23 de fevereiro de 2009

Exercício para uma crônica de carnaval número 1

Tem gente que ainda não sabe, mas o carnaval do Rio mudou muito nos últimos anos. E pra melhor. Durante a década de 90, o carnaval do Rio dormiu profundamente. Existia somente no sambódromo. A festa havia migrado para as cidades vizinhas: Saquarema, Búzios, Nova Friburgo, Sana, o carnaval comia solto e louco por aí. Eu, como bom carioca, já passei carnavais em todas essas cidades. Insanas e inesquecíveis festas. Lembro de um carnaval em Búzios em que eu e uns amigos dividíamos um quartinho apertado de uma pensão. O dono da pensão não podia saber que éramos cinco dormindo espremidos, porque pagávamos apenas para três ocupantes. Para economizar, compramos várias caixas de cerveja no supermercado, e descobrimos que a geladeira da pensão, onde planejávamos gelar a bebida, não estava funcionando. A solução, para não passarmos o carnaval "de cara" foi beber... tudo quente mesmo! Incrível o que não se faz com dezessete anos. Bebemos umas quarenta long-necks quentes!

Pois bem, eram tempos em que todo mundo fugia do Rio. Hoje é o contrário. De uns dez anos pra cá, o Rio recebe gente de todo país e os blocos de rua renasceram com força total. A prefeitura reativou o carnaval da Avenida Rio Branco, por onde passam os ultra-tradicionais Cacique de Ramos e Bafo da Onça e monta palcos com shows na Lapa e Cinelândia. Este ano, não houve show nos Arcos da Lapa, mas em compensação, as dezenas de casas de show promoveram festas e pagodes. E muitos blocos pequenos surgiram nas imediações do Bairro de Fátima e Lapa.

Um dos blocos mais legais é o Boitatá, que parte às nove horas da manhã da rua do mercado, dá umas voltas pelo centro e termina na praça XV. É frequentado por universitários e belas jovens de toda cidade. A criatividade nas fantasias nos carnavais do Rio é espantosa. Impossível descrever os milhares de tipos que rondam a cidade. Preto velho, mamãe noel, peter pan, minnie, emília, melindrosa. Vi homens e mulheres fantasiados de pia de lavar, ônibus, presidiário, policial, empregadinha.

Enfim, creio que eu faria uma belíssima reportagem se tirasse muitas fotos e publicasse por aqui. Amanhã o farei.

No entanto, não sou tão carnavalesco assim. Musicalmente, acho o Carnaval um tanto enjoativo e, na verdade, passo a maior parte do tempo em casa, fazendo outras coisas. Mas se você não vai ao carnaval, ele vem até você. Qualquer voltinha inocente pela rua, e pimba! o carnaval te pega. No sábado, início de tarde, eu saí para dar um passeio de bicicleta e parei hipnotizado na Mem de Sá, com a quantidade de pessoas fantasiadas, dançando ao som de músicas que vinham dos bares. Era a multidão que refluía do super-bloco Cordão do Bola Preta, na Cinelândia, e vinha pra Lapa. Apareceu um trio elétrico - outro bloco, o Carioca da Gema, que empolgou a galera tocando Tim Maia e Jorge Benjor. Parei ali, tomei uns quatro ou cinco latinhas e dei risada com as fantasias esdrúxulas que passavam.

O melhor bloco de que tenho notícia é o Boi Tolo, filho bastardo do Boitatá. O nome vem dos foliões perdidos em busca do Boitatá, que até poucos anos atrás não tinha hora nem local certo, justamente para não atrair grandes multidões - como atrai agora. Daí surgiu o Boitolo. Neste domingo, encontramos o Boitolo por acaso, vindo pela Sete de Setembro, atravessando a Primeiro de Março e subindo as escadas do suntuoso Palácio Tirandes, sede da Assembléia Estadual. O som rolou primeiro nas escadas, depois subiu um pouco e rolou lá em cima. Depois a banda desceu e voltou pela Sete de Setembro, virou na Avenida Rio Branco, depois virou em outra rua e acabou sob os pórticos do histórico edifício Gustavo Capanema. Todo mundo dançando e cantando muito. A banda trazia, além da percussão básica, muitos instrumentos de sopro. Nada elétrico. Muito autêntico e divertido. Uma diversão totalmente gratuita.

E eu, como de praxe, tentava bater meu recorde pessoal de latinhas de cerveja. A certa hora, o pessoal começou a entoar entuasticamente o refrão: ÔÔÔÔÔÔÔÔÔÔÔÔ / O Rio é melhor que Salvadôôôr / O Rio é melhor que Salvadôôôr / O Rio é melhor que Salvadôôôr /O Rio é melhor que Salvadôôôr /O Rio é melhor que Salvadôôôr /O Rio é melhor que Salvadôôôr. Suspeito que euforia com que as pessoas cantavam esse refrão sugere uma denúncia alegre mas enfática do carnaval elitizado e separatista de Salvador, onde as pessoas compram abadás de 400 reais (por dia) para permanecerem dentro de cordões de isolamento, usando uniforme idêntico, afora os camarotes ainda mais caros, de onde se pode assistir confortavelmente os trios elétricos. E, sobretudo, uma denúncia do empobrecimento musical do axé music, hoje um estilo absolutamente vendido, cafona e medíocre. Os foliões do Boitolo cantavam clássicos da MPB em ritmo de samba e marchinhas famosas, ressuscitando os inesquecíveis carnavais que a cidade viveu até os anos 60, quando o baixo astral da ditadura começou a prejudicar a festa.

