11 de fevereiro de 2008

A ética de Carlos Alberto "Opus Dei" Di Franco

Dois artigos, dois caras de pau. Carlos Alberto Sardenberg e o representante máximo do Opus Dei no Brasil, Carlos Alberto Di Franco. O artigo do Sardenberg é um amontoado de abobrinhas. Começa citando Churchill, conforme o gosto chique da direita tupi. Esses caras nunca irão citar Vargas. Mas o artigo do Sardenberg não tem força. Ele mesmo sinaliza isso ao encerrar assim: "pode parecer bobeira, mas a falta de regulamentação leva aos abusos que se têm visto". Que lindo. O cujo não lembrou que antigamente os gastos públicos simplesmente não tinham nem regulamentação nem transparência nem nada. Os comentários que ele faz à questão do sigilo dos gastos presidenciais apenas servem à estratégia da oposição, de bater no Lula. Os gastos da presidência são sigilosos desde há muito. Por que agora, com Lula, querem tirar o sigilo?

Aí vamos para o artigo do Di Franco, esse sim um primor de hipocrisia. Defensor-mor do papa, porque não pede ele para o chefe do vaticano divulgar seus gastos na internet? Medo de que descubramos artigos pornográficos entre eles? O engraçado é que essa turma se tornou, subitamente, fanática por transparência total e especialista em segurança de chefes de estado. O título do artigo de Di Franco não podia ser mais capcioso: Farra sob o sigilo. Quem é ele para rasgar a mais básica premissa de presunção de inocência e, na página de opinião de um dos maiores jornais do país, acusar sem provas a presidência de fazer farra com dinheiro público? Por acaso, antes de Lula, havia alguma transparência? O sigilo de chefes de Estado é uma exceção brasileira ou uma prática comum em chefes de Estado em todo mundo? Apuraram isso? A gente sabe a marca do vinho que o Sarcozy toma ou se ele comprar carne irlandesa, brasileira ou argentina? Está lá na internet? O sigilo não existia para FHC? Quem implantou o Portal da Transparência? Foi o governo Lula, a partir de novembro de 2004. Quem passou a usar o cartão corporativo, que permite a fiscalização dos gastos? O governo Lula, a partir do primeiro ano de seu governo. Sempre é bom lembrar que o volume de gastos dos funcionários do governo federal caiu de mais de R$ 220 milhões nos últimos dois anos do governo FHC (ou seja, em ano de campanha eleitoral, os gastos eram altos e não havia transparência. Isso não é prova de mensalão? Ah, se fosse o PT) para menos de R$ 150 milhões por ano no governo Lula.

Leiam esse trecho: "Segundo o chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, General Jorge Félix, os gastos desses funcionários [da Presidência] são sigilosos e não deveriam estar no Portal da Transparência. A afirmação do ministro está na contramão dos valores que compõem um país democráticos. A sociedade tem o direito legítimo de saber o que se faz com o dinheiro do contribuinte. E a autoridade tem o dever de informar. Ademais é ridículo ocultar gastos em supermercado, postos de gasolina, churrascaria, magazines e outros comércios, sob o manto protetor da segurança nacional. O princípio constitucional da publicidade, pelo qual qualquer cidadão tem direito a obter das autoridades públicas informações de interesse pessoal e geral, é a pedra de toque da democracia".

Essa é boa. Agora a "pedra de toque da democracia" é saber a quantidade e marca do óleo de soja que a presidência comprou para fazer pipoca. Qual o grande interesse pessoal e geral em saber essas coisas? E onde está o voto de confiança na Presidência da República? Di Franco agora se tornou especialista em assunto de segurança? É evidente que saber onde, o quê e quem adquire os mantimentos do chefe de Estado é assunto de segurança. Por que indica hábitos, pessoas e locais, relativos ao autoridade maior da nação. Se 62 milhões de pessoas votaram em Lula, essas 62 milhões de pessoas querem que o seu candidato e sua família tenham proteção total, e enquanto esses lacerdistas hipócritas estão indignados se Lula compra carne argentina ou vinho chileno, eu tenho certeza de que os 62 milhões de eleitores de Lula não estão nem um pouco chateados com isso. Lula é presidente de um país colocado entre as 10 maiores economias do mundo. É mesquinharia doentia, coisa de mão-de-vaca invejoso, ficar de olho grande no que Lula consome. Além do mais, é notório que Lula é um homem de hábitos muito mais simples que seus antecessores. O Estado precisa ser protegido da bisbilhetice sim. É preciso haver transparência onde tem de haver transparência e foi Lula quem inaugurou o Portal de Transparência. Mas é preciso haver sigilo onde tem de haver sigilo. Ainda mais se envolver segurança. Qual é a curiosidade doentia em relação ao que Lula comprou no Pão de Açúcar, meu Deus?

