3 de janeiro de 2009

Chantagens pesadas em Brasília

Ontem assisti, pela enésima vez, o Poderoso Chefão, parte II, do inestimável Francis Ford Coppola. Logo no início do filme, um senador corrupto, que participava da festa de aniversário do filho de Michael Corleone, resolve dar uma de durão e independente e diz um monte de grosserias para o temido Padrino. Que houve em silêncio e responde calmamente, sem criar atrito.

Tempos depois, o senador acorda uma tarde num quarto de bordel, ao lado de uma moça morta e amarrada à cama. É uma prostituta que ele conhece e com quem estava na noite anterior. Mas ele não se lembra de ter ido àquele quarto com ela. Não se lembra de nada. Quanto mais de haver enterrado uma faca no abdômem da moça. Ele não lembra porque, em verdade não fez nada. É uma armadilha montada por Michael Corleone para deixar o senador preso a ele, visto que o advogado de Michael chega ao bordel a tempo de salvá-lo de um escândalo midiático e prisão por homicídio.

Fico imaginando o que caras como Daniel Dantas não devem fazer de semelhante para manter o controle de setores do Executivo, do Judiciário e do Legislativo. Fico pensando também como as pessoas são ingênuas em conceber a política como uma gincaninha moral. Estão sempre lá, sob o umbral da porta, prontas para fugir para fora de casa, abandonar tudo, em prol de sua terrível decepção com o partido ou com seu candidato.

Eu nunca me envolvi com partidos políticos. Não tenho nada contra, ao contrário. Acho que até teria me feito bem, teria feito mais amigos e me divertido mais. Mas nunca me envolvi porque não me empolgo facilmente com nada e nunca acreditei que houvessem partidos maravilhosos, santos. Para mim, é uma coisa simples. Não existem partidos santos porque não existem homens santos. No máximo, existem bons hipócritas.

O que falta, na minha opinião, é um tratamento cultural mais profundo de nossa realidade política. Por parte de cineastas, escritores, dramaturgos. Nos EUA, são feitos milhares de filmes por ano sobre seus senadores, parlamentares, presidentes, empresários, juízes, jornalistas, mostrando as mil e uma facetas com que a corrupção, a intriga, a chantagem, se revelam. Talvez aí as pessoas pudessem compreender, de maneira mais madura, como é podre o mundo da política, mas que a podridão também vem (quiçá em maior quantidade) de fora das instituições, dos lobbies de empreiteiros, de banqueiros mafiosos, de jornalistas espertos demais.

Em todas as situações, todavia, o papel da mídia é determinante. A maneira como os casos de corrupção serão tratados e discutidos na mídia continua sendo fundamental no processo de criação e hierarquização dos valores. E a mídia brasileira, decididamente, não é um instituição isenta de interesses. Fernando Henrique Cardoso vendeu a Vale do Rio Doce por menos de 1 bilhão de dólares, e com dinheiro emprestado pelo BNDES, e hoje sabemos que a Vale fatura mais de 30 bilhões de dólares por ano. No entanto, a indignação de jornalistas como Cora Ronai explode quando o ministro do Esporte paga uma tapioca de R$ 8 em Brasília com seu cartão corporativo.

Esse será um ano interessante. A blogosfera vive um grande momento, e temos um público gigantesco a conquistar. Teremos muito trabalho. Ainda estou meio frio. Vamos aquecendo.

2 comentarios

Anônimo disse...

Eu adoro tapioca. E o FHC não vendeu a vale, apenas deu de presente em troca de uma mera quantia para o "café", mas isso não tem importancia porque ele tem contatos na mídia.
A proósito, adoro o poderoso chefão. Vi os 3 quase que no mesmo dia nesses dias de folga.

Miguel, tenta escrever um artigo sobre os estudantes e a meia entrada, tanto em eventos culturais, cinemas, como em ônibus (várias cidades estão tentando proibir) acho que é um assunto muito válido e polêmico, e é interessante ver como os "conservadores" acham mesmo que, se as meias entradas forem extintas, o preço vai cair pela metade pra todo mundo. Ah matemática simples dessas pessoas, esquecem como funciona a ganância humana. Maria Inês Dolci escreveu algo a respeito aqui:http://mariainesdolci.folha.blog.uol.com.br/arch2008-11-02_2008-11-08.html Desculpa fugir do tema, mas acho uma boa sugestão.
Abraço.

Juliano Guilherme disse...

O preço vai cair tanto quanto caiu quando o CPMF foi extinto. Caiu quanto mesmo?

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