Eu bebia agora devagar, para não vomitar. Gastei menos que 20 reais e não conseguia nem mais beber. Legítima diversão de rua, barata e democrática, como eu gosto. Como eu preciso. Depois uma turminha que encontrei nos convidou a ir ao Balanga Lafumenga, um bloco do Jardim Botânico. Pegamos um ônibus e fomos todos. Tirei uma soneca no caminho. Chegando, contudo, nos arrependemos de termos ido. Não é difícil agradar intelectualóides respirando arte, cinema e política - como a gente.

Aquele bloco, aquele bairro, era um ninho de playboys marombados e suas pirigetis (tenho assumido preconceito contra a zona sul carioca, foco de pitbulls enlouquecidos, prostitutas disfarçadas de moças de família, gabeiristas alienados e demais bichos escrotos), e estávamos cansados e com fome. Eu, como já contei, havia tomado mais de dez latinhas e a lombeira chegava, insidiosa e dominadora. Voltamos para o centro, onde moramos, e passamos o resto da tarde em nosso quarto-e-sala simples e aconchegante da rua do rezende. À noite, assisti um filme horroroso, intitulado Ataque dos Tubarões e fui dormir sentindo-me culpado por ter perdido meu preciso tempo com um enlatado americano tão ruim.

*

A moça na foto é a Monica Bellucci novinha, e não tem nenhuma relação com a crônica, mas é uma imagem tão bonita que não resisti, e tasquei mesmo assim.

29 comentarios

José Carlos Lima disse...

"Rio é melhor que Salvadôôôr / O Rio é melhor que Salvadôôôr / O Rio é melhor que Salvadôôôr /O Rio é melhor que Salvadôôôr /O Rio é melhor que Salvadôôôr /O Rio é melhor que Salvadôôôr"

Acrescento minha voz ao refrão. Quem nunca foi ao carvanal de Salvador nem precisa ir para ver como é que é, ´pois é só ir a um destes carnavais fora de época tipo Carnagoiânia,Carnapalmas. Fui a uns três em Goiânia para ver como é que é, nos primeiros ainda iam uns pipocas, que é o nome pejorativa dado aos pobres que aparecem por lá. Com o tempo aumentaram o preço dos ingressos para que nem os pipocas tivessem vez. É como este aí de Salvador. A classe A e média no camarote e arquibancadas ou seguindo o trio elétrico cercados por cordas. No último em que eu fui a classe pobre só estava mesmo presente como cordeira, que são as pessoas contratadas para segurar a corda para evitar que os "pipocas" entrem.

Enfim, nem vejo o axé-music, o carnaval de Salvador, como carnaval. É outra coisa, carnaval não é. Nenhum descréscimo aqui aos povo da Bahia, gente espetacular, só estou me referindo à festa.

Unknown disse...

Miguel, sua crônica revela o seu olhar apaixonado, atento,emergencial da realidade carioca e do ser humano em geral.Acho interessante que publiques esta no blog do CUCA, o que acha?


Abraços fraternos.

Miguel do Rosário disse...

Grande Geovane. Como você está? Amanhã (terça de Carnaval), às 16:00, atrás do MAM, tem outro bloco muito legal, o Osquestra Voadora. Se puder aparece por lá. Abraço.

PS: Publiquei lá no blog do Cuca.

Anônimo disse...

que legal que o Rio esteja voltando com o velho carnaval, o carnaval popular!! e eu também acho detestável o carnaval de Salvador, logo eu acostumado em andar livremente pelas ruas de Recife e Olinda sem ter que pagar nada, atrás de orquestra de frevo, maracatus(de baque virado e baque solto), ciranda, blocos canções, cabloquinhos.

Anônimo disse...

Não sei se democracia é a palavra certa para o Carnaval que temos hoje no Rio.

Você tomar uma cidade por 6 dias não me parece muito democrático.

E quem não gosta de Carnaval? É obrigado é aturar gente bêbeda na rua? Gente mijando na porta da sua casa? Brigas por todos os lados? Insegurança? Transito?

Hoje, no Rio, você não pode sair de casa sem considerar o tempo que vai ficar parado no transito. Sem correr o risco de ser bloqueado por um bloco qualquer.

Isso não me parece muito democrático.

Veja, não sou contra o Carnaval.
Só acho que ele não pode desconsiderar que tem gente que não gosta daquilo.

Nem tanto ao céu, nem tanto a terra.

Anônimo disse...

Vamos lá, acho que esse grito de guerra contra Salvador merece uma atenção maior.

Você mesmo percebeu quem eram os frequentadores (ou 90% deles) do Boitatá, "universitários e belas jovens", ou seja, por integrantes da nossa elite carioca.

O Boitatá é, sim, um bloco elitizado, o que não quer dizer que não dá pra se divertir nele. Dá para dizer, com toda certeza, é que está cada vez mais difícil se divertir, por causa da muvucada.

