24 de maio de 2010

O fator Marina Silva


Consulta Evolução do Eleitorado
Pesquisa por Região  -   Abril/2010  
Região
NORDESTE
36.091.327
SUDESTE
58.384.124
CENTRO-OESTE
9.547.231
SUL
20.091.480
NORTE
9.796.530
EXTERIOR
169.825
BRASIL
134.080.517




Acabei de pegar essa tabela no site do Supremo Tribunal Eleitoral. Guardem esses números. Eles serão a base para nossos estudos daqui para a frente. Reparem bem, o Brasil tem 134 milhões de eleitores, o que significa que cada 1% corresponde a 1,34 milhão de eleitores.

O primeiro pensamento que me ocorre é que não podemos subestimar Marina Silva. Vamos usar os dados do Datafolha (que tem a pesquisa mais recente e cujos relatórios acabaram de ser disponibilizados na web) na série que iniciarei agora e se estenderá até altas horas da madrugada. Se Marina tem 12% das intenções de voto, isso corresponde a 16 milhões de cidadãos querendo votar nela. Dilma e seus militantes devem, portanto, evitar qualquer hostilidade em relação à verde e a seus eleitores. Eles constituem uma massa considerável. Se as eleições fossem hoje, eles teriam o poder de decidir as eleições.

A candidatura Marina merece alguns comentários:

  1. Ela incorporou o voto insatisfeito, do tipo Enéas, que sempre será relevante no Brasil. Esse eleitor, no entanto, me parece totalmente imprevisível, podendo mudar seu voto no último instante. Marina Silva compreendeu esse fenômeno, e não deve ser outra a razão pela qual ela tem marcado uma posição muito independente em relação às outras forças políticas. 
  2. A tendência à direita de sua candidatura, a meu ver, também é uma jogada estratégica, porque lhe garante apoio midiático. Marina revela-se uma política incrivelmente astuta, que aprendeu a surfar tanto nas ondas do rancor antilulista da imprensa como nas ondas da rejeição do eleitorado jovem ao conservadorismo representado pelo PSDB.
  3. Marina está fazendo o que Ciro tentou fazer, até ser abortado pelas forças dilmistas, que entenderam ser extremamente prejudicial haver dois candidatos faturando em cima do antilulismo da mídia. 
  4. Ademais, o PSB, com todas as suas contradições ideológicas internas, como qualquer partido, tem sua maior força concentrada no Nordeste, onde detêm os governos de Pernambuco e Ceará; não teria sentido jogar fora a chance de crescer em parceria com o PT de Lula em prol de uma candidatura própria (e sem chance de vitória) que os obrigaria, hora ou outra, a entrar em colisão frontal com Dilma Rousseff, criando atritos, portanto, com Lula e seu eleitorado. A candidatura Ciro era positiva somente para o próprio; péssima para seu partido.
  5. Marina está sendo levada, pela corrente, a incorporar posições cada vez mais conservadoras. Ela depende visceralmente do apoio midiático. À diferença de Dilma, que tem tempo gratuito abundante na TV, dinheiro farto de campanha, militância gigantesca, aguerrida e numerosa, além do apoio incondicional de Lula, a candidata do PV precisa agarrar-se ao barquinho que os conglomerados de comunicação lhe emprestaram, e o qual podem pedir de volta a qualquer momento. Recentemente, em entrevista a João Dória Jr., do Canal Livre da Band, Marina foi pressionada a tomar posições que flertaram com o mais puro neoliberalismo. Mas ela, repito, é astuta. Sabe que a perda de seus eleitores mais ideológicos, uma parcela barulhenta mas pequena do conjunto, é compensada pelo ganho que a ampla exposição midiática lhe traz.  
  6. É uma jogada arriscada, todavia. Neste fim de semana, soubemos que houve um racha no PV. A criação do Partido Livre, formado por ex-militantes do PV, já anunciou apoio à Dilma. E os constrangimentos do PV no Rio, onde Gabeira apóia explicitamente Serra, fundamentam-se na mesma lógica. A candidatura Marina está sacrificando sua própria militância, composta majoritariamente por pessoas de esquerda, em prol desse enorme eleitorado cinzento e perdido eternamente à espera de um candidato que lhe permita um voto confortável, fora de um lulismo marcado pelo confronto midiático e fora de um serrismo taxado de símbolo da reação conservadora. Um voto pacífico, livre de conflitos, é isso o que Marina promete abertamente. 
  7. A estratégia de Marina tem um fundamento importante. Seu maior problema é que não é conhecida. Ninguém vota em quem não conhece. Por outro lado, a torna cada vez mais dependente do conservadorismo midiático, que lhe garante exposição e verbas de campanha. Recentemente ela esteve nos EUA e não fez uma crítica à sociedade mais poluidora do planeta. Não, ao invés disso, criticou o... Irã, e a diplomacia brasileira. Uma crítica conservadora, submissa aos interesses do Tio Sam. 
  8. A fraqueza de Marina é que, terminado o segundo turno, ela não terá controle sobre seus eleitores, que se dividirão entre Serra e Dilma segundo a dinâmica eleitoral de... Serra e Dilma. A verde, mesmo que apóie abertamente o tucano no segundo turno, não terá cacife para convencer seus eleitores, visto que o PSDB, na era FHC, comandou um dos governos mais nocivos ao meio-ambiente da história brasileira; e, em caso de vitória do PT, Marina estaria destruida politicamente, marcada como traidora. 
  9. O mais provável, portanto, é que Marina se mantenha isenta no segundo turno. Seu eleitorado se mantém virtualmente estagnado, após meses de exposição intensiva. O serrismo, por sua vez, não poderá mais se dar ao luxo de acalentar Marina, sob o risco de perder votos para ela. Por mais que acaricie a mídia conservadora, com críticas a Lula e elogios a FHC, às privatizações, aos EUA, na esperança de manter a boa vontade dos proprietários dos meios de comunicação, Marina deverá perder espaço daqui para a frente. 
Tá bom, né? Chega de Marina. Temos muitos outros temas a analisar. Será uma noite longa.

4 comentarios

Homero Pavan Filho disse...

Eu acho sua avaliação muito pertinente, mas vc está descartando a hipótese de Marina ir ao segundo turno. Não é cedo pra tirar essa conclusão?

Miguel do Rosário disse...

Acho MUITO DIFÍCIL, HOMERO. Não acho cedo não. Eu descarto essa hipótese. Abraço.

IV Avatar disse...

Uma parcela de funcionários públicos que não vota em Dilma por preconceito nem em Serra porque sabe o que é um governo tucano para eles tende a votar em Marina sem saber que corre o risco de votar em Marina e levar uma Serra prá casa

Matheus Braz disse...

Concordo com algumas considerações, mas vejo que você tem uma visão errônea de q Marina fica fazendo jogadas. Se vocÊ estivesse acompanhando a Marina e não as pesquisas apáticas e sem sentimentos VERIA QUE MARINA TEM UMA GRANDE FORÇA. Enquanto PT e PSDB ficam se engafinhando Marina está fazendo um plano de governo de qualidade incomparável, contando comespecialistas vluntários de todos Brasil. O texto está tendencioso e ignora o fato de Marina ter subido 11 pontos, chegando a 22% na classe média media...

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