28 de julho de 2010

A lei das palmadas não é uma bobagem, Kostcho

Carta Diária Óleo do Diabo, Quarta-Feira 28 de julho de 2010

Não é tão difícil se tornar pop. O jornalista e blogueiro Ricardo Kotscho parece ter aprendido uma das lições, que é apertar o calo da ignorância e da desinformação. Primeiramente, foi a Folha, que estampou manchete garrafal afirmando que 54% da população é contra a "proibição da palmada". E agora vem Kotscho surfar alegremente na onda.

Acontece que tudo é uma questão de como você aborda a questão. Se um entrevistador chega para um pai e pergunta se ele é favor de uma lei que proibe que ele dê uma palmadinha em seu filho, ele responderá, naturalmente, que é contra. Aliás, me espantou saber que 36% dos entrevistados pelo Datafolha disseram ser favoráveis à lei.

Entretanto, o cerne da lei não é a palmada, romantizada aqui por Kotscho de uma maneira revoltante, e sim a tortura infantil. Afinal, o que é uma palmada?

Trecho do post de Kotscho:

O que estamos percebendo hoje é uma clara contradição entre o mais longo período na nossa história recente de respeito às liberdades públicas _ de expressão, de organização político-partidária, religiosa e social _, enquanto se engendram restrições às liberdades individuais, como se leis deste tipo pudessem nos fazer mais felizes e saudáveis.

Proibir o espancamento de criança é "restringir" a liberdade individual? Não gostou do termo "espancamento" de criança? Ué, se você minimiza a "palmada", ou posso aumentar um pouquinho, não?

Há neste caso um terrível erro conceitual. A lei não é feita para restringir a liberdade dos pais, e sim para ampliar a liberdade das crianças. Não pode se comparar isso à lei antifumo. Proibir o pai de bater numa criança pequena, indefesa, é diferente de proibir o indivíduo de fumar em recinto fechado.

Inicialmente, eu reagi com indiferença à lei do fumo porque eu não fumo. Ouvia meus amigos vociferarem contra aquela invasão "das liberdades individuais" e nem ligava. Às vezes é saudável cultivar um certo egoísmo. Até que li em algum lugar que os maiores beneficiados pela lei antifumo são... os garçons, porque eram eles as maiores vítimas. Os trabalhadores desses estabelecimentos, mesmo não fumando um cigarro, inalavam toneladas de nicotina todas as noites. Isso me convenceu de que houve justiça, portanto.

Sobre a "lei da palmada", Kotscho pegou o caminho mais fácil. Ele poderia ter usado a sua influência para tentar esclarecer a população. Preferiu apostar na ignorância, repetindo a estratégia da Folha e sua manchete. Há algum motivo para se bater num bebê? Há motivo para se bater numa criança de dois ou três anos?

Existem muitas formas dos pais educarem seus filhos sem apelarem para a violência física. Em primeiro lugar, um bom esporro verbal. Se o pai não sabe usar o verbo para castigar um filho, então aprenda. Assim como é mais fácil surfar na ignorância para ganhar popularidade na internet, é mais fácil dar uma pancada no filho em vez de um esporro verbal seguido de um esclarecimento geral sobre a situação.

O bebê, a criança, o adolescente, já são, por natureza, dependentes dos pais para sobreviverem. O poder dos pais permanece intocável. Ele pode usá-lo à vontade para castigar os filhos. Só não vale bater. O Brasil, caso você não tenha percebido, sr.Kotscho, é um dos países mais violentos do mundo. Uma lei que ajude a coibir a violência contra as crianças já é um grande avanço. As crianças, apesar de dependentes dos pais, são seres humanos dotados de direitos, e cabe ao Estado, sim, defendê-las das sevícias domésticas.


Tags: Lei da palmada, violência, liberdades individuais, Ricardo Kotscho.

12 comentarios

Lelê Teles disse...

Ricardo esKrotscho

Anônimo disse...

Boa, Miguel!

IV Avatar disse...

Há adultos que não entendem que o corpo de uma crinças é frágil, estou cansado de ver criança de 4 anos andando em companhia de um adulto e a criança tendo que acompanha-lo, imagina só a diferença entre o tamanho de uma perna de uma criança e de um adulto para que a criança consiga acompanha-lo, ai é palmadinha na certa em cima da criança, os marmanjos com mãos pesadinhas e chamam isso de palmadinha quando a palavra certa é tortura da braba
Se querem punir a criança por alguma traquinagaem há outras formas de punição tipo cortar brincadeiras, cortar tv, computador,
Já vi muito adulto batendo em criança e quando assisto a tais cenas fico imaginando o quando deve ser desesperador para um crianças ser torturada por quem deveria protege-la

Anônimo disse...

Depois do post de Kotscho afirmando que a campanha de Serra estava ótima e a de Dilma só dava mancada, fiquei indignada, pois atribuo os 'acertos' de Serra `a maozinha do PiG. Desde entao, parei de visitar o Kotscho. PiG por PiG, to fora!

Douglas Otaviani Tôrres disse...