Você bem apontou que o público do bloco do Bangalafumenga é majoritariamente uma playboyzada marombada boçal. Eles são elite também, a parcela mais escrota da nossa elite, aquela com a qual o convívio é insuportável em questão de poucos segundos.

É claro que a localização importa: a zona sul é o lar da elite do Rio, o centro é mais democrático e coisa e tal. Mas a frequencia do Boitatá também é da galera zona sul, não nos iludamos. É aquela parcela da nossa elite mais ligada aos artistas e "intelectuais". Lembrando que zona sul não é somente uma delimitação geográfica, e que mesmo essa geografia é móvel (Santa Teresa já faz parte da Zona Sul em alguns classificados de jornal).

Aí eu acho que você se enganou: os gabeiristas mais xiitas estavam lá no Boitatá. São os eleitores históricos do Gabeira, do PV, do PSol. O Boitatá, com suas adjacências, é a fina flor da nossa esquerda festiva. Os gabeiristas do Jardim Botânico odeiam o Gabeira, motivados por inúmeros preconceitos, e só entraram na dele por motivos muito circunstanciais. Os gabeiristas do Boitatá tem grande afinidade moral com o hippongo candidato.

Chegamos ao grito de guerra: contra uma cidade (Salvador) na qual o carnaval é muito elitizado, caro e segmentado, como se o carnaval do Rio fosse o oposto disso.

Talvez realmente fosse esse oposto, há dez anos atrás, quando a nossa elite fugia da cidade (também já fiz isso, já passei carnaval em trio elétrico). Mas hoje em dia não é mais: a segmentação classista do carnaval do Rio é cada vez mais acentuada (blocos marombados na zona sul, blocos da festiva no centro, blocos populares hiperlotados e impraticáveis), embora ainda haja um espaço considerável de subversão desses termos.

O problema é que, a cada ano que passa, esses espaços diminuem. Muitos músicos dos blocos da zona sul/centro já estão prevendo a instauração de abadás para os próximos carnavais. O mercado carnavalesco de rua está crescendo e o capital vai chegar atropelando, assim como vão haver resistências e desistências.

Talvez tenha sido parecido com Salvador no fim dos anos 80 e começo dos 90. Por isso, esse grito censurando Salvador seja muito alienado. Afinal de contas, a galera gabeirista (aí entram todos) que redescobriu o carnaval carioca é a mesma que há poucos anos atrás ia para a região dos lagos fazer sua marombada, a mesma que já pagou várias vezes por abadás em Salvador, e agora, porque virou elite intelectual-artística, cospe no prato que comeu.

O samba-reagge (ou axé music) baiano é meio pobre musicalmente, mas também tem seu valor, algumas músicas interessantes e muito músico bom tocando e cantando. A Ivete é uma boa cantora em alguns sentidos (inclusive o sexual, talvez principalmente). Ao mesmo tempo, tem muita marchinha carioca que é pobre pra caramba, com umas melodias repetitivas e letras ultracaretas. No geral, as marchinhas tão muito à frente em termos musicais e culturais, são muito mais ricas, mas isso não é tão simples assim.

E mais uma pergunta-chave: o carnaval de Salvador é só abadá? É só Ivete? É só camarote? Não! A cidade é muito grande e o carnaval é muito complexo. Tem os circuitos dos trios, tem o pelourinho, tem todo o resto da cidade. Eu mesmo tenho muita curisidade para conhecer ao vivo.

Aí surge o velho preconceito carioca de achar que é o único centro cultural que presta do Brasil. Dizem que São Paulo não tem samba, ignoram que o próprio samba pode ter vindo da Bahia (sim!). Não conseguem admitir, por puro preconceito egocentrico, que um ensaio da Timbalada é muito empolgante e fantástico musicalmente (esse eu já vi ao vivo, é bom mesmo).

O que a TV mostra de Salvador é poucos por cento, assim como o sambódromo do Rio não é tudo que rola. Os nossos gabeiristas censuram Salvador sem conhecer, baseados só no que a Rede Globo mostra. Normal, é o velho gabeirismo de sempre, o problema é que as belas moças e rapazes acabam, muitas vezes, virando nossos pescoços.

Peço desculpas por escrever sem me identificar. Sou leitor antigo e assinante do blog, mas tenho muitos amigos e conhecidos a frente dos blocos citados, fazendo trabalhos muito importantes e que respeito muito.

Miguel do Rosário disse...

Anonimo, não é um grito de guerra. É cantado alegremente, sem nenhuma hostilidade. É mais uma zoação carnavalesca e brincalhona. Eu já passei carnaval em Salvador. É claro que não há somente os trios com abadá, mas eles predominam. Ocupam a cidade inteira, inclusive o Pelourinho. Não é TV. É real. O carnaval é na rua, em espaço público e é privatizado. Eles privatizam o espaço público.

O Boitatá pode ser elitizado, com universitários e belas mancebas, mas e daí? O que importa é que é grátis e a cerveja é barata! Eu não tô interessado em falso demagogismo. De qualquer forma não é um elitismo econômico, e sim cultural, o que é normal e saudável.

