15 de setembro de 2010

Aumentando a pressão

A guerra eleitoral intensifica-se. A criação de factóides pela imprensa atingiu um ritmo febril, e que por isso mesmo torna-se enfadonho e cansativo para a maioria. Colunistas carregam nas tintas contra o governo e sua candidata, mas as pessoas se entediam ao ler esses radicalismos. E Dilma permanece intacta nas pesquisas. O único perigo, de ordem institucional, que seria produzir um clima negativo que desse subsídios para um golpe branco, via Justiça Eleitoral (o famigerado tapetão), também parece afastado - ao menos por enquanto.

A banalização das denúncias advém da própria imprensa, que as acolhe sem critério, sem nenhum disfarce quanto a seus objetivos eleitorais. É claro que existe corrupção no governo federal, mas o combate a ela não pode ser feito através de campanhas de desestabilização política e sim através do fortalecimento e modernização das instituições de controle e auditoria.

Ontem tive a honra de dar palestra numa universidade privada do Rio, a Facha, juntamente com meu colega Igor Bruno, candidato a deputado estadual e também blogueiro. Mediando o debate, um professor de lá declarou que os grandes jornais tornaram-se material de campanha de José Serra, com o que eu concordo, e afirmou que ninguém mais acredita neles, com o que discordo. Essa imprensa ainda é extremamente perigosa, e o barulho que a Veja produziu esta semana prova isso.

O máximo que a frenética produção de factóides tem produzido, no entanto, é tirar alguns pontos de Dilma junto aos mais ricos - e que ironicamente vem migrando não para Serra e sim para Marina Silva. Mas Dilma continua crescendo junto às classes baixas e mesmo junto às classes médias. Mais importante: a eleição acelerou o processo de conscientização de estratos cada vez mais significativos da sociedade quanto à partidarização da mídia, de maneira que, ao mesmo tempo em que desgasta o governo com sua campanha sistemática (mas de forma apenas provisória, até que se perceba a precariedade das denúncias), a imprensa também perde prestígio (neste caso de forma duradoura, porque assinou recibo de sua desonestidade).

Teremos ainda duas semanas de guerra. O campo da esquerda mostra-se mais combativo do que nunca. Não há mais ingenuidade. Não há mais defecção. Todos queremos lutar contra a corrupção e a falta de ética no governo, mas temos plena consciência de que a vitória do PSDB não ajudará em nada nesse sentido. Muito pelo contrário. A esquerda assiste a imprensa blindar o PSDB da forma mais descarada e isso, definitivamente, não sugere nenhuma renovação ética. O tucanato revela-se mais e mais um partido fraco, sem base popular, sem militância, sem sindicatos, sustentado apenas pela mídia e, como tal, submetido e chantageado por meia dúzia de proprietários de meios de comunicação.

Aumentemos a pressão, companheiros! Eu, de minha parte, deixei de lado qualquer outra atividade ou objetivo que não seja a de lutar para que meu país não recaia nas mãos desses traidores. Não ganho um tostão do governo, do PT ou da campanha da Dilma. Luto exclusivamente por minhas idéias. Mais do que pelo meu país, luto pelo mundo inteiro, porque tenho a convicção de que o governo Dilma será muito mais benéfico à paz universal do que uma gestão alinhada aos interesses bélicos dos Estados Unidos, como prometem os ideólogos tucanos.

Intimidados por sua própria debilidade conceitual e ideológica, a oposição procura associar a vitória de Dilma a um projeto totalitário, exatamente na mesma linha que os golpistas faziam em 1964. Neste sentido, é impressionante como alguns tucanos, a começar pelo candidato José Serra, sequer se preocupam em mudar o vocabulário. Pior, Zé Baixaria tem atacado insistentemente os "blogs sujos", o que constitui, além de uma agressão à democracia, uma tremenda honra para nós. É praticamente uma medalha de guerra, porque, ao fazê-lo, ao nos atacar, ao focar sua atenção na blogosfera, ele nos promove a uma espécie de batalhão de elite, uma idéia que sempre me divertiu.

