa de Tropa de Elite não se embasa em seu sucesso comercial. Em absoluto. O filme foi também um sucesso de crítica e agora ganhou o Festival de Berlim, um dos mais prestigiados do mundo. O que eu explicitei é que Tropa de Elite, sem fazer concessão popularesca, conseguiu grande sucesso popular. Também não podemos cair na esparrela intelectualóide de que, só porque o filme faz sucesso, é necessariamente ruim. Eu defendo o filme sobretudo porque eu gostei.

Anão, não podemos deixar que nossos desafetos pautem nossos gostos estéticos. Já basta que pautem algumas de nossas ações.

Wilson, Cinemas, aspirinas e urubus é um dos filmes mais belos dos últimos tempos. Não houve cerco porque não trata de tema polêmico, além de ser um filme nitidamente destinado a um publico cult.

André Lux disse...

Caro Miguel, eu tenho certeza absoluta que a opção de mudar a narração do Matias para o Nascimento foi, como você disse, "popularesca".

E certamente deve ter sido aconselhada por algum executivo estadunidense de olho no potencial do filme, afinal o público em geral não gosta de filmes-denúncia com aprofundamento psicológico. Já de pancadaria, tortura e tiros narrados por um cara maneiro a maioria gosta...

Assim, o que poderia ter se tornado um filme-denúncia graças às nuances que a narração do protagonista traria, virou nada mais do que um Rambo tupiniquim, dando voz a um coadjuvante que age como um sociopata, mas narra tudo como se fosse um sujeito fodão e hiper-descolado (o erro mais gritante da narrativa, na minha opinião).

Me impressiona um cinesta do calibre de um Costra-Gravas fazer lobby para premiar um filme tão repulsivo quanto esse. Na certa o festival de Berlim estava precisando gerar alguma polêmica para conseguir publicidade na mídia. E nada melhor do que dar o prêmio a um filme brasileiro que fala de favelas, corrupção e torturas.

Anônimo disse...

É isso que lamento Miguel. O "Brasil" nunca vai gostar de um filme como "cinema...".

Wilson Cunha Junior

André Lux disse...

Miguel, postei seu texto sobre Tropa de Elite lá na página da Fórum. Bem em cima do meu!

Abraços!

Miguel do Rosário disse...

Obrigado André e parabéns a você e à Revista pela iniciativa, que é excepcional. Abraço.

O Anão Corcunda disse...

Acho que não tem nada a ver com o gosto de nossos desafetos 'pautar' o nosso gosto, mas sim de perceber o que diferencia os nossos gostos. Quando você diz que nada importa se a Veja gosta ou não do filme, parece estar isolando a arte num purismo, num patamar acima das idéias e das abstrações, como se a arte existisse em si, prescindisse da realidade e das pessoas de carne e osso que se deparam com ela. Acho que não dá para fazer qualquer análise estética sem atravessar, em algum momento, uma análise política (no sentido amplo do que chamamos política). Senão, vira uma coisa masturbatória demais, "arte pela arte" e coisas do tipo.

Miguel do Rosário disse...

Anão, isso não é um jogo de contrários. Senão vira uma coisa infantil: se a Veja disser que gosta de Machado de Assis, não vou deixar de gostar do bruxo do Catete e por aí vai. Estou me lixando para se a Veja gosta ou não do Tropa de Elite. Além do mais, também não concordo com essa visão maniqueísta. Não ponho a Veja no altar de Belzebu. É apenas uma revista vendida, como tantas outras, e ela pode gostar ou não do que ela quiser, isso realmente não me interessa. Tropa de Elite faz um contraponto bastante interessante com filmes muito bons, mas com pouco apelo popular, como Cinema, Aspirinas e Urubus, do Marcelo Gomes, e Amarelo Manga, do Claudio Assis, e tantos outros.

O Anão Corcunda disse...

Está escrito no meu primeiro comentário: o que importa são os motivos que levam nossos desafetos a gostar de coisas que muitas vezes também gostamos. Esses motivos, os deles e os nossos, podem ser antagônicos, embora a obra de arte seja "a mesma". Parece-me fundamental nos apropriarmos dessas diferenças, elas podem nos explicar muita coisa. Agora, fala sério: se a Veja começar a elogiar muito Machado de Assis, você não vai achar que tem alguma coisa estranha acontecendo??? Não vai ficar nem um pouco curioso??? Você jura mesmo que vai ficar pouco se lixando???

Anônimo disse...

Parabéns Miguel!

Não gosto de oferecer este tipo de comentário pois acho meio puxa saco.Mas estou tecendo no seu blog devido à uma profunda identificação com seu comentário a resspeito do TDE.Eu já estava achando que todos os "intelectuais" bloguistas estavam precisando de uma reciclagem.Será que este pessoal não consegue ver nada de positivo nas coisas?....será que tudo se refere à facismo, à golpe, à manipulação da mídia?......Acho que os intelctuais do momento deveriam procurar ter um pouquinho de empatia com os anseios da sociedade e constatar que na maioria das vezes, principalmente quando se vai ao cinema a gente vai lá pra se divertir!!!!....e o problemas dos intelectuais é que eles vão para usar o "intelecto".
Atenção "intelctuais do Brasil"......relaxem e gozem que nem tudo é caos.

Postar um comentário