*

Alê, sua reclamação é válida. Nem tudo é perfeito. Não falei que o Carnaval é o supra-sumo da vida. A mim mesmo, me dá no saco algumas vezes. A maior parte do tempo fico em casa, lendo e escrevendo, vendo filmes, como estou fazendo agora, em pleno carnaval, respondendo a você, em vez de estar correndo atrás de bloco. Mas um pouco de tolerância sempre é bom. E evitar, é claro, sair de carro.

Miguel do Rosário disse...

o boitatá ficou muvucado sim, por isso que citei o boitolo, como um bloco ainda "pequeno". quanto aos outros blocos, fujo deles como diabo da cruz. só gosto dos blocos pequenos. musicalmente, o carnaval carioca, mesmo o de rua, democrático, é hiper questionável. gosto das marchinhas, mas a repetição das mesmas de sempre já deu nos nervos.

quanto aos gabeiristas, usei o conceito sem nenhuma cientificidade e, neste caso, voce tem razão. mas isso é outro tema, sobre o qual falaremos muito depois, ainda mais agora que gabeira é oficialmente o carro-chefe do psdb no estado, devendo ser candidato a senador ou governador pelo partido.

quanto a possibilidade dos blocos da zona sul usarem abadá nos próximos anos, acho que é evolução natural e melancólica, e que na minha opinião, deveria ser proibida juridicamente, porque a rua é pública.

Unknown disse...

O carioca busca novas alternativas.Os desfiles globais(escola de samba)são "um porre".Monica Belluci aos 44 anos continua linda.Abs Yvy

Anônimo disse...

O boitatá até pode ser de patricinhas mas ao contrário dos trios de salvador quem chegar entra, bebe, diverte-se

O movimentar-se das pessoas que acompanham os trios me parece sessão de aeróbica

Anônimo disse...

Acho que, em muitos momentos, o elitismo econômico e o cultural são indiscerníveis. O carnaval carioca me parece ser um exemplo dessa síntese, muitíssimo disfarçada pela "irreverência" e pelo forte apelo que tem as manifestações artísticas e as suas tradições na cidade.

A conexão Zona Sul/Centro (incluindo Santa Teresa) é berço da elite carioca, em todos os sentidos, e está sob forte ataque de privatização, por mais que haja uma benigna e forte resistência. Na minha opinião, os blocos carnavalescos são sintoma desse processo: a zona sul, o estilo zona sul, hippie e/ou jiu-jitsu (no Boitatá, era meio a meio), invadindo o centro. É uma muvuca bastante privatizante, segmentada, pouco democrática, apesar de "gratuita".

E não é bem verdade que, quem chega nesses blocos muvucados "entra, bebe, diverte-se". Exemplo: os músicos e quem estava perto do cordão do Boitatá até se divertiram, mas passaram muito perrengue para tocar e ficaram quase o desfile todo SEM CERVEJA. A dificuldade de se locomover era imensa, e impossível de se fazer sem tomar muita cotovelada. Os blocos grandes são impraticáveis já há alguns carnavais. Os blocos pequenos ainda são uma saída, e é o que ainda deixa o carnaval carioca tragável.

Por isso, me parece trágico que uma parcela supostamente esclarecida dessa elite passe a ironizar Salvador no meio do carnaval. Isso me soa como recalque, o carnaval do Rio cavando sua própria cova e comemorando, achando que está abafando.

Anônimo disse...

Particularmente não gosto de carnaval mas a Monica Bellucci... estonteante!

Miguel do Rosário disse...

anônimo, não estou entendendo onde você quer chegar. pelo que eu estou suspeitando, você está tentando fazer uma análise marxista rasteira sobre o carnaval carioca. queria ver o marx observando um bloco de carnaval. o bicho iria pirar na batatinha!

você está pegando o conceito de elite e fazendo uma grande besteira conceitual, que é 1) maniqueizá-lo, e 2) classificá-lo de maneira arbitrária e equivocada. Elite cultural existe em qualquer parte, meu caro, e é claro que se imbrica ao de elite econômica, mas não é o mesmo. As pessoas procuram se reunir segundo suas afinidades.

O maior problema que vejo em suas análises é que você está levando tudo muito a ferro e fogo. marx, grande irônico que era, nunca se deixara levar por uma trilha tão careta como a que você está seguindo.

no entanto, concordo com você sobre a crescente deterioração dos blocos de rua, por causa de seu crescimento. eu já falei que odeio esses grandes blocos, e de fato, talvez o carnaval do rio só piore por causa disso nos próximos anos. mas voce acha que estou tão preocupado assim com o carnaval do rio? tô nem aí. curti o que eu podia deste carnaval, e tenho muitas outras preocupações pessoais e coletivas mais importantes.

Aí você termina com essa pérola:

"Por isso, me parece trágico que uma parcela supostamente esclarecida dessa elite passe a ironizar Salvador no meio do carnaval. Isso me soa como recalque, o carnaval do Rio cavando sua própria cova e comemorando, achando que está abafando."

