19 de maio de 2010

Analisando o Vox Populi em Minas Gerais

Já li muitos analistas dizerem que as eleições presidenciais serão decididas em Minas. Não concordo. Essa afirmação parte sempre de gente ligada a Serra, confiantes de que a força política de Aécio Neves pode trazer uma avassaladora vitória aos tucanos no estado. Eles sabem que vão perder feio no Nordeste, então apostam num resultado extraordinário em Minas e São Paulo.

Os eleitores, porém, não parecem muito entusiasmados com essas diretrizes. Ao contrário, a força de Aécio está se esgarçando no estado após sua saída do governo. Dilma cresceu fortemente, e já supera Serra nas pesquisas espontâneas e na avaliação positiva. Anastasia, vice de Aécio e agora candidato ao governo, patina graciosamente enquanto Hélio Costa, aliado de Dilma, assume a liderança isolada.

Sei não, acho que os tucanos não estão se adaptando bem às montanhas...

Ah, a íntegra, de onde eu tirei todas essas tabelas, está aqui. Ressalvo ainda que tive um trabalho hercúleo para simplificar graficamente todas as tabelas, que eram muito espaçadas e ficariam pequenas demais se publicadas sem essa intervenção. Lembro também que eu fiz uma análise parecida dos números do Vox Populi para o cenário nacional.

Vamos lá. Não se esqueça que, para ampliar a tabela ou vê-la por inteiro (tem uma ou outra cortada), basta clicar sobre a imagem.


3 - INTENÇÃO DE VOTO ESTIMULADA
3.1 - CENÁRIO 1
Se a eleição para Presidente fosse hoje, e os candidatos fossem estes em quem você votaria?


Dilma empatou com Serra em Minas Gerais na estimulada, 3 pontos atrás. Mas o conjunto da pesquisa dá forte vantagem à petista. Ela tem imagem mais positiva que seu adversário e lidera na espontânea, mesmo sendo bem menos conhecida que Serra.


1.1 - NÍVEL DE CONHECIMENTO
Vou citar para você o nome de alguns possíveis candidatos a Presidente e gostaria que você me respondesse algumas perguntas sobre cada um deles, vamos falar de: Dilma Rousseff, José Serra e Marina Silva.


Você diria que tem uma opinião muito positiva, positiva, regular, negativa ou muito negativa sobre ?



Reparem na forte popularidade de Dilma entre os barnabés. A petista registra 75% de imagem positiva entre os que ganham até 1 salário, contra 51% de Serra. Ao mesmo tempo, 16% dos entrevistados dessa classe afirmaram "não conhecê-la", contra apenas 2% que disseram o mesmo  de Serra. Ou seja, Dilma está revelando um carisma bem acima do que se esperava.

A questão do gênero perdeu a relevância. As intenções de homens e mulheres estão se equilibrando para os dois candidatos. O mistério se desfez. A debilidade de Dilma junto ao público feminino corresponde ao grau maior de desconhecimento político das mulheres, em geral mais ligadas nos problemas domésticos.

Por outro lado, o fator classe ganha destaque, com a eleição assumindo uma clivagem entre ricos (apoiando Serra) e pobres (apoiando Dilma). Na Vox Populi de Minas, não é diferente: 55% dos que ganham acima de 5 salários tem imagem positiva de Serra, contra 49% que tiveram igual opinião sobre a petista.


2 - INTENÇÃO DE VOTO ESPONTÂNEA
Se a eleição para Presidente da República fosse hoje, em quem você votaria?



E agora, voltemos à pesquisa estimulada, mas segmentada por gênero e faixa de renda. A clivagem classista é clara. Serra ganha entre os ricos e perde entre os pobres.


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Para o segundo turno, observou-se uma queda acentuada nas intenções de voto em José Serra. A cachaça do Aécio, que iria embriagar os mineiros e fazê-los votar maciçamente no candidato tucano, está, ao que parece, aguada.

Se houver segundo turno na eleição para Presidente e os candidatos forem Dilma Rousseff e José Serra, em quem você votará?



