27 de fevereiro de 2009

EUA têm programa Fome Zero desde a II Guerra

Como é difícil se informar bem! Gostaria de saber porque a mídia brasileira nunca fez a gentileza de nos contar isto, que seria importante para seus leitores compreenderem que governos do primeiro mundo tem programas de ajuda social muito mais abrangentes e antigos que o Bolsa Família. Veja esta notícia, publicada no El Clarín e traduzida pelo Vermelho. O governo americano patrocina, desde a II Guerra, um programa de subsídio à alimentação para pessoas muito pobres. Antes eram cupons e agora o programa é feito através de um cartão eletrônico que os participantes podem usar para comprar comida em supermercados. O Globo tem correspondentes nos EUA, tem recursos para realizar reportagens, mas eu tive que esperar, por seis anos, que um jornal argentino publicasse a noticia e um site brasileiro a reproduzisse, para ter conhecimento de uma notícia que, se não me surpreende, serve para tampar o caixão dos imbecis que ainda criticam o Bolsa Família.


25 DE FEVEREIRO DE 2009 - 20h04

'Fome Zero made in USA' dá US$ 6 por dia para 31 milhões

Uma notícia no diário argentino Clarín conta como vivem os 31 milhões de cidadãos americanos que recebem cupons de alimentação para viver. Um jornalista da Louisiana (o estado mais pobre do país) faz a experiência, tentando viver com US$ 6 (R$ 14) por dia. O plano de socorro de Barack Obama amplia em 13% os gastos com esses cupons, na previsão de que a crise e o desemprego aumentarão sua clientela. Veja a íntegra.


Refeitório para americanos carentes: público crescente

É o lado obscuro da vida em um dos países mais do mundo. Nos Estados Unidos, quem depende dos cupons de alimentação oferecidos pelo "Papai Estado" não recebe mais que um punhado de dólares. Mas a maior crise económica das últimas décadas faz o número necessitados aumentar rapidamente. Nunca houve tantos americanos vivendo desses cupons. E a tendência é aumentar.

Jornalista conta experiência em site

A lista de alimentos Sean Callebs assemelha-se à de uma dieta para emagracer. "Uma porção de cereal, uma banana, uma xícara de chá.. e faltam quatro longas horas até almoço", ele lamenta.

Em uma experiência que tem tido grande impacto sobre a audiência, este jornalista da CNN resolveu experimentar na própria carne como se pode viver de cupons de alimentação. Ou não. Suas experiências são relatadas em um blog.

Faz um mês que ele tenta viver gastando até US$ 6 por dia. Já chegou quase no fim. Mas este repórter da Louisiana queixara-se em seu blog de permanentes ataques da fome. Poucas vezes você pode comprar frutas e legumes frescos, conta.

Fome à americana

Embora provisoriamente, Callebs experimenta a sina de um em cada dez americanos. Em setembro passado, 31 milhões de pessoas no país compravam alimentos com os cupons.

"Eles são os números mais elevados de todos os tempos", disse Ellen Vollinger, diretor de Frac, uma organização de Washington de pressão contra a fome.

"Muitos americanos já não sabem onde arrumarão sua próxima refeição", destaca ela. O aumento do desemprego faz com que a procura de cupons aumente constantemente, mas as carências não terminam aí: cada vez mais pessoas, mesmo tendo um emprego, dependem dos "Food Stamps".

Muita gente tem até mais de um emprego, mas a renda não basta. "Muitas famílias pulam refeições para pagar o aluguel", disse Ellen. "Pais deixam de comer para que fique alguma coisa para os filhos e às vezes até crianças passam fome, nos Estados Unidos. É uma vergonha."

O estigma do cupom

Os cupons de alimentação começaram a ser distribuídos durante a 2ª Guerra Mundial. Hoje, o governo já não distribui cupons papel, mas por meio de um cartão eletrônico, que fornece em média US$ 100 por pessoa.

Desde 2008, o Ministério da Agricultura evita usar o termo cupom de alimentação. O título oficial agoora é "Programa de ajuda para suplementar a nutrição".