Parece trágico? Parcela supostamente esclarecida dessa elite? Calma, mêu! Esse refrão (O rio é melhor que salvadôoor) é cantado por vários bloquinhos do rio. e é uma BRINCADEIRA! sabe o que seja uma brincadeira?

a primeira vez que ouvi o refrão foi no ano passado, num bloquinho bem simples da mem-de-sá.

Ali no boitolo eram um bando de malucos bêbados e não "elite". não era nem só zona sul. vários amigos meus de caxias, e outras cidades da baixada fluminense estavam lá. tinha gente do brasil, do mundo inteiro e de todas as partes da cidade. e era um bloco bem pequeno, sem muvuca nenhuma. e com toda a facilidade para comprar cerveja. você quer que eu sinta pena de quem se enfia em muvuca e não consegue comprar cerveja? AAHAHAHAHA!

e você acha que zona sul só moram "ricos" e elite? 90% de quem mora na zona sul são barnabés que vivem da mão-para-boca. e mesmo assim, e daí ser zona-sul e daí ser elite? qdo eu falei que tinha preconceito contra zona sul, eu estava sendo irônico, é claro. conheço milhares de pessoas super-legais que moram na zona sul. conheço muitas pessoas hiper-legais que têm dinheiro e outras que não tem dinheiro e nem caráter nenhum. e vice-versa. minha visão de mundo, pelo amor de deus, é bem mais complexa e sofisticada do que isso...

Anônimo disse...

Zona sul não é uma concepção meramente geográfica e muito menos imóvel, como escrevi acima...

Só estou tentando apontar que a zona sul, e as ideologias e moralismos que lá predominam estão invadindo o centro da cidade de forma massificada, cada vez pior, o que é uma pena. Vide, por exemplo, a proliferação de bares "pé-limpo" pela Mem de Sá e adjacências, vide a casa de "gafieira" do Carlinhos de Jesus, vide o dono do Rio Scenarium ampliando seu capital sem pagar imposto em imóveis pertencentes ao governo do estado, vide aquele condomínio estilo Barra da Tijuca, horrendo, erguido na rua do Riachuelo, em frente ao clube dos Democráticos.

E, ao meu ver, vide esse "ressurgimento" do carnaval de blocos e marchinhas, impulsionado principalmente pela classe artística "zona sul". O Boi Tolo é realmente simpático e divertido, mas ele é uma exceção criativa que confirma o processo hegemônico.

E o refrão parece um sintoma desse processo. Não interessa se quem está cantando mora em Itaperuna, Belford Roxo, Leblon ou Massachussets, isso é personalismo barato. Ao meu ver, é um refrão que está na boca do estilo zona sul de ser, que está na boca de uma privatização do centro de maneira geral, e o carnaval tá servindo de mais um suporte para isso.

O Rio é melhor que Salvador no carnaval? Cada vez tenho mais dúvidas quanto a isso. Parece-me realmente muito ridículo, muito patético, o surgimento desse refrão justamente quando o carnaval do Rio está se deteriorando pavorosamente.

É essa a contradição da "brincadeira" que eu acho que precisa apenas ser mais bem pensada, só isso. Até porque a experiência demonstra que, quando o argumento "isso é só uma brincadeira" (ou: "isso é coisa de bêbado") é usado, é porque justamente aí existe uma ferida.

Engraçado é que uma grande parte, talvez a maior, de consumidores de abadás dos trios de Salvador era formada por cariocas (não sei se ainda é). Essa, para mim, é a grande ironia.

Miguel do Rosário disse...

anonimo, concordo com muita coisa que voce diz. outras não. por exemplo: a gafieira do carlinhos de jesus, que se não me engano se chama rio 40 graus, é uma merda, mas pelo menos dá vazão aos cafonas. o tal condomínio construído na riachuelo não é tão horroroso assim e é melhor que os casarões destruídos e cheios de ratos que haviam ali. muitos barzinhos pé-limpo são uma evolução natural para a lapa, atraem gente mais bonita - não aprovo a sua atitude de querer estabelecer uma conexão necessária entre popular e sujo e feio e mau vestido e ignorante. Eu quero ver a Lapa muito mais limpa e bela do que é hoje. Gosto de bar pé-sujo mas não tenho nenhuma tara por sujeira e baratas, e tenho consciência que a maioria das mulheres bonitas e elegantes que conheço preferem bares limpos com banheiros limpos, e as acompanharei com o maior prazer, compreendendo perfeitamente a sua lógica.

No Rio, não faltam cafonas. Certamente, há muitos cariocas em trios elètricos em Porto Seguro e Salvador. O tal refrão se refere aquele tipo de bloco - no presente - na comparação com os trios - no presente - de Salvador. Se o Carnaval do Rio vai piorar nos próximos anos, é outra coisa. A brincadeira é feita para o presente, sem nenhum pretensão de estabelecer uma superioridade cultural sobre Salvador. Pensa bem. Não se trata de Salvador. O refrão é uma metáfora, entende? É uma comparação do bloco livre com um trio elétrico aristocratizado, 400 reais por dia, todo mundo de uniforme, beijando na boca uns dos outros como se fossem uns bichos, enquanto no bloco pequeno e livre como o boitolo, temos romantismo, boa música, gratuidade, democracia, e diversão.

É uma metáfora. Não um bairrismo babaca como você sugere.