Aproveitando o gancho, quero estender esses méritos guerreiros a todos os comentaristas, deste blog, de todos os blogs, de todos os sites. Cada pessoa que expressa uma opinião, em qualquer parte da internet, dá uma participação fundamental para a construção de nossa democracia. Tenho visto com muita frequência, e ainda mais nos últimos dias, que as notícias dos grandes portais de notícias recebem uma quantidade imensa de comentários críticos e inteligentes. A sociedade brasileira está amadurecendo politicamente a um ritmo que os jornais, definitivamente, não conseguem acompanhar. Surgiu no país uma massa crítica que não tem deixado escapar nenhum artifício eleitoreiro. A nossa democracia, por isso mesmo, nunca foi tão pujante e verdadeira e portanto nunca soou tão ridículo e artificial o medo de alguns segmentos a respeito de um suposto projeto totalitário. Se esse risco existe, nunca foi tão pequeno, e o filete que o separa da inexistência total é justamente a presença de núcleos golpistas no campo conservador, que gozam de apoio midiático, às vezes tácito, muitas vezes explícito.

E por falar em golpismo, quero registrar aqui a última baixaria da campanha de José Serra, desta vez articulada por sua própria esposa, Mônica Serra. A psicóloga esteve ontem no Rio de Janeiro, ao lado do Indio (!) e, dirigindo-se a um trabalhador evangélico que declarara voto em Dilma Rousseff, disse a ele que a petista era "a favor de matar criancinhas".

Trata-se de um absurdo inominável, e juro a vocês que não acreditava que o PSDB fosse descer tão baixo. Nem concebia que esta Mônica Serra se mostrasse uma pessoa tão desclassificada. Quero acreditar que uma insanidade desta receberá o repúdio de toda pessoa esclarecida. Em virtude da gravidade da declaração, fiz três links para as notícias publicadas, no Estadão, no R7 e no meu Clipping. E ainda reproduzo abaixo:


Tal tipo de baixaria só é visto em momentos desesperados de campanhas políticas dos Estados Unidos, onde o moralismo de cunho religioso causa muito impacto. No Brasil, apesar de termos uma população bastante religiosa, ela não tem, felizmente, esse moralismo radical.

A baixaria de Mônica Serra é inaceitável por vários motivos:

  1. É mentirosa e estapafúrdia, por razões óbvias. Insere um grau de violência na campanha que apenas prejudica a qualidade do debate eleitoral. Como debater politicamente com quem fala esse tipo de coisa?
  2. É um argumento desonesto usado comumente por ultra-conservadores que tem posições radicais contra o aborto. Considerando que milhares de mulheres morrem anualmente por conta de abortos clandestinos e pela falta de uma legislação decente que obrigue os hospitais públicos e o SUS a tratá-las de forma adequada, a declaração de Mônica Serra revela-se criminosa. 
  3. É despolitizada e desinformativa, porque o aborto é liberado ou descriminalizado em quase todos os países europeus e em vários estados americanos. 
  4. Agride o debate intenso e delicado que as organizações femininas tem feito nos últimos anos. Esse tipo de declaração, ainda mais quando vindo de um membro respeitado da sociedade civil, não identificado com o fanatismo religioso, provoca, geralmente, um enorme retrocesso nas discussões. Mônica Serra causou prejuízo a todas as mulheres do Brasil que lutam pelo direito de discutir o aborto de forma civilizada.

Por fim, encerro o post com uma boa notícia. Arthur Virgílio pode não se reeleger senador pelo Amazonas.

16 comentarios

X-MAN disse...

