21 de outubro de 2009

Sexismos partidários

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Sexismos partidários


Prezados, em primeiro lugar agradeço imensamente a honra de tê-los como assinantes. Vamos ver no que isso vai dar. A principal diferença daqui para o blog é o compromisso profissional, que tem uma ética mais consistente, mais rígida, em relação aos textos lá do Óleo. Em função disso os textos daqui nascerão de um processo mental mais concentrado. Mas deixemos o papo furado. Vamos falar do assunto preferido entre a maioria dos leitores. Vamos falar de política.

O fato político mais importante da semana - embora não tenha merecido a primeira página, por razões que imaginamos muito bem porque - foi a assinatura de um termo de compromisso entre o Partido dos Trabalhadores e o Partido do Movimento Democrático Brasileiro, os dois maiores partidos do país. O PMDB comanda hoje 7 governos estaduais e 1.308 prefeituras (incluindo 5 capitais). Tem o vice-governo em 5 estados. Tem 6 ministros de Estado. É o maior partido no Senado, com 20 senadores, e o maior na Câmara, com 94 deputados. Tem ainda 170 deputados estaduais, e 8.308 vereadores. O número de filiados também é o número 1 no Brasil: 2 milhões. Possui diretórios estruturados nas 27 unidades federativas e em 4.671 municípios.

De longe o partido mais capilar e mais flexível do país, o PMDB era a noiva com a qual toda legenda gostaria de se casar, o que é uma metáfora, aliás, bastante feliz, pois o PMDB me parece ser um partido ideologicamente feminino. Ele tem todas as virtudes e defeitos da mulher. Assim como uma mulher, ele se contenta em exercer o poder à sombra do marido. Assim como uma mulher misteriosa e sedutora, ele cultiva um eterna ameaça de infidelidade. Assim como uma mulher meio venal, ele quer presentes, exige presentes, cada vez maiores. Assim como um mulher, ele não tem uma ideologia rígida, dogmática, mas prefere seguir as idéias do marido - ao mesmo tempo em que, sutilmente, procura metamorfoseá-las de acordo com seu bom senso. Bom senso... A ideologia do PMDB é a ideologia da mulher: o bom senso.

Naturalmente, falo da banda boa do PMDB. Os bandidos do PMDB, que são muitos, em proporção ao tamanho do partido, tem as características dos bandidos de qualquer outro partido. A diferença é que o PMDB, da mesma forma que uma mulher apaixonada, compreende um bandido, desde que se trate de um bandido atraente e que lhe dê presentes...

O PMDB, como uma mulher, parece não gostar de falar muito de política ou ideologia, assuntos que o aborrecem mortalmente. Prefere falar de coisas mais divertidas.

Já o PT (assim como o PSDB) é um partido essencialmente masculino, com todos os defeitos daí decorrentes. Mas eu quero continuar falando do PMDB. E sem mais metáforas, porque isso já me encheu - está virando uma dessas crônicas apócricas de internet que se atribuem ao Veríssimo...

Eu gosto do PMDB, para horror de muita gente. Houve uma manhã, recente, em que eu, depois de uma insônia braba a noite toda, fiquei meio destrambelhado e pensei em me filiar ao PMDB, por puro espírito de aventura. Queria experimentar como é a vida partidária. Quando falei com minha mulher, ela me olhou como se eu tivesse enlouquecido. Depois pensei melhor, e achei que não teria condições de levar adiante minha intenção, por enquanto. Talvez eu o faça ainda. Minha esposa é uma revolucionária romântica, mas só no coração. A mente dela é capitalista, como de todas as mulheres, principalmente naquelas oriundas da classe trabalhadora. Ela não gosta de falar de política, mas sabe ser política. Quero dizer, enquanto eu gosto de refletir sobre os problemas da política doméstica e internacional, ela tem potencial para ser uma líder política. Tem a coragem, a intuição e a força emotiva para isso. Não tem leituras que eu tenho, mas tem conhecimento suficiente para estranhar o fato de eu querer me filiar ao PMDB. Por que não o PT? Ela entenderia muito bem se fosse o PT. Eu poderia me filiar ao PT também, mas, sei lá, me pareceria meio previsível demais. Além disso, eu criei algumas antipatias pelo PT. Parece-me que o partido dos trabalhadores se tornou ranzinza, ranheta, envergonhado, efeminado (tenho uma leitora que briga muito comigo quando uso esse termo, que ela acusa de sexista e grosseiro, mas eu gosto muito dele, porque expressa o que eu quero dizer... significa pusilânime, mas tem umas sutilezas...), confuso, inseguro... E, sobretudo, o que mais incomoda é essa tradição de deslealdade - tanto é assim que os adversários mais fidagais do PT são ex-petistas. Esse egoísmo latente, medroso, pedante, vaidoso, que aflora a todo instante nos parlamentares petistas. Veja o exemplo do Mercadante e do Suplicy. Vejam o Flávio Arns, senador petista que, sem pejo, passou-se para o PSDB...

Entendam. O PT é o partido em que eu mais voto. É o principal partido da esquerda, e representa uma esquerda moderna, democrática, avançada. Mas eu queria muito que o PT incorporasse o bom humor do PMDB, a lealdade e auto-confiança do PCdoB e a combatividade e maturidade de setores do PSB (penso aí sobretudo no Ciro Gomes). Acho que só o PT, na atual conjuntura, tem condições de fazer o sucessor de Lula, e considero Dilma Rousseff um quadro político e intelectual de um valor supremo. Não há, hoje, no Brasil, tirando o Lula, nenhum homem ou mulher, com um cérebro mais rápido e com um coração mais valente do que Dilma Rousseff.

Lula sabe disso, e não é por outra razão que há tempos abraçou a candidatura de Dilma com tanto entusiasmo. Em função de seu passado, de sua personalidade, de suas responsabilidades atuais e recentes, Dilma não desenvolveu os defeitos petistas mais graves, que são: insegurança ideológica, pusilanimidade em relação à mídia oposicionista, e deslealdade congênita. Com isso, ela ajuda a renovar o PT, a purificá-lo desses graves problemas, digamos, psico-políticos.

Bem, acho que está bom por hoje. Prometi-me não exagerar nessa Carta Diária, para não nos cansarmos. Afinal, agora é todo dia! Abraço.


Miguel do Rosário
Rio de Janeiro, 21 de outubro de 2010

1 comentário

carlos disse...

caramba, miguel, essa carta diária n° zero foi do cacete. amanhã mesmo estarei fazendo a subscrição.

a imagem feminina do pmdb, que as feministas irão criticar, foi um achado.

parabéns!

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