Miguel do Rosário disse...

anonimo e outros, assistam os vídeos que disponibilizei ao fim do post Exercicio para uma cronica de carnaval n.2.

Anônimo disse...

Não sei se tem alguma coisa de metáfora nisso, acho que você tá romantizando um pouco demais. Acho que você tá gastando boa vontade em dar uma interpretação muito particular sua, que tem a ver com o fato de você ter se divertido no bloco, com uma frase que não tem nada de ingênua, por ter, ao meu ver, uma ampla representatividade cultural.

O trio elétrico aristocratizado é escroto, mas, como falei, eu já vi um ensaio da Timbalada ao vivo em Salvador que dá de mil a zero em 98% dos blocos do Rio em termos de musicalidade e diversão. A percussão dos caras é muito contagiante, não conheço nenhuma percussão de bloco de carnaval aqui que chegue perto do entrosamento e da energia dos caras (pode ser que exista, e obviamente não estou considerando escolas de samba, só os blocos). Paguei 20, 30 reais pelo ingresso? Pode ser, não lembro exatamente quanto, mas valeu, e muito, a pena. Prefiro pagar, se tiver, 30 contos e ver de novo um ensaio dos caras do que ganhar 5 reais para ficar no Cordão do Boitatá tomando cotovelada na cara. Estou sendo aristocrático? Acho que não. É uma questão de valor. Por isso, essa argumentação de que o carnaval de blocos é barato não me comove muito.

Aliás, o desfile das escolas de samba, a principal atração do carnaval carioca, também é bastante elitizado e os preços são altos, tanto para desfilar quanto para assistir. Os ingressos populares são poucos e esgotam rápido. Nunca fui assistir a um desfile, mas a emoção de passar pela avenida por uma escola não tem preço, isso eu posso testemunhar.

Não dá para dizer também que todo trio elétrico é uma merda. O Gil tem (ou tinha, não sei mais) trio elétrico em Salvador. O Filhos de Ghandy, daqui de longe, parece ser interessante. A Ivete Sangalo canta bem e é gostosa. Tenho disco do A Cor do Som com Dodô e Osmar que é o maior barato. O Armandinho, filho do Osmar, é um grande músico e tá sempre tocando pelo carnaval baiano. Chame Gente é uma música muito bacana e empolgante.

Para falar um pouco mais de música, os sambas-enredo do carnaval carioca, nos últimos quinze anos... três ou quatro se salvam, e olhe lá. Marchinhas novas boas, pra boca do povo? Quase não existem. A música baiana de carnaval, atual, que chega aqui, é péssima, mas a do Rio não tá nada longe.

Há trio com preço extorsivo? Há. O Carlinhos Brown reagiu contra isso e, se não me engano, promoveu (ou ainda promove) um trio gratuito, sem abadá. Parece que é uma confusão absurda. Quando Jaques Wagner assumiu, em 2008, houve uma grita dos comandantes do carnaval, por conta de uma realocação de recursos. Estou desatualizado quanto ao andamento desse assunto, até porque são pequenas manchetes, mas enfim: o carnaval lá é também bastante complexo, e me parece que o refrão carioquista passa a régua e ignora isso.

Nunca estive em carnaval ao vivo em Salvador, mas tenho uma forte suspeita que há na cidade, no carnaval, ainda, espaço para ouvir música boa, se divertir e tomar cerveja barata. Deve ser preciso saber procurar, não deve ser fácil de achar (assim como não é fácil achar um bloco bacana no Rio). Trata-se de uma suspeita, ressalto.

Enfim: a generalização contra o carnaval de Salvador está me parecendo pouco metafórica, um tanto injusta, simplista, hermética. Tem metáfora que não cola. Pra mim, essa aí não colou.

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Também acho que o pé limpo tem algum valor, mas o estilo massificado deles é de uma pobreza absurda. A transformação arquitetônica da Lapa, com o condomínio e os pés-limpos, tá sendo lamentável, decadente. Não estou defendendo ratos e baratas, só estou apontando que o destino da bela arquitetura do bairro, que anda mal-conservada há tempos, está sendo virar franchising de condomínio e bares da Barra/Zona Sul, estilo shopping center. Tomara que a Praça Tiradentes escape dessa.

Existe um bom número de bares no Rio sem ratos e baratas, que mantem as fachadas e decorações bastante autênticas, originais, lindas, sem precisar gastar grandes fortunas para isso, sem precisar virar McDonalds.

