9 de março de 2011

Marina era a grande aposta de Serra


Mensagens do consulado do Rio de Janeiro vazadas pelo Wikileaks revelam que Serra apostava em Marina Silva, do PV, como seu grande trunfo para vencer Dilma Rousseff nas eleições de outubro de 2010. O cônsul americano informa ter mantido produtivo bate-papo com o colunista da Veja, Diogo Mainardi, que lhe contou acerca de uma conversa dele com o então governador de São Paulo, José Serra.

Diz o cônsul, logo no sumário de nota vazada, de fevereiro de 2010: “Observadores políticos e representantes partidários argumentam que há possibilidade do provável candidato do PSDB, José Serra, pedir à candidata do Partido Verde, Marina Silva, para ser a sua vice. Enquanto parece improvável que Marina Silva aceite tal papel, a maioria acredita que ela iria, no mínimo, apoiar José Serra no pleito.”

As mensagens da embaixada americana revelam que os representantes diplomáticos dos Estados Unidos monitoravam muito atentamente o desenrolar dos acontecimentos políticos e partidários no Brasil, e seus interlocutores são representantes do tucanato e colunistas da Veja e do Globo.

A nota em questão relata um almoço do cônsul com o “proeminente colunista político da Veja, Diogo Mainardi [que] contou-lhe que sua recente coluna em que propunha aliança entre Serra e Marina nas eleições havia sido fruto de uma conversa entre Mainardi e Serra, na qual o tucano havia dito que ‘Marina era seu vice dos sonhos’. Serra expressou, na conversa com Mainardi, os mesmos argumentos que este usou em seu artigo, que a biografia de Marina Silva e suas credenciais esquerdistas ajudariam a reduzir o impacto do carisma de Lula sobre os mais pobres e deixar Dilma em desvantagem junto ao eleitorado de esquerda, ao mesmo tempo em que minimizaria a associação de Serra ao governo de Fernando Henrique, que Lula/Dilma esperavam usar na campanha.”

Passada as eleições, vemos que, de fato, Marina ajudou Serra, embora não da maneira completa que ele esperava, mas simplesmente dividindo o eleitorado de Dilma Rousseff. Animal político astuto que é, o tucano sabia que a verde era talvez a única maneira de roubar votos do eleitorado lulista/dilmista. Quantas articulações e promessas e ofertas não devem ter sido feitas para tentar seduzir Marina?

Mainardi e Serra, relata o cônsul, acreditavam que Marina fosse apoiar o PSDB.

O colunista não achava que Marina aceitasse o papel de vice, mas que daria apoio ao tucano no segundo turno. Mainardi, que como sempre não acertou uma, diz ainda que, uma hipótese mais realista era Aécio Neves aceitar a vaga de vice de José Serra.

Outro interlocutor do cônsul é o colunista do Globo, Merval Pereira, com quem ele manteve uma conversa no dia 21 de janeiro. Merval diz ao cônsul que conversou com Aécio Neves e que o mineiro afirmou estar “disposto a tudo” para ajudar Serra, inclusive ser vice. Eh cônsul bem articulado, héin? Eh turminha unida! Merval Pereira, Mainardi, Serra, Aécio e diplomatas norte-americanos, lutando juntos por um Brasil mais justo!

Merval Pereira, agora um Imortal da filosofia, disse ao cônsul que “não só acreditava que Aécio Neves toparia ser vice de Serra, como Marina Silva também o apoiaria na disputa”. Ô maravilha de cenário!

Os americanos, no entanto, não são tão bobos quanto Merval. Os diplomatas consultaram outras fontes, não tão otimistas (pro lado do Serra) quanto os colunistas da grande mídia. Falaram com Rodrigo Maia, por exemplo, que naturalmente não achava nada maravilhoso uma chapa puro-sangue do PSDB, nem apreciava tanto uma aliança triunfal com Marina Silva. O próprio cônsul faz observações semelhantes.

O cônsul conversa ainda com os tucanos Otávio Leite (RJ), Antonio Carlos Mendes (SP), Clovis Carvalho, e Marcelo Itagiba. Troca também umas ideias com o senador Agripino Maia. Ao cabo, vê-se que o serviço diplomático americano obtém um conjunto de informações bastante razoável, embora se restrinja a dialogar com as forças de oposição.

Confira a íntegra do documento no original. A Mariafro publicou uma tradução.

Leia também, sobre o mesmo tema:



Prezados, tenho em meu poder um conjunto de 24 documentos bombásticos da diplomacia americana no Brasil, versando sobre as eleições 2010, vazados pelo Wikileaks. Consegui analisar apenas um, até porque queria fazê-lo de maneira completa. Mais tarde, vou dar uma olhada no resto. Outros blogueiros, como já linkei acima, também estão mandando ver.

13 comentarios

@Limarco disse...

