23 de janeiro de 2009

Unemployment

Andei lendo algumas coisas que gostaria de compartilhar com vocês. O saldo negativo do emprego formal de 654 mil em dezembro último causou muito alvoroço. O que não se comentou foi que dezembro, em função dos empregos temporários contratados em outubro e novembro (e dezembro) pelas indústrias e comércio para trabalharem nas prévias de Natal, costuma registrar elevado saldo negativo. Um saldo negativo de 450 mil em dezembro, por exemplo, seria considerado normal. Em dezembro de 2007, um ano excelente para o emprego, o Caged registrou um saldo negativo de 319,4 mil postos de trabalho.

Reparem na contratação no último trimestre.

Geração de empregos formais
1451.205 - outubro 2008
1275.674 - novembro 2008
887.299 - dezembro 2008
Total - 3.614.178

Viu? O Brasil gerou 3,6 milhões de empregos com carteira assinada no último trimestre. O saldo negativo de 654 mil em dezembro deve ser mensurado de acordo com esses números.

Para efeito de comparação, copiei os dados referentes ao último trimestre de 2001. O Brasil gerou 2,25 milhões de empregos com carteira assinada.

Geração de empregos formais
852.227 - out 2001
811.245 - nov 2001
593.996 - dez 2001
Total - 2.257.468

Detalhe: em dezembro de 2001, o Brasil perdeu 253.923 postos formais de trabalho.

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Mais comparações: 1) em dezembro de 2002, o Caged registrou um saldo negativo de 249.514 postos de trabalhos. 2) Em dezembro de 2003, tivemos um saldo negativo de 300 mil postos. Ou seja, dezembro nunca foi um ano bom para o mercado de trabalho brasileiro.


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As lições que tiramos desta situação são as seguintes. Como grande parte dos empregos gerados em dezembro são temporários, quando a contratação é volumosa, a dispensa também o é. Os números do IBGE divulgados hoje, longe de entrarem em contradição com os números do Caged, explicam-nos. Houve grande geração de emprego no último trimestre, mas foram, em sua maioria, empregos temporários. O nome diz tudo: tem-po-rá-ri-os. Os trabalhadores foram contratados e dispensados. Em outras palavras, a situação pode ser crítica, mas não podemos perder o senso de proporção. O Brasil é um país com 190 milhões de pessoas, 654 mil postos de trabalho é um número pomposo, mas corresponde a somente 0,3% da população brasileira.

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Repito um fato que igualmente passou batido. As demissões concentraram-se em São Paulo e Minas Gerais, estados governados pelo PSDB. Somente São Paulo registrou um saldo negativo de quase 250 mil empregos em dezembro. Minas Gerais veio em segundo lugar, com fechamento de 88.062 vagas. São Paulo e Minas, portanto, responderam por mais da metade do número negativo que assustou um país, que tem outras 24 unidades da federação.

Os governadores, pelo jeito, não se esforçaram, junto às lideranças empresariais de seus estados, para evitar essas demissões. Serra liberou uns bilhões para a indústria automobilística, mas sem condicionar à manutenção dos empregos.

13 comentarios

Lingua de Trapo disse...

Olá Miguel, obrigado por acompanhar o Língua de Trapo, sei que não é lá essas coisas, mas tendo dar minhas pernadas por aqui contra esses tucanos safas e essa mídia sem vergonha que tanto envergonha este país. Estou muito orgulhoso de ser acompanhado por um blog distinto como o seu. Eu já o acompanho há algum tempo e hoje até preguei a careta do Língua aí na sua galeria.

Chega de papo furado, seu post trata de algo que já falei aqui, o diversionismo da mídia com estes números. São uns artistas mesmo, fazem com os números o que se faz com as palavras. Mas estes dados do desemprego são interessantes mesmo. Em Minas, eles tem muito a ver com o setor de mineração, que foi impactado por uma perda de exportações da vale por conta do boicote dos chineses em setembro/08. Ninguém fala sobre isso, não interessa não é?

Em São Paulo, o grande número de demissões tem tudo a ver com uma parada técnica de produção, previamente orquestrada pela FIESP, para desova de estoques. Por trás disto está o interesse político, evidentemente ligado a Serra e, o oportunismo, obter vantajens do governo e, o pior, atacar os trabalhadores com essa conversa de flexibilização, um antigo sonho dos neo-liberais que está sendo posto em prática com apoio da nossa zelosa e patriótica mídia. Viu, facinho de entender!

Um abraço

José Carlos Lima disse...

