22 de novembro de 2010

Amorim: política externa não é para agradar jornal



(Sakineh, acusada de matar o marido e cometer adultério, foi condenada por um tribunal tribal a morte por apedrejamento. A pena deve ser comutada para enforcamento ou então encarceramento por 10 anos).


Muito boa a colocação do chanceler Celso Amorim (que para a prestigiada revista americana New Foreign Policy é o melhor do mundo): Amorim garantiu que não tomará "nenhuma decisão apenas para agradar ou um meio de comunicação ou uma ONG".

O ministro disse ainda, segundo o Estado, que "obviamente que condenamos o apedrejamento. Mas conseguimos falar com o interlocutor e isso é mais importante para a senhora (Sakineh) que está ameaçada que colocar um diploma na parede e dizer: Veja, aqui está, recebemos o aplauso". "Há maneiras de atuar. É muito fácil seguir o que quer a imprensa que é dizer ´nós condenamos´, mas sem nenhum efeito prático".

Autoridadades do Irã afirmam que, além do apedrejamento já ter sido cancelado, há possibilidade da pena por enforcamento também ser anulada e a sua vida ser poupada, seguindo decisão anterior da justiça do país. Em 2007, o tribunal de apelações comutou o enforcamento, por participação no homicídio do marido, para 10 anos de prisão.

Confira abaixo notícia publicada no Estadão de hoje:
Irã garante que Sakineh não será apedrejada, diz Amorim

Chanceler diz ter recebido garantias de Teerã e defende abstenção em resolução da ONU
22 de novembro de 2010 | 10h 29

Jamil Chade, correspondente em Genebra
GENEBRA - O chanceler Celso Amorim afirmou nesta segunda-feira, 22, que o governo do Irã já deu garantias de que Sakineh Ashtiani, presa por suspeita de adultério, não será apedrejada.

Defendendo a posição do Itamaraty na votação na Organização das Nações Unidas (ONU) de uma resolução que pedia a condenação do Irã por violações de direitos humanos e pelo tema do apedrejamento de mulheres, Amorim garantiu que não tomará "nenhuma decisão apenas para agradar ou um meio de comunicação ou uma ONG".

Na semana passada, o Brasil foi um dos países que se absteve em uma votação na ONU sobre uma resolução contra o Irã. A resolução apresentada pelo Canadá acabou sendo aprovada, inclusive com o voto da Argentina, mas não contou com o apoio brasileiro, que prefere manter os canais abertos com o Irã.

O governo brasileiro ainda alega que a resolução tem motivações políticas e a meta de pressionar o Irã em assuntos sem qualquer relação com a situação dos direitos humanos no país, notadamente a questão nuclear.

Amorim, que está em Genebra, não explicou porque optou por se abster, mas defendeu sua política de diálogo. "A resolução não era de apedrejamento. Não havia uma resolução sobre apedrejamento. Houve uma resolução sobre o Irã onde havia a questão do apedrejamento. Claro que a condenamos e já falamos isso muitas vezes e de forma muito mais efetiva que outros países, porque falamos diretamente e temos condições de diálogo com o governo de Irã. Não posso atribuir ao Brasil, porque seria pretensioso, mas em vários casos já nos foi assegurado que o apedrejamento não vai ocorrer", afirmou o chanceler.

"Obviamente que condenamos o apedrejamento. Mas conseguimos falar com o interlocutor e isso é mais importante para a senhora (Sakineh) que está ameaçada que colocar um diploma na parede e dizer: Veja, aqui está, recebemos o aplauso", afirmou. "Há maneiras de atuar. É muito fácil seguir o que quer a imprensa que é dizer ´nós condenamos´, mas sem nenhum efeito prático", disse.

Amorim não deu explicações sobre sua declaração sobre o destino de Sakineh. Diante da pressão internacional, Teerã teria de fato modificado as acusações que pesam sobre a iraniana, mas uma das possibilidades já levantadas pelo governo é de que ela não seja condenada a morte por apedrejamento, mas por enforcamento caso fique provado que ela participou do assassinato do ex-marido.

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