10 de setembro de 2008

Preparativos para próxima edição da Revista Manuskripto

Gostaria de agradecer o interesse, traduzido em pedidos de assinatura, pela Revista Manuskripto, editada por este que vos fala. E informar que a próxima edição já está sendo elaborada, e contará com uma entrevista exclusiva com Wanderley Guilherme dos Santos, o cientista político. Estou selecionando ainda o que há de melhor na poesia e prosa brasileira. Haverá ainda resenhas e ensaios sobre artes plásticas, e reproduções de trabalhos visuais que acho interessantes e representativos da arte contemporânea. Lembro que a revista é minha patrocinadora e portanto, assinando-a, você ajuda este blog a permanecer ativo. As instruções para a assinatura estão na coluna da direita.

A revista trabalha com uma estética mais simples, buscando libertar-se da escravidão da publicidade. Fazer uma revista luxuosa, papel importado colorido, com diagramação mirabolante, ficou tão caro que o editor é obrigado a publicar mais publicidade que conteúdo, para bancar o custo, e assim escraviza-se várias vezes. Escraviza-se diante da gráfica, que lhe arranca o couro e, o que é o pior, diante dos patrocinadores, que lhe tolhem a liberdade de publicar o que quiser, sob ameaça de cortarem futuros anúncios.

A saída está nesta conjugação entre internet e impresso, e na simplicação do impresso. Por isso, lancei uma revista a custo baixo, com visual arrojado mas materialmente simples, ao alcance de todos, focada num conteúdo original e interessante.

1 comentário

KAUTSCHER disse...

Allende: A História é nossa e a fazem os povos

Discurso do Presidente Salvador Allende, em 11 de setembro de 1973, dia do golpe de Estado que derrubou o governo da Unidade Popular e implantou a sanguinária ditadura militar comandada pelo general Pinochet.

"Seguramente, esta será a última oportunidade em que poderei dirigir-me a vocês। A Força Aérea bombardeou as antenas da Rádio Magallanes। Minhas palavras não têm amargura, mas decepção. Que sejam elas um castigo moral para quem traiu seu juramento: soldados do Chile, comandantes-em-chefe titulares, o almirante Merino, que se autodesignou comandante da Armada, e o senhor Mendoza, general rastejante que ainda ontem manifestara sua fidelidade e lealdade ao Governo, e que também se autodenominou diretor geral dos carabineros.


Diante destes fatos só me cabe dizer aos trabalhadores: Não vou renunciar! Colocado numa encruzilhada histórica, pagarei com minha vida a lealdade ao povo। E lhes digo que tenho a certeza de que a semente que entregamos à consciência digna de milhares e milhares de chilenos, não poderá ser ceifada definitivamente. [Eles] têm a força, poderão nos avassalar, mas não se detém os processos sociais nem com o crime nem com a força. A história é nossa e a fazem os povos.


Trabalhadores de minha Pátria: quero agradecer-lhes a lealdade que sempre tiveram, a confiança que depositaram em um homem que foi apenas intérprete de grandes anseios de justiça, que empenhou sua palavra em que respeitaria a Constituição e a lei, e assim o fez।


Neste momento definitivo, o último em que eu poderei dirigir-me a vocês, quero que aproveitem a lição: o capital estrangeiro, o imperialismo, unidos à reação criaram o clima para que as Forças Armadas rompessem sua tradição, que lhes ensinara o general Schneider e reafirmara o comandante Araya, vítimas do mesmo setor social que hoje estará esperando com as mãos livres, reconquistar o poder para seguir defendendo seus lucros e seus privilégios।


Dirijo-me a vocês, sobretudo à mulher simples de nossa terra, à camponesa que nos acreditou, à mãe que soube de nossa preocupação com as crianças। Dirijo-me aos profissionais da Pátria, aos profissionais patriotas que continuaram trabalhando contra a sedição auspiciada pelas associações profissionais, associações classistas que também defenderam os lucros de uma sociedade capitalista. Dirijo-me à juventude, àqueles que cantaram e deram sua alegria e seu espírito de luta. Dirijo-me ao homem do Chile, ao operário, ao camponês, ao intelectual, àqueles que serão perseguidos, porque em nosso país o fascismo está há tempos presente; nos atentados terroristas, explodindo as pontes, cortando as vias férreas, destruindo os oleodutos e os gasodutos, frente ao silêncio daqueles que tinham a obrigação de agir. Estavam comprometidos. A historia os julgará.


Seguramente a Rádio Magallanes será calada e o metal tranqüilo de minha voz não chegará mais a vocês. Não importa. Vocês continuarão a ouvi-la. Sempre estarei junto a vocês. Pelo menos minha lembrança será a de um homem digno que foi leal à Pátria. O povo deve defender-se, mas não se sacrificar. O povo não deve se deixar arrasar nem tranqüilizar, mas tampouco pode humilhar-se.


Trabalhadores de minha Pátria, tenho fé no Chile e seu destino. Superarão outros homens este momento cinzento e amargo em que a traição pretende impor-se. Saibam que, antes do que se pensa, de novo se abrirão as grandes alamedas por onde passará o homem livre, para construir uma sociedade melhor.
Viva o Chile! Viva o povo! Viva os trabalhadores! Estas são minhas últimas palavras e tenho a certeza de que meu sacrifício não será em vão. Tenho a certeza de que, pelo menos, será uma lição moral que castigará a perfídia, a covardia e a traição."

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