19 de agosto de 2007

O suicídio da primeira namorada de Fritz Lang



(Cena de O Vampiro de Dusseldorf, 1931)


Lisa abriu a porta do apartamento e flagrou os dois pelados no divã. Sim senhor, ele mesmo. O cineasta Fritz Lang beijava Thea von Harbour, trinta e dois anos, escritora, uma das primeiras berlinenses a usar cabelos curtos. Lisa atravessou a sala chorando e trancou-se no quarto. Lang e Thea estavam chapados de álcool e cocaína. Entreolharam-se, riram e voltaram a se beijar, enquanto travavam, silenciosamente, o seguinte diálogo.

E aí, Fritz, que vai acontecer?
Bah, não sei. Provavelmente ela vai ficar trancada no quarto por dias, chorando. Depois vai querer se separar, depois vai mudar de idéia, depois vai querer se separar de novo. Mas não tem importância. Eu estou com você agora.
Ótimo. Iremos nos divertir muito. Sempre achei que você merecia coisa melhor do que essa magrela assustada.
Claro, me beija mais.

Ele contemplava extasiado os peitões de Thea, que por sua vez enfiava a mão direita por baixo da calça de Fritz. Apaixonou-se novamente, Fritz? Sim e desta vez é sério. Ah ah, não brinca? E se eu lhe contar que ela flerta com os nazistas? Se eu contar que ela está com você apenas porque seu filme, Metrópolis, foi elogiado publicamente por Hitler?

Escutaram o tiro como quem escuta o telefone tocar em hora inconveniente. Por alguma razão, Fritz não ficou surpreso. Mas Thea ficou imediatamente tensa e procurou sair do divã. Ele a segurou com força. Virou-a de costas. Ergueu-lhe a saia. Penetrou-a com força. Mesmo nervosa, Thea gozou em poucos minutos. Tantos anos aguardando esse momento.

Uma hora depois, Fritz despertou apavoradíssimo. O tiro. Lisa. Estudou por um tempo seu pênis murcho e babado de sêmem, como quem lê várias vezes a página de um livro, sem entender nada. Finalmente, levantou-se e vestiu-se. Thea dormia profundamente. Fritz encaminhou-se até o quarto, tentou abrir a porta. Voltou à sala. Procurava lembrar, absurdamente, o nome do personagem principal do romance de Peter Kurten (que adaptaria para o cinema, com O Vampiro de Dusseldorf.) Tenho que fazer um filme sobre a culpa. Eu sinto culpa. Lembrou, enfim, onde guardava a chave mestra.

Preparou-se para o que viria. Mesmo assim, não pode conter o grito. O queixo desaparecera. Ela havia encostado o cano do 38 no maxilar inferior.

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