23 de janeiro de 2009

Mais sobre o Caged

Publiquei no Google Docs outra tabela interessante, com a variação do nível de emprego por sub-setor da economia.

Recorto um trecho da tabela e publico abaixo. Clique nela se quiser ampliar.

Repare que os setores que registraram mais problemas em dezembro foram também os que registraram os aumentos mais expressivos em números de empregados admitidos no acumulado do ano.

A indústria de transformação, por exemplo, a grande vilão deste dezembro negro, demitiu 390 mil pessoas em dezembro último, mas no acumulado Jan/Dez 2008, o mesmo setor registrou a admissão de 3,52 milhões de trabalhadores, aumento de 13% sobre 2007.

Considerando que a principal empresa deste setor é a Vale, não resta dúvidas de que a decisão de Rogner Agnelli de realizar demissões em massa no auge da crise, mesmo depois de anos seguidos de lucros recordes, contribuiu significativamente para criar um efeito em cascata em todo o segmento da indústria de transformação.

Outro importante responsável pelos números negativos de dezembro foi o setor de serviços, que demitiu, em todo país, 480 mil pessoas em dezembro. Este segmento caracteriza-se pela pequena empresa. No entanto, o mesmo setor registrou a entrada de 5,8 milhões de postos de trabalho em 2008! Um aumento de 18% sobre 2007, que, todos sabem, já tinha sido um ano de crescimento recorde para a economia brasileira. 

Por fim, o setor de construção civil foi o terceiro principal responsável pela queda no saldo de empregos em dezembro. O setor demitiu 163 mil pessoas nesse mês, mas, no ano calendário de 2008, assinou 1,86 milhão de carteiras, registrando um aumento excepcional de 31% sobre o período anterior!

Os três setores, somados, criaram 11,24 milhões de postos formais de trabalho em 2008, mas tiraram 10,2 milhões, obtendo um saldo superior a 1 milhão de empregos.

Se lembrarmos que os EUA, a economia mais poderosa do planeta, vive uma recessão técnica há mais de um ano, a situação brasileira é mais do que confortável. É quase inacreditável que o Brasil tenha gerado uma quantidade tão monstruosa de empregos em 2008, um ano que, desde o início, apresentou-se difícil em todo mundo e, a partir de setembro, viveu os piores meses desde o final da II Guerra. 

Com crise e tudo, as empresas brasileiras geraram no ano passado um total de 16,6 milhões de postos formais. Para efeito de comparação, em 2002, ano em que não havia nenhuma crise internacional, a geração de empregos foi de 9,8 milhões de empregos. Lembrando: em dezembro de 2002, o salário mínimo, em valores corrigidos para hoje, correspondia a R$ 257. De lá para cá, este salário registrou ganhos reais de 48% e está hoje em R$ 415. 

2 comentarios

Anônimo disse...

Você tem o dado sobre região geográfica? Era bom ver se não há uma forte concentração em SP.

Miguel do Rosário disse...

Sim, vera, publiquei aqui:

http://spreadsheets.google.com/pub?key=puNwwl3xBN-LoZwxUK-5vDA

São Paulo demitiu 556 mil empregados de carteira assinada, segundo o Caged, em dezembro de 2008. Esse número correspondeu a 36% do total de demissões de dezembro (que totalizou 1,54 milhão de carteiras). Mas esse percentual está dentro da "normalidade" para SP. Não se pode afirmar, de fato, que SP tenha contribuído determinantemente para aumentar o desemprego, ainda mais que, no saldo acumulado do ano, São Paulo gerou 5,4 milhões de empregos com carteira assinada. Nada me convence, porém, que faltou articulação política de Serra para convencer as lideranças empresariais do estado a evitarem ao máximo demissões, por conta da crise financeira.

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