Se Napoleão tivesse contado com a estratégia de Merval, Serra e Diogo, não teria findado em Waterloo e sim em algumas das batalhas anteriores.

Anônimo disse...

Rapaz, esse pessoal da oposição vai tomar a bênção do tio Sam pra tudo...
E olha o pig aí! Bom pra quem ainda tem dúvidas de quais interesses eles defendem.

Anônimo disse...

Só tenho uma coisa a dizer: que pouca vergonha! Não é de admirar que essa cambada referida nos documentos norte-americanos ande sempre junta. E com o auxílio luxuoso de algo verde que se diz (ou se pensa) de esquerda. Qual!

Anselmo disse...

continuo impressionado com o fato de todas as previsões do Mainardi e do Merval terem dado água.

e acho incrível o serra ter acreditado que a marina silva apoiaria o serra no segundo turno.

Aqui entre nós, vá escolher mal os interlocutores lá na embaixada...

Ulisses disse...

Mas que dá um medo desta turma voltar ao poder! Isto para coisa de moleque. Nunca vi tanta submissão a um governo estrangeiro assim. Seria coisa de traidor da pátria, em país sério, seriam considerados inelegíveis para sempre

Adriano Matos disse...

aguardando as novas revelações, Miguel.

Mesmo que o PV seja quinta-coluna do PSDB, a Marina não ia rasgar sua biografia indo de vice ou pedindo voto contra o PT em favor do PSDB.

O Serra acreditar nisso revela o quanto ele errou a estratégia....ou esses movimentos pela imprensa são apenas balão de ensaio prá provocar briga interna?

Anônimo disse...

Marina não apoiou Serra devido sua história de luta, mas também não tinha condições de apoiar a outra candidata devido ela (Dilma), enquanto ministra da Casa Civil, fazer da Marina e de outros ministros capacho. As constantes humilhações custaram caro e quase custaram a eleição.

Júlio Martinelli disse...

A primeira verdade é que Marina Silva não é coadjuvante.
E a segunda, Serra não serve nem para vice da Marina Silva.
Vamos aguardar 2014.

Marola disse...

"Eh turminha unida! Merval Pereira, Mainardi, Serra, Aécio e diplomatas norte-americanos, lutando juntos por um Brasil mais justo!"

Não incluiria os diplomatas americanos nessa turma, afinal estavam apenas fazendo o trabalho dêles. É possível que tenham conversado com a turma da Dilma também.

Desi disse...

Oh!! Miguel....colocar em um só post...Merval, Mainardi e Serra....afe...nós blogueiros sujos não aguentamos...é demais...é uma overdose de safadeza, canalhice....
Merval e Mainardi são o que de pior temos para oferecer em matéria de jornalismo....Mainardi é a podridão em pessoa...se não fosse filho de quem é, hoje seria um dependente do Bolsa Família pra sobreviver.....um desqualificado, um bandido.....Merval, como o proprio nome diz....não passa disto mesmo...
esta cambada quer mais é vender o Brasil e lucrar algum com as maracutais....são uns venais, estão no jornalismo apenas para se locupletar e nada mais....Serra é um louco solto....doente...não presta pra nada, apenas para jogar o país nos braços do FMI, como fez aquele outro....Pessoas assim, nosso país tem aos montes...precisamos é dar um jeito de comprar passagem pra este povo só de ida....é revoltante o deserviço que prestam ao país e ao seu povo.
abs

Amainar "transição para sustentabilidade" disse...

Parabéns Marina por não sucumbir a essa tirania.

Lucas Cardoso disse...

A Marina "roubou" votos do eleitorado lulista/dilmista? Que eu saiba, Lula e Dilma nunca foram donos do meu voto pra Marina roubar.

Não é possível que simplesmente algumas pessoas acharam que a Marina foi a melhor candidata?

Anônimo disse...

Pra mim, as publicações de certos ilustres articulistas recebem dinheio gringo, e A RODO.
Não há ideologia que justifique comportar-se sistematicamente como sucursal das redações conservadoras dos steites e posicionar-se, sistematica e raivosamente, sem nuances, contra tudo o que seja brasileiro e, especialmente, popular.
O motivo deles não é uma saudade abstrata de algum antigo status quo, nem "um outro mundo é possível" à sua maneira.
Tenho pra mim que é algo mais contemporâneo e concreto: dinheiro, dinheiro, e dinheiro, todo o dinheiro que não se ganha fazendo apenas jornalismo e anúncios, ainda que em escala nacional.
Sinceramente, acho que se os jornalistas investigativos fuçassem, se não achassemo fogo, saberiam ao menos apontar com precisão de onde vem a fumaça.
Alguém tem que fazer urgente o "Inside Job" dessas relações. Duvido cada vez mais que elas não existam e não extrapolem o ideológico.

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