11 de fevereiro de 2009

Wall Street Journal entoa loas ao Brasil


(Rubens Gerchman)


Essa eu pesquei no Cloaca News e já nem é tão fresquinha assim. Mas é que não consigo acreditar que a imprensa nacional, tão ávida por matérias sobre o Brasil na imprensa estrangeira, ignorou solenemente um artigo publicado recentemente no Wall Street Journal, um dos jornais mais respeitados no mundo econômico, que tece loas ao Brasil, ao presidente Lula, à nossa diplomacia, e às medidas econômicas adotadas pelo governo. O link para ler a matéria está aqui.

O triste disso é que uma matéria dessas, numa publicação com grande influência junto aos principais grupos de investidores do mundo, ajuda, e muito, a melhorar a imagem do país lá fora e, portanto, a trazer mais dólares à nossa economia. Neste momento de crise e pessimismo, seria importante ser divulgada para melhorar o astral dos empresários brasileiros e convencê-los a não demitirem. Ou seja, é uma notícia que afeta a economia, porque interfere no humor dos homens de negócio.

Ontem, na capa do Jornal do Brasil, havia uma matéria que dizia que diversos setores importantes da indústria brasileira, como o de calçados e o de roupas, admitiram que exageraram na dose e demitiram mais pessoas do que o necessário. Terão que recontratar mais gente agora. No texto da primeira página vem escrito que a crise foi mais psicológica que real. Cada vez fica mais claro que a mídia, por cálculo partidário, ou seja, para prejudicar o governo Lula, não mediu esforços em fazer sensacionalismo sobre a crise. A Folha de São Paulo chegou a publicar projeções de desemprego que se referiam ao mundo inteiro em manchete de primeira página de uma maneira que parecia que os números correspondiam ao desemprego no Brasil! E quem denunciou isso foi o próprio ombudsman da Folha!

Existem inúmeras maneiras de se apresentar uma notícia. Um dia eu quero examinar mais a fundo a questão "estética" da imprensa, onde se usam cores, fontes, fotos, gráficos, títulos, subtítulos, manchetes, ordem das notícias, etc, para forçar um ou outro efeito. Essas ferramentas estéticas são convencionais e devem ser usadas, claro, para esclarecer ou ressaltar um ponto ou outro das matérias e, portanto, é inevitável que influenciam o leitor para esta ou aquela interpretação. Quando coordenadas por uma mente partidarizada, parcial e desonesta, essas ferramentas são uma arma nas mãos de uma criança má.

O problema é que os editores esqueceram de "combinar com os russos". Eles não percebem que o leitor contemportâneo, ao poder cotejar a informação com outras fontes, consegue facilmente identificar o mecanismo usado para manipular a notícia. Quando ele consegue identificar no momento mesmo em que lê a notícia, ele se sente confiante. Talvez sinta uma ponta de rancor, mas este é abafado pela sensação de vitória por ter identificado uma armadilha antes de nela cair.

Há muitas ocasiões, porém, que o leitor identifica a armadilha em que caiu apenas depois de estar dentro dela. Quer dizer, ele percebe, no dia seguinte, ao se deparar com uma informação contraditória ao lido na véspera, que foi enganado. Daí o rancor e o ódio que emergem de vastos setores da opinião pública em relação à mídia. Faça um passeio pelas caixas de comentários dos grandes jornais e verá que vem crescendo, exponencialmente, o número de leitores que acusam a mídia de parcialidade e partidarização da notícia.

Pensando nesses empresários que arcaram com o terrível custo emocional e financeiro de demitir seus funcionários, e que agora são obrigados a recontratá-los, imagino que muitos sentir-se-ão extremamente irritados por terem se deixado influenciar pelo sensacionalismo antigoverno. Por essas e outras, a mídia amplia seu isolamento político. Sua campanha sistemática de desmoralização do Congresso, das prefeituras, do Senado, do Executivo, certamente atraiu a antipatia explícita dessas instituições. Do setor sindical, hostilizado diariamente, nem preciso falar. Grandes empresários também já se mostram irritados com a irresponsabilidade midiática. Já contei aqui que, outro dia, em reunião de mega-empresários no Rio, o dono da Odebrecth, Emílio Odebrecth, um dos homens mais poderosos do país, defendeu, junto a seus colegas, a prorrogação do mandato de Lula por mais um ano, por causa da crise financeira. Com certeza, tem medo da bomba que explodirá no colo deles assim que o PSDB assumir o poder em 2010. O setor de construção civil encolheu fortemente no Brasil nos oito anos de FHC. Médicos, professores e policiais em São Paulo também devem estar com ódio da mídia, que sempre os desrespeitam quando fazem suas reivindicações justas ou quando entram em atrito com o soberano absoluto do estado, a pessoa sobre a qual ninguém pode exercer a menor crítica, José Serra.

Eu acho incrível algumas coisas. O modelo de privatização de estradas dos tucanos, por exemplo, nunca preveu tarifas mais baixas para os consumidores. Em vez disso, cobravam uma "outorga", um dinheiro que ia para o governo, e os pedágios iam para o céu. O resultado é que eles encheram o país de tarifas extremamente elevadas, onerando o custo Brasil e prejudicando o combate à inflação. Nenhum editorial sobre a indecência e estupidez desse modelo? Esse é o Estado mínimo tucano?

