28 de fevereiro de 2011

Boa análise de Janio de Freitas

(Jonathan Meese, artista contemporâneo alemão)


Achei interessante esse artigo de Janio, uma análise perspicaz sobre os dilemas da oposição, além de detectar a estratégia de Dilma para lidar com seus adversários. Se a oposição não tem argumentos com os quais combater um governo com bons números para mostrar, restou-lhe uma oposição histérica, subjetiva e perfunctória. A partir do momento, todavia, que Dilma procura estabelecer um diálogo amistoso com setores da oposição, esta terá dificuldade para prosseguir sua estratégia de ataques ad persona. Janio se arrisca e menciona o "oposicionismo em meios de comunicação martela no alarmismo, com os dados insatisfatórios, e produz sempre um "mas" para juntar aos dados positivos."


Um desejo de Dilma

Janio de Freitas

Relações positivas entre a presidente e a oposição poderiam resultar em uma reordenação até imprevisível

AS DIFERENÇAS de métodos e de modos entre Dilma Rousseff e Lula ganham um componente novo, e impressentido pelas inúmeras comparações feitas dos dois. Decorre de particularidade pessoal da presidente, mas, não menos, de uma condição especial que distingue politicamente sua Presidência de todas as anteriores, não só de Lula.

O desejo de Dilma Rousseff de reuniões desarmadas com oposicionistas, bem simbolizado na cordialidade do encontro e do seu convite a Fernando Henrique Cardoso, contrasta com a rigidez atribuída, naquelas comparações, a seu temperamento e a sua atitude política na Presidência. Até aí, uma novidade interessante. A partir dela, porém, projeta-se um elemento indigesto a mais no embaraço em que a oposição está desde que o governo Lula começou a construir fisionomia própria, não mais apenas de constrangida prorrogação do antecessor.

A satisfação com a política econômica, nas classes média e alta, e a recepção das medidas populares deixaram a oposição, no governo Lula, sem matéria substancial para fazer o seu papel.
Ir além do governo, com propostas mais avançadas, era inconcebível pelo conservadorismo que impregnava, e impregna, a oposição. Restou o oposicionismo superficial, aos modos pessoais de Lula, às práticas permanentes de populismo, e a uma ou outra posição na política externa -as relações com Chávez, com a complicada Bolívia de Evo Morales, com o Equador, mais tarde com o Irã, nada que desse forças à oposição.

O embaraço oposicionista se repete. O oposicionismo em meios de comunicação martela no alarmismo, com os dados insatisfatórios, e produz sempre um "mas" para juntar aos dados positivos. Entre deputados e senadores, até agora a oposição limitou-se à cômoda hipocrisia de defender um salário mínimo que sabia não ser aprovável e contrário a tudo o que sempre disse e fez, quando governo. Os ataques pesados emitidos por José Serra caíram no vácuo, nem os parlamentares do seu partido o embalaram.

Nesse embaraço revestido de falta de criatividade, a tendência de uma relação cordial entre a presidente e lideranças oposicionistas é estender-se, forçosamente, dos modos pessoais aos modos políticos. O que funcionará, em silêncio, como uma restrição aos ataques exaltados que, incidentes embora em aspectos superficiais ou de expressão limitada, constituem o oposicionismo.
O embaraço do embaraço.

Fernando Henrique e Lula gostariam muito de ter conseguido algum grau de convívio amistoso, pessoal e político, com lideranças das respectivas oposições. Não esconderam esse desejo, nem conseguiram dar um passo na direção dele. Dilma Rousseff desfruta de uma condição que faltou aos dois, como é próprio das Presidências.

Sua origem e seu percurso para chegar ao Planalto não se fizeram na vida política, nas disputas partidárias, nos embates parlamentares, nas lutas entre oposição e governo. Dilma Rousseff não traz, nem deixou nas eminências partidárias, ressentimentos e idiossincrasias que podem ser disfarçados, mas não são inativos. Conduzem, mesmo, grande parte da política. Não, até agora, em relação a Dilma Rousseff.

Em efeito extremo e, sobretudo, improvável, relações positivas entre a presidente e lideranças oposicionistas poderiam resultar em ambiente e reordenação política, ou partidária, de importância até imprevisível. Mas levar as coisas a tal ponto conflita com as ambições pessoais, que se juntam sob a máscara de objetivo ou interesse partidário. Se, no entanto, do propósito manifestado por Dilma Rousseff surgir algo novo, já será avanço. Qual e quanto, importa menos.

2 comentarios

Anônimo disse...

vão ser jantados...

spin disse...

Alguns comentaristas exageram em seus comentários, uns estão desavisados, outros com boas intenções e outros por má fé mesmo(por serem serristas)

Não concordo que haja malocismo no governo, quem sabe daqui a 2 anos, ao olhar para trás, eu mude de opinião, agora não.

Nem o Altamiro Borges e a CUT, nem um dos são isentos em suas análises de conjuntura, pois o Miro e do PC do B, que disputa espaço com o PT, embora aliados de sempre, e a CUT também não é isenta, por ter que entoar um discurso sindical, para sua base, e não para o eleitorado brasileiro como um todo

São precipitados em suas análises, temos que ter cuidado, em muitos países os avanços tiveram que retroceder por causa do umbigo do movimento sindical, eu que já fui diretor de sindicato, falo com conhecimento de causa

E olhe lá que o Judiciário está indo mesmo embalo, vide blog do Ricardo Kotscho, salários de até 90 mil reais no STJ, se abrir a porta o país arrebenta,

Necessito de análises isentas sobre o tal "malocismo", no resto discordo totalmente, Dilma está acertando em todas as áreas do governo, repito, minha dúvida é apenas o tal "malocismo' mas,é claro, preciso de análises isentas, as da CUT e Miro não me servem

Não se trata aqui de nenhuma depreciação com relação ao Miro e a CUT, claro que não, só estou dizendo que a análise deles não é totalmente isenta

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