(Clique na imagem para ver por inteiro).

Na tabela segmentada para o segundo turno, por escolaridade e faixa de renda, observe que a clivagem é mesmo classista, e não educacional. Serra apresenta a melhor pontuação entre o público pouco instruído, com educação até a quarta-série do ensino fundamental e, ao mesmo tempo, registra sua pior performance entre os que ganham até 1 salário. No segundo turno, a clivagem classista se torna ainda mais nítida.

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Muitos mineiros ainda acreditam que Serra pode ganhar as eleições, mas cresceu bastante o otimismo em relação à petista.

Qual destes candidatos, na sua opinião, tem mais chance de ganhar as eleições para Presidente, mesmo que você não vote nele(a)?


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Na tabela seguinte, repare que caiu o percentual das pessoas que afirmaram, em levantamentos anteriores, que não votariam no candidato apoiado por Lula, de 14% para 10%.





(Clique na imagem para vê-la por inteiro.)

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Há, todavia, uma certa desinformação entre os mineiros. 6% acham que Serra é o candidato apoiado por Lula, um índice bem alto. Temos ainda 2% que pensam que é Marina.

Pelo que você sabe ou já ouviu dizer qual destes é o(a) candidato(a) a Presidente da República que tem o apoio do Presidente Lula?






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Hum! A tabela abaixo é de fazer tucano gritar que nem porco. Merecia ficar em destaque lá em cima, mas deixa por aqui mesmo.

Se o Governador do seu estado apoiar um candidato a Presidente e pedir para as pessoas votarem nele, você diria que:


Apenas 10% dos mineiros responderam que, "com certeza", votariam no candidato apoiado por Aécio Neves. Em janeiro eram 23%, em agosto do ano passado, 27%. Parece que o "grande trunfo" não é tão poderoso assim, não é? Não consegue transferir voto em seu próprio estado... Repare ainda que 11% não votariam no candidato apoiado por ele, e 29% afirmam que não levariam isso em conta. A resposta dada por 46% dos entrevistados, de que "poderiam votar, mas depende de quem for o candidato", me parece bastante diplomática. Totalmente mineira.

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Outra tabela que deve causar dor de bico:


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Por fim, o cenário estadual em Minas Gerais. Até agora, Aécio não se mostrou esse garoto-maravilha que pintaram.  Hélio Costa, do PMDB, aliado de Dilma, ampliou a vantagem sobre Anastasia, o candidato-poste que os tucanos, em virtude do sobrenatural encanto aecista, já davam por eleito. Costa saltou de 37% para 45% de janeiro até agora, enquanto Anastasia estacionou em 17%.


2 - INTENÇÃO DE VOTO ESTIMULADA
2.1 - CENÁRIO 1
Se a eleição para Governador de Minas Gerais fosse hoje e os candidatos fossem estes, em quem você votaria?





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Eis o que pensam os mineiros do governo Lula:


De uma maneira geral, como você avalia o desempenho do Presidente Lula à frente do governo federal? Você diria que está sendo: Ótimo, bom, regular, ruim ou péssimo?







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Por fim, mas not the least. Aécio vem perdendo um pouco de seu charme. Em agosto do ano passado, 29% achavam seu desempenho ótimo. Em janeiro, perdeu um pontinho. Em maio, caiu para 22%. No mesmo período, o "ótimo" de Lula cresceu de 26% para 30%. O neto de Tancredo pode ser uma potência política, mas é menor que Lula em seu próprio estado.

De uma maneira geral, como você avalia o desempenho do Ex-Governador Aécio Neves à frente do governo? Você diria que foi: Ótimo, bom, regular, ruim ou péssimo?




14 comentarios

Virgílio disse...

MIguel, eu termino lendo as suas cartas nas mensagens que envias. Assim, poucas vezes entro aqui. E acho que isto não é bom para os indicadores de visita ao seu blog.
Como sempre, suas análises, a forma como você organiza os dados e de como extrai deles indicações e tendências importantes são excelentes. Ontem tive o desprazer de ver um pedaço de um programa na Globo News com Lílian Wite Fibe sobre o Irã. Ainda bem que tinha um professor da PUC equilibrado para fazer frente a ela e a um ex embaixador do Brasil em Washington (possivelmente da era FHC). Lá ficava impressionado com o tratamento desqualificante dado à iniciativa do Brasil e de Lula. Abraço!