Agora estou abismado, perplexo, chocado, com esse escândalo das merendas estragadas em São Paulo. Não haverão editoriais sobre ética? Durante meses, fizeram o maior escarcéu porque pegaram um petista com dinheiro na cueca, um barnabé imbecil que foi pego pela Polícia Federal quando tentava embarcar de volta para casa. E agora? Qual a importância de dólar na cueca se comparado com um esquema de corrupção no que existe de mais sagrado em qualquer sociedade: a alimentação de nossas crianças? Que porra de indignação seletiva é esta? Os tucanos privatizaram o sistema de merendas das escolas públicas de São Paulo, com vistas a prevaricar. Sim, porque toda a ânsia de privatizar e terceirizar advém das enormes possibilidades de corrupção que daí decorrem. Vide o Metrô de São Paulo, as privatizações da telefonia, etc. Ninguém escreverá editoriais sobre isso?

Entoaram tantas loas à privatização do sistema telefônico e agora pagamos quase 2 reais por minuto de ligação! A ligação mais cara do mundo! E sabe porque? Porque os tucanos, quando privatizaram, não fizeram regras com vistas a deixar as ligações baratas! Não! Não visaram nem trazer mais verbas para o Estado, já que venderam a baixo preço e ainda financiaram com verba do BNDES! Fizeram a mesma coisa com a Vale. Se a Vale pertencesse ao Estado brasileiro, teríamos mais uma poderosa ferramenta para atravessarmos incólumes a crise econômica mundial. A Vale foi a primeira empresa a anunciar demissões em massa, mostrando total descompromisso com a realidade social brasileira. Sendo uma das maiores empresas do país, com uma receita monstruosa, a Vale deveria ter a sensibilidade de, no caso de ser obrigada a demitir, fazê-lo de forma paulatina, para evitar impacto psicológico num momento extremamente delicado para a economia brasileira.

Durante todos esses meses de terrorismo econômico, o presidente Lula veio a público inúmeras vezes pedir à imprensa que seja mais responsável na divulgação de notícias. Conversou com empresários e pediu que não demitissem. Passou pitos públicos no presidente da Vale, Roger Agnelli, por ter anunciando demissões. Enfim, preocupou-se com qualquer efeito da crise sobre o Brasil. Quando falou em "marolinha", expressava o seu desejo e a sua luta para que a crise financeira não chegasse ao Brasil. E o que fez aquele que a mídia aponta como favorito para o pleito presidencial de 2010? O que fez José Serra? O que fez Aécio Neves? Você soube de alguma declaração deles pedindo aos empresários que não demitissem? Que acreditassem no Brasil e esperassem? Não leu, porque eles não disseram. E Serra, como líder da oposição, tinha cacife para tal. Ele poderia ter evitado que os empresários "exagerassem" na dose em dezembro, como agora ficou provado. Ele também talvez fosse o único político que poderia pedir à imprensa que fosse mais responsável no tratamento das informações sobre a crise, evitando gerar pânico entre os homens de negócio. Mas não fez nada. Porque é uma pessoa mesquinha, má, estúpida, que apenas ambiciona o poder maior. Elegeu-se prefeito e, após jurar e assinar um documento se comprometendo a permanecer até o fim do mandato, saiu em dois anos e candidatou-se a governador. E agora não governa nada. Como governador do estado mais rico da nação, podia ser de grande valia para o país enfrentar a crise.

Ah, quando perguntado por um repórter porque tinha assinado um documento, e passado em cartório, se comprometendo a não abandonar o mandato de prefeito até o final da gestão, ele respondeu que não fora "passado em cartório". Como se isso tivesse importância! Cartório serve apenas para evitar fraudes de assinatura e mesmo assim agora há um projeto de lei acabando com a necessidade de cartórios. Na França e em muitos países não existe cartório. Isso é ética?

O fato é que a oposição brasileira está completamente desmoralizada e a tentativa, por parte dela, e da mídia, de usar a crise econômica para ganhar fôlego e prejudicar a imagem do governo Lula, sem preocupar-se com os danos sociais que disso resultarão, se mostra, mais que imoral, uma estratégia criminosa, digna do desprezo mais profundo da sociedade brasileira. Delenda Serra.

4 comentarios

Unknown disse...

A situação dos fabricantes de sapatos e roupas me lembra o caso da febre amarela, quando o pânico espalhado por nossa bela mídia causou uma corrida louca aos postos de saúde e várias mortes por superdosagem de vacina. Em ambos os casos, os incautos acreditaram na imprensa e pagaram por isso - alguns, tragicamente, com a própria vida.

Que o país está sentindo os efeitos da crise internacional, não há dúvida, mas é certo também que tem sofrido bem menos e é reconhecido no mundo todo como um dos países mais bem preparados para enfrentar a crise.

O problema é que os empresários que se precipitaram vão demorar a se recupearar quando a economia começar a reagir, o que pode acontecer em breve. Não digo nem os que apenas demitiram, pois uma rápida recontratação pode resolver o problema. Os que sofrerão mais serão aqueles que adiaram compras de máquinas novas, canceleram projetos de ampliação, suspenderam construção de novas plantas e interromperam pesquisas tecnológicas. Esses perderão mercado e vão sofrer, porque recuperar mercado é muito mais difícil.

Anônimo disse...

Ué,você não leu ontem a ordem do FHC aos correligionários do PSDB: atacar Lula inclusive as medidas para enfrentar a crise internacional, até as que visam proteger os empregos. É isso aí. A malta obedece a ordem do "chefe". Só não entendo por que esse senhor continua sendo o "chefe".

Anônimo disse...

Vera, vejo que os serristas estão acatando a ordem de FHC para atacar Lula. Vejo agora no Globo News o trio Fernando Gabeira, Alexandre Garcia e Tasso Gerissati arrancando do túmulo o "escândalo do mensalão" para atacar Lula. Vendo à guinada à direita de Gabeiro vejo que o RJ tinha cometido um grande erro se tivesse eleito Gabeira prefeito. A Globo já está em campanha para eleger o Zé Ferra, isto é bem claro

carlos disse...

grande do rosário,

sem mais delongas: delenda serra e pronto.

abçs

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