21 de março de 2010

A patética fábrica de denúncias mirabolantes

Uma coisa é boa. A Veja está gastando munição antes da hora. A maravilhosa fábrica de denúncias mirabolantes, que já incluiu dólares de Cuba em caixas de uísque, entre outras peraltices, voltou a operar com força total. A engrenagem é conhecida: primeiro Veja, depois Jornal Nacional, daí a tocha olímpica segue para as redações do Globo, que a repassa para seus coleguinhas de São Paulo. Então ganha o mundo. Jornais, rádios, sites, blogs, não só do Brasil, repercutem as denúncias. Nem tanto pela Veja, cujo poder de impacto reduziu-se bastante nos últimos anos. A força da Veja hoje atrela-se às suas ligações orgânicas com a direção de jornalismo das organizações Globo. É a turma do Millenium, enfim. Todo mundo tomando uísque no barzinho do clube de golfe, dando risadas. Demétrio Magnoli de vez em quando aparece, bandeja na mão, oferecendo quitutes preparados pelo próprio Jabor, num dia, e por Marco Antônio Villa, no outro.

É muita cara de pau. Navegando pelo site do Azenha, topo com uma matéria que quase me estoura o dedão. Assinada por Gustavo Barreto, ela traz informações sobre o tal promotor Blat que, estivesse ele atacando algum tucano, poderiam converter sua imagem pública em pó-de-mico. Por que eu deveria me espantar? Deus!

Esse Blat já foi acusado de todo o tipo de crime, e as matérias saíram na própria Veja! E agora o tratam como paladino da justiça! Muito bem! Belíssimas fontes tem a Veja. Um doleiro preso várias vezes, e um promotor com histórico mais sujo que o Tietê no verão.

É tudo tão constrangedor para o cidadão comum. A troco de quê defenderemos Vaccari, senão o conhecemos? Senão conhecemos os autos do processo? Afinal, todo mundo é culpado de alguma coisa, não é? Aí as pessoas dão risadas na tua frente, fazendo comentários maliciosos sobre a decadência moral do partido dos trabalhadores, e de um jeito tão convencido que seria perigoso (ou ridículo) você iniciar uma discussão.

O PT é um partido humilhado. Já testemunhei várias vezes como as pessoas se referem ao PT com nojo ou derrisão. Todo mundo já viu. Outro dia, fui abrir uma conta no Banco do Brasil, e a gerente, papeando conosco, afirmou que "odiava o Lula". Falou francamente, com raiva. Tudo bem ela não gostar do "cara". Ela tem direito a ter a opinião que quiser. O que me espantou foi ela sequer respeitar o cliente. Ela sabia, por acaso, o que pensávamos? Eu sempre cuidei para não ofender ninguém por conta de opiniões políticas. Num ambiente formal, onde não conheço as pessoas, não vou dizer que "odeio FHC". Até porque nem concordo em levar as coisas para esse lado, do ódio. Compreendo o ódio, e até entendo que a gente não deve refrear demais nossas paixões. Mas não aprovo essa tendência na política. Leva a extremismos burros e bloqueia o debate.

É o tempo inteiro assim. Quando se trata do PT, ou mesmo de Lula, as pessoas perdem as papas na língua. Referem-se de um jeito que machuca, que humilha. Isso explica, por outro lado, a reação apaixonada, agressiva, a criação dessa blogosfera aguerrida, em defesa do presidente e seu partido.

No caso da gerente, deixei o assunto morrer. Respondi apenas com silêncio. Mas eu deveria reagir. Deveria responder. Até porque aquilo sempre fica na minha cabeça, pinicando-me, por dias. Admiro que responde, quem não deixa nada passar em branco. Ainda serei assim, valente e assertivo qual um herói de Homero.

Na verdade, são histórias cada vez mais intrincadas. Eles ganham pelo cansaço. Quem terá paciência de destrinchar essas longas reportagens da Veja? Claro, sempre tem os coiós. No "cafezinho" que eu frequentava nos tempos de jornalista "especializado em café", lá vai mais de dez anos, tinha um sujeito que vivia repetindo as matérias da Veja para a turma. Era tão óbvio que ele apenas queria "mostrar-se informado", e que lia aquelas porcarias justamente para repeti-las ali, que a reação geral era apenas de pena, e desprezo. E olha que eram todos empresários conservadores, provavelmente tucanos.