O problema é que essa guerra com a midia não acaba com essas eleições, o possivel governo da Dilma vai ser mais do mesmo, os jornalecos vão bombarde-lo incessantemente poque vão querer minar a sua autoridade pra tirna-lo um governo fraco e jogar isso na conta de todo o PT, j´[a fizeram isso com o bem avaliado da marta em sp, era todo dia a turma batendo na Marta por causa das enchente, e estranhamente não fizeram isso nem com o dito cujo e seu boneco; seja qual for o resultado daqui a 4 anos tem novas eleições e essa turma é incansavel. O que preocupa é como o governo Dilma vai encarar a hostilidade da midia, e como o povo vai entende-la.

Miguel do Rosário disse...

Com certeza, X-man, a guerra não vai acabar, mas a conjuntura será completamente diferente. O PT deve ampliar muito a sua bancada na Câmara e no Senado. A base aliada, de forma geral, deve ampliar sua bancada, na mesma proporção em que a oposição vai diminuir. Sem contar que a própria eleição de Dilma terá um significado importantíssimo para galvanizar Dilma com uma aura democrática, e pintá-la com as tintas do poder popular. Livre da disputa eleitoral, que é um processo delicado e cheio de armadilhas e riscos, Dilma poderá desenvolver-se politicamente de maneira formidável e participar de forma criativa do embate político. O PT aliás amadureceu e agora parece ter percebido a importância de fazer o combate ideológico na mídia.

IV Avatar - Clique aqui disse...

Notícias antigas que continuam atuais

http://josecarloslima79.blogspot.com/

IV Avatar disse...

Eles apostam na ignorância das pessoas, se esquecem que é o Congresso Nacional, e não o presidente, que decidirá sobre estes temas, como a direita raivosa perdeu no debate, em questões importantes para o país, como o pré-sal, a privatização, partem agora para para questões de cunho pessoal, claro que vão entrar na intimidade da Dilma, vão inventar coisas horríveis, estejamos preparados para isso, o momento agora é ganharmos as ruas, a bandidagem midiática, estes bandidos não podem tomar de assalto este País, eles não estão nem um pouco interessados em Deus, religião, estas coisas, estes salafrários querem é o pre-sal, vender a Petrobrás assim como venderam a Vale.
FHC nunca mais, a partir de agora vou fazer plantão nos comitês que apoiam Dilma, não quero depois me sentir culpado por não ter lutado contra o retorno destas aves de rapina.
É Dilma
Com amor pelo Brasil

Ruivo disse...

Dilma não vai ter vida fácil.
Leia o que está escrito, com todas as letras, no editorial da Folha de hoje (15/09/10):

"Dilma Rousseff revela traço de personalidade inadequado à função a que aspira"

Anônimo disse...

A Monica Serra tá é de olho no cofre do Brasil, o resto é prá ingles ver, ela é contra o Bolsa família, contra os pobres, agora vem com uma ladainha dessa, mulher falsa até dizer chega, como o marido

Rafa

Apenas, Marcia disse...

Fatos como o dessa senhora demonstram bem a falta de conteúdo democrático das elites direitistas deste país. Sou Cristã e contra aborto. Meu voto: Dilma Vana Roussef. Desde a revolução francesa, o Estado se separou da religião e eu acho isso ótimo.É por isso que neste país não nos degladiamos em guerras inúteis discutindo que é melhor: Jesus ou Allah. Todos temos direito de acreditar no que queremos: budistas, muçulmanos, espíritas, católicos, umbandistas, prostestantes. Para esses que desqualificam a candidata com apítetos desta natureza digo que deviam ler mais o evangelho de Jesus, em especial onde nos instrui: aquele que acusar, na mesma medida será acusado. E para terminar, o presidente não pode determinar o aborto por decreto. Falar que a Dilma vai fazer isso é muita ignorância. É preciso um projeto de lei no Congresso. Lá, que é a casa do povo, estaremos nós, democraticamente, defendendo nossa posição a favor da vida. Por que o aborto não é a única questão deste Governo. Há empregos para serem criados, bocas pro Bolsa Família alimentar, jovens a qualificar para o mercado de trabalho, um país para ser desenvolvido. Portanto, é bom pensar no país que queremos e não em nossas egoísticas opiniões pessoais.

