22 de outubro de 2009

A liberdade de opinião não vale para o jornalista

Este blog deve cometer muitos erros. Mas fazer como Marco Augusto Gonçalves, ontem na Folha, que afirmou (e não era metáfora) que artistas pagam para expor no MASP, acho que nunca fiz. É impressionante como esses jornais perderam a preocupação com a veracidade. Hoje a Folha é obrigada a publicar, na seção Erramos, uma notinha desmentindo a informação dada por Gonçalves ontem, e também uma cartinha irada do diretor do MASP, acusando o jornalista da Folha de causar enorme prejuízo a produtores, artistas e patrocinadores. Acho que prejuízo também é exagero. O cara do MASP ficou nervoso. Mesmo assim, continuo pasmo de ver como a imprensa corporativa tornou-se condescendente e tolerante com todo o tipo de erro, desde que, é claro, o jornalista vista a camisa ideológica da empresa. A profissão do jornalista, definitivamente, passa por um dos piores momentos de sua história. Por isso abandonei esse barco a tempo. Aliás, eu só continuei porque meu caso era diferente, eu era especializado em café. Mesmo assim, a falta da liberdade, na categoria, me doía, me humilhava. O jornalismo perdeu o pouco de dignidade que um dia possuiu. Zelador, gari, advogado, professor, vendedor, todos podem expressar a sua opinião política com relativa liberdade. Os trabalhadores vendem a sua força de trabalho, física e mental, mas mantêm um espaço de liberdade política. Os jornalistas vendem a sua liberdade. Suprema ironia: a liberdade de expressão e opinião vale para todos, menos para os jornalistas, que são forçados, pelos grilhões econômicos, pela insegurança trabalhista, a silenciar o que pensam ou a reproduzir opiniões que não são as suas, e sim de seus patrões ou dos interesses que eles representam.

É essa falta de liberdade que está por trás do rancor crescente que assistimos na imprensa. O festival de ódio e mau humor que nos assusta em Miriam Leitão, Clóvis Rossi, Merval Pereira, é fruto da consciência atormentada, a consciência envergonhada do escravo. Um sujeito pode até ser um reacionário, um direitista, mas essa liberdade apenas estaria patente se escrevesse num jornal que admitisse também a opinião contrária. Alguns de vocês podem rebater dizendo que a Caros Amigos também não deixa publicarem opiniões divergentes. E quem disse que eu acho a Caros Amigos um exemplo? No quesito liberdade do colunista, a situação é parecida em toda imprensa, mas é muito mais draconiana nos jornais corporativos, conservadores. A Caros Amigos é uma revista mensal, e seus colunistas, em geral, não são empregados da revista, e sim colaboradores. É muito diferente do que ser empregado de um jornal diário, e vender diariamente a sua consciência, a sua opinião política. Vocês dirão também que, a essa altura do campeonato, os jornalistas que sobraram na grande imprensa pensam igual a seus patrões. Não concordo. Acho impossível um assalariado partilhar da mesma ideologia de um milionário. Mas, mesmo que eles concordem em vários pontos, isso não muda muito, porque o triste, a meu ver, é a falta de condições de liberdade; ou seja, a ausência de um espaço para aquele jornalista, eventualmente, mudar de opinião.

Eu nunca trabalhei na grande imprensa. Nem quero. Nem por um milhão de reais por mês. Apenas trabalharia se constasse, no meu contrato, que eu poderia ter a opinião que desejasse, e não ser discriminado por isso, e não pudesse ser demitido por essa razão. Mas tenho amigos e parentes que já trabalharam por muitos anos nessas empresas.

Defendo que os jornalistas se organizem melhor como categoria, que fortaleçam os sindicatos, e elaborem um novo estatuto profissional, que dê mais segurança ao jornalista em sua relação com a empresa onde trabalha. Naturalmente, uma empresa tem o direito de demitir o jornalista quando quiser. Nunca irá alegar discriminação ideológica ou política; inventará outro pretexto. Mas é preciso criar obstáculos a essa perseguição, seja através do aumento da indenização, seja através da necessidade de explicações bem fundamentadas para a demissão. Enfim, o jornalista tem que olhar para os lados e ver que advogados, engenheiros, zeladores, metalúrgicos, possuem sindicatos fortes. Ai de quem não quiser pagar uma hora extra a um zelador! Ai de quem se recusar a pagar os direitos de um trabalhador na agricultura! Já repórteres, fotógrafos e diagramadores de jornais entregam suas horas extras, seu tempo, sua vida, alegremente a seus patrões, caladinhos, submissos, covardes.

Nos últimos 20 anos, os sindicatos - no Brasil - se reorganizaram e se fortaleceram em todos os setores do mundo do trabalho. Os jornalistas seguiram na contra-mão. E quem patrocina essa política de desunião? As estrelas do colunismo. Cansei de ler matérias de Miriam Leitão espinafrando os sindicatos e a federação dos jornalistas. Claro, ela ganha 200 mil reais por mês, enquanto a maioria absoluta dos jornalistas vivem condições de trabalho degradantes.

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