Mas há o lado bom também. É uma coisa que nosso combativo Eduardo Guimarães já mencionou diversas vezes: a gente sabe que o PT é vigiado. A mídia vai pra cima dele com tudo, caninos pra fora, babando, latindo. Não perdoa. Se o assessor mais chulé do Palácio do Planalto for pego roubando uma lapiseira, é manchete certa. Com o PSDB, é o contrário. Cai viaduto, cai metrô, o governo não limpa a calha do Tietê e o rio alaga e causa prejuízo de bilhões de dólares para o estado (e para o Brasil, portanto), mas ninguém aperta o cara. Ninguém aperta José Serra. As críticas editoriais são tímidas e não citam o nome do governador nem a agremiação a qual pertence. Muito asséptico. Muito amigo.

De repente ficou tudo tão claro que chega a doer a vista. Repetitivo, inclusive. E o irônico é que eles, no afã de destruir Lula e o PT, e galvanizar Serra, criaram um exército de revoltados. Uma verdadeira militância que, não fosse isso, talvez acompanhasse os fatos políticos apenas de longe, confortavelmente. A diferença é brutal. Entre numa caixa de comentários de um blog da direita, e verá um linguajar confuso, tatibitati, clichê, mal educado, infantil, previsível. No blog do Nassif, por outro lado, encontra-se uma qualidade excepcional. Gente adulta, bem humorada, lúcida, instruída. Desde algum tempo as pessoas acordaram, e estão participando. Cada manchete parcial, cada notícia deturpada, cada denúncia falsa, tem sido dissecada minuciosamente pela blogosfera. Inclusive já passou a fase mais emotiva. As análises se tornaram racionais, objetivas. Muita gente parece nem mais atacar a parcialidade tacanha da mídia. Estuda-a, tranquila e friamente - como quem estuda uma planta carnívora.

10 comentarios

Vera Pereira disse...

Essa gente irrita porque está onde a gente circula com mais frequência, como bancos, clínicas médicas, academias de ginástica (é onde eu pelo menos vou) etc. Mas você sai daí, vai ali num boteco no morro Santa Marta (agora reformado, ex-favela Santa Marta) e não ouve ninguém dizer essas coisas. Conheço gente, pobre mas animada, que está abrindo negócio, pequeno comércio, no Complexo do Alemão, agora também reformado. Não dizem isso. Conversa com motorista de táxi; até hoje só ouvi um dizendo que detestava o Lula. Eles são poucos -- talvez os 8% ou 10% das pesquisas de intenção de voto --, mas muito barulhentos. E estão muito perto de nós. E, de fato, são muito raivosos, hidrófobos mesmo. Tal qual o Jabor, o Merval, o Jô, essa turma. Já em São Paulo não sei. Mas como lá não vou, fico sem saber. Em Sorocaba, onde vou umas duas vezes por ano, e fico num condomínio de classe média metida, não dá para conversar mesmo. Mas acho que são um gueto. E terão futuro de gueto.

Lívio Nakano M.D. disse...

Miguel,

Um ponto a ser levado em consideração, é a agitação e nervosismo na tentativa de se conter a queda das intenções de voto do candidato da "oposição", especialmente depois da época das chuvas e dos escandalos dos demistas.

Na maioria das vezes, se trata de se anunciar e propagandear para a platéia favorável. Pessoas que já tem uma opinião alinhada com os editorialistas do jornal, e por isso mesmo, precisam de argumentos que confirmem as suas opiniões pessoais.

Não acho que seja alguma arma disparada com objetivo de ganhar territorio, mas sim, apenas para não perder ainda mais terreno.

arlene disse...

Ótimo texto! Expressou meu sentimento com exatidão!

Anônimo disse...

Quando leio os índices de aprovação do Lula fico contente, mas também fico intrigada, posto que aqui em Santa Catarina, segundo minha percepção, as reações ao presidente não me parecem confortáveis. Acho que o que você fala dessa militância valente, que na minha opinião extrapola o PT, o que é bom, não tem tido uma contrapartida à altura dos próprios parlamentares do PT. Sinceramente, acho que os deputados e senadores do PT, salvo louváveis excessões tem deixado, no mínimo, a desejar. Em inúmeras circonstância esse grupo tem sido muito frouxo.

