1 de março de 2010

Pena pra todo lado

(Corrigido. O texto tinha uns cacos surreais, que escrevi dormindo ontem à noite.)

Arrumando os livros agora há pouco, topei com uma frase famosa de Pascal: se o nariz de Cleópatra fosse mais curto, isso teria mudado o destino do mundo. Imediatamente pensei em como ela seria uma citação perfeita numa crônica qualquer. Eu estava justamente nesse momento tentando escrever um texto divertidíssimo sobre comércio exterior (§ - sinal de ironia, que eu mesmo inventei) o qual permanecia bloqueado na cachola. Eu queria dar um tempero, uma bossa qualquer ao artigo em questão, até porque é para uma revista muito chique. Mas a coisa não saía. Quando topei com aquela frase, quis imediatamente abrir o artigo com ela. Não deu, porque foi ainda mais difícil conciliar o irresistível nariz de Cleópatra com a evolução da balança comercial do Brasil.

Continuo, todavia, determinado a usá-la. Já usei aliás. Falta agora dar um sentido. Pensei então em compará-la a uma imagem contemporânea. Visto que o grande assunto deste início de semana é a pesquisa do Datafolha que mostrou o nariz de Dilma roçando o cangote tucano, imaginei uma outra frase: se as gengivas de Serra fossem menores, a história do Brasil seria outra hoje, e seria outra amanhã.

Mas a imagem é incorreta. Serra não perdeu a eleição presidencial em 2002 por causa de suas gengivas privilegiadas, e sim porque não conseguiu convencer o povo brasileiro de que faria um governo diferente do desastre que foi o segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso. Nem deverá perder a eleição deste ano por suas precárias qualidades estéticas.

É que ele é ruim mesmo. Podem pendurar dois Aécios Neves em suas orelhas, à guisa de brincos, que ele continua uma opção macabra. Não apenas é um péssimo governador como o seu partido representa o que existe de mais mesquinho no país. Todos os discursinhos antisindicalistas, antibrasileiros, antilatino-americanos, anti-estatais, antifuncionalismo público e mais um bando de palavras com ou sem hífen, antes e depois da nova ortografia, todos são encampados pelo PSDB.

O pior mesmo, entretanto, é que a totalidade da extrema-direita brasileira agarra-se à perna de Serra como sua tábua de salvação. Os fascistazinhas da tupilândia não tem partido ou projeto próprios. Sua plataforma política resume-se à hidrofobia antipetista, que atingiu estágios de verdadeira patologia mental.

Estou ansioso agora para que o Datafolha publique logo a íntegra de sua pesquisa, com todos os detalhes, para que a gente possa identificar onde, exatamente, ocorreram as mudanças de intenção de voto. Em que regiões, em que classes, em que faixas etárias. A Folha já adiantou algumas coisas, mas eu quero ver isso de perto. Tocar esses números, cheirá-los, acariciá-los.

Sim, porque há possibilidade de que esses números constituam a marcha fúnebre do sonho tucano de voltar ao poder. Se a campanha serrista já enfrentava sérias dificuldades, na busca de alianças com outros partidos, na montagem de palanques nos estados, na comunicação, além da vergonhosa descoberta, pelo Brasil, de que o governo de São Paulo não fez a dragagem do Tietê nos últimos anos - sendo isso e outras inépcias dos tucanos fatores que agravaram severamente as enchentes que atormentaram os paulistas neste verão - se a campanha serrista, enfim, já estava na pior, agora é que degringola de vez.

Os números do Datafolha romperam a arrogância tucana e abriram uma forte crise no partido. Começam a pipocar em toda parte declarações derrotistas e desencontradas de fontes anônimas ligadas ao PSDB.

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A tal pressão para que Aécio Neves se junte à chapa de Serra como seu vice não passa de outra campanha midiática. É preciso muito desespero e muita estupidez para que as pessoas ligadas ao partido do governador paulista imaginem que Aécio possa fazer essa loucura, que é sacrificar seu futuro político no altar de um serrismo decadente. A insistência com que os jornais trazem essa possibilidade, mesmo com todas as negativas de Aécio, soa patética, insegura, melancólica.

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Serra não perdeu votos por causa da "exposição de Dilma", e sim porque ele se revelou um gestor frio e medíocre, sempre desinteressado pela função que ocupa em virtude de sua obsessão pela presidência da república. Foi assim enquanto prefeito e foi assim enquanto governador.

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Na verdade, a campanha de Serra sofreu um terremoto similar àqueles que sacudiram Haiti e Chile. Confiram essa nota publicada na coluna Painel, da Folha, nesta segunda-feira:

Outro alvo de apreensão é o risco de explosão de gastos do governo federal no próximo mandato. No PSDB, há quem defenda como ideal que Dilma assuma a conta para que o tucanato volte ao poder em 2014.

Para mim, isso é admissão de derrota. Os emplumados parecem já terem reservado a pousada onde passarão férias depois da surra que devem levar em outubro.

A Folha diz também que a tão desejada parceria do PSDB com o PTB de Roberto Jefferson, que lhe daria uns 50 segundos a mais diários de propaganda televisiva, corre o risco de não acontecer.

Conclusão: a campanha tucana ameaça ruir, e confesso que não estou cortando os pulsos por causa disso.

1 comentário

Alberto Bilac disse...

Caros do Blog,

Começou hoje a série: A Idade das Trevas - uma radiografia detalhada do ruinoso governo de FHC, em meu humilde blog Terra Goyazes! No ar e na rede, o primeiro capítulo: A Precarização do Estado. No endereço: http://terragoyazes.zip.net

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