15 de julho de 2010

Estadão é único a dar voz ao sindicato de auditores fiscais

O Estadão, apesar (ou talvez justamente por isso mesmo) de adotar a linha mais transparentemente anti-Lula, foi o único jornal a dar voz a um comunicado do Sindicato Nacional dos Auditores da Receita Federal (Sindfisco) no qual se fornece explicações conceituais sobre o acesso aos dados do tucano Eduardo Jorge.

Entretanto, como a explicação atrapalha a tese de que uma "equipe de inteligência" de Dilma fez um dossiê contra um aliado de Serra, o Globo e a Folha simplesmente ignoraram o texto. Não o divulgaram. Agiram como se ele não existisse.

O próprio Estadão transcreve o comunicado com nítida má-vontade, visto que não põe em destaque o que é, na verdade, a explicação mais racional. Toda a imprensa vem fazendo uma grande confusão, denunciou o sindicato. A função do auditor da Receita é justamente entrar na conta das pessoas e empresas para cruzar informações fiscais. É pago para isso. O crime não está aí. O crime está em vazar informações para fora do recinto.

As declarações do secretário da Receita, Otacílio Cartaxo, e o comunicado do Sindfisco, complementam-se e permitem tirar conclusões contrárias às teses ventiladas pela imprensa e seus colunistas:
  1. O ambiente funcional da Receita não é partidarizado. Todos os funcionários da Receita entraram na instituição através dos concursos mais difíceis do país, e também recebem os mais altos salários da República. Não há nenhum clima para se defender este ou aquele candidato. Ao contrário, a maioria dos funcionários da Receita são indivíduos conservadores e muito pouco simpáticos ao PT. 
  2. Os funcionários sabem muito bem que seus acessos são todos registrados. Seria uma estupidez incompatível com o nível técnico de um auditor da Receita entrar indevidamente nos arquivos de um político. Ainda mais de um político! Ainda mais de um político da oposição! 
  3. Sindfisco e Cartaxo não descartam, naturalmente, algum ilícito por parte de um funcionário. É loucura, no entanto, pensar que um funcionário poria em risco seu emprego e sua liberdade para prejudicar gratuitamente um político. Somente uma propina muito grande poderia corromper um auditor a fazer uma coisa dessas. 
  4. É o tipo de coisa que não se faz por "ideologia" ou "petismo", como a imprensa quer dar a entender. Apenas por dinheiro mesmo. Muita grana. E não faz sentido que  a "equipe de inteligência" de Dilma tenha pago uma fortuna, arriscando-se terrivelmente e cometendo um crime gravíssimo, para fazer um dossiê totalmente inócuo para os rumos da campanha. 
  5. A única parte realmente interessada em conhecer a fundo os imbróglios fiscais de Eduardo Jorge é o próprio Eduardo Jorge. Se alguém subornou um funcionário da Receita, a lógica manda dizer que foi ele. O auditor corrupto poderia fazê-lo pensando que EJ nunca pensaria em vazar seus próprios documentos. Mas EJ, ao verificar que os documentos não tinham nada de explosivamente comprometedor (e pagou para tê-los à sua disposição justamente para saber disso, e tranquilizar-se), resolveu usá-los de outra maneira. Entregou-os à Folha e ajudou a montar a tese de que o seu sigilo fiscal fora violado. A Folha e outros jornais adotam a tática goebbelliana de repetir a tese da "equipe de inteligência" de Dilma e da montagem de um dossiê até que ela se infiltre no inconsciente de vastos setores da sociedade.
  6. Sem contar que EJ pode acessar seus dados com sua própria senha e CPF. Esses caras são tão carasdepau que não me surpreenderia que não passou disso. 
  7. Cartaxo afirmou que não será possível concluir a investigação antes dos prazos determinados por lei para procedimentos como esse (3 ou 4 meses), e o Sindfisco disse que é improvável que tenha ocorrido acesso "não-motivado", ou seja, ilegal. Considerando tudo isso, vemos que este não foi um jogo armado para encontrar culpados, mas apenas para produzir factóides eleitorais negativos para Dilma. 
Por fim, as declarações de Serra, de que o secretário da Receita deveria revelar os nomes dos auditores que tiveram acesso aos dados de Eduardo Jorge, mostram mais uma vez um político inescrupuloso, que não hesita em jogar inocentes às feras, desde que isso sirva para lhe beneficiar eleitoralmente. Ou antes, é apenas cinismo, visto que ele sabe muito bem que Cartaxo não poderia cometer uma imprudência e uma injustiça dessas, de lançar no lamaçal do jogo sujo político nomes de auditores que nada mais fizeram que exercer o seu ofício. 

4 comentarios

Patrick disse...

Miguel, se Eduardo Jorge foi a um Centro de Atendimento ao Contribuinte e pediu uma cópia de sua declaração, fica registrado no sistema que um funcionário "acessou" a declaração. Mesmo que seja a pedido dele mesmo.

Ademais, não havia sido feito o comentário de que ele tinha sido representado ao Coaef pelo próprio banco? Nesse caso, o Coaef pede uma cópia da declaração à Receita. Por óbvio, um funcionário terá que acessá-la para imprimi-la. Qual o caminho dessa declaração no Coaef? Vai para o Ministério Público? Para algum outro órgão externo?

bLOgDoRiLdO disse...

E por acaso a folha quer esclarecer alguma coisa? Ela quer é jogar merda no ventilador pra ver se respinga no pt e na Dilma. Êta folhinha complicada sô!

Anônimo disse...

A Folha de São Paulo sabe quem foi o usuário do sistema que imprimiu a declaração do EJ. Os 9 primeiros dígitos do servidor público ficam impressos na cópia da declaração.

Anônimo disse...

Corrigindo. Os 9 primeiros dígitos do CPF ....

Postar um comentário