Anônimo disse...

Muito boa análise.
Parabéns!
Antonio

Vera Pereira disse...

Ouvi a entrevista do Lula à Aljazeera. Infelizmente tenho uma tradução para terminar até sexta-feira para uma editora, se não traduzia para você. Não sei se é possível tirar o som do inglês e registrar só a fala do Lula em português. Fica muito claro quando ele diz, com razão, que é mais fácil a um país que não tem armas de destruição nucleares, convencer um país que não as tem e tenta implantar programas de fins pacíficos, a dialogar sobre uma fórmula de aceitação das imposições da ONU e das grandes potências nucleares, porque não há outra solução, dados os interesses geopolíticos da região do que negociar com a França, a Rússia ou mesmo a Índia, que têm bombas. Mas não me parece correto que ele diga e repita que deseja para o Irã o que o Brasil tem, usinas nucleares para fins pacíficos, sem levar em conta a situação crítica do Irã neste momento: imprensado entre potências fortemente armadas, um vizinho destruído e saqueado, como o Iraque, próximo da segunda potência atômica do mundo, Israel, controlada pelos pitbulls desenfreados que conhecemos.Ainda por cima sentado em enormes jazidas do petróleo que falta aos EUA e à Europa. Com a história de governos títeres dos americanos, lideranças financiadas pelo Dept de Estado para invadir os vizinhos, golpes de Estado, uma estrutura política local rígida originada da destruição produzida pelo regime pró-americano e da reação de lideranças religiosas. Sem nada disso, é muito mais fácil ao Brasil escrever na Constituição de 88 que o Brasil é proibido de desenvolver armas de destruição em massa. Se estivéssemos numa região tão incendiária, não sei se o Brasil também não buscaria prevenir-se pelas armas de ponta, como incita o medo, ou se a gente ficaria de cabeça fria e pedindo paz, como manda o bom senso. Claro que a iniciativa brasileira pode distender o clima da região, claro que cabe ao Irã, agora, levantar bandeira branca, mas é preciso tempo para que o resto do mundo também se distenda e entre no clima de boa vontade. Sei lá, pensando

Raquel disse...

Bom trabalho! Nós aqui de Minas estamos com Dilma!

Anônimo disse...

Good.

Vera Pereira disse...

Acho que mandei o comentário sobre Irã no post errado. Achei excelente artigo do Flávio Aguiar em http://bit.ly/b19qqY Tem muita água rolando e a rolar ...

Anônimo disse...

Excelente trabalho e análise Miguel, seu esforço foi totalmente produtivo.

Valeu cara.

Antonio Borleste

Orlando Soares Varêda disse...

Muito bom seu trabalho, coloco seu blog nos meus favoritos para retornar. Parabéns

Abraços. Orlando

wagner disse...

Agradeço o excelente trabalho, que Dilma vença e dê continuidade aos feitos deste governo.

Rodrigo Machado disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Nélio Schneider disse...

Belo trabalho de análise; li com toda a atenção (e satisfação!). Grato e um abraço.

Rodrigo Machado disse...

obrigado pelos dados. No entanto, acho que dificil em falar em ricos contra pobres com esta divisao em 5 salarios-minimos - 5 salarios minimos e menos que o salario minimo da Holanda, por exemplo. Nao acho que quem ganhe 5 SM seja rico.
Provavelmente, a maioria do proletariado industrial classico estaria nesta "classe rica" (como metalurgicos, etc.). Assim, nao eh possivel concluir que ha uma opcao de classe.

samuel alves disse...

Parabéns pelo excelente trabalho, a mineirada aqui de sp agradece.

Citadino Kane disse...

Miguel,
Bem didática a exposição e análise da pesquisa.
Parabéns!
Abraços,
Pedrp

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