Miguel do Rosário disse...

a metáfora não colou para você, porque ela derruba toda a tua argumentação. mas é isso. CLARO QUE É METÁFORA, já que é uma brincadeira. qualquer outra elocubração sobre o assunto é masturbatória e perda de tempo. é claro que existem lugares super legais para brincar carnaval em salvador. assim como lugares chatos no Rio. Depende do gosto do freguês. quanto aos bares novos da lapa, é o velho progresso de sempre, meu chapa. eu estou preparando um longo ensaio sobre esse tema para uma revista, para entregar em junho. a arquitetura está sendo preservada, já que é tudo tombado. é proibido derrubar qq fachada na lapa. o tal condomínio foi construído sobre uma área vazia e destruída. e se trata somente de 1 condomínio em todo um bairro. e o primeiro em 20 anos! porra, voce conhecia a lapa como era antes. não era nenhuma maravilha, meu chapa. cheia de pobreza, indigência e desemprego. havia um ou dois barzinhos frequentados por estudantes universitários, como o bar do seu cláudio e depois o pega leve, mas de resto era uma decadência total. tudo tem seu preço, enfim. os barzinhos novos, de qualquer jeito, restringem-se à um trechinho da mem de sá e da riachuelo, que não representam nem 3% da lapa. existem muitas ruas ainda decadentes, com bueiros vazando, lixo a céu aberto, botequins pé sujo e famílias miseráveis ocupando ilegamente sobradões, lojas à beira da falência. enfim, ainda tem muita pobreza e imundície para você se divertir.

Anônimo disse...

"É metáfora, já que é brincadeira"? Definição esquisita de metáfora.

Incrível como o discreto charme da aristocracia artística gabeirista hipponga carioca causa tanta comoção e ganha tanta adesão, ainda mais quando despreza o resto do país.

E aí a análise do material cultural, e uma comparação efetiva das manifestações artísticas de diferentes pólos de cultura do país passa a não valer de nada. Vira "masturbatória", "perda de tempo", questão de "gosto do freguês". Normal.

A arquitetura da Lapa está sendo preservada? As fachadas? Mais ou menos... há inúmeras maneiras de se destruir arquiteturas, tornando-as invisíveis. O jogo de iluminações, por exemplo.
Tudo na surdina... O capital dribla as leis de preservação com muita facilidade...

(Critiquei as iluminações? Deixa eu tentar antecipar, porque você vai vociferar: "você preferia a Lapa antes, escura? Vai se divertir no escuro! Sem enxergar nada, batendo a cara na parede! Com as baratas! Com os assaltantes! Com os mendigos!" Ai, ai...)

Quanto aos bares novos, prefiro não ficar defendendo "o velho progresso de sempre". O desenho deles é de uma pobreza muito grande, assim como o condomínio da Riachuelo. São muito escrotos. Contribuem para enfeiar o bairro. Saímos de uma pobreza para outra, só isso que venho tentando dizer. Essa nova pobreza traz ganhos, de fato, mas não precisa ser defendida com unhas e dentes. Até porque nenhum ganho chega sem perdas.

Nem defender as baratas, nem defender o estilo shopping center. Acho que não estamos fazendo isso.

Miguel do Rosário disse...

exatamente, anonimo, não estamos defendendo shopping center. tudo tem seu preço, a nova pobreza pelo menos gera empregos e ataca a... pobreza. o condominio da riachuelo não é feio. é um condominio como outro qualquer, até bonito, com palmeiras, com área central, e não tem nada de ostentatório. só porque é lapa não pode ter um bom edifício? além do mais, é o único empreendimento imobiliário da lapa em 30 anos! E continua sendo o único! O comércio local está muito feliz, porque ele deve trazer um pouco mais de desenvolvimento. caso voce não saiba, quando um empresário adota um sobradão daqueles, é a melhor forma de preservá-lo, já que certamente não é abandonado que ele irá ser conservado. ou seja, a renovação da lapa está ajudando a preservar seu patrimonio arquitetonico, e não o contrário, como você sugere. qto à iluminação, realmente não entendi o que voce quis dizer. Os empresários gastam milhões para reformar os sobradões e usam iluminação não para escondê-los, mas para iluminar melhor a sua arquitetura!

Quanto ao "discreto charme da aristocracia artística gabeirista hipponga carioca", que "causa tanta comoção e ganha tanta adesão, ainda mais quando despreza o resto do país", acho que a expressão é exagerada, distorcido, generalizante e, o que é pior, denota um rancorzinho doentio e grotesco, despeitado, invejoso, além de óbvio. Aristocracia artística não é defeito, mas qualidade. Gabeirista é opção política, que eu critico mas respeito. Hipponga é equivocado, tem muito doido ali, mas muito longe de hipponga, no máximo alguns descendentes longínquos. Quanto à "desprezar o resto do país" é um equívoco monstruoso. Você se prendeu ao refrão que critica, saudavelmente, com minha aprovação, um tipo de carnaval privatizado, elitizado e discriminatório, que pratica quase um apartheid social, na comparação com um carnaval democrático e livre. Você quer censurar um refrão? Que ditadurazinha politicamente correta é esta? Ninguém tinha má intenção. A intenção era inocente, brincalhona. Deixa de ser chato, mêu!

Anônimo disse...

"enfim, ainda tem muita pobreza e imundície para você se divertir", essa frase não me pareceu muito educada.Pô Miguel, o cara só tá expondo a opinião dele e de uma forma respeitosa.Isso me pareceu meio que uma resposta atravessada e,de certa forma,agressiva de sua parte.O que está havendo? não é este um espaço para as pessoas, de uma forma educada e respeitosa, discutirem suas opiniões? não é um blog de cavalheiros e damas? ou liberou geral?