Unknown disse...

"NÓS VAMOS GANHAR DELES NO VOTO"

“Para quem disse que queria acabar com minha raça não dá para queixar de nada”.

Jorge Bornhausen (DEMOs/SC), em 2005, disse que acabaria com a “raça” petista por 30 anos.

“Eu sou do PT. Sou sobrevivente de um processo de extermínio”, satirizou Dilma.

(Dilma)


http://www.youtube.com/watch?v=6AGQAxDc9LY&feature=player_embedded

Anônimo disse...

sabe que tinha uma impressão boa desta monica serra, ficava sempre fora na dela, pensei que era sensatez,. vejo agora que é burrice mesmo, uma psicologa tratar uma questão tão melindrosa que é esta do aborto deste jeito, meus Deus que nojo, é ainda falar uma calunia desta em relação a Dilma. Que atraso no debate politico, do lado da direita golpista, ainda bem que o povo brasileiro está mais esclarecido, e temos o inteligentissimo, estrategista do século de nome Lula para driblar este povinho todo.

luis augusto simon disse...

Monica Serra não honra o sobrenome ALLENDE. www.blogdomenon.blogspot.com

Luiz Monteiro de Barros disse...

Voce já deve ter lido a entrevista do criador do do significado de "elite branca" o Claudio Lembo para o Bob expressando sim que a midia tomou o partido de Serra. em http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/claudio-lembo-e-o-pos-eleicoes#more

Unknown disse...

Prezados,
É com profunda tristeza e indignação que vejo esse tipo de afirmações por parte dessa cidadã, que me envergonha profundamente pelo fato de ser chileno também, não esperava por essa, eles devem aceitar a vontade do povo e se submeter a ela. Tenho vergonha de meu pais ter acolhido essas pessoas (FHC, Serra e muitos outros) durante os anos negros da democracia e vejo que não aprendeream nada com essa experiência.
Torço para que eles recebam o repúdio deste povo brasileiro e tomara caiam no esquecimento.

Anônimo disse...

Ao Ricardo Ivan ( o chileno )

Alegre-se, o Brasil não é cercado por água.
(como Cuba) Assim sendo, eu, vc e milhões de outros não precisaremos nos arriscar sermos comidos por tubarões na fuga que acontecerá quando essa gente tomar o poder. Uma nova Cuba se forma na América do Sul.
Quem viver verá......

Vera Oliveira disse...

Ô ANÔNIMO! (só podia ser um anônimo covarde mesmo)
Vá escrever merda em outro lugar, seu cretino! E se tem tanta certeza sobre a idiotice dita acima, não espere 3 de outubro não! Aproveite e desinfete nosso Paìs de sua peçonhenta pessoa JÁ! Estou certa de a estátua da liberdade o recebérá de braços abertos!

Marcos disse...

É isso aí, Vera, têm uns idiotas reacionários aparecendo neste blog que só falam asneiras. É muito comum virem com aquela conversinha falsa e tola de que com a esquerda no poder, o Brasil virará uma ditadura. Uma afirmação sem pé nem cabeça, totalmente desmentida pelos quase oito anos de governo Lula, um governo de centro-esquerda. Na verdade, com Lula, a nossa democracia vem se aperfeiçoando, consolidando e fortalecendo como nunca antes. Imaginemos o horror de termos José Serra como presidente do nosso país (graças ao bom Deus, ao brilhante governo Lula, à blogosfera e ao amadurecimento político do nosso povo, tudo indica que isso jamais ocorrerá!). Aí, sim, correríamos um seríssimo risco de termos uma ditadura demotucano-midiática no Brasil, ou uma "república" midiática. Vade retro, Zé Baixaria, demotucanos e PIG!

Anônimo disse...

factoide ? explica: porque a Erenice foi afastada?

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