Como disse o anonimo de 9:36 ,depois desta do Kotscho parei de ler seu blog,ele alterna em posts bem realistas,a de uma total imbecilidade.Parece 2 pessoas escrevendo o blog,então não o vejo,assim como varias coisas que não acrescentam nada a minha pessoa,JN,Jornal da Band,SBT,Estadão,Veja,Isto È,Estado de Minas,Folha que alias nem comento posts em outros blogs que (insistem)em colocar posts com material deste esgoto.

ferdinand disse...

Comentei com meus entes da mesma forma que você analisou...

Cheguei na metade da leitura do post do Ricardo Kotscho e desistí. Ser contra, ser a favor é uma questão de educação e formação, são princípios de como "educar" uma criança, se ele acha bonitinho e educativo dar umas bordoadas nos seus filhos ou netos...

O problema que até podemos entender o sobre as palmadas (lembrei da celeuma do " tapinha não dói" quase mataram àquelas que cantavam esta "música" e provavelmente estes mesmos que recriminavam agora provavelmente são contra a lei das palmadas..) Voltando ao assunto mor, creio que o problema não está nos prós e contras...e sim da utilização política do assunto e sinceramente, Ricardo Kotscho tá "PIGando" faz tempo!

Desabafando, qualquer assinatura de lei ou MP pelo Lula está virando uma novela para a PIG tudo é motivo de crítica com nítido interesse eleitoral.. Estes dias quase regorgitei meu risoles escutando o Kfouri (aquele que amarelou na cpi da Nike) e diz arauto da honestidade..falando do estatudo do torcedor entre outros...

Abraço...

Anônimo disse...

Ines Ferreira,

Eu acho que o Kotscho é um vaselina. Ele, como dizia minha mãe, não é peixe e nem é carne. Para não se indispor com o Lula e a tchurma do PT, ele faz post a favor, para logo depois fazer post a favor do Serra, para não se indispor com ele e a tchurma demotucana. Também o acho muito dúbio. O finado Jô Soares, sim porque este que está aí é um invasor de corpos do antigo Jô, que era muito engraçado, o atual é patético. Pois bem, na época que ele era engraçado, ele tinha um personagem que lembra o Kotscho, era o Múcio e o refrão dele era "tirou daqui" tudo o que se falava para ele ele concordava.

SONIA AVINO disse...

sou a favor da lei,quem sabe pais agressores pensarão 2 vezes antes de espancar e defenestrar crianças indefesas...e só uma perguntinha:QUE ACONTECEU COM O KOTSCHO?PIROU?

Nelio Schneider disse...

Nessa pesquisa da Folha provavelmente não fizeram nenhuma enquete entre as crianças... Se fizessem, aposto que daria 100% a favor da lei.

Unknown disse...

Porrada
Agredir crianças é torpeza indesculpável em qualquer circunstância. A defesa da infame “palmadinha” reproduz a tolerância popular com os abusos cotidianos praticados por autoridades públicas. Afinal, tem gente que “merece” levar uma surra dos policiais.
Qual seria o equivalente adulto da hostilidade educativa? Que tal desferir um tapa na cara de todo motorista que burla regras de trânsito? Ou apertar as banhas de quem joga lixo na rua com uma chave inglesa? E não é bom também dar umas cintadas na mulher, para ensiná-la a se comportar?
O lamentável disso tudo é que o demente, quando se torna pai, desconta as violências da própria infância em seres inocentes e indefesos, que não podem responder à altura. Na hora de encarar gente do seu tamanho, o machão afina.

http://www.guilhermescalzilli.blogspot.com/

VERA LUCIA PASQUALETTO disse...

Nunca acreditei que bater educa, e vou falar por experiência própria. Quando na minha infância fazia arte (algumas bem pesadas, como quando não queria ir a aula inventava que minha professora me batia) minha mãe, perguntava... quer apanhar ou ficar de castigo? e eu logo respondia... apanhar... porque apanhar??? porque depois das palmadas eu voltava a fazer minhas artes. Mas o castigo. A esse era terrivel... como me privar de meu tempo, meus desejos, minhas vontades.... e assim estou educando meu filho. Sempre a lei da falta que faz ficar sem sair com os amigos, o tempo no computador... enfim privar daquilo que ele mais gosta...
Sou 100% a favor da lei.
Bater além de violentar meu filho, pode leva-lo para a violência.

Unknown disse...

Porrada em criança é para os fracos, não resolve coisa nenhuma.

Experiência própria: Quando pequeno, morava num condomínio, cheio de crianças que viviam aprontando como eu. Brincávamos de colocar rojão cabeça de nego para explodir tijolos, para explodir gatos, brincávamos de colocar ovo na maçaneta dos apartamentos, roubar pininho de ferro dos carros, etc..

Meu pai era um educador criativo, lembro que uma vez eu roubei umas centenas de cruzeiros ou cruzados, sei lá, (1992), da bolsa da minha mãe e meu pai descobriu.
Ele não me bateu.
Me deu uma vassoura, um pano e um balde, e disse: desça lá, varra toda a calçada na frente do condomínio, depois passe pano. Se alguém te perguntar porque você está fazendo isso, conte o que você aprontou.
Eram mais de 100 metros de calçada de cimento, onde transitavam todos meus amigos e pessoas que eu conhecia... Nunca mais aprontei dessas, tinha medo da criatividade do meu pai.

Aprendi muito com lições de moral, conversas, e principalmente por exemplos, bons exemplos, não pela porrada.

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