Miguel do Rosário disse...

bernardo, não exagera. minha resposta não tem nada de mal educada. tem um pouquinho de agressividade, normal num debate, normal numa polêmica. não somos dois diplomatas ingleses tomando chá. eu falei palavrão? eu ofendi a pessoa dele? não, minha referencia apenas põe em evidência as minhas idéias em constraste com as dele.

agressão é o que Folha fez, chamando seus leitores de cínicos e mentirosos num espaço em que eles não podem revidar na hora. como disse o clint eastwood, todo mundo agora está tão "sensível".

Anônimo disse...

Não sei se meu comentário anterior chegou, mas você dizer que existe ainda muita sujeira e imundície para que o anônimo possa se divertir, me pareceu de certo modo agressivo e desnecessáriamente acima do tom.Este não é um blog de cavalheiros e damas, que expõe suas opiniões de modo respeitoso? ou liberou geral?
Não custa lembrar que o cara, nas vezes que postou comentário, foi educado.Você falando nesse tom, abre espaço para que haja deselegãncia e falta de respeito, ou seja comportamentos que não somam nada e geram um clima ruim.

Anônimo disse...

A questão não é de "sensibilidade", mas acho que o tom da resposta que você deu ao cara foi apenas desproporcional.Apenas um toque para você.
Abraço

Anônimo disse...

Acho bem feio o condomínio. É interessante investimento imobiliário na Lapa? É. Mas o condomínio é bem feio, uma arquitetura escrotona. Podia ser pior? Podia. Traz investimentos, faz mais dinheiro circular? Ótimo, só que não estou entrando neste mérito, em nenhum momento. A pobreza de que venho falando é de outra ordem. Acho que estou tentando falar de uma pobreza de outra ordem, que se afasta, por um lado, da questão financeira. É uma pobreza artística mesmo, tanto da arquitetura, quanto do carnaval de blocos, quanto das piadas feitas por seus integrantes. Se essa pobreza faz parte, inevitavelmente? Talvez, mas isso não desmerece a tarefa de recusá-la. É achar ruim por um lado e bom por outro, e esmiuçar a contradição, e decompô-la, recolhendo os pedaços que mais interessam.

Acho que você se prendeu um pouco demais à questão de uma economia financeira que é realmente muito importante, e eu concordo quase tudo contigo, e tá deixando de lado os destinos das nossas representações, das imagens de nossas cidades, das imagens que retemos, que são traçados por tortuosas linhas inconscientes. A iluminação da Lapa, ao meu ver, é bem ruim, nestes termos. A bela arquitetura fica secundária aos holofotes da propaganda horrorosa dos pés-limpos. Melhor que a escuridão medieval o iluminismo (grosso modo)? Claro, mas somente sob análise crítica, senão vira mesma moeda.

Mantenho minha frase sobre o discreto charme da aristocracia artística gabeirista hipponga. Não compartilho muito com essa visão panos quentes de que elite/aristocracia culturais são bacanas, e a elite econômica é que não presta. A nossa elite artística é gabeirista radical em seu moralismo. Muito reacionária, com poses de progressistas muito hipócritas. Prefiro não defendê-los.

O valor artístico, ao meu ver, precisa ser medido com outros conceitos, que não o de elite, que é segmentador e discriminatório em sua tradição.

Aí não adianta ter boa intenção para ignorar a tradição. Assim como não adianta ter boa intenção ao fazer uma piada preconceituosa. De boa intenção... bem, você sabe.

Quanto à acusação de censura e ditadura, prefiro que você me xingue de cínico e mentiroso, como o cara da Folha. Seria mais elegante. Estou apenas manifestando um repúdio a um evento do carnaval, de forma que suponho livre, num espaço que considero democrático.

Juliano Guilherme disse...

Concluo desse entrevero que o anônimo é um esquerdista saudosista e ferrenho crítico das elites, sejam elas econômicas, intelectuais, artísticas, geográficas ou estéticas. Já o Miguel é mais tolerante e/ou complacente com as ditas elites. Mesmo porque, fora a econômica, é difícil determiná-las com exatidão. E isso é muito bom, sinal que o Brasil está se desvencilhando do estigma "Casa Grande & Senzala". Talvez o Anônimo esteja muito ligado a esse conceito, e o Miguel seja um pós Casa Grande & Senzala. O Anônimo tem razão em não poupar críticas à Casa grande, uma das piores elites do mundo. Mas o Miguel já vislumbra uma mistura da casa com a senzala. E a Lapa, com todos seus defeitos, favorece essa visão. No mais, deveriam dar uma olhada no post do Nassif, "desentendimentos evitáveis". Ambos estão no movimento Delenda Serra, isso que é o importante

Miguel do Rosário disse...

eu sei. o anonimo e eu estamos mais para amigos do que para adversários. qq dia ele vem à lapa, toma uma cerveja com a gente e deixe de ser um anonimo. abraço em todos, inclusive no anonimo.

Anônimo disse...

Eu ia justamente propor esse duelo. Escolhamos nossas armas, desde que sejam alcoolicas. E o local não pode ser nenhum pé-limpo, porque aí também é sacanagem.

Juliano Guilherme disse...

Prontifico-me a ser o juiz dessa contenda. Pé limpo ou sujo, tanto faz, desde que a cerveja esteja gelada. Que vença o melhor, (de copo?)

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