Sandro Stahl disse...

É tem umas coisa que não dá pra entender, dê uma olhada nesse texto de Fabio Danesi, que se diz independente, e veja o que é gostar de viver de joelhos.
http://www.ordemlivre.org/node/931

J. Ferrari disse...

Deveria ter respondido, porque essa gerente é uma coió, uma babaca e uma coitada. Pois foi exatamente no governo FHC que os funcionários do Banco do Brasil foram humilhados, chutados para fora do Banco, ficaram 8 anos sem reajuste, muitos se suicidaram, outros entraram em depressão e um grande número saiu do BB para não enlouquecer com a pressão vinda do governo para desmantelar o BB e privatizá-lo depois, coisa que felizmente não aconteceu.
Eu sei porque estava lá e dei um "pé na bunda" do BB em 1997 antes que ele me desse. Hoje estou muito melhor, ganho 5 vezes mais e sem a pressão que havia naquele caldeirão demo-tucano do FHC.
Repetindo, essa gerente é uma coitada, uma imbecil, e o pior é que nem sabe disso. Acha que é elite e não passa de uma coitada, lacaia e sabuja de altos interesses que não são os dela. É o retrato do eleitor demo-tucano, um coitado que não sabe o que é e fica se enganando, "se achando"...
Eu sempre digo para essa gente: "então vota no Serra, que você vai ter os anos FHC de volta, que só fez m..."

Luiz disse...

Miguel boa análise, é isso mesmo, estamos mais maduros, eu moro numa cidade bem provinciana aqui no sul, moro aqui há 4 anos sou do Rio) quando vim pra cá a comu do orkut da cidade (era 2006) tinham varios perfis com a fotos do Alkimin, eu me espantei com a turma (Só via nas lans, tava meio duro para ter um bom pc/banda larga)me espantei aqui como a turma é reaça,resumindo agora começou a campanha de um lado os papagaios/ manipulados/preconceituosos do pig(claro cheio de classe-médias burgesinhos reaças) e do outro eu e alguns lucidos, eles vociferam suas pragas e nós com um fino bom humor e arguentos coerentes vamos desconstruindo os deles. É isso não me revolto mais "não troco fogo" essa turma já anda meio neurotica e cansada. O ultíma grande fortaleza da reaçada é aí em SP e uma pequena parte no sul.

Hoje eu vejo a revolta dessa turma, como vejo uma criança ou velho fazendo pirraça.

abç

Anônimo disse...

Como empregado do Banco do Brasil SA (22 anos), desde o (des)governo Sarney, peço que se questione qual o motivo do PT ter perdido a militancia na empresa. Empregados que foram perseguidos e taxados de"marajas", vagabundos, excedentes, descartaveis, etc,por acreditarem no PT como via alternativa.Pq, logo no governo petista, há o desencanto, que se transforma em raiva (odio)? O que aconteceu nos 8 anos petistas dentro do BB? Respondo: perseguições, mentiras, traições, utilização da empresa como cabide de emprego, etc. Desvalorizaçõa funcional, demissões, achatamento salarial. Greves e coação moral. São 8 anos de negação de tudo proposto. O BB escorrega entre os dedos do PT por sua própria culpa.

Myrna disse...

Gostei do teu artigo porque mostra como a mídia toma partido. Em São Paulo, inundou rios e ruas, casas foram destruídas, famílias perdendo tudo e os jornalões até justificaram que as chuvas castigaram São Paulo. Com um governo petista, o tratamento seria o de desconstrução, o de aniquilamento do governo do PT. Já sabemos que a mídia age assim, mas qual seria a saída, qual seria a nossa reação política? Apenas, dizer que a mídia é o grande partido golpísta porque tenta criminalizar as ações do Governo Lula? Assim fica cada vez mais difícil o debate político. Eu acho que não podemos perder a visão crítica da realidade.

Castelo disse...

-SÓ PODE DENUNCIAR SE FOR DA OPOSIÇÃO,...AÍ É BANDIDO, MENSALEIRO, E TEM QUE SER PRESO E PERDER O MANDATO,...SE FOR ALGEUM DO GOVERNO OU LIGADO A ELE, AÍ É FABRICAR DENUNCIA FANTSIOSA,....TEM GENTE QUE É SEGA!!!!!

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