Mas o plano ainda tem um estigma. "Aqueles que precisam muitas vezes se recusam a pedir ajuda", diz a agente social Srindhi Vijaykumar, da organização DC Hunger Solutions, que promove os cupons nas ruas de Washington. É especialmente difícil chegar até os aposentados, imigrantes e famílias operárias, diz ela.

Quem usa os cupons é confrontado com algumas dificuldades no supermercado. O carentes têm em média US$ 3 por dia para fazer compras. Por isso muitas vezes são obrigados a fazer cortar alimentos.

"As pessoas só compram o que é barato, não é perecível e enche a barriga", diz Vijaykumar. O crédito mensal normalmente é consumido em duas ou três semanas. "Muitas famílias vão então para os sopões", disse Ellen Vollinger.

Obama aumenta verba do programa

Não poucos depositam as suas esperanças no novo governo de Barack Obama. O plano de socorro económico de US$ 787 bilhões, lançado na semana passada pelo chefe da Casa Branca, permitirá um aumento de 13% na verba para os cupons de alimentação.

No entanto, Ellen estima que a fome vai aumentar nos EUA. "Esta recessão certamente não será breve."

A crise também atingiu duramente a classe média. De acordo com dados do Departamento do Comércio, o seu consumo caiu novamente em dezembro, pelo sexto mês consecutivo, enquanto a taxa de poupança subiu 2,9% no fim de 2008.

Annie Moncada, 63 anos, confessa que comprava coisas "desnecessárias". Mas agora seu cupom está guardado. "Agora eu ponho na panela mais carne moída e menos bifes e também economizo mais eletricidade", diz. Tal como ela, milhares de famílias cortam gastos, passeios, idas a restaurantes ou ao cabeleireiro. O fim da crise parece longe.

Fonte: Clarín; intertítulos do Vermelho


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Ilustração: Luis Fernando Noe, pintor argentino

5 comentarios

Patrick disse...

Se você der uma olhada no news.google.com.br, vai ver que essa notícia só foi publicada, em português, no outro lado do Atlântico: juízes americanos mandavam adolescentes para a cadeia apenas para receber suborno de um presídio privatizado.

Outra fonte (Amy Goodman): http://www.esquerda.net/index.php?option=com_content&task=view&id=10930&Itemid=130

Anônimo disse...

Miguel,

Não precisava esperar tanto...

No início do livro "Stupid White Man", do Michael Moore, ele conta que, por volta dos anos 2000, bem antes da crise atual, um piloto de avião nos EUA já ganhava tão pouco, que teria direito a esse benefício. Porém eram proibidos pelo patrão de buscar a ajuda devido ao "vexame" que isso seria.

Juliano Guilherme disse...

Mas Miguel, como você queria que o jornal do Kamel, ou o pig de uma maneira geral, informasse que até no governo Bush jr. tinha Bolsa Família? Além de ter que se mostrar à direita de Bush, como explicariam que mesmo tendo uma "bolsa esmola" também, o jr. tinha uma desaprovação popular gigantesca? Isso porque a aprovação de 84% do Lula deve-se a "esmola", certo? Pelo menos, foi o que o professor Hariovaldo falou. Mas eu também estou nesses 84%, então cadê a minha "esmola"?

Anônimo disse...

Miguel,
E este nem é o principal programa de transferência de renda dos EUA.

Sugiro a leitura do artigo Bolsa Familia na Alemanha, por Clóvis Roberto Zimmermann - Doutor em sociologia pela Universidade de Heidelberg (Alemanha), relator nacional para o Direito à Alimentação e Terra Rural.
Disponível em http://tivibrasil.wordpress.com/2009/01/06/bolsa-familia-na-alemanha/

Neste site também tem um post sobre bolsa família na Paraíba. Com comentários de Ana Fonseca e do Clóvis.
Abraços,

Anônimo disse...

Miguel, tenho uma sobrinha que teve um filhinho nos "estates", como ela gosta de falar, eu já sabia da ajuda para recem nascidos, uma espécie de mocilon que eles chamam de "formula" (?),mais algum dinheiro durante algum tempo, agora que à ajuda era para todos os que prescisam, isso eu não sabia, e fiquei muito feliz, ESPERO QUE O LULA DOBRE A AJUDA PARA PESSOAS CARENTES NO BRASIL, isso realmente seria um sonho para quem se considera humanista.

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