9 de novembro de 2010

Um drink no vagão-restaurante



(Meu sonho é tomar um uísque no vagão restaurante do trem-bala, como nos filmes americanos da década de 50).

O Brasil precisa de trens de alta velocidade. Já escrevi isso lá no Óleo por diversas vezes. Somos um país de proporções continentais e o transporte ferroviário proporciona muito mais conforto e segurança aos passageiros. As áreas urbanas das partes mais desenvolvidas da Ásia vem sendo conectadas por trens-balas há vinte anos e considerando o seu forte crescimento industrial no período, presume-se que um transporte moderno deve ter colaborado. Já era hora, portanto, de ingressarmos, literalmente, nesse vagão.

A mídia brasileira, como sempre, vem fazendo forte propaganda contra a iniciativa. Em função do governo ter aprovado ontem medida provisória para garantir crédito do BNDES para o consórcio que for construir o trem, o Globo deu matéria de capa no caderno de Economia. Curiosamente, o jornal dá o seguinte subtítulo: "Para especialistas, obra não é viável". Quais especialistas? Lendo a matéria, vemos que se trata apenas de um sujeito, o consultor do Senado Marcos Mendes, que é contra o projeto por considerá-lo custoso demais. A opinião de Mendes tem sido repetida ad nauseam por toda a mídia, como se ele fosse uma legião. Os repórteres não se incomodam sequer em perguntar a outros "especialistas". A matéria reproduz opinião de Mendes de um mês atrás, quando o tema sofria influência negativa do debate eleitoral (visto que significava lucro político para o governo e sua candidata) em vez de entrevistar alguém hoje, para emitir um parecer à luz dos novos fatos.

Felizmente, o governo e a iniciativa privada não parecem dar bola para a crítica reacionária da mídia e tocam o projeto em frente. Não digo que se trata de um projeto intocável ou que a mídia não deveria exercer o seu direito de crítica. O problema é a desonestidade, pois não se faz um balanço da existência de trens-bala em outros países, de forma que o leitor tem a impressão que se trata de uma extravagância de nosso governo, e não um esforço de colocar o Brasil em pé de igualdade não apenas com países desenvolvidos, mas inclusive com nações emergentes, como Coréia e China, que vem investindo pesado há décadas em pesquisa e construção de trens de alta velocidade para ligar suas cidades.

Esse tipo de mentalidade tacanha foi responsável, durante a ditadura militar, pela desativação de milhares de quilômetros de linhas férreas espalhadas pelo Brasil.

É incrível como jornais como Globo, Folha, Estadão, esforçam-se para acrescentar mais um capítulo a um histórico lamentável de sistemática defesa do atraso. O Brasil vai construir o trem-bala ligando Rio e São Paulo. Vai desenvolver, na medida do possível, tecnologia própria. Vai ligar suas cidades com transporte ferroviário de alta velocidade. E, no futuro, um estudante de história poderá fazer uma tese, tentando explicar porque esses grupos de midia, durante todo o século XX e início do século XXI, sempre se posicionaram contra o avanço, contra o desenvolvimento, contra o Brasil.

Alguns de vocês poderão me dizer para não dar trela para o que a mídia fala. Não e não. As últimas eleições provaram que eles ainda são perigosos. Mesmo com 83% de popularidade, o governo Lula penou para eleger sua candidata. Também não creio que há solução mágica para frear o poder midiático. Não creio que seja eficaz combater esse poder através de medidas legislativas. O governo Lula, mesmo sem fazer nada, já é acusado de conspirar contra a liberdade de imprensa, um discurso falso, sabemos, mas que a oposição soube instrumentalizar muito bem, com ajuda dos próprios meios de comunicação. A melhor forma de contê-lo, a mais democrática, tem sido justamente o que estamos fazendo, através da luta ideológica propriamente dita, liderada hoje, na esquerda, pela blogosfera progressista. Essa luta deve ser aprofundada, aperfeiçoada, e apoiada pelas forças institucionais identificadas com suas idéias.

Viva o trem-bala! Viva a blogosfera! E abaixo a turma do atraso, que não quer ver o Brasil se tornar uma nação tecnologicamente avançada, com trens de alta velocidade ligando suas metrópoles. É caro? Sim, porque o que é bom custa caro. Mas trará retornos excepcionais para a sociedade brasileira. Um dos meus maiores sonhos é viajar de trem-bala do Rio para São Paulo, tomando um usquinho no vagão restaurante e lendo um blog sujo...

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