Di Franco dá prosseguimento à campanha baixa e deselegante da mídia para expor Lurian, filha de Lula. Cita os gastos feitos pelo segurança de Lurian, mas não as explicações do general Jorge Félix. Leiam esse trecho:

"O que chama mais atenção são os gastos na loja de Autopeças Badu. Desde o início de 2007, são gastos mensais, em vários dias diferentes, com notas que variam de R$ 100 a R$ 800, valor limite de cada nota por dia. No dia 13 de novembro, por exemplo, Fernandes [segurança de Lurian] registra notas diferentes de R$ 650, R$ 800 e R$ 750".

É inacreditável a pequenez desse sujeito. Qualquer prefeitura chimfrim do Mato Grosso do Sul tem gastos maiores que esse. Mas estamos falando de gastos da Presidência da República, gastos com segurança, que constam (por engano, mas constam) do Portal da Transparência. Em si, não há nada de errado com esses gastos. Que há de estranho em gastar numa Autopeças? Seguranças não usam carros? O mais irritante disso é que, eventualmente, pode até haver alguma irregularidade, assim como pode ter irregularidade em qualquer gasto de qualquer vereador, prefeito, deputado, senador, governador ou executivo de empresa. O absurdo é expor o nome da filha do presidente. O absurdo é esse ataque baixo, por parte de personalidades que ainda se arvoram defensoras da ética nacional. É ético envolver a filha do presidente numa luta política com a qual ela não tem nada a ver? Por que Di Franco não pede para quebrar o sigilo dos gastos dos senadores, do governador Serra, e sabermos a quantas andam seus filhos e filhas? O sigilo da família presidencial deve ser mantido sim, até por uma questão de privacidade. O ônus de ser presidente ou familiar de presidente é enorme, por várias razões, e o mínimo que o Estado pode retribuir é respeitando a privacidade e proporcionando segurança.

Di Franco cita o tenente-coronel de Infantaria Rawling Souza, ajudante-de-ordens do gabinete da República. Nos dá a preciosa informação de que ele gastou R$ 5,1 mil com papelaria e compras em supermercados em 2007. OOOOH! A grande pergunta é: e daí? Se Di Franco nos tivesse informado que ele gastou o dinheiro na boca de fumo da favela da Maré, aí sim era um caso grave, mas em papelaria e supermercado? E R$ 5,1 mil em 12 meses? Eu, que sou pobre, moro num quarto e sala com cozinha americana num bairro proletário do Rio de Janeiro, que não recebo ninguém em casa e lancho pão francês com presunto e almoço de vez em quando num restaurante de R$ 2,99 que tem aqui perto, gasto mais que isso num ano inteiro! Quanto Di Franco gasta em supermercado num ano inteiro? Imagina uma instituição como a Presidência da República, com seus centenas de assessores, seguranças, convidados nacionais e internacionais, etc, etc. Ou seja, R$ 5,1 mil não é nada. É mixaria! Por que Di Franco, então, expõe assim o nome do tenente-coronel Rawling Souza, constrangendo-o e à sua família, realizando um enorme desserviço à segurança pública da Presidência e logo aos interesses nacionais? Claro que sabemos a razão! Por que Di Franco é um hipócrita, um cínico, um mau-caráter, que pretende surfar na onda de uma crise artificial para ganhar os holofotes junto às elites alinhadas com a oposição. Uma oposição derrotada fragorosamente, sempre à procura de um fato que leve ao terceiro turno. Di Franco foi um dos mais ativos e próximos apoiadores de Geraldo Alckmin. Ok, tem todo o direito de ser um cara de oposição. Mas não fica bem colocar a família de Lula no meio dessa sujeira, o que só revela o desespero de uma oposição sem rumo. Esse artigo me leva a crer que a ética de Di Franco (é doutor em ética pela universidade Opus Dei de Navarra) está alojada em algum ponto obscuro de seu corpo, quiçá próximo à próstata.

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