Caríssimos, estou me dirigindo a este espaço que adoro para protestar contra uma injustiça, mais uma, mais uma injustiça praticada por causa de pré-conceitos que nos levam a ver uma coisa no lugar da outra, como dizem, este estado de espírito que nos fazem ver chifre em cabeça de cavalo. Estou me referindo à nova prisão da artista Caroline Pivetta da Mota, mais uma vez uma injustiça. Não podemos compactuar com isso. Aqui o link http://josecarloslima.blogspot.com/2009/01/artista-caroline-pivetta-da-mota-mais.html#links

Anônimo disse...
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Claucio disse...

Vida longa a este blog! Gostaria, se possível, de um post sobre a constituição boliviana proposta por Evo Morales. Não estou afim de ouvir da boca dos âncoras. Obrigado.

RLocatelli Digital disse...

Que o desemprego em São Paulo seja alto não me causa surpresa.
São Paulo privatizou seu banco - Banespa - vendeu a Nossa Caixa - ainda bem que a Caixa Federal comprou - e Serra quer vender a CESP (Centrais Elétricas de São Paulo) e a Cetesb (empresa que controla qualidade do ar e da água).
Aliás, Serra quer o desmonte do Estado e sua entrega a quem quiser comprar.
Resultado: numa hora de economia um pouco mais apertada, não há como o governo estadual criar empregos.
Aliás, Serra não tem a menor intenção de criar empregos. Ele quer é ser presidente da república.

Anônimo disse...
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Miguel do Rosário disse...

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Miguel do Rosário disse...

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Miguel do Rosário disse...

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Miguel do Rosário disse...

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Juliano Guilherme disse...

Não entendi porque o Pig não comparou esses números catastróficos do governo Lula com algum número de dezembro do segundo mandato de FHC. Com certeza eles iam deitar e rolar. Acho que o dezembro de 1995 apresentou um saldo negativo de apenas meia dúzia de gatos pingados. Evidentemente que seria preciso esconder que no governo "moderno" do FHC só foram contratados uma dúzia de gatos pingados para o natal da recessão tucana

Miguel do Rosário disse...

Miguel do Rosário disse...
oi Edu, conforme você pediu, apaguei o seu comentário, mas contra a minha vontade, porque me daria a oportunidade de criar um debate sobre o assunto. Mas vou debater do mesmo jeito. Eu não disse que não foi sério. 654 mil postos perdidos, no saldo, é muita coisa. Mas não vejo onde negar uma simples realidade lógica, de que igualmente houve um número ímpar de contratações no último trimestre de 2008 e que dezembro, historicamente, é um mês com grandes saldos negativos. O saldo negativo ficou 50% acima do esperado? Sim, mas o que quero dizer é que a midia não explicou que dezembro SEMPRE tem saldo negativo. Quanto à comparação dos números com a população brasileira, acho que não é enganoso fazê-la. Não estou mentindo. É uma estatística real. Não tem sentido nenhum econômico. É uma questão apenas psicológica, de mostrar as pessoas o tamanho do país. Podia fazer com a população economicamente ativa, mas escolhi faze-lo com todos, porque queria incluir aposentados e crianças também, para mostrar que o universo HUMANO brasileiro é bem maior, e portanto, mais resiliente, do que números de empregos FORMAIS do Caged. Não quero subestimar a gravidade do número de 654 mil empregos, mas minha intenção é, deliberadamente, minar-lhe um pouco o aspecto tenebroso. Somos um país com 190 milhões de habitantes, 8 milhões de quilômetros quadrados, as maiores reservas naturais do planeta. Não é saldo negativo de 654 mil empregos, num período que, no acumulado, registrou UM VOLUME RECORDE DE GERAÇÃO DE POSTOS FORMAIS DE TRABALHO. Quanto à concentração em SP e MG, sei que são os estados que, também mais empregam. Não nego isso. Simplesmente informei que não vi nenhuma manifestação, por parte dos governadores desses estados, no sentido de tentar convencer os empresários a não demitirem tantas pessoas num curto espaço de tempo. O grosso das demissões, você pode ver, foi na indústria de transformação, onde há grande concentração de empresas. Foi decisão, portanto, de meia dúzia de empresários, e que puxou fortemente o número em todo país. Somente a indústria de transformação demitiu mais de 200 mil pessoas. Não fosse esse número, o saldo negativo em dezembro estaria dentro da média histórica. Abraços.

23/1/09 10:58 AM

Miguel do Rosário disse...

Já fiz outro post abordando o mesmo tema.

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